sexta-feira, 10 de agosto de 2012

INTRODUÇÃO ANTIGO TESTAMENTO

ISRAEL, DAS ORIGENS A DAVID


*  OS PATRIARCAS


1. Origens do Povo Hebreu

Os 11 primeiros capítulos do Génesis, são narrativas e como tal não são históricos.

As origens do povo hebreu estão relatadas no génesis, um dos livros do Antigo Testamento. Segundo esse livro, os antepassados dos hebreus migraram para Caná, vindos do norte da Mesopotâmia (Haran), estando estabelecidos, anteriormente, na cidade de Ur, na Baixa Mesopotâmia.

O capítulo 12 do génesis ajuda-nos a entender a origem dos hebreus, e Abraão, um dos Patriarcas desse povo. Disse o Senhor a Abraão: “Deixa a tua terra, a tua família e a casa do teu pai, e vai para a terra que Eu te indicar. Farei de ti um grande povo, abençoar-te-ei, engrandecerei o teu nome e serás uma fonte de bênçãos”. Gen 12, 1-2

A história bíblica começa com Abraão em 1800 A.C.
A partir de Abraão começa-se a acreditar num só Deus. Abraão foi o primeiro grande Patriarca, e abriu a época dos grandes Patriarcas seguindo-se Isaac e Jacob.

Os antepassados dos hebreus pertenciam a tribos de pastores semi-nómadas que, por vontade do seu deus, dirigiram-se para Caná, a Terra Prometida, liderados pelos patriarcas, chefes dessas extensas famílias.

A Terra Prometida dos hebreus era um pequeno território próximo do Mar Mediterrâneo e das cadeias montanhosas do Líbano.

Essa região atraía os povos nómadas do Médio Oriente, pois trata-se de um lugar onde a agricultura é possível graças à quantidade de chuvas, rios e fontes. Além disso, era o ponto de convergência das rotas das caravanas de comércio que iam do Egipto para o Médio Oriente.

Quando os antepassados dos hebreus dirigiram-se para Caná, encontraram ali diversos povos em processo de sedentarização. A maior parte era de semitas, como os hebreus, embora pertencessem a grupos diferentes e vindos em épocas distintas.

Apesar dessa variedade, havia uma unidade religiosa, pois, ao menos no início, todos praticavam a religião Cananéia, fortemente naturalista e agrária.

Os antepassados do povo de Israel viviam em tribos, compostas pelo patriarca, pelos seus filhos, mulheres e servos, que se dedicavam ao pastoreio.

No seio de cada tribo, o poder e o prestígio eram personificados pelo patriarca e os contactos com outras tribos eram esporádicas. A religião dos patriarcas caracterizava-se pelo culto do “Deus Pai”.

No Génesis, muitas vezes, aparecem as expressões: “o Deus do meu-teu-seu Pai” ou o “Deus do teu pai Abraão”. O “Deus do pai” era primitivamente o Deus do antepassado imediato que os filhos reconheciam.

Era o Deus de um povo nómada, sem santuário, ligado a um grupo de homens que acompanhava e protegia.

Quando chegaram a Caná, os patriarcas depararam-se com o culto que os habitantes mais antigos da região dedicavam ao deus El, o pai dos deuses e dos homens, criador e governante do Universo.

Com o tempo, essa divindade passou a ser vista pelos hebreus como o deus no qual eles acreditavam. Nascia, assim, uma religião que misturava diversos costumes e pregava a crença num único Deus criador.

Os patriarcas sacrificavam animais, erguiam altares e untavam pedras com óleo em homenagem ao seu Deus. Não existiam sacerdotes. Os animais sacrificados, depois de servidos à divindade, eram comidos pelo patriarca e os seus familiares.


2. O caminho de Abraão

Abraão saiu da sua terra em obediência a uma ordem de Deus e desceu ao Egipto por iniciativa própria.

O Egipto não era a Terra Prometida, embora fosse a potência da época, cheia de atractivos. Deus não o enviou para lá. Abraão deixou Betel, que significa “Casa de Deus” e “desceu ao Egipto” que simboliza o domínio do inimigo.

«Houve fome naquela terra. Como a miséria era grande, Abraão desceu ao Egipto para aí viver algum tempo» Gen 12,10

Abraão foi para o Egipto porque havia fome em Caná.
Deus vem ao encontro de Abraão e faz uma correcção no rumo do Patriarca, fazendo a Aliança com ele, dando-lhe ordens, promessas e direcção. Assim acontece connosco.

A peregrinação de Abraão até à sua morte, percorrendo a terra prometida, “marcando” o território: «Levanta-te, percorre esta terra em todas as direcções, porque Eu ta darei» Gen 13,17

Deus não desiste dos seus filhos por causa dos pecados deles.

Ele corrige-nos e orienta-nos. Contudo, as consequências do pecado perseguem-nos e também por isso devem ser evitados.

O  pecado  de  alguns  minutos 
pode  trazer  prazeres  que  passam  rapidamente, 
e  males  que  duram  a  vida  inteira.


3. Filhos de Abraão

Abraão teve vários filhos.
Os mais citados na Bíblia são Ismael, filho de Agar, e Isaac, filho de Sara.

Ismael é considerado o pai dos “ismaelitas”, mais tarde “Povos Árabes”.

Com a descendência de Isaac concretiza-se a “Aliança com Deus”, através dos tempos.

Deus põe à prova a Fé de Abraão e não quer que se sacrifique crianças, pois a Vida é um Dom Sagrado. Israel só tem futuro se obedecer a Deus.

Isaac casa-se com Rebeca, e tiveram dois filhos, Esaú e Jacób.


4. A guerra dos Reis

No livro do Génesis são citados vários reis.

A monarquia era a forma de governo mais comum, senão a única.

Havia nações politicamente organizadas, mas, em algumas regiões, cada cidade era independente e tinha o seu rei, um tipo de “governador”, com o seu próprio exercito e plenos poderes. «No tempo de Amerafel, rei de Chinear, de Arioc, rei de Elassar, de Cadorlaomer, rei de Elam e de Tidal, rei de Goim, O rei de Sodoma, o rei de Gomorra, o rei de Adma, o rei de Seboim e o rei de Bela, que é Soar, saíram e alinharam-se para a batalha contra eles no vale de Sidim, Melquisedec, rei de Salém, trouxe pão e vinho e, como era sacerdote do Deus Altíssimo» Gen 14, 1.8.18

Apesar disso os reis eram bastante acessíveis.

Abraão e Isaac encontram-se com alguns reis e, nesses episódios, fica evidente a grandeza dos Patriarcas e a bênção de Deus sobre eles.

No capítulo 20, Abraão destaca-se no encontro com Abimeleque, pois mostra-se espiritualmente superior ao interceder diante de Deus pelo rei.

