quinta-feira, 27 de setembro de 2012

REVELAÇÃO E FÉ - Fé e Razão

RESUMO:

Parte-se da cristologia presente na ‘Fides et Ratio’ ‘Fé e Razão’: a Redenção e a Encarnação. Pela análise desses dois mistérios, percebe-se como a razão entra na esfera do divino, iluminada pela luz dos mistérios dos quais se torna, pela fé participante.

Esse facto não humilha, mas dignifica a razão ao máximo.

Purifica-a, eleva-a, aperfeiçoa-a, respeitando a sua autonomia.

O próprio ser humano cresce na sua humanidade e na sua personalização.

São a fé e a razão celebrando o seu maior triunfo.

São razão e fé no respeito mútuo da respectiva autonomia, realizando a mais perfeita simbiose e a mais bela aventura.


REFLETINDO SOBRE

As aventuras da fé à luz da Encíclica Fides et Ratio, devemos ter diante dos olhos a finalidade dessa Carta Pontifícia. Entre as preocupações do Papa está a convicção da Igreja de que fé e razão se “ajudam mutuamente” (Vaticano I, Constituição Dogmática Dei Filius, DS 3.019), exercendo uma em prol da outra a função de “discernimento crítico e purificador e de estímulo para progredir na investigação e no aprofundamento” (n. 100).

É essa última função da fé em relação à razão que considero aqui para esclarecer sempre mais o relacionamento fé e razão. Irei tocar na “cristologia” da Encíclica. Em alguns tópicos ela faz-se presente na Encíclica e creio que, analisando-os, podemos tirar um bom proveito.


O MISTÉRIO DA CRUZ E DA RAZÃO

A Fides et Ratio coloca-nos diante de um problema que nunca foi fácil: “a relação fé e razão”.

Como é que eles se harmonizam, se é que se harmonizam?

É muito estranha a afirmação do Apóstolo São Paulo na 1º Coríntios: “Enquanto os gregos procuram a sabedoria, nós pregamos Cristo Crucificado, loucura para os gregos... Mas, aquilo que é loucura de Deus, é mais sábio que os homens” (1º Cor 1, 22-25).

Quem entende isso: Cristo Crucificado sabedoria de Deus? O que significa na mente do Apóstolo a morte de Jesus Cristo? O que significa para ele o Filho de Deus Crucificado? Se olharmos a 1º Cor, significa “sabedoria de Deus, poder de Deus”.

Fé e razão ajudam-se mutuamente,
exercendo uma em prol da outra
a função de discernimento crítico
e purificador e de estímulo
para progredir na investigação e no aprofundamento.

É sabedoria de Deus, pois, “Deus escolheu no mundo aquelas coisas que nada são para destruir as que são” (1º Cor 1, 28). Cristo Crucificado é o grande desafio lançado à nossa razão. A morte de Jesus na Cruz é o verdadeiro ponto nodal que desafia qualquer filosofia (n. 23).
Como é que Cristo Crucificado pode ser sabedoria?
O próprio Jesus na Cruz perguntou-Se: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” (Mc 15, 34-35).

A fé diz-nos que Cristo Crucificado significa não ser na rejeição do sofrimento e da morte que a “identidade pessoal” encontra solução, mas, antes, na “aceitação obediente e livre” do sofrimento e da morte como “espaço” no qual se exerce a “liberdade” para exprimir amor.

Cristo Crucificado é fonte de vida e sinal mais perfeito de um amor “totalmente gratuito”: “Tanto Deus amou o mundo que lhe deu o Seu Filho Único para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3, 16).

É essa a resposta da fé.

E a resposta da razão?
Como é que fica a razão?

Ela encontra-se diante de uma realidade que a ultrapassa.
O Filho de Deus Crucificado supera “todo e qualquer limite cultural”. É interessante notar como Jesus mesmo prepara os seus Apóstolos para a loucura e o escândalo da Cruz.

É suficiente acompanhar o evangelista Marcos. Ele vai levando a redacção do seu Evangelho com episódios, detalhes e proibições de que digam que Ele é o Messias, o Cristo, o Filho do Deus vivo, como também, até o momento trágico em que, Jesus expirando na cruz com um grande grito, o centurião romano que lá se encontrava exclama: “Verdadeiramente este homem era o Filho de Deus” (Mc 15, 39).

