terça-feira, 28 de agosto de 2012

MISTÉRIO DE DEUS - Trindade

Cristo, Redentor do homem

Apropriações e acções “ad extra” da Trindade


• Apropriações

Sabemos pelo catecismo que os principais mistérios da nossa fé são: a Santíssima Trindade, a Encarnação e a Redenção.

Estes três mistérios, o da Santíssima Trindade é o maior, o mais impenetrável, o mais adorável; e que os demais lhe são subordinados.

De facto, a Encarnação e a Redenção são actos temporais realizados no Homem-Deus, Jesus Cristo. Já o primeiro, ao contrário, tem por objecto os actos eternamente subsistentes da vida divina, ou seja, a geração do Filho e a processão do Espírito Santo.

Se a Encarnação e a Redenção ultrapassam a medida da nossa inteligência é porque elas se unem a uma das três Pessoas divinas, ao Filho de Deus: é isso que leva esses dois factos a uma ordem absolutamente divina, ultrapassando inteiramente a luz da razão. É por estarem na dependência do mistério da Santíssima Trindade que eles são também mistérios. Assim, só há um mistério, e todos os outros são prolongamentos desse dogma fundamental.

Segue daí que ele é o objecto principal da nossa fé e como o centro para onde ela é levada e para onde ela tende.

Sim, ela tende. Pois a fé traz com ela uma tendência a nos unir a Deus: Pai, Filho e Espírito Santo. Por essa razão nós dizemos: eu creio em Deus.

Jesus Cristo Nosso Senhor, na sua natureza humana e no mistério da Sua vida temporal é um laço destinado a nos unir à Santíssima Trindade, que é o nosso fim supremo e último.

Não devemos esquecer-nos que Jesus Cristo, como homem, é apenas um intermediário, um mediador, como diz São Paulo, entre a Santíssima Trindade e a alma humana. "Mediator Dei et hominum homo Christus Jesus".(I Timot. 2,5)

Ele cimentou no seu Sangue essa aliança indissolúvel; é só por Ele que se realiza essa união eterna; mas Ele não é, como homem, a finalidade superior que a fé nos revela, onde a esperança nos eleva e a caridade nos faz participar por antecipação. "Ninguém vem ao Pai senão por mim", diz-nos Ele (Jo 14,6). Só podemos ir ao Pai por Jesus Cristo; mas é para o Pai que devemos ir. O Pai é tomado aqui como toda a Trindade.

Em Deus a Trindade de Pessoas, são uma unidade indissolúvel da natureza divina.

Deus é essencialmente um e único. Ele não poderia, de modo algum, ser vários deuses, como há vários homens. Quem diz Deus, diz o poder, a sabedoria infinita, a bondade por essência. Se pudesse haver vários deuses, cada um deles seria limitado por algum lado, nenhum seria Deus. Logo só pode haver um Deus.

Dizendo que só há um Deus, entende-se que a natureza divina é essencialmente una, e que ela não se pode multiplicar entre várias pessoas diferentes umas das outras.

Em Deus, a natureza divina não se multiplica , ela não se pode multiplicar : e no entanto, sendo essencialmente una em si mesma, ela é comum a três Pessoas distintas. O Pai possui a natureza divina, o Filho a possui, o Espírito Santo a possui; e é a mesma e única natureza nos três. Assim, o Pai, o Filho e o Espírito Santo não são três deuses, mas um só Deus. Se eles fossem três deuses, haveria três naturezas divinas; ora, não pode haver mais do que uma.

Essa natureza única não é dividida entre as três Pessoas, como se cada uma possuísse um terço; ela é inteira em cada, como a natureza humana é inteira em cada homem. O mistério consiste justamente nisso que a natureza divina é inteira em cada uma das três Pessoas sem ser por isso multiplicada ou triplicada.

A concepção da natureza divina pede que ela seja una e indivisível; é assim impossível que ela seja multiplicada.

O catecismo exprime essa verdade quando diz: O Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus; não são três deuses, mas um só Deus em três Pessoas.

Em Deus há três pessoas e uma única natureza. A distinção entre as pessoas não vem da natureza que é única para todas as três, mas do facto que a natureza divina mantém em cada pessoa Relações diferentes.

O Pai tem para com o Filho uma relação de Paternidade. O Filho tem com o Pai uma relação de Filiação. O Espírito Santo tem com o Pai e com o Filho uma relação de Processão. A natureza divina é Pai na Pessoa do Pai, mas não é Pai na Pessoa do Filho; essa mesma natureza é Filho na Pessoa do Filho, mas não é Filho na Pessoa do Pai; enfim, esta mesma natureza é Espírito Santo na terceira Pessoa, mas não é Espírito Santo nem no Pai nem no Filho. Logo o Pai não é a mesma pessoa que o Filho, o Filho não é a mesma pessoa que o Pai, o Espírito Santo não é a mesma pessoa que o Pai nem que o Filho.

Assim, as três pessoas divinas têm isso em comum, elas não são feitas nem criadas. E elas têm em próprio que o Pai não é de ninguém; que o Filho é do Pai unicamente, por geração; que o Espírito Santo é do Pai e do Filho por processão.

Um é o Pai, outro o Filho, outro o Espírito Santo, mas pela unidade de natureza, o Pai, o Filho e o Espírito Santo são um só e mesmo Deus, visto que em Deus não pode haver nada além de Deus.

Sendo absolutamente iguais em todas as coisas, as Pessoas divinas possuem igualmente todos os atributos que convém à natureza divina: imensidade, imutabilidade, eternidade, poder, sabedoria, bondade.

Contudo, alguns atributos podem ser relacionados mais a uma do que às outras das Pessoas divinas.

O Pai, sendo o princípio das outras Pessoas e como a fonte de onde elas derivam tem por atributo o poder. Dizemos dele que é o Pai Todo poderoso. O poder convém à Paternidade.

O Filho, gerado pelo Pai como uma imagem onde se reproduz toda a essência divina, como uma luz esplêndida brotando da inteligência incriada, tem por atributo a Sabedoria. Ele é muitas vezes chamado de Sabedoria eterna. A Sabedoria é o mais belo fruto da inteligência.

O Espírito Santo, procedendo do Pai e do Filho como um suspiro do seu mútuo amor, como um elan do coração de Deus, tem por atributo a bondade e o amor.

Assim, de certo modo, distribui-se entre as Pessoas divinas os atributos de Deus, apesar de que, na realidade, eles pertençam integralmente a cada uma das três Pessoas.

No Evangelho de São João, Nosso Senhor repreende os seus Apóstolos: "Não credes que eu estou no Pai e que o Pai está em mim?" (Jo.14,10).

Não podemos medir toda a profundidade destas palavras, mas sabemos que ela se realiza em Nosso Senhor tanto como homem quanto como Deus.

Em primeiro lugar, o Filho habita no Pai. São João o chama "o Filho unigénito que está no seio do Pai" (Jo.I,18).

Ele está no Pai porque a Sua natureza é idêntica à natureza do Pai; Ele está no Pai como no seu Princípio, onde ele nasce eternamente, de quem ele é o luminoso resplendor; ele está no Pai, enfim, como naquele com quem se relaciona e onde, poderíamos dizer, vem de novo mergulhar.

Por outro lado, o Pai habita no Filho; ele está no Filho pela comunhão da natureza, mas também como na sua própria imagem, como no objecto da sua complacência eterna, como naquele em quem ele manifesta, sem alteração nem diminuição, as suas infinitas perfeições: "Speculum sine macula majestatis illius" (Sab.7,26).

Existe, assim, uma recíproca habitação do Filho no Pai e do Pai no Filho, não somente por causa da natureza comum, mas ainda por causa das relações que os unem.

Igualmente, o Espírito Santo está no Pai e no Filho, pela natureza comum e como no seu Princípio; como no coração de onde ele procede sob forma de amor. Reciprocamente, o Pai e o Filho estão no Espírito Santo como no laço que os une, como num mútuo abraço.

Dessa habitação recíproca das Pessoas divinas resulta que elas são absolutamente inseparáveis e que onde uma estiver as outras aí estarão, como os elos de uma corrente carregam uns aos outros. Nosso Senhor lembra frequentemente esta verdade em São João: "Meu Pai está comigo e não me deixou só..., meu Pai não age separado de mim" (Jo.8,29).


• As Acções “ad extra” da Trindade

Quando falamos de operações divinas não designamos os actos internos de Deus nele mesmo, que dão origem à geração do Verbo e à processão do Espírito Santo. Designamos por operações os actos externos de Deus que têm por objecto as criaturas.

Os actos internos fundamentam a distinção de Pessoas.

As operações externas (ad extra) são obra indivisível das três Pessoas.

As três Pessoas divinas têm a mesma natureza; logo elas têm a mesma inteligência e vontade única. Como consequência, toda operação exterior é comum entre elas, como vindo de um princípio comum. Nosso Senhor diz em São João: "O Pai, que está em mim, este é que faz as minhas obras" (Jo.14,10).

De facto, quando Jesus Cristo age como Deus, Ele age pela Sua natureza divina, pela Sua inteligência divina, pela Sua vontade divina, tudo o que lhe é comum com o Pai e o Espírito Santo. Segue daí que essas duas Pessoas agem unidas com ele. Aliás, em Deus, natureza, inteligência, vontade, são uma única e mesma coisa, princípio de tudo o que existe.

No princípio Deus criou o céu e a terra. Esta criação é obra inseparável de toda a Santíssima Trindade. Na plenitude do tempo, Deus realizou a obra da Redenção do mundo pela Encarnação e morte de seu Filho único. Ora, tudo o que fez Nosso Senhor, como Deus, nessa grande obra, foi realizado por toda a Santíssima Trindade. E Deus também não cessa de santificar as almas; esta obra de santificação é tão grande que toda a Santíssima Trindade a realiza, como diz Nosso Senhor: "Se alguém me ama...nós viremos a ele e faremos nele a nossa morada" (Jo.14,23).

Mas, como atribuímos a cada Pessoa uma qualidade determinada: poder, sabedoria, bondade, mesmo sabendo que estes atributos são comuns a todas as três, assim atribui-se a cada uma certas operações exteriores, mesmo sendo sempre obra de toda a Santíssima Trindade.

Quando o Credo diz: Creio em Deus Pai Todo poderoso, criador do céu e da terra, relaciona especialmente com o Pai a obra da criação. O que mais se manifesta na criação é o poder que tira algo do nada. Mas as outras pessoas não estão excluídas dessa obra. Assim como um trabalhador não executa uma obra sem conceber primeiro uma planta e sem ter a intenção de fazer a coisa direita, também o Pai, para criar o mundo, usou a sabedoria do Filho e a bondade do Espírito Santo (Sto Agostinho).

A Redenção é especialmente obra do Filho. O que brilha nela não é tanto o poder mas a sabedoria, esta sabedoria que soube conciliar tão admiravelmente a justiça e a misericórdia, buscando a imolação do inocente para a salvação do culpado, e mais, acalmando a Deus pelo sacrifício de Deus (Sto Agostinho, São Leão).

Assim o Filho chama a si esta obra e se Encarnou para realizá-la. O Pai trabalhou nela como autor da Encarnação; o Espírito Santo como autor dessa união maravilhosa de duas naturezas infinitamente distantes.

Enfim, a obra da santificação das almas é, atribuída ao Espírito Santo. É um Espírito de amor, e é o Amor, que santifica as almas. No céu, nesse céu dos céus que é a habitação da Santíssima Trindade, o Espírito Santo une o Pai e o Filho num laço indissolúvel; na terra, ou melhor, nesse céu que é a Igreja, ele une as almas em Jesus Cristo, para que Jesus Cristo as reúna a Deus. Foi para essa obra que Ele foi enviado sobre a Igreja nascente no dia de Pentecostes.

Esta doutrina mostra-nos que é justo e legítimo atribuir certas operações a certas Pessoas. Quando a Sagrada Escritura nos diz que tal Pessoa fez tal obra, não é uma simples maneira de falar. É verdade que esta Pessoa teve uma acção especial e que as outras Pessoas só participaram da obra por concomitância, ou seja, em virtude do laço que as torna inseparáveis.

A Sagrada Eucaristia apresenta-nos um fenómeno análogo: é bem verdade que o Corpo de Jesus está sob a espécie do pão de um modo muito especial; o Sangue de Nosso Senhor está presente na hóstia consagrada por concomitância, ou seja, por ser inseparável do corpo no estado actual de Ressurreição de Nosso Salvador.


Exame de "Mistério de Deus - Trindade"
de Hélder Gonçalves a 27.06.2006
Escola Superior de Teologia e Ciências Humanas de Viana do Castelo
Professor: Padre Jorge Alves Barbosa
Avaliação Final: 14 Valores

HÉLDER GONÇALVES

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

CRUZ DE CARAVACA

A Cruz de Caravaca é, segundo se crê, uma “lignum crucis”: um pedaço de madeira pertencente ao conjunto onde Cristo foi crucificado, conservado num relicário em forma de cruz de duplo braço horizontal.

É venerada, portanto, como uma “vera cruz”, uma cruz verdadeira.

A fazer fé na tradição, o relicário, uma cruz oriental que terá pertencido ao patriarca Roberto de Jerusalém, o primeiro bispo da Cidade Santa, depois de esta ter sido conquistada aos muçulmanos durante a primeira cruzada (1099), foi depositado por anjos no Alcázar de Caravaca, no noroeste murciano, em Espanha.

Corria, então, o ano de 1232 e a região ainda vivia sob domínio mouro. Diz a lenda que entre os prisioneiros cristãos do califa almóada Abu-Ceyt estava um sacerdote, Ginés Pérez de Chirinos, que despertou a curiosidade da autoridade muçulmana.

Convidado a celebrar uma missa, no salão principal do Alcázar, o padre aceitou o desafio.

Mas, a dado momento, interrompeu a liturgia, alegando que não podia oficiar por não ter um crucifixo. E foi precisamente quando terminava essa explicação que se deu a aparição de dois anjos, que depositaram no altar o relicário.