Nota-se que Abraão tinha o seu próprio exército capaz de sobrepor-se ao exército do rei.

Muito tempo depois, Isaac tornava-se mais poderoso que o rei Abimeleque.

«E Abiméleque disse a Isaac: «Vai-te embora daqui, pois agora és muito mais poderoso do que nós.» Gen 26,16


5. A Aliança de Deus com Abraão

Através de Abraão, Deus deu inicio à execução do seu plano de salvação dos homens. Para que nascesse o Redentor, seria necessário um povo especial que O pudesse receber. O plano de Deus era dar a Abraão uma descendência.

Isto era totalmente contrário à situação daquele homem, que era velho e tinha uma esposa estéril. Tudo contribuía para que ele não tivesse nenhuma esperança de ter um filho. Aliás, isto era impossível.

Contudo, o problema humano não impede o propósito divino.
Deus entra em situações impossíveis e realiza milagres.
Para que Deus realizasse o seu plano em Abraão era necessária uma Aliança.
Deus opera através daqueles que têm um compromisso com Ele.

Deus põe á prova a fé de Abraão
e  põe  á  prova  a  nossa própria  fé.

A fé de Abraão foi o que fez dele uma pessoa especial. Abraão tem uma fé cega, e acredita piedosamente em Deus, mesmo contra as contrariedades da natureza. Ele não era perfeito, mas tinha fé e o desejo sincero de servir a Deus. Abraão creu na promessa divina e fez um compromisso com Deus, uma Aliança. «Abraão confiou no SENHOR, e Ele considerou-lhe isso como mérito.» Gen 15,6

A parte de Abraão seria a obediência. A parte de Deus seria dar-lhe um filho e uma terra: Caná. Os limites desta terra são: «Naquele dia, o SENHOR concluiu uma Aliança com Abraão, dizendo-lhe: «Dou esta terra à tua descendência, desde o rio do Egipto até ao grande rio, o Eufrates…» Gen 15,18

Abraão creu na promessa. Porém, entre esta e o seu cumprimento existe uma distância, um período de tempo indefinido. «O SENHOR disse-lhe: «Fica desde já a saber que os teus descendentes habitarão como estrangeiros numa terra que não é deles, que serão reduzidos à escravidão e hão-de oprimi-los durante quatrocentos anos. 14*Mas Eu próprio julgarei também a nação que os escravizar, e sairão, depois, com grandes riquezas dessa terra. 15Tu, porém, irás em paz reunir-te aos teus pais e serás sepultado após uma ditosa velhice. 16Apenas à quarta geração eles voltarão para aqui, pois a iniquidade dos amorreus não chegou ainda ao seu termo.» Gen 15,13-16

Uma das maiores dificuldades de todo servo de Deus é conhecer o tempo de Deus e saber esperar. Normalmente, não sabemos quando Deus vai fazer algo e então a espera torna-se muito difícil. «Porém, é com Isaac que Eu estabelecerei a minha aliança, Isaac que Sara te há-de dar, por esta mesma época do próximo ano.» Gen 17,21

«Haverá alguma coisa que seja impossível para o SENHOR? Dentro de um ano, nesta mesma época, voltarei à tua casa, e Sara terá já um filho.» Gen 18,14

«O SENHOR visitou Sara, como lhe tinha dito, e realizou nela o que prometera. Sara concebeu e, na data marcada por Deus, deu um filho a Abraão, quando este já era velho.» Gen 21,1-2


6. O nascimento de Isaac

Aos 100 anos de idade, Abraão teve o seu filho Isaac, conforme Deus lhe havia prometido. «Abraão tinha cem anos quando nasceu Isaac, seu filho.» Gen 21,5

Isaac nasceu quando Abraão e Sara já não podiam mais gerá-lo por si mesmos.

Além de idosa (90 anos), Sara era estéril. Não havia esperança humana nesse caso. Quando nasceu Ismael, Abraão tinha 86 anos. Ainda era auto-suficiente. «Abraão tinha oitenta e seis anos quando Agar lhe deu Ismael.» Gen 16,16

Aos 99 anos, porém, ele já não estava tão certo de que poderia gerar um filho. «Abraão prostrou-se com o rosto por terra, e sorriu, dizendo para consigo: «Pode uma criança nascer de um homem de cem anos? E Sara, mulher de noventa anos, vai agora ter filhos?» Depois, disse a Deus: «Possa Ismael viver diante de ti!»
Mas Deus respondeu-lhe: «Não! Sara, tua mulher, dar-te-á um filho, a quem hás-de chamar Isaac. Farei a minha aliança com ele, aliança que será perpétua para a sua descendência depois dele. Quanto a Ismael, também te escutei. Abençoá-lo-ei, torná-lo-ei fecundo e multiplicarei extremamente a sua descendência. Será pai de doze príncipes, e farei sair dele um grande povo. Porém, é com Isaac que Eu estabelecerei a minha aliança, Isaac que Sara te há-de dar, por esta mesma época do próximo ano.» E, tendo acabado de falar com ele, Deus desapareceu de junto de Abraão.
Abraão tomou Ismael, seu filho, todos quantos haviam nascido na sua casa e todos aqueles que adquirira a dinheiro, todos os indivíduos do sexo masculino da sua casa, e circuncidou-os nesse mesmo dia, como Deus lhe tinha ordenado.
Abraão tinha já noventa e nove anos, quando foi circuncidado.» Gen 17,17-24

Quando parece tarde demais, Deus ainda opera. Ele espera que os recursos humanos terminem para que a glória seja só d’Ele.


7. A prova de Abraão, disposto a sacrificar Isaac

Para conhecer um pouco mais do carácter de Deus, Abraão precisava de se sacrificar muito mais. Depois da experiência de cortar na própria carne, Abraão teve de encarar a decisão de sacrificar o seu próprio filho.

Certamente, que nenhuma ordem de Deus tinha sido tão difícil até então.
Aquela foi uma oportunidade que Abraão teve de se conhecer um pouco mais de si mesmo. De outro modo, ele nunca saberia de que era capaz na sua caminhada com Deus.

O Senhor apresenta-nos desafios para que a força e a sinceridade da nossa fé se manifeste de modo claro.
A experiência de Abraão e de Isaac no Monte Moriá, pode ser comparada ao sacrifício de Jesus.

Nunca  seremos  fortes 
se  não  passarmos  por  situações  difíceis.