Diante da kénosis de Deus no mistério da cruz, mistério verdadeiramente grande para a mente humana, tanto mais que lhe parece insustentável a afirmação de que o sofrimento e a morte possam exprimir o amor que se dá sem pedir nada em troca.

A grande questão aqui é como compreender que no aniquilamento do Filho de Deus na sua humanidade se possa encontrar o caminho da felicidade do ser humano e do próprio mundo? Como é que da morte de um ser estraçalhado, tal qual foi Jesus, possa nascer a vida?

Como entender que ainda hoje a salvação e a felicidade do ser humano e do mundo passam pela cruz?

A razão, colocada diante desse mistério, entra na “esfera” do saber divino. É só nessa esfera que ela encontra uma resposta à medida que se abre à esfera do saber divino, à medida que se abre à fé. O mistério, na realidade, é um abrir-se da esfera divina à esfera da razão humana. A razão humana, por isso, não é humilhada pelo mistério, mas é antes exaltada ao máximo. Interessante a afirmação da Encíclica: “A relação entre a fé e a filosofia encontra, na pregação de Cristo crucificado e ressuscitado, o escolho contra o qual pode naufragar, mas também para além do qual pode desembocar no oceano ilimitado da verdade.

Aqui é evidente a fronteira entre a razão e a fé, mas torna-se claro também o espaço onde as duas se podem encontrar” (n. 23). E o espaço é precisamente aquele no qual se exerce a liberdade para exprimir um amor totalmente gratuito. É só na doação obediente e livre que a pessoa encontra “a resposta última” à pergunta “do sentido de sua existência”.


O MISTÉRIO DA ENCARNAÇÃO E A RAZÃO

A Encarnação do Verbo é outro problema acentuado pela Encíclica.
Está sempre em jogo o problema do sentido da existência.
Qual a resposta que a palavra de Deus, ou então a fé, dá a esse problema?
Ela encaminha o ser humano para Jesus Cristo, o Verbo de Deus encarnado, que realiza em plenitude a existência humana.
Aqui estão implícitas algumas passagens da Sagrada Escritura, especialmente da Carta aos Colossenses e da Carta aos Efésios.

Na Carta aos Colossenses, temos: “Nele aprouve a Deus fazer habitar toda a plenitude” (Col 1, 19): “Nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade e nele fostes levados à plenitude” (Col 2, 9).

Na Carta aos Efésios 1, 10 e 1,23, fala o Apóstolo Paulo da plenitude dos tempos em que Deus quis recapitular tudo em Cristo, e do Corpo de Cristo, plenitude daquele que planifica tudo em todos (cf. ainda Ef 3, 19 e 4, 13).

O mistério, na realidade, é um abrir-se da esfera divina à esfera da razão humana.

É outra vez uma indicação da palavra de Deus, isto é, da fé, como a vida humana e o mundo têm um sentido e caminham para a sua plenitude, que se verifica em Jesus Cristo. Esse mistério da Encarnação, afirma a Encíclica, permanecerá sempre “o centro de referência” para se poder compreender o enigma da existência humana, do mundo criado, e mesmo de Deus (n. 80).

Porquê assim? É nesse mistério que a razão encontra “os desafios extremos”.

A razão é chamada a assumir “uma lógica” que destrói as barreiras onde ela mesma corre o risco de se fechar. A razão diante de um Deus que se faz homem – o Infinito unindo-se indissoluvelmente, sem mistura, sem confusão, mas substancialmente com o Finito (natureza humana, ser humano: “o homem Cristo Jesus”, 1 Tim 2, 5) – supera de novo todos os limites.

É a Eternidade unindo-se estreitamente ao Tempo, tanto que com a Encarnação do Filho de Deus, do Verbo Divino, chegou “a plenitude dos tempos” (Gálatas 4, 4), começaram “os últimos tempos”, os novíssimos tempos (Hebreus 1, 1-2), o final dos tempos, o final do mundo que já começou: “Cumpriu-se o tempo (o grego indica, pelo verbo que usa, plenitude: chegou a plenitude do tempo!); o Reino de Deus se aproximou (= se tornou nosso próximo!); convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1, 15).

É aqui que o sentido da existência humana é criado e alcança o seu ponto culminante.

É aqui que a fé e a razão celebram o seu maior triunfo: a natureza divina e a natureza humana unidas indissolúvel e substancialmente na pessoa do Verbo (união hipostática) num só vínculo em mútuo relacionamento, sem confusão, respeitando a respectiva “autonomia”: as duas naturezas distintas mas não separadas, caminhando juntas!