Caravaca foi reconquistada pelos cristãos 11 anos depois e a história da aparição andou de boca em boca.

Primeiro na região, depois por toda a Espanha, o carácter milagroso da cruz adquiriu fama.

A Cruz de Caravaca pertence às chamadas cruzes orientais – não é uma cruz latina de apenas um braço horizontal, nem uma cruz tau em forma de T maiúsculo, nem uma cruz grega com quatro braços de dimensão igual – e o seu aspecto faz lembrar a “lignum crucis” patriarcal da Igreja Ortodoxa, guardada na Cripta do Santo Sepulcro de Jerusalém.

HÉLDER GONÇALVES

domingo, 26 de agosto de 2012

CÚPULA DO ROCHEDO - Israel

- Terá sido aqui, o lugar verdadeiro do templo do rei Salomão?

- Terá sido aqui, o local onde Abraão esteve prestes a sacrificar o filho?

- Terá sido aqui, que Jacob teve a fabulosa visão de uma escada para o Céu?

- Terá sido aqui, que Pilatos condenou Jesus?

- Terá sido daqui, que Maomé subiu até às alturas?


A Cúpula do Rochedo, encontra-se situada no coração do centro histórico de Jerusalém, sendo um dos mais antigos e venerados do mundo.

Para os mulsumanos, aqui albergava a Rochedo de onde Maomé subira aos Céus de acordo com a sura 17 do Alcorão.

Também neste local existira uma Igreja dedicada a Santa Sofia, onde os cristãos acreditavam que o Rochedo era o local onde Pôncio Pilatos condenara Jesus à crucificação.

Neste local, também os Judeus veneram o Rochedo por pensarem que aqui é o local onde se situava o lendário Templo de Salomão.

Musulmanos, Cristãos e Judeus, consideravam-se irmãos pela mesma fé no único Deus do profeta Abraão. E, enquanto, para os Judeus, Jesus fora um falso Messias, o próprio Alcorão o reconhecia como um verdadeiro profeta, ao qual os seus ensinamentos foram aperfeiçoados por Maomé.

HÉLDER GONÇALVES

terça-feira, 21 de agosto de 2012

ÉTICA SOCIAL E FAMILIAR - A Familia lugar de Humanização

• Família como dom de Deus à humanidade

A família possui a sua origem no amor criador de Deus. Ao criar o homem e a mulher, Deus consagrou o amor humano no qual o matrimónio e, por via de consequência a família, são os lugares por excelência de expressão. A revelação divina indica-nos assim o sentido e o alcance geral do matrimónio e da família segundo o desígnio de Deus sublinhando a ligação do homem e da mulher. Então este exclamou: “desta vez, é osso dos meus ossos e carne da minha carne! Esta será chamada mulher porque foi tirada do homem. Eis porque o homem deixa o seu pai e a sua mãe e se une à sua mulher e eles se tornam uma só carne” (Gen 2, 23-24).

Por esta palavra da escritura, a família manifesta-se como um duplo dom de Deus à humanidade: ela é ao mesmo tempo um Dom de amor e um Dom de vida. Trata-se exactamente de um duplo dom, e não de dois dons distintos, porque a vida que recebemos de Deus procede do Seu amor: Deus criou-nos porque nos ama.

A família é um dom de Deus à humanidade, pois foi por amor que nos criou e foi por amor que nos salvou pelo sangue do seu Filho único, Jesus Cristo, em quem todos os seres que crêem no amor criador do Pai se tornam uma mesma família. No coração do duplo mistério da Criação – Redenção há o mistério do amor do Pai para com o mundo concretizado pelo sacrifício do Filho: “Jesus, sabendo que a hora de passar deste mundo para o Pai havia chegado, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim”. (Jo 13,1)

Dom do amor de Deus à humanidade a família torna-se assim, pelo sacrifício de Cristo, o lugar do dom do amor mútuo, dom recíproco entre homem e a mulher, especialmente no casamento. Igualmente o sacrifício e a aliança de Cristo com a Igreja sempre serviram de símbolo e de modelo para a família cristã em continuidade com o apóstolo que conclama os esposos ao amor verdadeiro: “maridos, amai as vossas mulheres como Cristo amou a Igreja: Ele entregou-se por ela, a fim de purificá-la com o banho da água e santificá-la pela Palavra, para apresentar a si mesma a Igreja, gloriosa, sem manchas nem rugas, ou coisa semelhante, mas santa e irrepreensível. Assim também os maridos devem amar as suas próprias mulheres, como os seus próprios corpos. Quem ama a sua mulher ama-se a si mesmo, pois ninguém jamais quis mal á sua própria carne, antes alimenta-a e cuida dela, como também faz Cristo com a Igreja, porque somos membros do seu corpo. Por isso deixará o homem o seu pai e a sua mãe e se ligará á sua mulher, e serão ambos uma só carne. É grande este mistério: refiro-me à relação entre Cristo e a sua Igreja. Em resumo cada um de nós ame a sua mulher como a si mesmo e a mulher respeite o seu marido” (Ef 5, 25–33).

Mais adiante, o apóstolo associa os filhos a esta trama sem fim de tornar perfeito o amor e coerentes as relações na família: “Filhos, obedecei a vossos pais, no Senhor: isto é justo. Honra teu pai e tua mãe, tal é o primeiro mandamento ao qual se une uma promessa: para seres feliz e teres uma longa vida sobre a terra. E vós pais, não exaspereis os vossos filhos, mas usai, educando-os, das correcções e disciplinas que se inspiram do Senhor” (Ef 6, 1– 49).

Tal é o fundamento escriturístico da moral familiar que tem o amor como núcleo vital. O amor que preside a toda a relação entre esposo e esposa de sorte que não há mais senhor e escravo (Cf. Santo Ambrósio, Exameron, v,7,19.), superior e inferior, mas igualdade de direitos e de dignidade, no respeito às diferenças inerentes à natureza própria do homem e da mulher. O amor que regula as relações entre pais e filhos de tal modo que os primeiros encontrem o seu regozijo na presença dos seus filhos, e que estes cresçam na alegria graças à afeição e ao apoio dos seus pais.

Dom do amor de Deus à humanidade, a família quer a si mesma como um dom da vida de Deus à eternidade. Foi porque Deus nos amou que nos criou; foi porque Deus nos amou que Ele nos deu a vida. Por isso criou o ser humano, homem e mulher para se amarem e fundarem uma família, a fim de promover a vida. Desde a sua origem, desde o seu começo, o homem vive pelo sopro de Deus, da vida de Deus. É nesta perspectiva que o Seu Filho escreveu toda a sua missão redentora: “Eu vim para que os homens tenham a vida e a tenham em abundância” (Jo 10, 10).

Dom da vida à humanidade, a família é chamada a se tornar assim o santuário da vida (João Paulo II , EV , no. 6.), o lugar, o lar da vida, o lugar onde a vida, toda a vida humana é acolhida, promovida, respeitada, protegida etc. (Id , no. 5 ). O direito mais fundamental do homem, diz o Papa João Paulo II, é o direito á vida. ( João Paulo Ii, “Entrez dans L’esperance”, Ed. Plon-Mane, Paris, 1994, p.297).

É á família que pertence em primeiro lugar o dever de salvaguardar este direito, particularmente para os seres frágeis, os seres humanos inocentes e sem defesa, aí compreendidos aqueles que acabam de ser concebidos, de nascer ou igualmente aqueles que estão avançados na idade e perderam toda a autonomia. A família deve permanecer o lugar da gratuidade, do acolhimento e do dom: onde todo o homem, qualquer que seja, tenha a chance de ser reconhecido, respeitado e honrado por ser uma pessoa. Ela é o primeiro lugar onde a vida, dom de Deus, deve ser convenientemente acolhida e protegida contra os numerosos ataques aos quais está exposta, o lugar onde ela deve se desenvolver consoante as exigências de um crescimento humano autêntico. A família é o lugar do anuncio, da celebração e do serviço à vida. (Id. ,EV, no. 92 e 94).


• Família, fonte de vida e dos valores da humanidade

Todo dom implica dever, e responsabilidade: “Vós recebestes gratuitamente, daí também gratuitamente” (Mt 10, 8.) Todo valor, toda a riqueza de um dom provém do facto que é dado. Um dom é cara justamente porque não tem preço, ele foi dado gratuitamente, graciosamente... É neste sentido que no mundo, vive-se a experiência da família como dom do amor e dom da vida de Deus à humanidade. Dons gratuitos que nos lembram os nossos deveres, as nossas responsabilidades face á vida, ao homem, à humanidade. A família permanece deste modo, a primeira fonte da vida e dos valores da humanidade, pois é na família que se recebe a vida e é ali que se adquire os primeiros reflexos da vida salutar com o outro (Cf. Paul Ricoeur, Soi-moi comme autre, Ed. Du Sevil, Paria, 1990, p. 202), na sociedade. É na família que se aprende o respeito á vida, o acolhimento ao outro e a aceitação mutua, o dialogo, a partilha, etc. antes de viver tudo isto com o mundo exterior. A criança que não viveu a boa experiência do calor familiar animada pelo amor dos pais, a vida salutar junto aos seus irmãos e irmãs terá dificuldade, de se estruturar na vida para levar uma coexistência pacifica com os outros.

Ainda hoje, quando a criança vem ao mundo, a comunidade dos adultos esforça-se em integrá-la na sociedade através de um certo número de ritos de passagem que iniciam à vida e aos valores nobres da humanidade: o respeito á vida, a toda a vida, mesmo àquela dos seres inferiores como os animais, as plantas, os pássaros que constituem o nosso meio ambiente vital, o respeito ao outro, mesmo aos mais fracos, como os deficientes, os doentes, os pobres, as pessoas idosas, o respeito para com o uso e costumes, como por exemplo as exigências concernentes ao regime matrimonial, à veneração aos defuntos, às exigências da paz e da convivência fraternal na comunidade etc. Todo o sistema de educação tem por finalidade ligar o homem ao homem pelas múltiplas relações de solidariedade em vista das exigências sociais vistas. Toda a atitude egocêntrica, todo o desejo de êxito pessoal é contado entre os pecados sociais mais graves.

Do mesmo modo, além da morte que é golpe objectivo de direito á vida, considera-se como faltas morais: a falha no acolhimento, a incitação á discórdia, a inveja, a mentira, o roubo, o rancor, a cólera, a injuria, o mau uso dos bens da natureza, em resumo, tudo o que prejudica a vida, isto é, à pessoa e aos bens, aos meios vitais dos homens tomados individualmente e colectivamente. Todo o mundo é chamado a agir em favor da felicidade, da vida e da sobrevivência de todos.

Devemos tudo isso à nossa concepção unitária da vida. Com efeito, entre os valores nobres da humanidade há esta consideração da união vital ou da unidade de vida existente entre os seres de uma mesma família e para além das famílias, daqueles de um mesmo clã, de uma mesma sociedade. Trata-se do principio da união vital e da participação que se quer “uma relação de ser e de vida de cada um com os seus descendentes, a sua família, os seus irmãos e irmãs do clã, seu ascendente e com Deus, fonte ultima de toda a vida... , uma relação análoga de cada um com o seu património, a sua terra, com tudo o que ela contem e produz, com tudo o que nela cresce e vive” (Cf. Paul Ricoeur, Soi-moi comme autre, Ed. Du Sevil, Paria, 1990, p. 202).

O principio da união vital e da participação supõe a comunhão entre todos os seres, ao centro dos quais está o homem. Donde o sentido mesmo da vida humana que é preciso captar no seu sentido pleno enquanto “vida integral”, “vida totalmente humana” na sua dupla dimensão individual e comunitária, espiritual e física. Uma vida integral, individual e física enquanto recebida em cada existente, e comunitária e espiritual enquanto participada de uma mesma e única fonte, Deus. Isto é uma vida participada, o que significa dizer que o indivíduo não vive a sua própria vida, mas a da família, da comunidade, o ser humano é essencialmente membro e não “porção”. Ele é certamente um ser autónomo, mas sempre um ser como outrem.

É nesse “antropocentrismo comunitário” que convém também compreender a noção de pessoa humana que não está confinada naquela da “liberdade pessoal”, não que esta ultima seja inexistente ou desconhecida, mas aqui a liberdade pessoal não é senão uma realidade numa vasta rede de relações familiares nas quais o indivíduo não cessa de levar uma existência independente e autónoma. Portanto, é numa perspectiva personalista que se compreende a nossa concepção do homem.

Deduz-se desta reflexão que a moral é essencialmente antropocêntrica e vital: isto significa que o homem e a vida humana são o critério de todo o julgamento moral sendo bom o que contribui para a vida, para a sua promoção, a sua conservação ou protecção; aquilo que faz desabrochar ou aumentar o potencial vital do indivíduo ou da comunidade. Em compensação todo o acto presumido prejudicial à vida dos indivíduos ou da comunidade passa por mau. A moral, como religião coloca o homem no centro de tudo. O respeito à vida é por consequente a primeira norma que orienta os actos humanos. A vida humana deve ser protegida desde que venha a dar “sinal de vida”. Mesmo nos casos de concepção extra- matrimonial, o recurso ao aborto é proibido. E quando esta vida vem ao mundo, o primeiro dever é de promovê-la. O cuidado em proteger a vida, isto é, a luta contra o mau habitat, as doenças, a ignorância e a irresponsabilidade é, uma existência do direito natural.

Antropocêntrica e vital, ter-se-á observado, a nossa concepção não malogra em um horizontalismo estreito, trata-se de uma concepção inteiramente religiosa cujo centro é o homem, mas sempre em referencia ao Criados e aos ancestrais. Esta é uma concepção concreta, vivida, uma moral religiosa na qual Deus se revela como soberano bem para o qual é preciso elevar-se, realizando o que é bom, elevar-se para Deus, para o bem, é combater tudo o que tende a rebaixar e a desonrar o homem, é lutar contra o mal que atenta á vida, ao homem. Assim todo atentado à vida como ao homem é uma desonra à própria fonte da vida que é Deus, e aos ancestrais por quem nós recebemos este dom.