Abraão pode ser visto como “figura” de Deus, o Pai. Isaac representaria Jesus. Assim como Isaac carregou a lenha enquanto subia, Jesus carregou a cruz ao subir o monte Calvário. «Abraão apanhou a lenha destinada ao holocausto, entregou-a ao seu filho Isaac e, levando na mão o fogo e o cutelo, seguiram os dois juntos.» Gen 22,6

Abraão disse aos servos: «Havendo adorado, voltaremos até Vós.» nesta frase, está clara a fé do Patriarca, pois estava convicto de que, mesmo que Isaac morresse, Deus haveria de ressuscitá-lo. Está aí simbolizada a ressurreição de Cristo.
«… a quem tinha sido dito: Por meio de Isaac será assegurada a tua descendência. *De facto, ele pensava que Deus tem até poder para ressuscitar os mortos; por isso, numa espécie de prefiguração, recuperou o seu filho.» Heb 11,18-19

Naquele momento amargo, Abraão, que já cria na provisão divina, pôde experimentá-la de facto. As tribulações são necessárias para que possamos experimentar aquilo em que acreditamos. Abraão conheceu a Deus um pouco mais: o Deus da provisão.

Ao dispensar o sacrifício de Isaac, Deus mostrou a Abraão e a toda a humanidade que Ele não queria sacrifícios humanos. Até então, isto não estava claro para Abraão. O único sacrifício humano que Deus iria providenciar seria o sacrifício do seu próprio filho, Jesus.


8. Jacob

Dos doze filhos de Jacob, sómente José e Benjamim eram filhos de Raquel. A tribo de Jacob era a mais poderosa de Caná. O seu filho José, era muito amado pelo seu pai, e, por isso, invejado pelos irmãos, os quais o venderam a mercadores ismaelitas que o levaram para o Egipto, onde em virtude da sua inteligência e extraordinárias faculdades mediúnicas, torna-se ministro do Faraó.

Encontrando-se com os irmãos faz as pazes e traz toda a família para viver no Egipto, pois havia uma seca muito grande por toda a região de Caná, e assim tornou-se num povo muito numeroso.

Jacob dividiu a “Terra Santa” como um pai de família, em doze partes, uma para cada filho, dando origem às doze tribos israelitas. Esses filhos emprestaram os seus nomes à designação das Tribos. Por exemplo: os levitas (de Levi) eram encarregados das cerimónias religiosas, da formação da tradição oral e escrita e transmissão da fé em Deus.

Havia também os juízes, homens reconhecidamente honestos nas tribos, os quais uniformizavam as leis e julgavam as questões enviadas pelas tribos.

Cada tribo tinha a sua assembleia de anciãos, uma Associação Protectora composta de mais ou menos 50 chefes de família, que se reuniam na “Casa do Pai” e procuravam manter a ordem, o auxílio económico aos mais necessitados, acordos matrimoniais, etc... Cada “Casa do Pai” reunia marido e mulher, parentes e era o próprio chefe de família, que tinha o completo controle social sobre a tribo.

Era nas “Casa do Pai”, que se celebravam a Páscoa.

Então a partir do século XIV A.C., os hebreus estavam divididos em doze tribos, que formavam uma confederação. Essa divisão permaneceu com o seu número fixo, embora variassem de nome. Esse número fixo está ligado às necessidades religiosas, já que cada tribo deveria ocupar-se do culto e do santuário comum durante um mês do ano.

Fosse qual fosse a força dos vínculos que uniam as tribos, elas não estavam organizadas em Estado. Não possuíam uma capital, nem um governo central ou administração, e cada tribo tinha uma ampla autonomia. A autoridade era exercida pelos anciãos de cada uma. Teria sido Jacob, o chefe da ocupação de Caná, ocorrida entre os séculos XVII e XIV A.C.

O tempo de permanência dos hebreus no Egipto, é motivo de controvérsia. Algumas tradições hebraicas falam em mais de 500 anos, outras 250 e até em menos de 100 anos.



* ÊXODO


1. Introdução Histórica

O êxodo histórico do povo de Israel começa por volta do século XIII A.C. O 1º capítulo do êxodo, refere-se a Ramsés II, faraó do Egipto. “Subiu então ao trono do Egipto um novo rei que não conhecera José”. Êx 1,8

Há um espaço de vários séculos entre este facto e os factos que se seguem.

Por isso, o compilador colocou entre eles uma genealogia. Este tipo de literatura com genealogia intercalada é do tipo da tradição sacerdotal. É uma genealogia artificial. Os nomes são epónimos para explicar-lhes a origem. Como a história só foi composta muito tempo depois (séc. VI), eles provavelmente não sabiam mais quem teria sido o primeiro.

Naquela altura, havia muitas lendas e tradições. Por exemplo, com Judá. Quando os hebreus chegaram, já havia lá as montanhas conhecidas como montanhas de Judá. Os que habitaram aquela região ficaram a chamar-se de filhos de Judá, judeus... Contudo, sabe-se que a citação do Êx 1,11 é histórica: “Impuseram-lhe então chefes de trabalhos forçados para o oprimirem com carregamentos. E construiu para o faraó as cidades-armazém de Pitom e Ramsés II.” Êx 1,11 foram cidades construídas no tempo de Ramsés II, que foi um dos maiores faraós e teve um reinado de muito progresso.

Os factos relatados no Êxodo passaram-se, mais precisamente na 19ª dinastia, fundada por Ramsés I. Foi um período de grande prosperidade, extensão de domínios, crescimento... Por causa disto, muita gente migrava da Ásia para lá, inclusive prisioneiros de guerra, e também de outros países vinha gente para trabalhar, para adquirir melhores condições de vida. Então, muitos foram feitos escravos nos empregos a que se incorporaram, com as mudanças na conjuntura política.

Com a decadência do império faraónico, numa certa época fracassou a vigilância e muitos fugiram. Foi mais ou menos neste contexto que se deu a saída dos hebreus do Egipto, contada na Bíblia com toda aquela linguagem mítica e épica. Não foram, portanto, só os Israelitas que fugiram do Egipto naquela ocasião, mas diversos povos que se encontravam num regime de opressão, por serem estrangeiros nas terras do Egipto. A opressão, historicamente, era um facto. A fuga dos escravos, também. Os primeiros capítulos do Êxodo contam a preparação da fuga. E neles há dois factos que serão perpetuamente lembrados: a libertação do Egipto e a Aliança no Sinai.


2. Moisés e a sua educação

Moisés nasceu no Egipto e foi criado pela filha do Faraó, e quem lhe deu o nome, ou foi a filha do Faraó ou o próprio Faraó.
O nascimento de Moisés é uma saga etimológica, para explicar o seu nome. Moisés significa «Salvo das Águas» e este nome parece ser de origem Egípcia, daí quando ele foi encontrado no rio Nilo pela filha do Faraó.

O seu nome, original, seria Tutmoses, o que significaria ‘filho de Tut’. Eles, certamente subtraíram o primeiro nome, por se identificar com um Deus pagão, e ficou apenas Moses, que deu MOSHE, em hebraico. Historicamente, quase nada consta de Moisés. Mas não há motivos para se negar a sua existência.