É, de facto, o encontro, ou se quisermos, o encaixe de duas liberdades: “a liberdade infinita do Verbo”, do Filho de Deus, e “a liberdade finita do ser humano”.

A fé e a razão celebram o seu maior triunfo porque a fé é o dom infinito, o dom que brota da intimidade de Deus, e a razão é o dom finito. É precisamente no mistério da Encarnação, nessa união íntima, substancial, indissolúvel, do Infinito e do Finito, que podemos entender a simbiose entre fé e razão, sem confusão, cada qual na sua autonomia, realidades distintas, mas não separadas.

Compreender, pois, o enigma da existência humana, significa colocar o sentido do ser do homem dentro da plenitude de Cristo, no qual o ser humano se planifica (cf. Ef 1, 23).

Contudo, compreender o enigma do mundo criado de que forma?

É em Cristo o primogénito de toda criatura (Col 1, 15-16).

A fé e a razão celebram o seu maior triunfo
porque a fé é o dom infinito,
o dom que brota da intimidade de Deus,
e a razão é o dom finito.

O Bem-aventurado João Duns Escoto diria: “é o primeiro predestinado”  na ordem da intenção, sem sê-lo necessariamente na ordem da execução (in ordine intentionis, non in ordine exsecutionis).

Em Cristo foram feitas todas as coisas, nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis... tudo foi criado “por ele e para ele”.

Ele é antes de tudo e tudo subsiste nele (Col, 1, 15-17).

Ele é a plenitude do Universo; é a obra-prima de Deus na Sua comunicação connosco.

É a forma mais alta, mais sublime, mais total encontrada por Deus para se comunicar connosco. Cristo é “a perfeição do Universo”.

Daí a pergunta: por que existo e para que existe o mundo criado?

A resposta só pode ser esta: para encontrar a minha perfeição em Cristo e ser como Ele o louvor e glória da Sua graça, para ser filho adoptivo de Deus por Jesus Cristo (Efésios 1, 6.5), para o mundo ser planificado em Jesus (Efésios 1, 23).

E mesmo para entender o enigma de Deus? Porque a Encarnação é a suma manifestação do amor gratuito de Deus em nós.

É, como dizem os teólogos: summa manifestatio Dei ad extra!

A suma manifestação que Deus faz em nós.

Para ser ainda mais claro, olhando agora de outro ângulo.

O Papa lembra, baseado no livro da Sabedoria, capítulo 13, livro do Antigo Testamento, e em São Paulo, Carta aos Romanos, capítulo 1º, 19-20, como “a razão” pode chegar ao Transcendente. Ali aparece o ponto mais alto a que a razão poderá chegar como pura razão.

Ora, a Encarnação do Verbo dá à razão nova luz. O mistério da Encarnação deixa ver que o “Transcendente e o Imanente” podem unir-se mais intimamente, podem unir-se substancial e indissoluvelmente, mostra que o encontro entre o Infinito e o Finito é possível e de facto se realiza em Jesus Cristo.

Abre, por isso, novas perspectivas para a razão.

A razão entra na esfera do divino. A razão é exaltada. Ela tem agora possibilidade de se perguntar não só sobre a possibilidade mas também sobre o “modo” como isso se pode realizar, e mais ainda, sobre o que significa essa união íntima para a vida, qual o sentido dessa união maravilhosa entre o divino e o humano, entre o não criado e o criado, entre Deus e o Universo. Por isso, mais uma vez, é no encontro do Infinito com o Finito, na Pessoa do Verbo Eterno, do Filho de Deus, que a razão e a fé celebram o seu maior triunfo e intuem a sua mais profunda perspectiva.

Cabe muito bem aqui um texto da Constituição Pastoral do Vaticano II, Gaudium et Spes, que João Paulo II gosta de citar sempre de novo:

De facto, só no mistério do Verbo Encarnado se esclarece verdadeiramente o mistério do homem (Reapse nonnisi in mysterio Verbi incarnati mysterium hominis vere clarescit).

Com efeito, Adão o primeiro homem era figura daquele que haveria de vir, isto é, de Cristo Senhor (Adam enim, primus homo, erat figura futuri, scilicet Christi Domini).