• A responsabilidade dos pais e da sociedade

Compreende-se desde logo a responsabilidade dos pais e da comunidade no trabalho de humanização da família humana. As nossas famílias só poderão ser santuários de vida, lugar da prática do amor, da caridade, lugar d educação para a vida salutar com o outro na sociedade se os pais assumirem de coração o seu papel de primeiros educadores. É todo o trabalho da moralização, de evangelização da vida da família que somos chamados a realizar para sempre a entrada no terceiro milénio.

A primeira tarefa nesta moralização, nesta evangelização compete aos pais. Para educar os seus filhos para o amor, para a vida, para a prática da caridade e outras virtudes nobres da humanidade, à busca da paz, eles próprios devem começar a amar-se verdadeiramente, a respeitar a vida, a praticar a caridade, a procurar a paz. Não se educa melhor que dando bons exemplos. O amor, os pais querem-se bem, inspira às crianças o sentimento de serenidade, assegura-os sobre o caminho da vida e dispõe-nos, mais tarde a viver e a trabalhar pacificamente com os outros. Ao contrário, as crianças que crescem em tensão familiar, levam consigo ressentimentos e frustrações que não os dispõe à coexistência pacifica com os outros no futuro.

A moralização, a evangelização da família passa portanto pela revalorização da família do qual o amor, a unidade e a indissolubilidade do casamento são a garantia de estabilidade. Muitas crianças no mundo são infelizes por causa da separação dos pais, outras vivem em famílias incompletas, como o afecto da mãe sem a autoridade do pai ou vice-versa, outras ainda vivem simplesmente na rua, porque não possuem uma família ou por terem sido rejeitadas, abandonadas pelos pais.

Hoje na maior parte das grandes cidades proliferam vocábulos para qualificar esta última categoria de crianças. Chamam-se pedintes, mendigos, meninos de rua, vadios, etc. mas que se fez a estas crianças para merecerem tal sorte?

A maneira como a sociedade trata as suas crianças não demonstra somente que esta é capaz de ter compaixão e protecção humanitária, mas igualmente que ela tem um senso de justiça, que está engajada rumo ao futuro e deseja melhorar a condição humana para as gerações vindouras.

Vê-se que a tarefa ultrapassa um tanto o nível somente dos pais. È a toda a comunidade que cabe velar pela moralização e evangelização da vida familiar. Da estabilidade das nossas famílias, faz-se necessário repetir, depende o futuro da sociedade, a estabilidade da comunidade. Pertence á comunidade o dever de se moralizar para exigir da autoridade pública e do poder decisório, medidas adequadas para proteger a família contra os males que ocorrem hoje; as imagens imorais e violentas da televisão, o tráfico da drogas e outros estupefacientes junto aos jovens, a brutalidade de certos pais, a falta de estabilidade das famílias devido ao divorcio, à poligamia sob as suas diversas formas disfarçadas, à proliferação das uniões ditas livres, etc, etc, etc...

Em matéria de educação das crianças e dos jovens, o papel atribuído á comunidade cresce cada vez mais. Pois nenhum pai pode pretender decidir por meio só do seu ideal sem contar com a acção conjugada dos outros membros da comunidade ou das associações de bairro. Hoje as nossas crianças movem-se num vasto campo de relações. O seu futuro depende certamente da educação recebida na família, mas também daquela oferecida na Igreja ou na escola, das influencias dos outros com quem se encontram na rua, no bairro, no local de férias, etc.

Torna-se particularmente exigente para os pais preservar as suas crianças de atitudes imorais e assegurar que a sua educação em matéria de relações humanas e a sua percepção do mundo, se faça de maneira apropriada, de acordo com a sua idade ou sensibilidade e consoante a noção que adquiriram do bem e do mal. (João Paulo II, Message pour la XXX, Loc. Cit, p. 7.) Compete portanto à comunidade, a todas estas pequenas comunidades de escopo humano, como aquelas que chamamos entre nós Comunidade Eclesial, fazer um projecto educativo comum susceptível de preparar um futuro melhor para as nossas crianças e jovens.


• A Igreja como mãe e educadora, guia e pioneira

Neste esforço de humanização da nossa sociedade pela evangelização da vida familiar, a tarefa da Igreja é sobremodo grande enquanto mãe e educadora, guia e pioneira. Com efeito, como dizia Santo Agostinho na sua época; “Não terá Deus como Pai, quem recusa ter a Igreja como Mãe” (Santo Agostinho, De symbolo ad Catech. XIII ). Desde as suas origens a Igreja foi querida pelo seu fundador como mãe e educadora; “a seus filhos, ela considera como mãe, deve assegurar educação que inspiração da sua vida do espírito de Cristo; ao mesmo tempo ela oferece-se para trabalhar com os homens para promover a pessoa humana na sua perfeição, como também para assegurar o bem da sociedade terrestre e a construção de um mundo cada vez mais humano” (Vaticano II, G:E:M., nº 3). Dever-se-á considerar o exercício do seu direito não como uma ingerência ilegítima, mas como colaboração preciosa da sua solicitude maternal, que coloca os seus filhos ao abrigo dos perigos graves de um envenenamento doutrinal e moral. (Pio XI, Encíclica sobre a educação da juventude, 1929, Ed. Bonne Presse, Paris, 1930, p. 1)

Nesta perspectiva, a missão evangelizadora sobre a ideia da força da Igreja Família. Esta expressão, tão rica de sentido recorda a natureza da Igreja como lugar de perdão e de festa, isto é, lugar de atenção ao outro, de acolhimento, do dialogo, de confiança mutua.

Devemos, entretanto, reconhecer que temos ainda muito a fazer no âmbito da pastoral familiar, e matrimonial. Mais que um simples trabalho de moralização, é toda uma evangelização das nossas famílias à qual queremos nos associar até ao terceiro milénio, pois existem ainda muitos elementos sobre os quais merecem ser clarificados à luz do evangelho.

Este é o caso por exemplo do dote, este presente simbólico entre duas famílias, que na sua situação sócio - económica difícil que atravessa uma grande parte das famílias cristãs, tende a se tornar verdadeiramente moeda de troca indo de encontro assim, à dignidade da mulher e anuviando o carácter gratuito do amor entre o homem e a mulher. Há outro sim urgência em salvaguardar a unidade e a indissolubilidade do matrimónio nos diversos continentes, lutando contra a poligamia sob todas as suas formas declaradas ou disfarçadas e o divorcio, estes dois flagelos que destróem a família e o matrimónio.

Além destes problemas que engajam a nossa Igreja em todo um trabalho de evangelização e de actualização da catequese sobre o matrimonio, sublinha-se outros males que inquietam as famílias a nível mundial, notadamente o drama da sida. Com efeito, como atestam as estatísticas, todos os continentes estão atingidos pela pandemia da sida, cuja primeira vitima é evidentemente a família. Quando uma parte do casal é atingida pela doença, é todo um drama, pois a outra é frequentemente também infectada e toda a família fica ameaçada. Hoje o mundo conta com muitas crianças órfãs por causa da sida. A Igreja, segundo a sua realidade e possibilidade, tem que lutar contra este flagelo, mas o caminho é longo, dada a complexidade do fenómeno. O trabalho tanto se faz por meios médicos, como a nível de informação e sensibilização através dos diversos serviços pastorais que as paróquias têm.

Ao lado da sida, temos o escândalo das diversas guerras, que por mais justas que pareçam ser, são injustas, nada se justifica uma guerra, mas traz consequências de milhares de pessoas deslocadas do seu próprio meio.

Mas quem são estas pessoas senão famílias divididas, os casais desunidos, as crianças separadas dos pais e as famílias que vagueiam pelas florestas sem rumo, etc...

Face a este drama, diante do qual nos achamos muitas vezes impotentes, as nossas acções consistem em invocar a assistência Divina, apelando a sociedade à solidariedade, à responsabilidade dos nossos dirigentes políticos e por vezes à ajuda internacional.

Enfim, hoje em dia em 2005 ainda há miséria e pobreza de todas as formas. Muitos pais não dispõem de meios para assumir a educação dos seus filhos. Assim ficamos convencidos que problemas como delinquência juvenil, abortos clandestinos entre as jovens, o planeamento familiar nas famílias numerosas, etc... estão relacionados com questões sociais de salário, alfabetização, casa, segurança social, emprego etc... por isso, a questão da promoção humana tem de ser uma das maiores preocupações da Igreja, onde como mãe e educadora dá o melhor de si para tratar os doentes, instruir os homens e mulheres, reeducar os jovens desfavorecidos, acompanhar as pessoas idosas...

A sociedade, em qualquer parte do mundo, sem sequer ter consciência disto, espera muito da Igreja, esta mãe cuja vocação é de “alimentar e cercar de cuidados os seus filhos” ( Ef 5, 29 ). ( Vat. II , LG ). Deste modo a Igreja é chamada a reflectir sobre a missão da Igreja no mundo de amanhã. Mas amanhã, com o ritmo para onde vai a mudança das mentalidades ela exigirá ainda muito mais. Para muitos era bom que ela mudasse como e com o mundo. Para muitos era bom que a Igreja fosse “democrática”, o que significa consultar o povo de Deus nos mais diversos temas, não somente às questões disciplinares, como o celibato dos sacerdotes, ao acesso das mulheres ao sacerdócio, mas também e sobretudo quanto ás questões morais como as referentes à procriação, ao aborto, à contracepção, ao divorcio, à eutanásia, à pena de morte... muitos concordarão com a Igreja quando anunciar o amor, mas são poucos numerosos os que aceitarão o conteúdo que dará a esta palavra, e menos numerosos ainda aqueles que escutarão quando vier a denunciar o pecado.

Face a estas situações, a Igreja de amanhã é chamada a responder aos apelos dos homens e das mulheres do nosso tempo evitando de sucumbir a uma dupla tentação: a de uma abertura ao mundo que afiançasse, em ultima análise, um liberalismo ou um indiferentismo e a de um enrijecimento do seu ensinamento que a rompesse das realidades do mundo. A melhor solução, consiste em uma busca acompanhadora que saiba unir rigor e indulgência para permanecer fiel à as vocação de mãe e educadora e realizar o duplo elemento essencial da sua missão que é a glória de Deus e a salvação dos homens. Trata-se antes de tudo de um acompanhamento espiritual, evangélico e pastoral que se quer paciente, escuta e amplo dialogo, exortação e testemunho, presença discreta, mas efectiva e afectiva junto dos homens e mulheres da nossa sociedade, para aconselhar, ajudar, esclarecer, para encorajar os fieis, apoiar os fracos, recuperar os pecadores...

Assim a Igreja de amanhã é chamada a considerar a sua missão como a do servo sofredor do qual fala a Sagrada Escritura;


“Eis meu ser a quem apoio,
meu eleito, ao qual quero bem!
Pus nele meu espirito;
Ele levará o direito aos povos.
Não gritará, não levantará a voz
e não fará ouvir sua voz pelas ruas.
Não quebrará a cana já rachada
nem apagará a mecha que está morrendo;
com fidelidade levará o direito.
Ele não esmorecerá nem se deixará abater,
até estabelecer na terra o direito;
e as ilhas aguardam a sua doutrina.”
(Is 42, 1 – 4)


Exame de "Doutrina Social e Familiar (A Familia lugar de Humanização)"
de Hélder Gonçalves a 13.03.2005
Escola Superior de Teologia e Ciências Humanas de Viana do Castelo
Professor: Padre Alfredo Domingues de Sousa
Avaliação Final: 18 Valores

HÉLDER GONÇALVES

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

ANDORES COM 17 METROS

Realizou-se este Domingo, 19 de Agosto, a famosa Procissão em honra de Nossa Senhora das Dores, na Trofa, debaixo de um intenso calor onde milhares de pessoas ali se deslocaram para apreciar os seus andores e figurantes que ilustravam momentos bíblicos.
Mas o mais impressionante disto tudo são os seus 10 Andores que variam entre os 10 e 17 metros de altura e que chegam a pesar cerca de 650 kilos.

Estas estruturas são transportadas por dezenas de homens e ainda são auxiliados por mais quatro homens que cada um com uma corda vão equilibrando para evitar de se virarem, tal é a sua dimensão.

Também alguns têm que ser transportados atravessados visto que a sua largura também é muita e não passam nos prédios, chegam mesmo a bater nas varandas.

Podem verificar nas fotos que os andores chegam a atingir a altura dos prédios ao quarto andar e é preciso não esquecer e acrescentar o rés de chão.

Cada andor é um trabalho muito árduo dos seus moradores que alguns começam a ser preparados com quinze dias de antecedência.

São centenas de metros de tecido e kilos e kilos de alfinetes ali aplicados que no seu final são uma obra prima que muito se orgulham os Trofenses.

Cada andor representa uma aldeia de S. Martinho de Bougado e transporta consigo um santo. O último do desfile é o do Paranho, que carrega a imagem de Nossa Senhora das Dores.

Depois de percorrer várias avenidas, os andores regressaram ao ponto de partida, a igreja matriz de S. Martinho de Bougado, com centenas de fiéis na cauda da procissão e muitos deles a cumprirem promessas.

Esta Majestosa Procissão "continua a tocar no coração das pessoas, quer daquelas que assistem como daquelas que a incorporaram".

Aqui deixo algumas fotos para poderem verificar o dito e, quem sabe, um dia poderem assistir às Festas de Nossa Senhora das Dores.