3. Fuga de Moisés

Em Êx. 2,11, conta a fuga de Moisés para Madian. “Entretanto, Moisés cresceu, foi ao encontro dos seus irmãos e viu os seus carregamentos. Viu também um egípcio que açoitava um dos seus irmãos hebreus.” Êx 2,11

Ele teria visto um feitor açoitar um israelita que o matou. Foi descoberto e, por isso, obrigado a fugir. O seu romance com Séfora e os relatos associados são uma introdução para apresentar Moisés como vindo do deserto com a missão de salvar o povo.


4. Vocação e Missão de Moisés

A narração do Êx 3,1 a 10 refere-se ao monte Horeb que, talvez, já era uma montanha sagrada; e a sarça ardente seria referente a uma árvore sagrada na qual os pagãos ofereciam sacrifícios aos seus deuses.

Um dia, nas imediações do Monte Sinai, o mesmo onde recebeu o Decálogo, anos mais tarde, ouviu o chamamento à sua missão, quando Deus “lhe fala” do meio da sarça ardente; “O Anjo do Senhor apareceu-lhe numa chama de fogo, no meio da sarça. Ele olhou e viu, e eis que a sarça ardia no fogo mas não era devorada” Êx 3, 2 então Moisés volta ao Egipto com a sua família.

A descida de Deus à terra é através de Moisés. Moisés é chamado por Deus, porque Deus sabe dos problemas do Seu Povo. O capítulo 3 fala da vocação de Moisés, em linguagem mítica, como acontecera aos profetas. “Moisés estava a apascentar o rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote de Madian. Conduziu o rebanho para além do deserto, e chegou à montanha de Deus, ao Horeb. O anjo do SENHOR apareceu-lhe numa chama de fogo, no meio da sarça. Ele olhou e viu, e eis que a sarça ardia no fogo mas não era devorada. Moisés disse: «Vou adentrar-me para ver esta grande visão: por que razão não se consome a sarça?» O SENHOR viu que ele se adentrava para ver; e Deus chamou-o do meio da sarça: «Moisés! Moisés!» Ele disse: «Eis-me aqui!» Ele disse: «Não te aproximes daqui; tira as tuas sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é uma terra santa.» E continuou: «Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacob.» Moisés escondeu o seu rosto, porque tinha medo de olhar para Deus. O SENHOR disse: «Eu bem vi a opressão do meu povo que está no Egipto, e ouvi o seu clamor diante dos seus inspectores; conheço, na verdade, os seus sofrimentos. Desci a fim de o libertar da mão dos egípcios e de o fazer subir desta terra para uma terra boa e espaçosa, para uma terra que mana leite e mel, terra do cananeu, do hitita, do amorreu, do perizeu, do heveu e do jebuseu. E agora, eis que o clamor dos filhos de Israel chegou até mim, e vi também a tirania que os egípcios exercem sobre eles. 10E agora, vai; Eu te envio ao faraó, e faz sair do Egipto o meu povo, os filhos de Israel.» Êx 3, 1-10

O hebreu, para dizer que um tal facto era divino, necessitava de visualizar um facto histórico. Todo profeta, quando recebe uma missão de Deus, a princípio recusa. Mas depois, Deus faz a promessa... assim aconteceu com Moisés.

O  chamamento  de  Moisés  foi  significativo, 
tendo  em  vista  o  seu  passado  e  a  sua  educação.

Nesta altura aparece Moisés que assume este Povo, e a partir daqui deixa de ser escravo, passa a ser livre e a ter direito a uma terra e começa a prestar culto a Deus. O Êxodo começou por volta do ano 1250 A.C. Moisés é de descendência hebraica e foi ele quem libertou o Povo de Deus, e a sua vida reflecte-se nos acontecimentos no Povo de Deus. O que se diz de Moisés, não se pode acrescentar muito, mas os relatos no êxodo também têm algo de Saga e de história.


5. Auto defenição de Javé

A citação “Eu sou aquele que sou” foi sempre interpretada filosoficamente, mas por um aspecto ontológico insinuado muito depois. Deus, na verdade, apenas deixou de citar um nome, por causa do que isto iria significar na mentalidade deles. Os verbos “ser” e “existir” em hebraico distinguem-se apenas por uma letra. Aquele que é, que vive, que existe... são expressões equivalentes.

Javé e Jeová são a tradução verbal do tetragrama que os judeus não pronunciavam. Ao principio, adoptava-se a forma Jeová, pelo seguinte facto. Descobriu-se que pelo excessivo medo de pronunciar o Santo Nome em vão (2º mandamento), todas as vezes que na leitura aparecia o nome de Deus, substituíam-no por outro correspondente. Usavam muito “Adonai” (Senhor) ou “Elion” (Altíssimo). Então, os estudiosos colocaram as vogais da palavra “Adonai” entre as consoantes do tetragrama JV, o que deu Jeová. Posteriormente, descobriu-se que Javé será a forma mais apropriada, e não Jeová.

Numa breve retrospectiva, devemos dizer que sempre ao que analisar um facto distinguiremos duas épocas: o tempo em que o facto realmente aconteceu (sec. XIII) e o tempo em que foi escrito (séc. VI ou V). Há uma grande modificação durante o tempo em que o facto se passou transmitido oralmente, e há também muita projecção de factos da época em que foi escrito, muita estilização.


6. As Pragas 

São histórias estilizadas e artificiais. Quando os mais velhos foram contar aos mais novos a história da libertação do Egipto, eles quiseram mostrar muitas vezes a intervenção poderosa de Deus contra o inimigo e assim explicaram os factos com situações fantasiosas.

Que há aqui de histórico ? Cada facto tem relação com algum fenómeno acontecido, mas não na quantidade que a Bíblia relata. Eles transportaram tudo para um tempo determinado e deram uma significação e interpretação religiosa.

Com relação à morte dos primogénitos, certamente que durante o tempo em que os hebreus estiveram lá aconteceu a morte de um filho do Faraó e eles atribuíram também significação religiosa a este facto, como sendo um desígnio divino. Mas o que interessa não é o facto, e sim a interpretação do facto. Eles queriam convencer o leitor de que foi Deus quem fez tudo isso.

A história das pragas evoluiu do tempo em que se passaram historicamente para o tempo em que foi escrita. Na água que se transformou em sangue está o melhor exemplo desta evolução: estão presentes as três tradições (Javista, Eloísta e Sacerdotal).

