segunda-feira, 19 de setembro de 2011

SANTÍSSIMO MILAGRE em Santarém

No ano de 1247, governava a Igreja o Papa Inocêncio IV, sendo Regente D. Afonso III, sucedeu em Santarém um caso maravilhoso que as crónicas antigas relatam detalhadamente e cuja recordação ainda hoje se mantém, com grande fervor, sob a denominação de Santíssimo Milagre.

Vivia em Santarém, uma mulher bastante desconsolada pelos maus tratos do seu marido. Foi aconselhada por uma vizinha, que quando fosse à Eucaristia e no momento da administração da Eucaristia, escondesse a hóstia sagrada, para depois lhe a entregar. De tal sorte que, dali em diante, viveria bem com seu marido e acabariam os maus tratos.

Assim procedeu a pobre mulher, envolveu a hóstia num pano, correndo para casa da sua conselheira e contente por se julgar no fim dos seus tormentos.

Ao passar pela rua, foi vista por algumas pessoas. Estas ficaram surpreendidas por verem ensanguentado o pano onde guardava o Corpo do Senhor.

Advertida do facto, correu logo confusa e envergonhada, para casa, escondendo o pano com a hóstia num outro pano e metendo-o na arca onde guardava a roupa, fechando-a depois a chave.

Na noite seguinte, já com o marido em casa, acordam e vêem sair raios de luz da arca, ecoando nela suaves músicas. Depois de confessar ao marido, ambos ajoelharam-se perante a arca, que abriu-se e ali estiveram em oração até que ao clarear da manhã, avisaram o pároco de Santo Estevão.

O sacerdote, avisou toda a vizinhança, logo tornou público o Milagre, em toda a povoação.

Reunidos todos os clérigos, foram ao quarto onde encontrava-se a arca, tiraram a hóstia Sagrada, com algumas gotas de sangue e colocaram-na num cibório. Sendo levada para o templo da freguesia onde aconteceu tal milagre.

Depois foi colocada dentro de uma custódia de cera, para melhor conservar a Sagrada Partícula e o sangue que dela saíra.

Durante muito tempo esteve a Sagrada Partícula guardada dentro da cera, mas um dia, sendo necessário abrir o sacrário, encontraram a  Hóstia Sagrada, não dentro da mesma cera, mas numa pequena custódia de cristal, por onde se reconhecesse que ali fora metida.

No fundo da custódia, vê-se a Hóstia Sagrada com Sangue. Visto de perto, mostra a mesma cor e forma, como se fosse vivo e fresco. O interior da custódia está quase todo banhado em Sangue. Este prodígio, visto em diferentes tempos, por diferentes pessoas, é tradição constante que representa-se em figuras.

Apenas encontrada esta custódia, os clérigos meteram-na num vaso sagrado e guardaram-na no Sacrário, deixando-a ver em sete dias do ano, a saber: Sábado, Domingo e Segunda-feira de Pascoela; Domingo do Bom Pastor; no último domingo de Maio, era mostrada ao povo e senado de Alcanede, que vinham em procissão; expunha-se no alto do trono em 1 de Dezembro, em acção de graças pela aclamação de D. João IV e no dia de Santo Estevão, orago da Freguesia.

Sob pena de excomunhão, apenas com ordem do Senhor Cardeal Patriarca, podia mostrar-se particularmente.

Acorria à igreja não só o povo, como também a nobreza, os reis e os princípes; inclusive a própria rainha D.Isabel, participou numa procissão descalça, com uma corda ao pescoço, pedindo a conciliação entre o seu marido D.Dinis e o seu filho D.Afonso. No final do século XVII, junto à Igreja ficava a Ermida de Santa Maria dos Inocentes fundada pela Rainha Santa Isabel e pelo bispo da Guarda D.Martinho de Leiria e que depois passou para Santarém; recebia as crianças abandonadas.

No local onde estava a casa da mulher há uma ermida fundada em 1654, conforme diz a lápide: "Desta casa onde Deus fez o Santíssimo Milagre ano de 1266, a fizerão Igreja, o licenciado Manuel dos Reis Tavares e Margarida César de Almeida, e a dotarão, e fazem debaixo do altar dela".
Aí até se chegou a venerar uma conta de pedra vermelha que se diz ter estado no pescoço da mulher da lenda.

A esta igreja foram concedidos privilégios:

1) o primeirto privilégio concedido por Luís Lipomano, núncio apostólico em Portugal no reinado de D.joão III e diz:"sete anos e sete quarentenas de perdão a todos os fiéis, que , confessados, visitassem a igreja no dias da Ressurreição do Senhor, Corpo de Cristo e no dia de invoação de Santo Estevão.

2) segundo privilégio- em 1565 pelo Papa Pio IV, o rei D.sebastião concedeu "a todos os fiéis uma indulgência plenária a todos quantos orassem pela paz da Santa Igreja e concórdia entre os princípes cristãos";

3) terceiro privilégio- pelo arcepispo de Lisboa D. Miguel de Castro a 09/12/1608 "todas as procissões fossem à Igreja de Santo Estevão";

4) quarto privilégio- pelo cardeal D. Francisco Maria em 1622 "poderem rezar missa com o rito semidúplex".


- Aconselha-se a leitura de todos ou um destes documentos que retratam bem este milagre:

1) Álvaro Afonso-Existe um documento de 11 de Março de 1556 da autoria de Álvaro Afonso, clérigo e notário, beneficiado na Igeja de Santo Estevão em Santarém apostólico e ainda tesoureiro da Igreja de Marvila, chamado Cópia de Évora, que é uma cópia do original escrito em latim, em pergaminho encadernado em livro; esta cópia é ainda conferida e autenticada por outro notário, o licenciatus(licenciado) Simão de França.

2) D.Rodrigo da Cunha em a "História Eclesiástica de Lisboa"(século XVII)fala dum livro de encadernação de veludo verde e chaparias de prata onde vai buscar a história do Santíssimo Milagre.

3) Inácio da Piedade Vasconcelos(século XVIII) refere no seu livro "História de Santarém Edificada"que vai buscar a história ao Cartório da Igreja de Santo Estevão ou Milagre num livro encadernado com pasta de veludo verde .

Todos estes documentos, embora com algumas diferenças relatam o milagre ocorrido na Rua das Esteiras em Santarém.

Hélder Gonçalves

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