  
Figurante Cristo Crucificado

Procissão com o Santíssimo Sacramento

Milhares de Fiéis a cumprirem Promessas
 
HÉLDER GONÇALVES

  

sábado, 18 de agosto de 2012

MULHER...UM DOM

A emancipação da mulher é uma notável conquista dos tempos modernos. Há 50 anos, o Concílio Vaticano II, ao descrever a condição do homem no mundo, no esforço por investigar “os sinais dos tempos, e interpretá-los à luz do Evangelho”, observava que “as mulheres reivindicam, onde ainda a não alcançaram, a paridade de direito e de facto com os homens” (GS 9). Felizmente, muito se avançou no sentido do reconhecimento da igual dignidade e direitos dos homens e das mulheres. No entanto, a situação de igualdade da mulher ainda não é respeitada sempre e em toda a parte, o que requer a continuidade do esforço por parte de todos em ordem a termos uma sociedade justa, fraterna e democrática.

No contexto de luta pela igualdade, soam estranhas e provocam reação e rejeição as palavras de S. Paulo quando exorta as mulheres a submeterem-se aos maridos (cf Ef 5, 21-33). É certo que o apóstolo convida os cristãos a submeterem-se ou subordinarem-se “uns aos outros” por causa da fé em Cristo, e os maridos a amarem as suas mulheres “como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela” e como se amam a si mesmos. D. Anacleto Oliveira, bispo da Diocese de Viana do Castelo, interpretando esta passagem bíblica no sentido do amor recíproco e da relação de todos com e em Jesus Cristo, esclarece: “só na medida em que todos a Ele se subordinam, é que a todos é dito, incluindo aos maridos: ‘subordinai-vos uns aos outros’. Pelo Batismo, todas as diferenças deixam de ser motivo de exclusão e opressão. Mais: cada cristão deve considerar os outros superiores a si mesmo… nas suas diferenças, incluindo as de organização social”. Então, se marido e esposa estão unidos em Cristo e se amam ao modo d’Ele, “a subordinação dela deixa de se basear em normas sociais, mas na comunhão com Cristo, de que também participa o marido” (Cf “Um ano a caminhar com S. Paulo”, p. 89).

Pegando nas referidas palavras de S. Paulo e interpretando-as em sentido não comum nem óbvio, Costanza Miriano, jornalista da televisão pública italiana, escreveu o livro com o título polémico e provocatório: “Casa-te e sê submissa: prática extrema para mulheres sem medo”. O curioso é que teve êxito de vendas e deu bons frutos em muitas mulheres, que passam o livro de mão em mão. A autora está convencida de que hoje muitos conflitos matrimoniais poderão resolver-se se a mulher entender o seu verdadeiro talento de esposa e mãe: a submissão do serviço, a sua capacidade de mediar, de unir, em vez de dividir.

O ponto de partida do seu livro foram as conversas ao telefone com uma amiga, tentando convencê-la a casar-se, pois poderia ser feliz com o seu noivo. Deu-se conta de que há mulheres que têm expectativas irreais e ideias erradas sobre o amor e o matrimónio. Para ela, a palavra submissão que usa S. Paulo situa-se não na lógica do poder mas “do serviço recíproco, que é o serviço a que está chamada a mulher”. O homem, por seu lado, “está chamado a servir de maneira diferente: deve estar pronto a morrer pela sua esposa, como Cristo morreu pela Igreja”. Para a mulher, ser submissa, no sentido paulino, “significa, literalmente, estar por debaixo para ser suporte de todos os membros da família, para acompanhar os mais débeis”.

À pergunta se uma mulher assim submissa pode ser feliz, Costanza Miriano responde: “É um verdadeiro talento. Podemos trabalhar e ter muito mais êxito, porém o que melhor sabemos fazer e o que responde aos desejos mais profundos do nosso coração é essa capacidade se servir e unir as pessoas. O amor da mulher é mais altruísta e leva o homem a sair de si, enquanto a mulher recebe (a relação física é uma representação do espiritual). Os homens e as mulheres necessitam de recuperar esses talentos específicos, pois complementam-se entre si”.

No livro, escrito com muito humor e leveza, a autora, casada e mãe de 4 filhos, deixa conselhos às esposas: que saibam acolher com doçura e paciência os maridos, que os olhem de modo positivo e saibam aceitar o bem que há neles, que saibam controlar a própria língua e guarda certas coisas para dizer no momento mais oportuno, a não ficarem num amor apenas sentimental mas de decisão, que saibam aceitar as próprias limitações e as do marido. Fala também da missão de mãe. Diz que é um erro as mães não saberem ser firmes e terem medo de causar frustrações nos filhos. Isso causa neles insegurança e indecisão. Deverão ser mais naturais e menos ansiosas na relação com eles.

Depois da atenção às esposas e mães, Costanza volta-se agora para os maridos e prepara um livro sobre eles. Analisa a frase de S. Paulo: “Maridos, estai prontos a dar a vida pelas vossas esposas”. Entende que “se a mulher tende a controlar tudo, o homem tende para o egoísmo”. Por isso, as palavras do apóstolo são apelo ao heroísmo dos maridos.

O apelo do livro não é o de recuperar o passado de domínio do homem sobre a mulher mas o de exortar ambos a viverem a relação de amor na reciprocidade dos dons: cada um oferece o seu dom próprio e acolhe o do outro, valorizando-o como o seu. Assim conjugam igualdade no valor e na dignidade de ambos com a diferença de talentos, sensibilidades e modo de ser com que se fazem felizes um ao outro e à própria família.

HÉLDER GONÇALVES

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

MÃE



No meu pequeno quartinho
Existe ainda velhinho
Um quadro que nele contem
Um retrato que é sagrado
E nele fotografado
O rosto de minha mãe

Há dias fui-me deitar
O retrato fui beijar
Como é sempre o meu desejo
Vi sua boca mexer
Parecendo querer-me dizer
É tão bom esse teu beijo

Mãe
Tu partiste e não voltaste
Mas ainda me deixaste
O teu retrato por ti

Mãe
O teu retrato tão lindo
Parece que está sorrindo
Noite e dia para mim

Esse retrato tão querido
Tão velhinho e puído
Que minha mãe me deixou
Quando morreu disse-me ela
Toma lá, esta é aquela
Que por ti tanto chorou

Essa mulher tão querida
Que para me dar a vida, ai
A sua vida perdeu
Meu Deus vos peço a rezar
Para recompensar
Dai-lhe um bom lugar no céu

Mãe
Tu partiste e não voltaste
Mas ainda me deixaste
O teu retrato por ti

Mãe
O teu retrato tão lindo
Parece que está sorrindo
Noite e dia para mim

Mãe
Tu partiste e não voltaste
Mas ainda me deixaste
O teu retrato por ti

Mãe
O teu retrato tão lindo
Parece que está sorrindo
Noite e dia para mim

Poema de Cândida Branca Flor

HÉLDER GONÇALVES

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

SAMARIA

Samaria

A Samaria era a região central da Palestina: uma região heterodoxa, habitada por uma raça de sangue misturado (de Judeus e pagãos) e de religião sincretista.

Na época do Novo Testamento, existia uma animosidade muito viva entre Samaritanos e Judeus. Hostilidade antiga alimentada por muitos preconceitos. Os Assírios, depois da conquista da Samaria (722 A.C.), tinham povoado a região com estrangeiros que “não prestavam culto ao Senhor” (2Reis 17, 24-25). Eles misturavam-se com os nativos e criaram um culto incompatível com a religião de Israel.

Como os Judeus, considerando-se os únicos fiéis à religião do Deus de Israel, impediram os Samaritanos de participar, no ano 520 a.C., na reconstrução do templo de Jerusalém (Esdras 4), estes, no IV século, decidiram construir um templo pro sobre o monte Garizim.

Os Samaritanos eram considerados pelos Judeus como cismáticos, hereges. Um Judeus praticante devia abster-se de todo o contacto com os samaritanos. Jesus, será apelidado pelos seus opositores de “samaritano”(Jo 8,48).


Pelos caminhos da Samaria

Conhecendo a hostilidade dos Samaritanos, os peregrinos da Galileia evitavam passar pela Samaria. Os Evangelhos Sinópticos reportam uma proibição de Jesus aos seus discípulos: “Não sigais pelo caminho dos gentios, nem entreis em cidade de samaritanos” (Mt 10,5).

Por sua vez, o Evangelho segundo São João, a certo passo, afirma que Jesus “devia passar pela Samaria” (Jo 4,4).

Para os Sinópticos Jesus evangeliza directamente apenas os judeus; será a Igreja que se ocupará dos pagãos depois do Pentecostes. João, tendo escrito mais tarde (entre os anos 90-100) une numa inica visão a vida de Jesus e a da Igreja. A passagem através da Samaria é, ao mesmo tempo, a primeira tentativa e o anúncio da missão junto dos não-Hebreus.


Sicar e o poço da Samaritana

Jesus regressava à Galileia. Perto do meio-dia, os seus discípulos vão comprar comida. Ele, cansado da viagem, senta-se ao lado do poço que a tradição atribuirá ao patriarca Jacob (Gen 33, 18-20). Chega então uma mulher samaritana para tirar água (ler Jo 4,1-42).

Sendo um dos lugares dos Evangelhos atestados seguramente, o poço de Jacob com os seus 32 metros de profundidade, único na região, foi sempre utilizado e venerado pelos cristãos.

O poço encontra-se hoje na cripta de uma igreja ortodoxa. A planta foi feita pelos Cruzados, e sucedeu a uma igreja do século IV. Sicar é a actual Askar, no sopé do monte Ebal, perto da antiga Siquém e da actual Nablus (Gen 33, 19; 48,22; Js 24,32).

Na Bíblia, os encontros entre um homem e uma mulher junto ao poço costumavam acabar num matrimónio (Gen 24,10-51; Gn 29,9-14; Es 2,15-22). São João relata-nos este encontro neste cenário para abordar o tema da revelação de Jesus à Samaritana e por meio desta ao seu povo, e a sua proclamação de Jesus como o Messias.


O verdadeiro mistério

A Samaritana maravilha-se que um Judeu lhe peça água. Mas a verdadeira maravilha- mostra Jesus-vai mais longe (Jo 4,10).

Está no facto- esta é a novidade absoluta- de ser Jesus a pedir água, quando deveria ser o contrário. É o mistério de um Deus que se faz homem-necessitado como os outros homens- para ter motivo de encontra-los e de dar-lhes a água que sacia. É a maravilha de um Deus que pede para dar.

A mulher não entende, e por isso Jesus explica (Jo 4,13-14). O simbolismo da água viva é cheio de significados. É a agua que da vida eterna, a salvação o Espirito Santo. A água viva de que fala Jesus é a progressiva revelação do seu próprio mistério.

A samaritana intuiu alguma coisa do dom que Cristo falou, mas interpreta-o na medida das suas necessidades (Jo 4,15).


Garizim, monte santo?

Mais adiante (Jo 4,19), ao ver que Jesus entra nos segredos da sua vida, a mulher samaritana reconhece que está diante de um profeta e comenta com Ele uma questão quente: o lugar do culto (Jo 4,20-21), que eles celebravam no monte Garizim, mesmo depois de destruído o seu templo por João Hircano.

Jesus aproveita esta pergunta para fazer uma revelação ainda mais importante. Ele superou a rivalidade entre os dois templos: “Deus é espirito; por isso, os que o adoram devem adorá-lo em espirito e verdade” (Jo 4,24).

A questão do lugar não tem já sentido. Não só porque Jesus afirma a universalidade, mas porque o culto assumiu uma realidade diferente. Agora Jesus é o nosso templo, que substitui o santuário do Monte Garizim e o de Jerusalém.

HÉLDER GONÇALVES

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

CNOSSO - Grécia

- Será que o Minotauro terá existido?


Na época de Augusto, já Ovídio foi o primeiro a escrever sobre esta história, muito depois dos Cretenses fecharem o monstro metade homem, metade touro num local afastado de Cnosso.

Ovídio conta que, Minos caíra de amores por um touro e fruto deles nascera um monstro meio homem, meio touro conhecido por Minotauro. Minos fechou-o num labirinto que quem lá entrasse não conseguia sair. Para satisfazer a sua verocidade, condenou os Atenienses a entregarem-lhe de nove em nove anos, sete homens e sete mulheres.

Teseu, filho de Egeu, ofereceu-se para fazer parte do tributo com a intenção de matar o monstro. Tendo embarcado num veleiro de velas negras, deveria colocar as velas brancas no seu retorno para que seu pai soubesse que era vitorioso. Ao chegar ao local Ariadne, filha de Minos, apaixonou-se por ele e entregou-lhe um novelo de fio que este atou á entrada do labirinto e ao qual consegiu matar o Minotauro e sair dali, tendo depois fugido com a filha de Minos. Ao chegar a Atenas com os seus companheiros, esqueceu-se de pôr as velas brancas e, seu pai o rei Egeu, lançou-se ao mar, que mais tarde recebeu o seu nome, porque pensou que seu filho tinha morrido. Teseu foi proclamado rei e governou até á sua morte.

A capital da civilização minóica foi fundada antes de 3000 A.C na costa norte da Creta.

Por volta do ano 2000 A.C, construiu-se um palácio muito complexo. Depois de ter sofrido várias destruições; 1700 A.C, 1550 A.C, 1350 A.C e 67 A.C continuou a ser uma das principais cidades de Creta.

A cidade e o palácio estiveram em ruínas até 1900, altura em que foi descoberto os vestígios do segundo palácio e, por baixo deste , os despojos do primeiro.

No palácio destaca-se a grande sala do Trono, onde se encontra o trono de Alabastro onde se pensa que ail se sentava o próprio Minos, o lendário rei de Cnosso, e onde segundo a mitologia grega, ali morava um monstro conhecido por Minotauro.

Em Cnosso foi encontrado uma estatueta de uma sacerdotisa sendo o culto prestado à deusa mãe, que estava relacionado com cobras em virtude do seu valor fálico.

Também se encontra na muralha sul uns chifres enormes em consagração ao Palácio de Cnosso, símbolo este relacionado com o Minotauro.

A religião minóica não se reduz unicamente a estes lugares. Os próprios palácios de Cnosso foram templos governados por uma entidade espíritual, visto existir no seu interior muitas manifestações desta natureza.