Em Êx. 4,9, diz: “E se suceder que não acreditem nestes dois sinais nem escutem a tua voz, tomarás da água do rio e derramá-la-ás sobre a terra seca; e a água que tiveres tirado do rio transformar-se-á em sangue sobre a terra seca”. Êx 4,9 ‘pouco de água tirada num balde, com a acção de Moisés transformou-se em sangue’ (javista); em 7, 17-19, diz que ‘todo o Nilo se transformou em sangue’. “Assim diz o SENHOR: Nisto reconhecerás que Eu sou o SENHOR: eis que, com a vara que tenho na mão, ferirei as águas que estão no rio, e elas transformar-se-ão em sangue. 18Os peixes que estão no rio morrerão, o rio cheirará mal e os egípcios não poderão beber a água do rio.” Êx 7,17-19

É uma evolução da anterior (sacerdotal). A seguir, diz que ‘todas as águas ficaram vermelhas’. Nota-se nisto tudo uma constante evolução do fenómeno, certamente ocasionado pela tradição oral, antes das histórias serem escritas.


7. Instituição da Páscoa (CAP. 12)

O autor deste capítulo atira para o tempo de Moisés um rito pascal instituído depois do exílio, usado no templo de Jerusalém. O primeiro versículo é a ligação. “O SENHOR disse a Moisés e a Aarão na terra do Egipto:” Êx 12,1 Será o primeiro mês do ano, isto porque até o tempo de Josias (séc VII) o ano começava no Outono (Outubro), igual ao calendário dos babilónios. Com o reinado de Josias, a festa foi mudada de data para a primavera, a fim de não se confundir com o culto da fertilidade, celebrado pelos pagãos no inicio do ano.

A Páscoa já existia mesmo antes dos Cananeus. A origem da palavra Páscoa vem de “pashá”, que significa coxear, mancar. Daí passou para pular, dançar, festejar, passar por cima, salvar. Páscoa passa a ser a passagem em que Deus protege o Seu primogénito: Israel. Oferece-se o primogénito dos rebanhos e colheitas a Deus, para O louvar. “O anjo de Deus saltou as casas dos hebreus para não lhes fazer mal. “ A festa dos ázimos também era pagã, mas era a festa agrícola correspondente à Páscoa, que era pastoril. O caso de não comer pão com fermento é porque o fermento é a deterioração da matéria, sinal de impureza. Não se sabe como é que depois eles juntaram as duas festas.

A  Páscoa  de Jesus  Cristo, 
passa pela  Vida, Morte  e Ressurreição  
e inclui obrigatoriamente
a Páscoa Judaica  ou  seja  o Êxodo.

O facto narrado em Êx 12,6 é uma alusão á saída do Egipto, “Vós o tereis sob guarda até ao dia catorze deste mês, e toda a assembleia da comunidade de Israel o imolará ao crepúsculo.” Êx 12,6 é um rito supersticioso e mágico dos nómadas, para se livrarem de qualquer mau espírito das casas: pintar os umbrais com sangue. O autor do texto coloca aí como se fosse na noite posterior às pragas, na noite da partida.

Na festa dos ázimos. “Durante sete dias comereis pães sem fermento. No primeiro dia, fareis desaparecer o fermento das vossas casas, pois todo aquele que comer pão fermentado, do primeiro dia ao sétimo dia, será eliminado de Israel.” Êx 12,15 Na pressa da saída, não tiveram tempo de fermentar o pão. E manda comer pão assim durante sete dias. Em 12, 27, há um rito que se cumpre ainda hoje na tradição dos hebreus: um menino pergunta ao pai, que conta toda a história. Fala da libertação, mas não como facto passado, e sim como se acontecesse com eles. Todas as vezes que celebravam uma libertação, eles referiam este facto. “vós direis: ‘É o sacrifício da Páscoa em honra do SENHOR, que passou ao largo das casas dos filhos de Israel no Egipto, quando feriu o Egipto e salvou as nossas casas.’» O povo inclinou-se e prostrou-se.” Êx 12,27

A passagem do Mar Vermelho é uma narração epopeica, enriquecida pela liturgia. O Cap.15 é o canto de Moisés, mas este canto não é exactamente dele. Fala de vitórias sobre os filisteus, os amalecitas, povos posteriores a ele. Foi feito por outro autor e atribuído a Moisés. A passagem 15, 20-21 é um texto muito antigo. Teria sido mesmo após a passagem do mar vermelho. “Maria, a profetisa, irmã de Aarão, tomou nas mãos uma pandeireta, e todas as mulheres saíram atrás dela com pandeiretas, a dançar. 21E Maria entoou para eles: «Cantai ao SENHOR, que é verdadeiramente grande: lançou no mar cavalo e cavaleiro.” Êx 15,20-21

Narração da Aliança “’Vós vistes o que Eu fiz ao Egipto, como vos carreguei sobre asas de águia e vos trouxe até mim.” Êx 19,4 A arqueologia mostrou várias Alianças entre reis antigos, parecidos com esta do Sinai, redigidas no mesmo esquema. A de Israel tem a sua conotação própria, porque é com Deus. A insistência em trovões e relâmpagos talvez são fatos que provavelmente teriam acontecido o que é muito possível numa região vulcânica como essa.


8. A Aliança

A narração da entrega dos mandamentos é um esforço para colocar dentro da Aliança o decálogo, uns preceitos imperativos e outros explicativos, uns mais antigos e outros mais recentes. Em parte vêm de Moisés, pois ele teria dado alguns princípios gerais para o governo do povo, e outros foram acrescentados, tirados de outros povos, preceitos conhecidos e adoptados pelos povos vizinhos.

O esquema comum das Alianças, que foi seguido pelos hebreus:

1. Introdução histórica
2. Proposta (mandamentos)
3. Pacto (compromisso)
4. Bênçãos e maldições
5. Sacrifício: a tábua é colocada no santuário de um deus.

Este esquema era das alianças que ordinariamente se faziam naquela época. Como se vê, pouco ou nada há de diferente na esquematização da Aliança de Deus com Israel. Até a conservação das tábuas houve também.