Novo Adão, na mesma revelação do mistério do Pai e de seu amor, Cristo manifesta plenamente o homem ao próprio homem e lhe descobre a sua altíssima vocação (Christus, novissimus Adam, in ipsa reveelatione mysterii Patris Eiusque amoris, hominem ipsi homini manifestat eique altissimam eius vocationem patefacit).

Não é portanto de se admirar que em Cristo estas verdades encontrem a Sua fonte e atinjam o seu ápice (Nil igitur mirum in Eo praedictas veritates suum invenire fontem atque attingere fastigium). (n. 22 da GS)

O que significa essa passagem do Vaticano II?

Nada mais e nada menos do que isto: o mistério do homem se quiser encontrar o seu sentido deve colocar-se na luz de um mistério maior, que é o de Jesus Cristo encarnado: “Por sua encarnação o Filho de Deus uniu-Se de algum modo a todo homem” (Gaudium et Spes, 22) (Ipse enim Filius Dei incarnatione sua cum omni homine quodammodo Se univit).

O grande risco que o ser humano corre hoje é ele encerrar-se cada vez mais nos limites “da própria imanência”, sem qualquer referência ao “transcendente” (n. 81). O ser humano corre o perigo de se afogar na imanência e ficar a rastejar sem conseguir voar mais alto até atingir a transcendência.

É por isso que tantos hoje se perguntam se ainda tem sentido pôr-se a questão do sentido (n. 81)

Aí se levantam muitas teorias tentando dar uma resposta, ou vêm à tona diversos modos de ver e interpretar o mundo e a vida do ser humano agravando a dúvida radical (tem ainda sentido pôr-se a questão do sentido?), e facilmente se desemboca no “cepticismo”, na “indiferença” ou até no “niilismo”. São as posições dos que julgam que não se tem certeza de nada nem se pode ter, tanto faz, como fez, não há fundamento para uma verdade realmente objectiva, nada de consistente existe.

Dessa forma, nega-se a “humanidade do ser humano” e a “sua própria identidade”.

Ninguém mais sabe quem é quem.

Caímos necessariamente numa das maiores ameaças deste final de século: o “desespero”, a mais desesperada “solidão”.

E se não existe nada de certo, ou, pior ainda, nada de nada sobre o ser humano, é iludir-se querendo torná-lo livre. “Verdade e liberdade” “ou ” andam juntas “ou” juntas perecem miseravelmente (n. 81).

Não podemos perder de vista “o ser” das realidades, pois perdê-lo de vista é perder o contacto com a verdade objectiva e, consequentemente, acabamos também com a dignidade humana.

“O Verbo de Deus é a origem de todo o ser”: “Tudo foi feito por Ele e nada do que tem sido feito foi feito sem Ele. Tudo subsiste nele (cf. Jo 1, 3; Col 1, 16; cf. também Hebreus 1, 2-3).

O Verbo é o ponto fundamental de toda a criação!

Não podemos deixar-nos envolver por certa mentalidade “positivista”, embutida no actual cientificismo, de sorte a nos iludir de que, graças às conquistas científicas e técnicas, o homem, como se fosse um demiurgo, será capaz de chegar por si mesmo a garantir o domínio total do seu destino (n. 91).

Pelo exposto, vê-se como e razão dinamizadas pela vontade se entrelaçam perfeitamente. Uma não se opõe à outra; mas uma ajuda a outra, dentro da respectiva autonomia.

A fé não abafa a razão, não a mortifica, não a humilha, mas, muito pelo contrário, exalta-a, fazendo-a entrar na esfera do divino.

Reflectindo sobre essas realidades presentes no acto de fé: inteligência (razão), vontade, graça, notamos de modo muito claro como o ser humano é trespassado pelo divino. A Encarnação do Verbo, do Filho de Deus, oferece-nos a chave para entendermos a maravilha do amor de Deus para connosco.

Segundo um adágio teológico: a graça supõe a natureza; cura-a, eleva-a, aperfeiçoa-a, podemos entender muito bem o que a fé significa de grande para a razão.

A nossa razão participa da ferida que o pecado lhe infligiu.

O Papa na Encíclica Fides et Ratio lembra-nos que “o problema do mal moral – a forma mais trágica do mal – não pode ser reduzido a uma mera deficiência devida à matéria, mas é uma ferida que provém de uma manifestação desordenada da liberdade humana” (n. 80).

A nossa razão é afectada por essa “ferida”. A fé, que é graça, “sara” essa ferida, “purifica” a nossa razão, bem como a nossa vontade “eleva-a”, torna a nossa razão mais nobre e “a aperfeiçoa”, dá-lhe perfeição.

