terça-feira, 26 de junho de 2012

DEUS TEM CORAÇÃO?

Quantas vezes, sobretudo perante o sofrimento de inocentes, ouvimos afirmar: Deus não tem coração! Que mal fiz eu a Deus?
Será verdade?
Deus não tem mesmo coração?
Então vejamos.

Mal acabara de nascer o Menino Jesus na gruta de Belém, um Anjo deu logo a notícia a uns pastores que guardavam os rebanhos durante a noite, e eles disseram uns aos outros: “Vamos a Belém ver o que aconteceu e que o Senhor nos deu a conhecer” (Lc 2,15).

Foram e encontraram, numa gruta, reclinado numa manjedoura, o Menino recém-nascido que lhes fora indicado pelo Anjo. Aproximaram-se de Jesus, com grande emoção, inclinaram-se sobre o Menino para O beijar, acariciar, pegar-Lhe nas mãozinhas e escutar os latejos do Seu coraçãozinho.

Acerquemo-nos também nós, em espirito, do presépio de Belém, não apenas para adorar o nosso Salvador feito menino, mas para escutar atentamente os latejos do Seu coração.

Contemplei, um dia, num presépio, um encantador “menino Jesus”: deitadinho numas míseras palhas, com uma camisinha branca que a previsão materna preparara e Lhe vestira, os pézinhos nus e um sobre o outro, como pontos para serem crucificados; os bracitos estendidos e as mãozinhas abertas como que a pretenderem abraçar o mundo. Tinha sobre o peito um lindo coraçãozinho vermelho, como uma chama, que se destacava sobre a branca camisinha.

Fantasia ou capricho do artista?

Não! Verdade incontestável, pura realidade, pois desde então ardia, cintilava, palpitava. No-lo confirma São Paulo na sua carta ao seu discípulo Tito: “Manifestou-se a bondade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com os homens” (3,4). Sim manifestou-se na gruta de Belém.

Com efeito, antes do nascimento de Cristo, quem pensaria, ou suspeitaria que Deus tivesse um coração?! Nem os gentios, habituados a considerar os seus deuses como seres horríveis, monstruosos, expressão da força e do poder, sem coração e sem amor, insensíveis às tribulações humanas, sem o mínimo afecto; e muito menos os Israelitas, habituados à lei do terror, a ponto de terem medo de Deus e crer que não se podia ouvir a Sua voz sem morrer (Ex 20,18-21). Pela primeira vez o mundo soube e viu, em Belém, que Deus tem um coração; ali sentiu palpitar de amor por nós, por todos os homens, o divino coraçãozinho do Menino Jesus, o Coração de Deus feito homem.

Não, não foi apenas no Calvário que Jesus deu a suprema prova do seu infinito amor por nós: foi também na gruta de Belém: no Calvário, sobre a Cruz, completou o seu horrifico sacrifício; na Encarnação e no seu nascimento, iniciou-o fazendo-Se homem, tornando-Se menino.

Que um homem aspire a ser Deus, compreende-se, porque a tal o impedem a soberba, o orgulho, a ambição; mas que um Deus se humilhe até fazer-Se homem, é incompreensível, é o cúmulo da condescendência, é o maior acto de humildade – ensina São Tomás de Aquino (in Credo in Deum) – que só encontra explicação no incomensurável amor de Deus por nós, e isto bastaria para nos revelar quanto Jesus nos amou e ama. E até que ponto! Até se revestir da nossa carne e nascer num estábulo, na força do frio, deitado sobre palhas numa manjedoura.

Ali, naquele estábulo, sobre aquelas palhas se manifestou o Coração de Jesus Cristo-Deus, como uma autêntica epifania do seu imenso amor.

E que bem o compreenderam os Santos, que enlouqueciam de amor e ternura diante de Jesus no presépio, como São Francisco de Assis, promotor dos presépios, Santo António de Lisboa, Santa Catarina de Sena, Santa Rosa de Lima, Santa Teresinha do Menino Jesus e tantos outros.

Aproximemo-nos, pois, também nós, do Menino Jesus e, como fez o Apóstolo São João na Última Ceia, apoiemos o rosto no Seu peito a fim de sentirmos os latejos do Seu divino Coração, ardente de amor por nós, e roguemos-Lhe nos inflame nesse amor, já que “amor com amor se paga”.

Com razão, por conseguinte, escreveu São Paulo: “Se alguém não ama o Senhor, seja anátema”, seja maldito (1 Cor 16,22).

HÉLDER GONÇALVES

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