HÉLDER GONÇALVES

terça-feira, 14 de agosto de 2012

RELIQUIAS DE SÃO JOÃO BOSCO

A diocese de Viana do Castelo acolhe, nos dias 5 e 6 de Setembro a peregrinação das relíquias de S. João Bosco, numa acção que se insere na preparação para a celebração do bicentenário do seu nascimento.

A urna contendo uma relíquia de Dom Bosco, chegará à cidade de Viana do Castelo às 14h30, sendo acolhida numa celebração na Catedral. Ao final da tarde, às 18h, o Bispo da Diocese, D. Anacleto Oliveira, preside a uma celebração Eucarística.

Às nove da noite inicia-se uma "Vigília de Oração" até às 22h30, altura em que vai para o Externato São João Bosco.

Neste "centro" salesiano, no dia 6, as Filhas de Maria Auxiliadora (FMA) rezam Laudes, seguidas de um encontro com os educadores da instituição.

Pelas 15h30, serão os momentos da despedida das relíquias que, ao longo de três semanas percorrem Portugal de Norte a Sul e Cabo Verde, visitando os centros salesianos para receber as homenagens dos fiéis.

A família Salesiana, a três anos da celebração do bicentenário do nascimento do fundador São João Bosco, que se celebrará no dia 16 de Agosto de 2015, foi convidada a preparar esta efeméride com um aprofundamento do conhecimento da vida, obra e espiritualidade do "pai e mestre da juventude".

A primeira etapa prepaparatória, que termina no próximo dia 15, está centralizada no conhecimento da história de Dom Bosco e do seu contexto, da sua figura, da sua experiência de vida, das suas opções. "Já se passaram as gerações daqueles que tinham conhecido Dom Bosco ou que tiveram contacto com as suas primeiras testemunhas. É necessário, por isso, beber nas fontes e nos estudos sobre Dom Bosco, para aprofundar antes de tudo a sua figura".

A segunda etapa preparatória da efeméride visa aprofundar a pedagogia do Santo.

Para os responsáveis "é preciso estudar e realizar o sistema preventivo actualizado, desenvolver as suas grandes virtualidades, modernizar os seus princípios, conceitos, orientações, interpretar hoje as suas ideias de fundo".

A Espiritualidade de Dom Bosco marca a última etapa de preparação. Os responsáveis salesianos assinalam que "não basta conhecer a sua vida e acção e o seu método educativo" porque o fundamento da fecundidade da sua acção e da sua actualidade é a sua profunda experiência espiritual".

Fonte: http://www.diocesedeviana.pt/  por Pe. Paulo Gomes

HÉLDER GONÇALVES

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

INTRODUÇÃO ANTIGO TESTAMENTO

ISRAEL, DAS ORIGENS A DAVID


*  OS PATRIARCAS


1. Origens do Povo Hebreu

Os 11 primeiros capítulos do Génesis, são narrativas e como tal não são históricos.

As origens do povo hebreu estão relatadas no génesis, um dos livros do Antigo Testamento. Segundo esse livro, os antepassados dos hebreus migraram para Caná, vindos do norte da Mesopotâmia (Haran), estando estabelecidos, anteriormente, na cidade de Ur, na Baixa Mesopotâmia.

O capítulo 12 do génesis ajuda-nos a entender a origem dos hebreus, e Abraão, um dos Patriarcas desse povo. Disse o Senhor a Abraão: “Deixa a tua terra, a tua família e a casa do teu pai, e vai para a terra que Eu te indicar. Farei de ti um grande povo, abençoar-te-ei, engrandecerei o teu nome e serás uma fonte de bênçãos”. Gen 12, 1-2

A história bíblica começa com Abraão em 1800 A.C.
A partir de Abraão começa-se a acreditar num só Deus. Abraão foi o primeiro grande Patriarca, e abriu a época dos grandes Patriarcas seguindo-se Isaac e Jacob.

Os antepassados dos hebreus pertenciam a tribos de pastores semi-nómadas que, por vontade do seu deus, dirigiram-se para Caná, a Terra Prometida, liderados pelos patriarcas, chefes dessas extensas famílias.

A Terra Prometida dos hebreus era um pequeno território próximo do Mar Mediterrâneo e das cadeias montanhosas do Líbano.

Essa região atraía os povos nómadas do Médio Oriente, pois trata-se de um lugar onde a agricultura é possível graças à quantidade de chuvas, rios e fontes. Além disso, era o ponto de convergência das rotas das caravanas de comércio que iam do Egipto para o Médio Oriente.

Quando os antepassados dos hebreus dirigiram-se para Caná, encontraram ali diversos povos em processo de sedentarização. A maior parte era de semitas, como os hebreus, embora pertencessem a grupos diferentes e vindos em épocas distintas.

Apesar dessa variedade, havia uma unidade religiosa, pois, ao menos no início, todos praticavam a religião Cananéia, fortemente naturalista e agrária.

Os antepassados do povo de Israel viviam em tribos, compostas pelo patriarca, pelos seus filhos, mulheres e servos, que se dedicavam ao pastoreio.

No seio de cada tribo, o poder e o prestígio eram personificados pelo patriarca e os contactos com outras tribos eram esporádicas. A religião dos patriarcas caracterizava-se pelo culto do “Deus Pai”.

No Génesis, muitas vezes, aparecem as expressões: “o Deus do meu-teu-seu Pai” ou o “Deus do teu pai Abraão”. O “Deus do pai” era primitivamente o Deus do antepassado imediato que os filhos reconheciam.

Era o Deus de um povo nómada, sem santuário, ligado a um grupo de homens que acompanhava e protegia.

Quando chegaram a Caná, os patriarcas depararam-se com o culto que os habitantes mais antigos da região dedicavam ao deus El, o pai dos deuses e dos homens, criador e governante do Universo.

Com o tempo, essa divindade passou a ser vista pelos hebreus como o deus no qual eles acreditavam. Nascia, assim, uma religião que misturava diversos costumes e pregava a crença num único Deus criador.

Os patriarcas sacrificavam animais, erguiam altares e untavam pedras com óleo em homenagem ao seu Deus. Não existiam sacerdotes. Os animais sacrificados, depois de servidos à divindade, eram comidos pelo patriarca e os seus familiares.


2. O caminho de Abraão

Abraão saiu da sua terra em obediência a uma ordem de Deus e desceu ao Egipto por iniciativa própria.

O Egipto não era a Terra Prometida, embora fosse a potência da época, cheia de atractivos. Deus não o enviou para lá. Abraão deixou Betel, que significa “Casa de Deus” e “desceu ao Egipto” que simboliza o domínio do inimigo.

«Houve fome naquela terra. Como a miséria era grande, Abraão desceu ao Egipto para aí viver algum tempo» Gen 12,10

Abraão foi para o Egipto porque havia fome em Caná.
Deus vem ao encontro de Abraão e faz uma correcção no rumo do Patriarca, fazendo a Aliança com ele, dando-lhe ordens, promessas e direcção. Assim acontece connosco.

A peregrinação de Abraão até à sua morte, percorrendo a terra prometida, “marcando” o território: «Levanta-te, percorre esta terra em todas as direcções, porque Eu ta darei» Gen 13,17

Deus não desiste dos seus filhos por causa dos pecados deles.

Ele corrige-nos e orienta-nos. Contudo, as consequências do pecado perseguem-nos e também por isso devem ser evitados.

O  pecado  de  alguns  minutos 
pode  trazer  prazeres  que  passam  rapidamente, 
e  males  que  duram  a  vida  inteira.


3. Filhos de Abraão

Abraão teve vários filhos.
Os mais citados na Bíblia são Ismael, filho de Agar, e Isaac, filho de Sara.

Ismael é considerado o pai dos “ismaelitas”, mais tarde “Povos Árabes”.

Com a descendência de Isaac concretiza-se a “Aliança com Deus”, através dos tempos.

Deus põe à prova a Fé de Abraão e não quer que se sacrifique crianças, pois a Vida é um Dom Sagrado. Israel só tem futuro se obedecer a Deus.

Isaac casa-se com Rebeca, e tiveram dois filhos, Esaú e Jacób.


4. A guerra dos Reis

No livro do Génesis são citados vários reis.

A monarquia era a forma de governo mais comum, senão a única.

Havia nações politicamente organizadas, mas, em algumas regiões, cada cidade era independente e tinha o seu rei, um tipo de “governador”, com o seu próprio exercito e plenos poderes. «No tempo de Amerafel, rei de Chinear, de Arioc, rei de Elassar, de Cadorlaomer, rei de Elam e de Tidal, rei de Goim, O rei de Sodoma, o rei de Gomorra, o rei de Adma, o rei de Seboim e o rei de Bela, que é Soar, saíram e alinharam-se para a batalha contra eles no vale de Sidim, Melquisedec, rei de Salém, trouxe pão e vinho e, como era sacerdote do Deus Altíssimo» Gen 14, 1.8.18

Apesar disso os reis eram bastante acessíveis.

Abraão e Isaac encontram-se com alguns reis e, nesses episódios, fica evidente a grandeza dos Patriarcas e a bênção de Deus sobre eles.

No capítulo 20, Abraão destaca-se no encontro com Abimeleque, pois mostra-se espiritualmente superior ao interceder diante de Deus pelo rei.

Nota-se que Abraão tinha o seu próprio exército capaz de sobrepor-se ao exército do rei.

Muito tempo depois, Isaac tornava-se mais poderoso que o rei Abimeleque.

«E Abiméleque disse a Isaac: «Vai-te embora daqui, pois agora és muito mais poderoso do que nós.» Gen 26,16


5. A Aliança de Deus com Abraão

Através de Abraão, Deus deu inicio à execução do seu plano de salvação dos homens. Para que nascesse o Redentor, seria necessário um povo especial que O pudesse receber. O plano de Deus era dar a Abraão uma descendência.

Isto era totalmente contrário à situação daquele homem, que era velho e tinha uma esposa estéril. Tudo contribuía para que ele não tivesse nenhuma esperança de ter um filho. Aliás, isto era impossível.

Contudo, o problema humano não impede o propósito divino.
Deus entra em situações impossíveis e realiza milagres.
Para que Deus realizasse o seu plano em Abraão era necessária uma Aliança.
Deus opera através daqueles que têm um compromisso com Ele.

Deus põe á prova a fé de Abraão
e  põe  á  prova  a  nossa própria  fé.

A fé de Abraão foi o que fez dele uma pessoa especial. Abraão tem uma fé cega, e acredita piedosamente em Deus, mesmo contra as contrariedades da natureza. Ele não era perfeito, mas tinha fé e o desejo sincero de servir a Deus. Abraão creu na promessa divina e fez um compromisso com Deus, uma Aliança. «Abraão confiou no SENHOR, e Ele considerou-lhe isso como mérito.» Gen 15,6

A parte de Abraão seria a obediência. A parte de Deus seria dar-lhe um filho e uma terra: Caná. Os limites desta terra são: «Naquele dia, o SENHOR concluiu uma Aliança com Abraão, dizendo-lhe: «Dou esta terra à tua descendência, desde o rio do Egipto até ao grande rio, o Eufrates…» Gen 15,18

Abraão creu na promessa. Porém, entre esta e o seu cumprimento existe uma distância, um período de tempo indefinido. «O SENHOR disse-lhe: «Fica desde já a saber que os teus descendentes habitarão como estrangeiros numa terra que não é deles, que serão reduzidos à escravidão e hão-de oprimi-los durante quatrocentos anos. 14*Mas Eu próprio julgarei também a nação que os escravizar, e sairão, depois, com grandes riquezas dessa terra. 15Tu, porém, irás em paz reunir-te aos teus pais e serás sepultado após uma ditosa velhice. 16Apenas à quarta geração eles voltarão para aqui, pois a iniquidade dos amorreus não chegou ainda ao seu termo.» Gen 15,13-16

Uma das maiores dificuldades de todo servo de Deus é conhecer o tempo de Deus e saber esperar. Normalmente, não sabemos quando Deus vai fazer algo e então a espera torna-se muito difícil. «Porém, é com Isaac que Eu estabelecerei a minha aliança, Isaac que Sara te há-de dar, por esta mesma época do próximo ano.» Gen 17,21

«Haverá alguma coisa que seja impossível para o SENHOR? Dentro de um ano, nesta mesma época, voltarei à tua casa, e Sara terá já um filho.» Gen 18,14

«O SENHOR visitou Sara, como lhe tinha dito, e realizou nela o que prometera. Sara concebeu e, na data marcada por Deus, deu um filho a Abraão, quando este já era velho.» Gen 21,1-2


6. O nascimento de Isaac

Aos 100 anos de idade, Abraão teve o seu filho Isaac, conforme Deus lhe havia prometido. «Abraão tinha cem anos quando nasceu Isaac, seu filho.» Gen 21,5

Isaac nasceu quando Abraão e Sara já não podiam mais gerá-lo por si mesmos.

Além de idosa (90 anos), Sara era estéril. Não havia esperança humana nesse caso. Quando nasceu Ismael, Abraão tinha 86 anos. Ainda era auto-suficiente. «Abraão tinha oitenta e seis anos quando Agar lhe deu Ismael.» Gen 16,16

Aos 99 anos, porém, ele já não estava tão certo de que poderia gerar um filho. «Abraão prostrou-se com o rosto por terra, e sorriu, dizendo para consigo: «Pode uma criança nascer de um homem de cem anos? E Sara, mulher de noventa anos, vai agora ter filhos?» Depois, disse a Deus: «Possa Ismael viver diante de ti!»
Mas Deus respondeu-lhe: «Não! Sara, tua mulher, dar-te-á um filho, a quem hás-de chamar Isaac. Farei a minha aliança com ele, aliança que será perpétua para a sua descendência depois dele. Quanto a Ismael, também te escutei. Abençoá-lo-ei, torná-lo-ei fecundo e multiplicarei extremamente a sua descendência. Será pai de doze príncipes, e farei sair dele um grande povo. Porém, é com Isaac que Eu estabelecerei a minha aliança, Isaac que Sara te há-de dar, por esta mesma época do próximo ano.» E, tendo acabado de falar com ele, Deus desapareceu de junto de Abraão.
Abraão tomou Ismael, seu filho, todos quantos haviam nascido na sua casa e todos aqueles que adquirira a dinheiro, todos os indivíduos do sexo masculino da sua casa, e circuncidou-os nesse mesmo dia, como Deus lhe tinha ordenado.
Abraão tinha já noventa e nove anos, quando foi circuncidado.» Gen 17,17-24

Quando parece tarde demais, Deus ainda opera. Ele espera que os recursos humanos terminem para que a glória seja só d’Ele.