Também sobre esse aspecto, fé e razão se encontram e se ajudam mutuamente.

A fé incide profunda e positivamente na vida do ser humano, faz com que a nobre faculdade da nossa razão e da nossa vontade se tornem mais humanas.

Longe de ser uma diminuição das nossas faculdades humanas e por isso uma negação, de algum modo, da nossa humanidade, é, ao contrário, uma “elevação” das nossas faculdades, um “aperfeiçoamento”, uma “afirmação” da nossa humanidade e da nossa identidade.

A fé dá uma confirmação mais perfeita a toda a nossa existência.

A fé humaniza-nos e personaliza-nos ao máximo.

A fé não abafa a razão, não a mortifica, não a humilha,
mas, muito pelo contrário,
exalta-a, fazendo-a entrar na esfera do divino.

ESTA É A AVENTURA DA FÉ!


Exame de "Revelação e Fé (Fé e Razão)"
de Hélder Gonçalves a 21.06.2007
Escola Superior de Teologia e Ciências Humanas de Viana do Castelo
Professor: Padre Armando Rodrigues Dias
Avaliação Final: 16 Valores

HÉLDER GONÇALVES

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

JERUSALÉM - Cidade Santa


De Melquisedec a David

A primeira referência a Jerusalém, identifica-a com a cidade de Melquisedec, contemporâneo de Abraão (Gen 14,18ss).

Depois do êxodo do Egipto, no tempo dos juízes, Jerusalém era ainda uma cidade pagã, pois os israelitas tinham fracassado a primeira tentava de conquista (Jz 1,21). Foi só com o rei David, que conseguiram tomar a cidade aos jebuseus.

Desde então foi chamada “a Cidade de David” (2Sam 5,6ss). O rei reforçou as fortificações da cidade e trouxe para ela a Arca da Aliança (2Sam 6,1-9).


O Templo, esplendor de Jerusalém

Salomão completou a obra do seu pai e construiu o Templo (1Re 6-8). Como capital político-religiosa, Jerusalém representava a unidade nacional do povo de Deus e era o centro espiritual de Israel, porque Javé tinha escolhido o monte Sião para “morar” (Sa178,68ss); por isso os crentes acorriam em frequentes peregrinações.

Depois vieram tempos difíceis: decadência, assedio, deportação, repatriamento e reconstrução.

Mas os profetas, apesar destas dramáticas situações para o povo, souberam manter alta a esperança numa “outra” Jerusalém.


Em caminho para Jerusalém

Como Judeu, Jesus sentia fortemente a relação com a cidade santa de Jerusalém. Entre os evangelistas, é Lucas quem melhor sublinha a importância de Jerusalém. Começa no início do Evangelho com o anúncio do nascimento de João Baptista (Lc 1, 5ss.), que ocorre no Templo.

O nome de Jerusalém aparece novamente nos dois últimos episódios do “Evangelho da infância”: a apresentação no templo (Lc 2,22-38), e a peregrinação de Jesus a Jerusalém aos doze anos (Lc 2,41-49).

Durante a longa caminhada até Jerusalém (Lc 9,51-19,28), Jesus formou os seus discípulos. Ao chegar à cidade, chora perante a iminência da sua destruição, por não ter “reconhecido o tempo em que foste visitada” (Lc19, 41-42).

A última parte do Evangelho desenvolve-se em Jerusalém com o ensino de Jesus no Templo, a Paixão, a Morte e a Ressurreição. Cumpria-se a profecia de Jesus: “não se admite que um profeta morra fora de Jerusalém” (Lc 13,33).


Testemunhas em Jerusalém

Em Jerusalém, a palavra de Jesus cumpre-se com a descida do Espirito Santo sobre os discípulos (Act 2,1-13); cheios do Espirito, começam a dar testemunho (Act 1,8; Lc 24,48).

Pedro anunciará aos judeus e a todos os habitantes de Jerusalém o cumprimento das profecias (Act 2,11-21) e a Morte e Ressurreição salvadora do Nazareno, crucificado pelos homens mas constituído por Deus como Senhor e Cristo.


A nova Jerusalém: cidade do Deus vivo

E é a partir da experiencia pascal de Jesus que a Igreja vai interpretar e relativizar o papel de Jerusalém. Jerusalém e tudo o que a cidade significava era apenas profecia, antecipação da realidade plena da salvação universal dada em Cristo.