A introdução (19,3-19) é de origem sacerdotal. Proposição da aliança – Moisés subiu até junto de Deus. Da montanha o SENHOR chamou-o, dizendo: «Assim dirás à casa de Jacob e declararás aos filhos de Israel: ‘Vós vistes o que Eu fiz ao Egipto, como vos carreguei sobre asas de águia e vos trouxe até mim. E agora, se escutardes bem a minha voz e guardardes a minha aliança, sereis para mim uma propriedade particular entre todos os povos, porque é minha a terra inteira.
*Vós sereis para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa.’ Estas são as palavras que transmitirás aos filhos de Israel.»
Moisés veio e chamou os anciãos do povo e pôs diante deles todas estas palavras, como o SENHOR lhe tinha ordenado. Todo o povo, unânime, respondeu, dizendo: «Tudo o que o SENHOR disse, nós o faremos.» E Moisés transmitiu ao SENHOR as palavras do povo.
Preparação da aliança – O SENHOR disse a Moisés: «Eis que Eu venho ter contigo no coração da nuvem, para que o povo oiça quando Eu falar contigo e também acredite em ti para sempre.» E Moisés transmitiu ao SENHOR as palavras do povo.
O SENHOR disse a Moisés: «Vai ter com o povo, e fá-los santificar hoje e amanhã; que eles lavem as suas roupas. Que estejam prontos para o terceiro dia, porque no terceiro dia o SENHOR descerá aos olhos de todo o povo sobre a montanha do Sinai. Põe limites ao redor do povo, dizendo: ‘Guardai-vos de subir à montanha e de tocar os seus limites. Todo aquele que tocar na montanha morrerá. Ninguém tocará nela, pois será apedrejado ou atravessado de flechas: seja animal ou seja homem, não viverá. Quando soar longamente o chifre de carneiro, eles subirão à montanha»
Moisés desceu da montanha ao encontro do povo. Ele santificou o povo, e eles lavaram as suas roupas. E disse ao povo: «Estai prontos para o terceiro dia. Não vos aproximeis de mulher alguma.»
Teofania do Sinai (Dt 4,10-14; 5,1-5) – E eis que, no terceiro dia, ao amanhecer, houve trovões e relâmpagos e uma nuvem pesada sobre a montanha, e um som muito forte de trombeta, e todo o povo que estava no acampamento tremia.
Moisés fez sair o povo do acampamento ao encontro de Deus, e colocaram-se no sopé da montanha. A montanha do Sinai estava toda coberta de fumo, porque o SENHOR tinha descido sobre ela no fogo; e o seu fumo subia como o fumo de um forno, e toda a montanha tremia muito. O som da trombeta era cada vez mais forte. Moisés falava, e Deus respondia-lhe no trovão.” Êx 19, 3-19

Em 3-6 é o discurso de Deus como introdução à Aliança: “E continuou: «Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacob.» Moisés escondeu o seu rosto, porque tinha medo de olhar para Deus.” Êx 3,6

7-15 é a preparação da vinda de Deus para onde está o povo; “Vai ter com o faraó, de manhã, quando ele sair para a água. Espera-o na margem do rio, e levarás na mão a vara que se transformou em cobra.” Êx 7,15

16-19 é uma teofania (aparição de Deus na tempestade) “Disse-lhes Moisés: «Ninguém o guarde até de manhã.» Êx 16,19

O versículo 20 é uma repetição disto tudo, “20Porém, alguns não escutaram Moisés, e guardaram-no até de manhã; mas ganhou vermes e cheirava mal. E Moisés irritou-se contra eles.” Êx 16,20 originária de outra tradição. A seguir, a narração é interrompida para que sejam intercalados os mandamentos.

O decálogo está em 20, 1-17. “Deus pronunciou todas estas palavras, dizendo: 2*«Eu sou o SENHOR, teu Deus, que te fiz sair da terra do Egipto, da casa da servidão. Não haverá para ti outros deuses na minha presença.
Não farás para ti imagem esculpida nem representação alguma do que está em cima, nos céus, do que está em baixo, na terra, e do que está debaixo da terra, nas águas. Não te prostrarás diante dessas coisas e não as servirás, porque Eu, o SENHOR, teu Deus, sou um Deus zeloso, que castigo o pecado dos pais nos filhos até à terceira e à quarta geração, para aqueles que me odeiam, mas que trato com bondade até à milésima geração aqueles que amam e guardam os meus mandamentos.
Não usarás o nome do SENHOR, teu Deus, em vão, porque o SENHOR não deixa impune aquele que usa o seu nome em vão.
Recorda-te do dia de sábado, para o santificar. Trabalharás durante seis dias e farás todo o teu trabalho. Mas o sétimo dia é o sábado consagrado ao SENHOR, teu Deus. Não farás trabalho algum, tu, o teu filho e a tua filha, o teu servo e a tua serva, os teus animais, o estrangeiro que está dentro das tuas portas. Porque em seis dias o SENHOR fez os céus e a terra, o mar e tudo o que está neles, mas descansou no sétimo dia. Por isso, o SENHOR abençoou o dia de sábado e santificou-o.
Honra o teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias sobre a terra que o SENHOR, teu Deus, te dá.
Não matarás. Não cometerás adultério. Não roubarás. Não responderás contra o teu próximo como testemunha mentirosa.
Não desejarás a casa do teu próximo. Não desejarás a mulher do teu próximo, o seu servo, a sua serva, o seu boi, o seu burro, e tudo o que é do teu próximo.” Êx 20, 1-17
É um código de leis bastante antigo, muito inspirado em Hamurabi.

As tempestades a que se refere o capítulo 19 são teofanias e constam nas tradições Javista, Eloísta e Deuteronómica. Para os antigos, relâmpagos e trovões eram manifestações de Deus. Os exegetas não negam que possa ser a narração de um facto natural da época. No Seu discurso, Deus faz questão de dizer “toda a terra é minha”, para que o povo não pense numa religião nacionalista, mas universal. “Reino de Sacerdotes”, porque no mundo de Javé todos são mediadores; “nação santa”, ou seja, em hebraico ‘kadosh’ = separada. A “nuvem” é a presença de Deus, e o “som da trombeta” é um modo de descrever o ruído do trovão. O povo não vê Deus, vê apenas os sinais.

O versículo 22 é da lei de talião. “E que também os sacerdotes que se aproximam do SENHOR se santifiquem, para que o SENHOR não os fira.” Êx 19,22 É muito rigorosa, em relação ao Evangelho, mas é um grande progresso comparada às leis mais antigas.

O capítulo 24 é quase todo de origem eloista. Tem algo de sacerdotal. O versículo 3 é um compromisso do povo “Moisés veio e relatou ao povo todas as palavras do SENHOR e todas as normas, e todo o povo respondeu a uma só voz, e disse: «Poremos em prática todas as palavras que o SENHOR pronunciou.” Êx 24,3 ;

O versículo 5 é o holocausto, vítima pacífica. “E enviou os jovens dos filhos de Israel, e ofereceram holocaustos e sacrificaram ao SENHOR novilhos como sacrifícios de comunhão.” Êx 24,5 A seguir, a aspersão do povo com o sangue, para consumar a Aliança. Jesus Cristo na instituição da eucaristia faz alusão às palavras de Moisés. O versículo 11 é o mesmo sacrifício, descrito na tradição javista. “E Ele não estendeu a mão contra estes eleitos dos filhos de Israel, os quais contemplaram a Deus e depois comeram e beberam.” Êx 24,11

Os hebreus nem sempre entenderam bem o sentido da aliança. O seu significado foi dado pelos profetas, mais tarde, acentuando não tanto o contracto jurídico, mas o relacionamento pessoal de Deus, acompanhando-os no deserto.