7. A prova de Abraão, disposto a sacrificar Isaac

Para conhecer um pouco mais do carácter de Deus, Abraão precisava de se sacrificar muito mais. Depois da experiência de cortar na própria carne, Abraão teve de encarar a decisão de sacrificar o seu próprio filho.

Certamente, que nenhuma ordem de Deus tinha sido tão difícil até então.
Aquela foi uma oportunidade que Abraão teve de se conhecer um pouco mais de si mesmo. De outro modo, ele nunca saberia de que era capaz na sua caminhada com Deus.

O Senhor apresenta-nos desafios para que a força e a sinceridade da nossa fé se manifeste de modo claro.
A experiência de Abraão e de Isaac no Monte Moriá, pode ser comparada ao sacrifício de Jesus.

Nunca  seremos  fortes 
se  não  passarmos  por  situações  difíceis.

Abraão pode ser visto como “figura” de Deus, o Pai. Isaac representaria Jesus. Assim como Isaac carregou a lenha enquanto subia, Jesus carregou a cruz ao subir o monte Calvário. «Abraão apanhou a lenha destinada ao holocausto, entregou-a ao seu filho Isaac e, levando na mão o fogo e o cutelo, seguiram os dois juntos.» Gen 22,6

Abraão disse aos servos: «Havendo adorado, voltaremos até Vós.» nesta frase, está clara a fé do Patriarca, pois estava convicto de que, mesmo que Isaac morresse, Deus haveria de ressuscitá-lo. Está aí simbolizada a ressurreição de Cristo.
«… a quem tinha sido dito: Por meio de Isaac será assegurada a tua descendência. *De facto, ele pensava que Deus tem até poder para ressuscitar os mortos; por isso, numa espécie de prefiguração, recuperou o seu filho.» Heb 11,18-19

Naquele momento amargo, Abraão, que já cria na provisão divina, pôde experimentá-la de facto. As tribulações são necessárias para que possamos experimentar aquilo em que acreditamos. Abraão conheceu a Deus um pouco mais: o Deus da provisão.

Ao dispensar o sacrifício de Isaac, Deus mostrou a Abraão e a toda a humanidade que Ele não queria sacrifícios humanos. Até então, isto não estava claro para Abraão. O único sacrifício humano que Deus iria providenciar seria o sacrifício do seu próprio filho, Jesus.


8. Jacob

Dos doze filhos de Jacob, sómente José e Benjamim eram filhos de Raquel. A tribo de Jacob era a mais poderosa de Caná. O seu filho José, era muito amado pelo seu pai, e, por isso, invejado pelos irmãos, os quais o venderam a mercadores ismaelitas que o levaram para o Egipto, onde em virtude da sua inteligência e extraordinárias faculdades mediúnicas, torna-se ministro do Faraó.

Encontrando-se com os irmãos faz as pazes e traz toda a família para viver no Egipto, pois havia uma seca muito grande por toda a região de Caná, e assim tornou-se num povo muito numeroso.

Jacob dividiu a “Terra Santa” como um pai de família, em doze partes, uma para cada filho, dando origem às doze tribos israelitas. Esses filhos emprestaram os seus nomes à designação das Tribos. Por exemplo: os levitas (de Levi) eram encarregados das cerimónias religiosas, da formação da tradição oral e escrita e transmissão da fé em Deus.

Havia também os juízes, homens reconhecidamente honestos nas tribos, os quais uniformizavam as leis e julgavam as questões enviadas pelas tribos.

Cada tribo tinha a sua assembleia de anciãos, uma Associação Protectora composta de mais ou menos 50 chefes de família, que se reuniam na “Casa do Pai” e procuravam manter a ordem, o auxílio económico aos mais necessitados, acordos matrimoniais, etc... Cada “Casa do Pai” reunia marido e mulher, parentes e era o próprio chefe de família, que tinha o completo controle social sobre a tribo.

Era nas “Casa do Pai”, que se celebravam a Páscoa.

Então a partir do século XIV A.C., os hebreus estavam divididos em doze tribos, que formavam uma confederação. Essa divisão permaneceu com o seu número fixo, embora variassem de nome. Esse número fixo está ligado às necessidades religiosas, já que cada tribo deveria ocupar-se do culto e do santuário comum durante um mês do ano.

Fosse qual fosse a força dos vínculos que uniam as tribos, elas não estavam organizadas em Estado. Não possuíam uma capital, nem um governo central ou administração, e cada tribo tinha uma ampla autonomia. A autoridade era exercida pelos anciãos de cada uma. Teria sido Jacob, o chefe da ocupação de Caná, ocorrida entre os séculos XVII e XIV A.C.

O tempo de permanência dos hebreus no Egipto, é motivo de controvérsia. Algumas tradições hebraicas falam em mais de 500 anos, outras 250 e até em menos de 100 anos.



* ÊXODO


1. Introdução Histórica

O êxodo histórico do povo de Israel começa por volta do século XIII A.C. O 1º capítulo do êxodo, refere-se a Ramsés II, faraó do Egipto. “Subiu então ao trono do Egipto um novo rei que não conhecera José”. Êx 1,8

Há um espaço de vários séculos entre este facto e os factos que se seguem.

Por isso, o compilador colocou entre eles uma genealogia. Este tipo de literatura com genealogia intercalada é do tipo da tradição sacerdotal. É uma genealogia artificial. Os nomes são epónimos para explicar-lhes a origem. Como a história só foi composta muito tempo depois (séc. VI), eles provavelmente não sabiam mais quem teria sido o primeiro.

Naquela altura, havia muitas lendas e tradições. Por exemplo, com Judá. Quando os hebreus chegaram, já havia lá as montanhas conhecidas como montanhas de Judá. Os que habitaram aquela região ficaram a chamar-se de filhos de Judá, judeus... Contudo, sabe-se que a citação do Êx 1,11 é histórica: “Impuseram-lhe então chefes de trabalhos forçados para o oprimirem com carregamentos. E construiu para o faraó as cidades-armazém de Pitom e Ramsés II.” Êx 1,11 foram cidades construídas no tempo de Ramsés II, que foi um dos maiores faraós e teve um reinado de muito progresso.

Os factos relatados no Êxodo passaram-se, mais precisamente na 19ª dinastia, fundada por Ramsés I. Foi um período de grande prosperidade, extensão de domínios, crescimento... Por causa disto, muita gente migrava da Ásia para lá, inclusive prisioneiros de guerra, e também de outros países vinha gente para trabalhar, para adquirir melhores condições de vida. Então, muitos foram feitos escravos nos empregos a que se incorporaram, com as mudanças na conjuntura política.

Com a decadência do império faraónico, numa certa época fracassou a vigilância e muitos fugiram. Foi mais ou menos neste contexto que se deu a saída dos hebreus do Egipto, contada na Bíblia com toda aquela linguagem mítica e épica. Não foram, portanto, só os Israelitas que fugiram do Egipto naquela ocasião, mas diversos povos que se encontravam num regime de opressão, por serem estrangeiros nas terras do Egipto. A opressão, historicamente, era um facto. A fuga dos escravos, também. Os primeiros capítulos do Êxodo contam a preparação da fuga. E neles há dois factos que serão perpetuamente lembrados: a libertação do Egipto e a Aliança no Sinai.


2. Moisés e a sua educação

Moisés nasceu no Egipto e foi criado pela filha do Faraó, e quem lhe deu o nome, ou foi a filha do Faraó ou o próprio Faraó.
O nascimento de Moisés é uma saga etimológica, para explicar o seu nome. Moisés significa «Salvo das Águas» e este nome parece ser de origem Egípcia, daí quando ele foi encontrado no rio Nilo pela filha do Faraó.

O seu nome, original, seria Tutmoses, o que significaria ‘filho de Tut’. Eles, certamente subtraíram o primeiro nome, por se identificar com um Deus pagão, e ficou apenas Moses, que deu MOSHE, em hebraico. Historicamente, quase nada consta de Moisés. Mas não há motivos para se negar a sua existência.


3. Fuga de Moisés

Em Êx. 2,11, conta a fuga de Moisés para Madian. “Entretanto, Moisés cresceu, foi ao encontro dos seus irmãos e viu os seus carregamentos. Viu também um egípcio que açoitava um dos seus irmãos hebreus.” Êx 2,11

Ele teria visto um feitor açoitar um israelita que o matou. Foi descoberto e, por isso, obrigado a fugir. O seu romance com Séfora e os relatos associados são uma introdução para apresentar Moisés como vindo do deserto com a missão de salvar o povo.


4. Vocação e Missão de Moisés

A narração do Êx 3,1 a 10 refere-se ao monte Horeb que, talvez, já era uma montanha sagrada; e a sarça ardente seria referente a uma árvore sagrada na qual os pagãos ofereciam sacrifícios aos seus deuses.

Um dia, nas imediações do Monte Sinai, o mesmo onde recebeu o Decálogo, anos mais tarde, ouviu o chamamento à sua missão, quando Deus “lhe fala” do meio da sarça ardente; “O Anjo do Senhor apareceu-lhe numa chama de fogo, no meio da sarça. Ele olhou e viu, e eis que a sarça ardia no fogo mas não era devorada” Êx 3, 2 então Moisés volta ao Egipto com a sua família.

A descida de Deus à terra é através de Moisés. Moisés é chamado por Deus, porque Deus sabe dos problemas do Seu Povo. O capítulo 3 fala da vocação de Moisés, em linguagem mítica, como acontecera aos profetas. “Moisés estava a apascentar o rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote de Madian. Conduziu o rebanho para além do deserto, e chegou à montanha de Deus, ao Horeb. O anjo do SENHOR apareceu-lhe numa chama de fogo, no meio da sarça. Ele olhou e viu, e eis que a sarça ardia no fogo mas não era devorada. Moisés disse: «Vou adentrar-me para ver esta grande visão: por que razão não se consome a sarça?» O SENHOR viu que ele se adentrava para ver; e Deus chamou-o do meio da sarça: «Moisés! Moisés!» Ele disse: «Eis-me aqui!» Ele disse: «Não te aproximes daqui; tira as tuas sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é uma terra santa.» E continuou: «Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacob.» Moisés escondeu o seu rosto, porque tinha medo de olhar para Deus. O SENHOR disse: «Eu bem vi a opressão do meu povo que está no Egipto, e ouvi o seu clamor diante dos seus inspectores; conheço, na verdade, os seus sofrimentos. Desci a fim de o libertar da mão dos egípcios e de o fazer subir desta terra para uma terra boa e espaçosa, para uma terra que mana leite e mel, terra do cananeu, do hitita, do amorreu, do perizeu, do heveu e do jebuseu. E agora, eis que o clamor dos filhos de Israel chegou até mim, e vi também a tirania que os egípcios exercem sobre eles. 10E agora, vai; Eu te envio ao faraó, e faz sair do Egipto o meu povo, os filhos de Israel.» Êx 3, 1-10

O hebreu, para dizer que um tal facto era divino, necessitava de visualizar um facto histórico. Todo profeta, quando recebe uma missão de Deus, a princípio recusa. Mas depois, Deus faz a promessa... assim aconteceu com Moisés.

O  chamamento  de  Moisés  foi  significativo, 
tendo  em  vista  o  seu  passado  e  a  sua  educação.

Nesta altura aparece Moisés que assume este Povo, e a partir daqui deixa de ser escravo, passa a ser livre e a ter direito a uma terra e começa a prestar culto a Deus. O Êxodo começou por volta do ano 1250 A.C. Moisés é de descendência hebraica e foi ele quem libertou o Povo de Deus, e a sua vida reflecte-se nos acontecimentos no Povo de Deus. O que se diz de Moisés, não se pode acrescentar muito, mas os relatos no êxodo também têm algo de Saga e de história.


5. Auto defenição de Javé

A citação “Eu sou aquele que sou” foi sempre interpretada filosoficamente, mas por um aspecto ontológico insinuado muito depois. Deus, na verdade, apenas deixou de citar um nome, por causa do que isto iria significar na mentalidade deles. Os verbos “ser” e “existir” em hebraico distinguem-se apenas por uma letra. Aquele que é, que vive, que existe... são expressões equivalentes.

Javé e Jeová são a tradução verbal do tetragrama que os judeus não pronunciavam. Ao principio, adoptava-se a forma Jeová, pelo seguinte facto. Descobriu-se que pelo excessivo medo de pronunciar o Santo Nome em vão (2º mandamento), todas as vezes que na leitura aparecia o nome de Deus, substituíam-no por outro correspondente. Usavam muito “Adonai” (Senhor) ou “Elion” (Altíssimo). Então, os estudiosos colocaram as vogais da palavra “Adonai” entre as consoantes do tetragrama JV, o que deu Jeová. Posteriormente, descobriu-se que Javé será a forma mais apropriada, e não Jeová.

Numa breve retrospectiva, devemos dizer que sempre ao que analisar um facto distinguiremos duas épocas: o tempo em que o facto realmente aconteceu (sec. XIII) e o tempo em que foi escrito (séc. VI ou V). Há uma grande modificação durante o tempo em que o facto se passou transmitido oralmente, e há também muita projecção de factos da época em que foi escrito, muita estilização.


6. As Pragas 

São histórias estilizadas e artificiais. Quando os mais velhos foram contar aos mais novos a história da libertação do Egipto, eles quiseram mostrar muitas vezes a intervenção poderosa de Deus contra o inimigo e assim explicaram os factos com situações fantasiosas.