9. OS Mandamentos

Um problema que sempre perturbou os hebreus foi eles distinguirem o Deus verdadeiro da imagem de Deus. Se Moisés deixasse o povo fazer imagens, eles a adorariam como Deus. Foi preciso muito tempo para que eles chegassem a uma concepção abstracta da divindade. O “Deus que ninguém vê” era um problema sério, e por isso eles caíram muitas vezes na idolatria. Daí a séria proibição na Bíblia de se fazerem imagens.

O Decálogo católico é uma adaptação. Nele está modificado o 6º mandamento. Na Bíblia diz: “não cometer adultério”, e no catecismo diz: ‘não pecar contra a castidade’ ; também os 9º e 10º mandamentos na Bíblia são um só, e no catecismo está dividido. Esta distinção foi precisa para se completarem os dez, porque eles suprimiram o que proibia o fabrico de imagens, e isto sempre foi a causa de polémica com os protestantes.

Aqui está a discriminação dos mandamentos na Bíblia (capítulo 20):

Mandamento = vers 3 – (Não haverá para ti outros deuses na minha presença..)

Mandamento = vers 4 a 6 – (Não farás para ti imagem esculpida... não te prostrarás diante destes deuses e não os servirás...)

Mandamento = vers 7 – (Não usarás o nome do SENHOR, teu Deus, em vão…)

Mandamento = vers 8 a 11 – (Trabalharás durante seis dias... o sétimo dia é o sábado consagrado ao Senhor teu Deus)

Mandamento = vers 12 – (Honra teu pai e tua mãe)

Mandamento = vers 13 – (Não matarás)

Mandamento = vers 14 - (Não cometerás adultério)

Mandamento = vers 15 – (Não roubarás)

Mandamento = vers 16 – (Não responderás contra o teu próximo como testemunha mentirosa)

10º Mandamento = vers 17 – (Não desejarás a casa do teu próximo. Não desejarás a mulher do teu próximo, o seu servo, a sua serva, o seu boi, o seu burro, e tudo o que é do teu próximo.)


* CONCLUSÃO:

O Povo de Israel só tomou conhecimento que de facto era um Povo, depois do Êxodo, porque aí pôde ver o que Deus fez por eles e então começaram a celebrar os acontecimentos. O Povo foi aprofundando o sentido dos acontecimentos com Moisés em tempo calmo e depois estável.

O  Livro  do  Êxodo  é  um  grito  à  escravatura.

Sentiram  a  necessidade  de  corresponder  a  Deus.  Deus  está  sempre  ao  lado  dos mais  fracos,  e  o  Povo  de  Israel,  através  das  necessidades  que  sentiram  no  deserto,  começaram  a  pensar  na  salvação  de  Deus,  mas  este  Povo  foi  muitas  vezes  infiel  à  Aliança,  mas  Deus  repunha  sempre  a  Aliança.

O Povo de Deus, foi o único Povo a acreditar num só Deus, mas há algumas duvidas porque parece que também acreditavam em pequenos deuses, mas Deus era o maior, o YAVÈ.


* SAÚL 1º REI


1. Origem e Ascenção 

Saúl foi o primeiro rei de Israel, filho de Quis, e pertencente à tribo de Benjamim. Governou +/- 40 anos entre 1055 e 1015 A.C. ?

Nos anos 1200 – 1050 A.C, existia um Povo, mas ainda não tinham consciência disso, repartido em diversas tribos unidas por diversos laços étnicos e culturais, que alinhavam-se ou batalhavam entre si e que eram conduzidos por juízes. As tribos aperceberam-se que se estivessem mais unidas seriam mais Povo. Por este motivo os anciãos de Israel foram ter com Samuel e pediram-lhe um rei visível que governasse sobre eles, à semelhança das nações bem organizadas que lhes eram próxima. “Dá-nos um rei que nos governe, como têm todas as nações” 1 Sam 8,5

Abandonaram a fé no Deus invisível para depositarem confiança num rei visível. Por instruções divinas, Samuel informou aos anciãos, quais seriam os direitos do rei e as obrigações do povo para com ele. Como os anciãos insistiam no seu pedido, foram atendidos e saíram. “Fazem o que sempre têm feito, desde o dia em que os tirei do Egipto até ao presente, abandonando-me para servir deuses estrangeiros.” 1 Sam 8,8

Samuel, era contra um rei, mas aceita, mas para isso o Povo tem que assumir as consequências. “Atende-os, agora, mas expõe-lhes solenemente os direitos do rei que reinará sobre eles.» 10Referiu Samuel todas as palavras do SENHOR ao povo que lhe pedia um rei.” 1 Sam 8,9-10

Havia  a  impressão  que  o  Rei  era  Deus, 
mas  ao  escolherem  o  1º Rei 
será  que  este  não  enfrentava 
o  verdadeiro  Rei  que  era  Deus ?


2. Reinado e Morte

Quando Saúl foi ter com Samuel, este foi ungido e aclamado rei. Os reis eram ungidos. “Samuel tomou então um frasco de óleo, derramou-o sobre a cabeça de Saul e beijou-o, dizendo: «O SENHOR ungiu-te príncipe sobre a sua herança.” 1 Sam 10,1

Saúl foi escolhido para atrair a confiança de todo o povo; e ainda mais, um homem da tribo de Benjamim, situada entre Efraim e Judá de modo a agradar tanto às gentes do norte como às do sul. Mas Saúl liderava apenas 4 ou 5 tribos de Israel, as do centro da Samaria.

Saúl era um guerreiro, formou o seu exercito e não alterou quase nenhum dos padrões tribais que imperavam sobre Israel desde a época dos juízes. A sua imaturidade levaram o seu reinado ao fracasso e à desobediência a Deus, voltou as costas a Deus.

Samuel repreendeu Saúl por ter transgredido a ordem divina e declarou-lhe que por causa da sua desobediência a Deus, o seu reino não subsistiria para o futuro. “Agora, o teu reinado não subsistirá. O SENHOR escolheu para si um homem segundo o seu coração e fará dele chefe do seu povo, porque não observaste as suas ordens.” 1 Sam 14,13

Como Saúl não executava as ordens divinas, antes se opunha a elas, o próprio Deus rejeitou-o para não ser mais rei de Israel. “Samuel disse-lhe: «Deste modo, o SENHOR arrancou hoje de ti o trono de Israel, a fim de o dar a outro melhor do que tu.” 1 Sam 15,28

Durante a guerra contra os filisteus, Saúl acaba por perder três dos seus quatro filhos, “Os filisteus atiraram-se contra Saul e seus filhos, matando Jónatas, Abinadab e Malquichua, filhos de Saul.” 1 San 31,2 e ele estando ferido acaba por suicidar-se atirando-se sobre a sua própria espada.