Que há aqui de histórico ? Cada facto tem relação com algum fenómeno acontecido, mas não na quantidade que a Bíblia relata. Eles transportaram tudo para um tempo determinado e deram uma significação e interpretação religiosa.

Com relação à morte dos primogénitos, certamente que durante o tempo em que os hebreus estiveram lá aconteceu a morte de um filho do Faraó e eles atribuíram também significação religiosa a este facto, como sendo um desígnio divino. Mas o que interessa não é o facto, e sim a interpretação do facto. Eles queriam convencer o leitor de que foi Deus quem fez tudo isso.

A história das pragas evoluiu do tempo em que se passaram historicamente para o tempo em que foi escrita. Na água que se transformou em sangue está o melhor exemplo desta evolução: estão presentes as três tradições (Javista, Eloísta e Sacerdotal).

Em Êx. 4,9, diz: “E se suceder que não acreditem nestes dois sinais nem escutem a tua voz, tomarás da água do rio e derramá-la-ás sobre a terra seca; e a água que tiveres tirado do rio transformar-se-á em sangue sobre a terra seca”. Êx 4,9 ‘pouco de água tirada num balde, com a acção de Moisés transformou-se em sangue’ (javista); em 7, 17-19, diz que ‘todo o Nilo se transformou em sangue’. “Assim diz o SENHOR: Nisto reconhecerás que Eu sou o SENHOR: eis que, com a vara que tenho na mão, ferirei as águas que estão no rio, e elas transformar-se-ão em sangue. 18Os peixes que estão no rio morrerão, o rio cheirará mal e os egípcios não poderão beber a água do rio.” Êx 7,17-19

É uma evolução da anterior (sacerdotal). A seguir, diz que ‘todas as águas ficaram vermelhas’. Nota-se nisto tudo uma constante evolução do fenómeno, certamente ocasionado pela tradição oral, antes das histórias serem escritas.


7. Instituição da Páscoa (CAP. 12)

O autor deste capítulo atira para o tempo de Moisés um rito pascal instituído depois do exílio, usado no templo de Jerusalém. O primeiro versículo é a ligação. “O SENHOR disse a Moisés e a Aarão na terra do Egipto:” Êx 12,1 Será o primeiro mês do ano, isto porque até o tempo de Josias (séc VII) o ano começava no Outono (Outubro), igual ao calendário dos babilónios. Com o reinado de Josias, a festa foi mudada de data para a primavera, a fim de não se confundir com o culto da fertilidade, celebrado pelos pagãos no inicio do ano.

A Páscoa já existia mesmo antes dos Cananeus. A origem da palavra Páscoa vem de “pashá”, que significa coxear, mancar. Daí passou para pular, dançar, festejar, passar por cima, salvar. Páscoa passa a ser a passagem em que Deus protege o Seu primogénito: Israel. Oferece-se o primogénito dos rebanhos e colheitas a Deus, para O louvar. “O anjo de Deus saltou as casas dos hebreus para não lhes fazer mal. “ A festa dos ázimos também era pagã, mas era a festa agrícola correspondente à Páscoa, que era pastoril. O caso de não comer pão com fermento é porque o fermento é a deterioração da matéria, sinal de impureza. Não se sabe como é que depois eles juntaram as duas festas.

A  Páscoa  de Jesus  Cristo, 
passa pela  Vida, Morte  e Ressurreição  
e inclui obrigatoriamente
a Páscoa Judaica  ou  seja  o Êxodo.

O facto narrado em Êx 12,6 é uma alusão á saída do Egipto, “Vós o tereis sob guarda até ao dia catorze deste mês, e toda a assembleia da comunidade de Israel o imolará ao crepúsculo.” Êx 12,6 é um rito supersticioso e mágico dos nómadas, para se livrarem de qualquer mau espírito das casas: pintar os umbrais com sangue. O autor do texto coloca aí como se fosse na noite posterior às pragas, na noite da partida.

Na festa dos ázimos. “Durante sete dias comereis pães sem fermento. No primeiro dia, fareis desaparecer o fermento das vossas casas, pois todo aquele que comer pão fermentado, do primeiro dia ao sétimo dia, será eliminado de Israel.” Êx 12,15 Na pressa da saída, não tiveram tempo de fermentar o pão. E manda comer pão assim durante sete dias. Em 12, 27, há um rito que se cumpre ainda hoje na tradição dos hebreus: um menino pergunta ao pai, que conta toda a história. Fala da libertação, mas não como facto passado, e sim como se acontecesse com eles. Todas as vezes que celebravam uma libertação, eles referiam este facto. “vós direis: ‘É o sacrifício da Páscoa em honra do SENHOR, que passou ao largo das casas dos filhos de Israel no Egipto, quando feriu o Egipto e salvou as nossas casas.’» O povo inclinou-se e prostrou-se.” Êx 12,27

A passagem do Mar Vermelho é uma narração epopeica, enriquecida pela liturgia. O Cap.15 é o canto de Moisés, mas este canto não é exactamente dele. Fala de vitórias sobre os filisteus, os amalecitas, povos posteriores a ele. Foi feito por outro autor e atribuído a Moisés. A passagem 15, 20-21 é um texto muito antigo. Teria sido mesmo após a passagem do mar vermelho. “Maria, a profetisa, irmã de Aarão, tomou nas mãos uma pandeireta, e todas as mulheres saíram atrás dela com pandeiretas, a dançar. 21E Maria entoou para eles: «Cantai ao SENHOR, que é verdadeiramente grande: lançou no mar cavalo e cavaleiro.” Êx 15,20-21

Narração da Aliança “’Vós vistes o que Eu fiz ao Egipto, como vos carreguei sobre asas de águia e vos trouxe até mim.” Êx 19,4 A arqueologia mostrou várias Alianças entre reis antigos, parecidos com esta do Sinai, redigidas no mesmo esquema. A de Israel tem a sua conotação própria, porque é com Deus. A insistência em trovões e relâmpagos talvez são fatos que provavelmente teriam acontecido o que é muito possível numa região vulcânica como essa.


8. A Aliança

A narração da entrega dos mandamentos é um esforço para colocar dentro da Aliança o decálogo, uns preceitos imperativos e outros explicativos, uns mais antigos e outros mais recentes. Em parte vêm de Moisés, pois ele teria dado alguns princípios gerais para o governo do povo, e outros foram acrescentados, tirados de outros povos, preceitos conhecidos e adoptados pelos povos vizinhos.

O esquema comum das Alianças, que foi seguido pelos hebreus:

1. Introdução histórica
2. Proposta (mandamentos)
3. Pacto (compromisso)
4. Bênçãos e maldições
5. Sacrifício: a tábua é colocada no santuário de um deus.

Este esquema era das alianças que ordinariamente se faziam naquela época. Como se vê, pouco ou nada há de diferente na esquematização da Aliança de Deus com Israel. Até a conservação das tábuas houve também.

A introdução (19,3-19) é de origem sacerdotal. Proposição da aliança – Moisés subiu até junto de Deus. Da montanha o SENHOR chamou-o, dizendo: «Assim dirás à casa de Jacob e declararás aos filhos de Israel: ‘Vós vistes o que Eu fiz ao Egipto, como vos carreguei sobre asas de águia e vos trouxe até mim. E agora, se escutardes bem a minha voz e guardardes a minha aliança, sereis para mim uma propriedade particular entre todos os povos, porque é minha a terra inteira.
*Vós sereis para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa.’ Estas são as palavras que transmitirás aos filhos de Israel.»
Moisés veio e chamou os anciãos do povo e pôs diante deles todas estas palavras, como o SENHOR lhe tinha ordenado. Todo o povo, unânime, respondeu, dizendo: «Tudo o que o SENHOR disse, nós o faremos.» E Moisés transmitiu ao SENHOR as palavras do povo.
Preparação da aliança – O SENHOR disse a Moisés: «Eis que Eu venho ter contigo no coração da nuvem, para que o povo oiça quando Eu falar contigo e também acredite em ti para sempre.» E Moisés transmitiu ao SENHOR as palavras do povo.
O SENHOR disse a Moisés: «Vai ter com o povo, e fá-los santificar hoje e amanhã; que eles lavem as suas roupas. Que estejam prontos para o terceiro dia, porque no terceiro dia o SENHOR descerá aos olhos de todo o povo sobre a montanha do Sinai. Põe limites ao redor do povo, dizendo: ‘Guardai-vos de subir à montanha e de tocar os seus limites. Todo aquele que tocar na montanha morrerá. Ninguém tocará nela, pois será apedrejado ou atravessado de flechas: seja animal ou seja homem, não viverá. Quando soar longamente o chifre de carneiro, eles subirão à montanha»
Moisés desceu da montanha ao encontro do povo. Ele santificou o povo, e eles lavaram as suas roupas. E disse ao povo: «Estai prontos para o terceiro dia. Não vos aproximeis de mulher alguma.»
Teofania do Sinai (Dt 4,10-14; 5,1-5) – E eis que, no terceiro dia, ao amanhecer, houve trovões e relâmpagos e uma nuvem pesada sobre a montanha, e um som muito forte de trombeta, e todo o povo que estava no acampamento tremia.
Moisés fez sair o povo do acampamento ao encontro de Deus, e colocaram-se no sopé da montanha. A montanha do Sinai estava toda coberta de fumo, porque o SENHOR tinha descido sobre ela no fogo; e o seu fumo subia como o fumo de um forno, e toda a montanha tremia muito. O som da trombeta era cada vez mais forte. Moisés falava, e Deus respondia-lhe no trovão.” Êx 19, 3-19

Em 3-6 é o discurso de Deus como introdução à Aliança: “E continuou: «Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacob.» Moisés escondeu o seu rosto, porque tinha medo de olhar para Deus.” Êx 3,6

7-15 é a preparação da vinda de Deus para onde está o povo; “Vai ter com o faraó, de manhã, quando ele sair para a água. Espera-o na margem do rio, e levarás na mão a vara que se transformou em cobra.” Êx 7,15

16-19 é uma teofania (aparição de Deus na tempestade) “Disse-lhes Moisés: «Ninguém o guarde até de manhã.» Êx 16,19

O versículo 20 é uma repetição disto tudo, “20Porém, alguns não escutaram Moisés, e guardaram-no até de manhã; mas ganhou vermes e cheirava mal. E Moisés irritou-se contra eles.” Êx 16,20 originária de outra tradição. A seguir, a narração é interrompida para que sejam intercalados os mandamentos.

O decálogo está em 20, 1-17. “Deus pronunciou todas estas palavras, dizendo: 2*«Eu sou o SENHOR, teu Deus, que te fiz sair da terra do Egipto, da casa da servidão. Não haverá para ti outros deuses na minha presença.
Não farás para ti imagem esculpida nem representação alguma do que está em cima, nos céus, do que está em baixo, na terra, e do que está debaixo da terra, nas águas. Não te prostrarás diante dessas coisas e não as servirás, porque Eu, o SENHOR, teu Deus, sou um Deus zeloso, que castigo o pecado dos pais nos filhos até à terceira e à quarta geração, para aqueles que me odeiam, mas que trato com bondade até à milésima geração aqueles que amam e guardam os meus mandamentos.
Não usarás o nome do SENHOR, teu Deus, em vão, porque o SENHOR não deixa impune aquele que usa o seu nome em vão.
Recorda-te do dia de sábado, para o santificar. Trabalharás durante seis dias e farás todo o teu trabalho. Mas o sétimo dia é o sábado consagrado ao SENHOR, teu Deus. Não farás trabalho algum, tu, o teu filho e a tua filha, o teu servo e a tua serva, os teus animais, o estrangeiro que está dentro das tuas portas. Porque em seis dias o SENHOR fez os céus e a terra, o mar e tudo o que está neles, mas descansou no sétimo dia. Por isso, o SENHOR abençoou o dia de sábado e santificou-o.
Honra o teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias sobre a terra que o SENHOR, teu Deus, te dá.
Não matarás. Não cometerás adultério. Não roubarás. Não responderás contra o teu próximo como testemunha mentirosa.
Não desejarás a casa do teu próximo. Não desejarás a mulher do teu próximo, o seu servo, a sua serva, o seu boi, o seu burro, e tudo o que é do teu próximo.” Êx 20, 1-17
É um código de leis bastante antigo, muito inspirado em Hamurabi.

As tempestades a que se refere o capítulo 19 são teofanias e constam nas tradições Javista, Eloísta e Deuteronómica. Para os antigos, relâmpagos e trovões eram manifestações de Deus. Os exegetas não negam que possa ser a narração de um facto natural da época. No Seu discurso, Deus faz questão de dizer “toda a terra é minha”, para que o povo não pense numa religião nacionalista, mas universal. “Reino de Sacerdotes”, porque no mundo de Javé todos são mediadores; “nação santa”, ou seja, em hebraico ‘kadosh’ = separada. A “nuvem” é a presença de Deus, e o “som da trombeta” é um modo de descrever o ruído do trovão. O povo não vê Deus, vê apenas os sinais.

O versículo 22 é da lei de talião. “E que também os sacerdotes que se aproximam do SENHOR se santifiquem, para que o SENHOR não os fira.” Êx 19,22 É muito rigorosa, em relação ao Evangelho, mas é um grande progresso comparada às leis mais antigas.

O capítulo 24 é quase todo de origem eloista. Tem algo de sacerdotal. O versículo 3 é um compromisso do povo “Moisés veio e relatou ao povo todas as palavras do SENHOR e todas as normas, e todo o povo respondeu a uma só voz, e disse: «Poremos em prática todas as palavras que o SENHOR pronunciou.” Êx 24,3 ;

O versículo 5 é o holocausto, vítima pacífica. “E enviou os jovens dos filhos de Israel, e ofereceram holocaustos e sacrificaram ao SENHOR novilhos como sacrifícios de comunhão.” Êx 24,5 A seguir, a aspersão do povo com o sangue, para consumar a Aliança. Jesus Cristo na instituição da eucaristia faz alusão às palavras de Moisés. O versículo 11 é o mesmo sacrifício, descrito na tradição javista. “E Ele não estendeu a mão contra estes eleitos dos filhos de Israel, os quais contemplaram a Deus e depois comeram e beberam.” Êx 24,11

Os hebreus nem sempre entenderam bem o sentido da aliança. O seu significado foi dado pelos profetas, mais tarde, acentuando não tanto o contracto jurídico, mas o relacionamento pessoal de Deus, acompanhando-os no deserto.