Saúl reinou até à morte. “O profeta não tornou a ver Saul até ao dia da sua morte.” 1 Sam 15,35



* REI DAVID

1. História

David viveu e reinou por volta dos anos +/- 1015 e 977 A.C. ?

Foi um rei muito popular e amado. Na narrativa bíblica, ele aparece-nos como tocador de harpa na corte do rei Saúl, e tocava quando este se sentia possuído por maus espíritos para o aliviar. “Um espírito maligno, por permissão do SENHOR, veio novamente sobre Saul. Estava ele sentado em sua casa com a lança na mão e David tocava harpa.” 1 Sam 19,9 Ganhou grande notoriedade quando matou o gigante guerreiro filisteu Golias e assim ganhou o direito de casar com a filha do rei Saúl, assim como outras mordomias. Depois da morte de Saúl governou a tribo de Judá e mais tarde foi escolhido como rei de todo Israel, “Todas as tribos de Israel foram ter com David a Hebron e disseram-lhe: «Aqui nos tens: não somos nós da tua carne e do teu sangue? 2Tempos atrás, quando Saul era nosso rei, eras tu quem dirigia as campanhas de Israel e o SENHOR disse-te: 'Tu apascentarás o meu povo de Israel e serás o seu chefe.'» 3*Vieram, pois, todos os anciãos de Israel ter com o rei a Hebron. David fez com eles uma aliança diante do SENHOR, e eles sagraram-no rei de Israel.” 2 Sam 5,1-3 marcando uma diferença na realidade dos judeus: de uma confederação de tribos, transformou-se numa nação e, transferiu a capital de Hebron para Jerusalém trazendo consigo a Arca Sagrada.

Alargou os territórios sobre qual governava e trouxe grande prosperidade para Israel. Os seus últimos anos de vida foram abalados por rebeliões e desentendimentos entre os seus filhos e alguns familiares na corte. David é o grande autor do livro dos Salmos, mas apenas parcialmente.

David foi ungido rei pelo Profeta Samuel ainda durante o reinado de Saúl, causando assim alguns ciúmes.


2. Relato Bíblico sobre David

Deus ordenou a Samuel que Saúl destruísse o povo amalequita por terem atacado o povo de Israel durante o êxodo. Saúl desobedeceu, e por isso Samuel profetizou que Saúl não seria mais rei. “Agora, o teu reinado não subsistirá.” 1 Sam 13,14

Samuel instruído por Deus foi secretamente a casa de Jessé ungir o seu filho mais novo como novo rei. “Quero enviar-te a Jessé de Belém, pois escolhi um rei entre os seus filhos.” 1 Sam 16, 1 Como David tocava para Saúl este afeiçoou-se a David e fez dele seu escudeiro.

Mais tarde quando o exercito dos filisteus enfrentou os Israelitas, Golias desafiou a que lhe enviassem um homem para enfrentá-lo, e David corajoso decidiu enfrentá-lo e, logo no inicio do combate atirou-lhe uma pedra à testa e Golias caiu ao chão e arrancou-lhe a cabeça com a sua própria espada. “Meteu a mão no alforge, tomou uma pedra e arremessou-a com a funda, ferindo o filisteu na fronte. A pedra penetrou-lhe na cabeça, e o gigante tombou com o rosto por terra. Assim venceu David o filisteu, ferindo-o de morte com uma funda e uma pedra. E, como não tinha espada na mão, David correu para o filisteu e, quando já estava junto dele, arrancou-lhe a espada da bainha e acabou de o matar, cortando-lhe a cabeça.” 1 Sam 17,49-51

Após este combate, foi colocado como líder de um grupo de soldados e tornou-se no melhor amigo de Jonatas, filho de Saúl.

David  mata  Golias,  mata  mais  do  que  Saúl.

David ganhando em todas as frentes e missões, a sua fama foi aumentando entre o povo e o rei Saúl começou a sentir inveja e a temer de perder o poder para David. “Saul irritou-se em extremo e ficou sumamente desgostoso por isso. E disse: «Dão dez mil a David e a mim apenas mil! Só lhe falta a coroa!» A partir daquele dia, não voltou a olhar para David com bons olhos.” 1 Sam 18, 8-9 A partir daí, Saúl tentou matar várias vezes David, o qual fugiu para o deserto para se salvar. Começou a reunir em seu torno um pequeno exercito que o defendia contra os ataques do rei Saúl.


* 3. CONCLUSÃO

Pode-se dizer que David foi um homem em três dimensões:

1ª dimensão: David o guerreiro. Esta foi a primeira experiência que David teve fora da sua actividade de pastor, pois ele estava a ser preparado por Deus para assumir uma posição maior dentro da nação de Israel. David ao eliminar Golias, mostrava a sua fé, o seu compromisso e preparação para enfrentar os inimigos de Israel e de Deus.

2ª dimensão: David na sua realidade. David, um jovem de uma família desconhecida de Israel é apontado por Deus para tornar-se futuro rei de Israel. Aparentemente não havia nenhuma possibilidade de se cumprir a profecia de Samuel, mas Deus, encaminha a história para que a profecia dada pela boca do homem de Deus torne-se história. Deus cumpre a sua palavra e o menino guerreiro torna-se rei. É claro que este rei tem algo especial: é um rei escolhido por Deus. Por isso Deus usa David, o rei-guerreiro para cumprir os seus propósitos e também para expulsar e vencer todos os inimigos de Israel.

3ª dimensão: David o músico. David é um homem que conseguiu expressar através da música todo o seu amor por Deus. Foi o maior compositor que Israel já conheceu derivado ao grande número de Salmos escritos. Através dos cânticos de David podemos louvar a Deus. Através dos Salmos, David expressou o seu grande amor a Deus, a sua fé, os ataques sofridos pelos inimigos de Israel, a esperança, a angústia, o pecado, e muitos outros aspectos da vida nas suas nuances com Deus.

Para terminar,

Deus tem uma relação de Paternidade com David e a sua descendência. Deus assume o compromisso de manter a sua descendência como Reis, mesmo que o neguem.

David, ainda antes de morrer, o seu segundo filho Salomão foi ungido como rei. “Saíram, pois, o sacerdote Sadoc, o profeta Natan, Benaías, filho de Joiadá, os cretenses e os peleteus; montaram Salomão na mula do rei David e conduziram-no a Guion. 39*O sacerdote Sadoc tomou do santuário o chifre do óleo e ungiu Salomão; tocaram a trombeta; todo o povo exclamou: «Viva o rei Salomão!” 1 Rs 1,38-39


Exame de "Introdução Antigo Testamento (Israel das Origens a David)"
de Hélder Gonçalves a 28.06.2007
Escola Superior de Teologia e Ciências Humanas de Viana do Castelo
Professor: Padre João Alberto Sousa Correia
Avaliação Final: 15 Valores

HÉLDER GONÇALVES


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