9. OS Mandamentos

Um problema que sempre perturbou os hebreus foi eles distinguirem o Deus verdadeiro da imagem de Deus. Se Moisés deixasse o povo fazer imagens, eles a adorariam como Deus. Foi preciso muito tempo para que eles chegassem a uma concepção abstracta da divindade. O “Deus que ninguém vê” era um problema sério, e por isso eles caíram muitas vezes na idolatria. Daí a séria proibição na Bíblia de se fazerem imagens.

O Decálogo católico é uma adaptação. Nele está modificado o 6º mandamento. Na Bíblia diz: “não cometer adultério”, e no catecismo diz: ‘não pecar contra a castidade’ ; também os 9º e 10º mandamentos na Bíblia são um só, e no catecismo está dividido. Esta distinção foi precisa para se completarem os dez, porque eles suprimiram o que proibia o fabrico de imagens, e isto sempre foi a causa de polémica com os protestantes.

Aqui está a discriminação dos mandamentos na Bíblia (capítulo 20):

Mandamento = vers 3 – (Não haverá para ti outros deuses na minha presença..)

Mandamento = vers 4 a 6 – (Não farás para ti imagem esculpida... não te prostrarás diante destes deuses e não os servirás...)

Mandamento = vers 7 – (Não usarás o nome do SENHOR, teu Deus, em vão…)

Mandamento = vers 8 a 11 – (Trabalharás durante seis dias... o sétimo dia é o sábado consagrado ao Senhor teu Deus)

Mandamento = vers 12 – (Honra teu pai e tua mãe)

Mandamento = vers 13 – (Não matarás)

Mandamento = vers 14 - (Não cometerás adultério)

Mandamento = vers 15 – (Não roubarás)

Mandamento = vers 16 – (Não responderás contra o teu próximo como testemunha mentirosa)

10º Mandamento = vers 17 – (Não desejarás a casa do teu próximo. Não desejarás a mulher do teu próximo, o seu servo, a sua serva, o seu boi, o seu burro, e tudo o que é do teu próximo.)


* CONCLUSÃO:

O Povo de Israel só tomou conhecimento que de facto era um Povo, depois do Êxodo, porque aí pôde ver o que Deus fez por eles e então começaram a celebrar os acontecimentos. O Povo foi aprofundando o sentido dos acontecimentos com Moisés em tempo calmo e depois estável.

O  Livro  do  Êxodo  é  um  grito  à  escravatura.

Sentiram  a  necessidade  de  corresponder  a  Deus.  Deus  está  sempre  ao  lado  dos mais  fracos,  e  o  Povo  de  Israel,  através  das  necessidades  que  sentiram  no  deserto,  começaram  a  pensar  na  salvação  de  Deus,  mas  este  Povo  foi  muitas  vezes  infiel  à  Aliança,  mas  Deus  repunha  sempre  a  Aliança.

O Povo de Deus, foi o único Povo a acreditar num só Deus, mas há algumas duvidas porque parece que também acreditavam em pequenos deuses, mas Deus era o maior, o YAVÈ.


* SAÚL 1º REI


1. Origem e Ascenção 

Saúl foi o primeiro rei de Israel, filho de Quis, e pertencente à tribo de Benjamim. Governou +/- 40 anos entre 1055 e 1015 A.C. ?

Nos anos 1200 – 1050 A.C, existia um Povo, mas ainda não tinham consciência disso, repartido em diversas tribos unidas por diversos laços étnicos e culturais, que alinhavam-se ou batalhavam entre si e que eram conduzidos por juízes. As tribos aperceberam-se que se estivessem mais unidas seriam mais Povo. Por este motivo os anciãos de Israel foram ter com Samuel e pediram-lhe um rei visível que governasse sobre eles, à semelhança das nações bem organizadas que lhes eram próxima. “Dá-nos um rei que nos governe, como têm todas as nações” 1 Sam 8,5

Abandonaram a fé no Deus invisível para depositarem confiança num rei visível. Por instruções divinas, Samuel informou aos anciãos, quais seriam os direitos do rei e as obrigações do povo para com ele. Como os anciãos insistiam no seu pedido, foram atendidos e saíram. “Fazem o que sempre têm feito, desde o dia em que os tirei do Egipto até ao presente, abandonando-me para servir deuses estrangeiros.” 1 Sam 8,8

Samuel, era contra um rei, mas aceita, mas para isso o Povo tem que assumir as consequências. “Atende-os, agora, mas expõe-lhes solenemente os direitos do rei que reinará sobre eles.» 10Referiu Samuel todas as palavras do SENHOR ao povo que lhe pedia um rei.” 1 Sam 8,9-10

Havia  a  impressão  que  o  Rei  era  Deus, 
mas  ao  escolherem  o  1º Rei 
será  que  este  não  enfrentava 
o  verdadeiro  Rei  que  era  Deus ?


2. Reinado e Morte

Quando Saúl foi ter com Samuel, este foi ungido e aclamado rei. Os reis eram ungidos. “Samuel tomou então um frasco de óleo, derramou-o sobre a cabeça de Saul e beijou-o, dizendo: «O SENHOR ungiu-te príncipe sobre a sua herança.” 1 Sam 10,1

Saúl foi escolhido para atrair a confiança de todo o povo; e ainda mais, um homem da tribo de Benjamim, situada entre Efraim e Judá de modo a agradar tanto às gentes do norte como às do sul. Mas Saúl liderava apenas 4 ou 5 tribos de Israel, as do centro da Samaria.

Saúl era um guerreiro, formou o seu exercito e não alterou quase nenhum dos padrões tribais que imperavam sobre Israel desde a época dos juízes. A sua imaturidade levaram o seu reinado ao fracasso e à desobediência a Deus, voltou as costas a Deus.

Samuel repreendeu Saúl por ter transgredido a ordem divina e declarou-lhe que por causa da sua desobediência a Deus, o seu reino não subsistiria para o futuro. “Agora, o teu reinado não subsistirá. O SENHOR escolheu para si um homem segundo o seu coração e fará dele chefe do seu povo, porque não observaste as suas ordens.” 1 Sam 14,13

Como Saúl não executava as ordens divinas, antes se opunha a elas, o próprio Deus rejeitou-o para não ser mais rei de Israel. “Samuel disse-lhe: «Deste modo, o SENHOR arrancou hoje de ti o trono de Israel, a fim de o dar a outro melhor do que tu.” 1 Sam 15,28

Durante a guerra contra os filisteus, Saúl acaba por perder três dos seus quatro filhos, “Os filisteus atiraram-se contra Saul e seus filhos, matando Jónatas, Abinadab e Malquichua, filhos de Saul.” 1 San 31,2 e ele estando ferido acaba por suicidar-se atirando-se sobre a sua própria espada.

Saúl reinou até à morte. “O profeta não tornou a ver Saul até ao dia da sua morte.” 1 Sam 15,35



* REI DAVID

1. História

David viveu e reinou por volta dos anos +/- 1015 e 977 A.C. ?

Foi um rei muito popular e amado. Na narrativa bíblica, ele aparece-nos como tocador de harpa na corte do rei Saúl, e tocava quando este se sentia possuído por maus espíritos para o aliviar. “Um espírito maligno, por permissão do SENHOR, veio novamente sobre Saul. Estava ele sentado em sua casa com a lança na mão e David tocava harpa.” 1 Sam 19,9 Ganhou grande notoriedade quando matou o gigante guerreiro filisteu Golias e assim ganhou o direito de casar com a filha do rei Saúl, assim como outras mordomias. Depois da morte de Saúl governou a tribo de Judá e mais tarde foi escolhido como rei de todo Israel, “Todas as tribos de Israel foram ter com David a Hebron e disseram-lhe: «Aqui nos tens: não somos nós da tua carne e do teu sangue? 2Tempos atrás, quando Saul era nosso rei, eras tu quem dirigia as campanhas de Israel e o SENHOR disse-te: 'Tu apascentarás o meu povo de Israel e serás o seu chefe.'» 3*Vieram, pois, todos os anciãos de Israel ter com o rei a Hebron. David fez com eles uma aliança diante do SENHOR, e eles sagraram-no rei de Israel.” 2 Sam 5,1-3 marcando uma diferença na realidade dos judeus: de uma confederação de tribos, transformou-se numa nação e, transferiu a capital de Hebron para Jerusalém trazendo consigo a Arca Sagrada.

Alargou os territórios sobre qual governava e trouxe grande prosperidade para Israel. Os seus últimos anos de vida foram abalados por rebeliões e desentendimentos entre os seus filhos e alguns familiares na corte. David é o grande autor do livro dos Salmos, mas apenas parcialmente.

David foi ungido rei pelo Profeta Samuel ainda durante o reinado de Saúl, causando assim alguns ciúmes.


2. Relato Bíblico sobre David

Deus ordenou a Samuel que Saúl destruísse o povo amalequita por terem atacado o povo de Israel durante o êxodo. Saúl desobedeceu, e por isso Samuel profetizou que Saúl não seria mais rei. “Agora, o teu reinado não subsistirá.” 1 Sam 13,14

Samuel instruído por Deus foi secretamente a casa de Jessé ungir o seu filho mais novo como novo rei. “Quero enviar-te a Jessé de Belém, pois escolhi um rei entre os seus filhos.” 1 Sam 16, 1 Como David tocava para Saúl este afeiçoou-se a David e fez dele seu escudeiro.

Mais tarde quando o exercito dos filisteus enfrentou os Israelitas, Golias desafiou a que lhe enviassem um homem para enfrentá-lo, e David corajoso decidiu enfrentá-lo e, logo no inicio do combate atirou-lhe uma pedra à testa e Golias caiu ao chão e arrancou-lhe a cabeça com a sua própria espada. “Meteu a mão no alforge, tomou uma pedra e arremessou-a com a funda, ferindo o filisteu na fronte. A pedra penetrou-lhe na cabeça, e o gigante tombou com o rosto por terra. Assim venceu David o filisteu, ferindo-o de morte com uma funda e uma pedra. E, como não tinha espada na mão, David correu para o filisteu e, quando já estava junto dele, arrancou-lhe a espada da bainha e acabou de o matar, cortando-lhe a cabeça.” 1 Sam 17,49-51

Após este combate, foi colocado como líder de um grupo de soldados e tornou-se no melhor amigo de Jonatas, filho de Saúl.

David  mata  Golias,  mata  mais  do  que  Saúl.

David ganhando em todas as frentes e missões, a sua fama foi aumentando entre o povo e o rei Saúl começou a sentir inveja e a temer de perder o poder para David. “Saul irritou-se em extremo e ficou sumamente desgostoso por isso. E disse: «Dão dez mil a David e a mim apenas mil! Só lhe falta a coroa!» A partir daquele dia, não voltou a olhar para David com bons olhos.” 1 Sam 18, 8-9 A partir daí, Saúl tentou matar várias vezes David, o qual fugiu para o deserto para se salvar. Começou a reunir em seu torno um pequeno exercito que o defendia contra os ataques do rei Saúl.


* 3. CONCLUSÃO

Pode-se dizer que David foi um homem em três dimensões:

1ª dimensão: David o guerreiro. Esta foi a primeira experiência que David teve fora da sua actividade de pastor, pois ele estava a ser preparado por Deus para assumir uma posição maior dentro da nação de Israel. David ao eliminar Golias, mostrava a sua fé, o seu compromisso e preparação para enfrentar os inimigos de Israel e de Deus.

2ª dimensão: David na sua realidade. David, um jovem de uma família desconhecida de Israel é apontado por Deus para tornar-se futuro rei de Israel. Aparentemente não havia nenhuma possibilidade de se cumprir a profecia de Samuel, mas Deus, encaminha a história para que a profecia dada pela boca do homem de Deus torne-se história. Deus cumpre a sua palavra e o menino guerreiro torna-se rei. É claro que este rei tem algo especial: é um rei escolhido por Deus. Por isso Deus usa David, o rei-guerreiro para cumprir os seus propósitos e também para expulsar e vencer todos os inimigos de Israel.

3ª dimensão: David o músico. David é um homem que conseguiu expressar através da música todo o seu amor por Deus. Foi o maior compositor que Israel já conheceu derivado ao grande número de Salmos escritos. Através dos cânticos de David podemos louvar a Deus. Através dos Salmos, David expressou o seu grande amor a Deus, a sua fé, os ataques sofridos pelos inimigos de Israel, a esperança, a angústia, o pecado, e muitos outros aspectos da vida nas suas nuances com Deus.

Para terminar,

Deus tem uma relação de Paternidade com David e a sua descendência. Deus assume o compromisso de manter a sua descendência como Reis, mesmo que o neguem.

David, ainda antes de morrer, o seu segundo filho Salomão foi ungido como rei. “Saíram, pois, o sacerdote Sadoc, o profeta Natan, Benaías, filho de Joiadá, os cretenses e os peleteus; montaram Salomão na mula do rei David e conduziram-no a Guion. 39*O sacerdote Sadoc tomou do santuário o chifre do óleo e ungiu Salomão; tocaram a trombeta; todo o povo exclamou: «Viva o rei Salomão!” 1 Rs 1,38-39


Exame de "Introdução Antigo Testamento (Israel das Origens a David)"
de Hélder Gonçalves a 28.06.2007
Escola Superior de Teologia e Ciências Humanas de Viana do Castelo
Professor: Padre João Alberto Sousa Correia
Avaliação Final: 15 Valores

HÉLDER GONÇALVES


Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...