Paulo, convertido no caminho de Damasco, é o primeiro autor do N.T. que preanuncia o nascimento de uma Jerusalém “nova”, que tem as suas raízes no céu (cf. Ga1 4,21-31). Trata-se da Cidade do Deus vivo.

A Carta aos Hebreus, com uma precisa referencia topográfica à Jerusalém histórica, onde “Jesus, para santificar o povo com o seu próprio sangue, padeceu fora das portas”, exorta os cristãos a deixar para trás a Jerusalém terrena para viver como numa longa peregrinação, “porque não temos aqui cidade permanente, mas procuramos a futura” (Heb 13,14).


Jerusalém: história, mistério, profecia

Os acontecimentos decisivos da Salvação, Morte e Ressurreição de Jesus ( e na visão de Lucas, também o Pentecostes) aconteceram em Jerusalém. Em Jerusalém tudo fala de Jesus…

HÉLDER GONÇALVES

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

CRUZ CELTA

A Cruz Celta é actualmente uma das mais destacadas expressões de esperança e fé cristã por toda a Europa, e um pouco pelo mundo, embora se trate de um símbolo de origem pagã, com mais de 4000 anos de existência.

É referenciada nas tradições espirituais dos budistas e dos índios americanos, estando a sua origem associada aos rituais célticos do culto de Bran, “o Abençoado”, representado pelo sol.

Diz a lenda que, quando os primeiros invasores nórdicos e germânicos atingiram as regiões célticas, ocorreu uma terrível batalha, durante a qual Bran pereceu para salvar o seu povo.

Antes de morrer, terá pedido aos seus soldados que lhe cortassem a cabeça e a colocassem nom local de onde pudesse ver a chegada do inimigo e lutar contra ele.

Com a chegada do cristianismo e a conversão das primeiras regiões célticas, os celtas católicos deixaram para trás as querelas entre clãs, dedicando-se sobretudo à luta religiosa.

Passaram a misturar o simbolismo do seu deus pagão com a cruz católica, dando origem à cruz celta.

Esta é geralmente adornada com símbolos tipicamente célticos, como cavalos, dragões e veados.

É também conhecida como Cruz das Escrituras ou Cruz Solar, encontrando-se frequentemente talhada em pedra com os seus adornos entrelaçados.

O simbolismo essencial da cruz é a ligação entre a Terra e o Céu.

O braço vertical diz respeito ao mundo celestial e o horizontal representa o material.

É do ponto de encontro que emana o halo da Unificação, que dá o sentido de unidade e de Todo.

HÉLDER GONÇALVES

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

AMRITSAR - Índia

- Amritsar, mais conhecido por Har Mandir Sahid ou Harimandar, é o santuário mais sagrado dos siques, e o mais sagrado dos gurdwaras, «entradas para o céu», de todo o siquismo.


Amritsar é uma cidade do estado do Punjabe, na Índia.
Localiza-se no noroeste do país. Tem cerca de 1071 mil habitantes. Foi fundada em 1577 e é o centro da religião Sique.

O fundador do sikhismo, o Guru Nanak, nasceu em 1469 na aldeia de Talwandi, localidade que é hoje conhecida como Nankana Sahib e que está situada a cerca de 65 quilómetros da cidade paquistanesa de Lahore. Pertencia a uma família hindu da casta comerciante dos Khatri.

Uma série de relatos lendários sobre o seu nascimento, os Janamsakhi, escritos cerca de cinquenta anos depois da sua morte, apresentam Nanak como um jovem que gostava da oração e de ler os textos dos sábios do seu tempo.

Após quatro grandes viagens (chamadas Udasis) em direcções opostas, que terão incluído o Tibete, Ceilão, Bengala, Meca e Bagdade, o Guru Nanak pregou a hindus e muçulmanos, captando assim um grupo numeroso de discípulos (sikhs). Segundo os seus ensinamentos, a religião deveria ser um meio de união entre os seres humanos, mas, na prática, esta parecia como que confrontar as pessoas. Neste sentido, lamentava de forma especial os enfrentamentos entre hindus e muçulmanos, assim como as práticas de carácter ritual que apartavam o ser humano da busca do divino. A sua intenção era chegar a uma realidade mais além das diferenças superficiais entre as duas religiões, e daí a sua famosa máxima "Não há hindus, não há muçulmanos" (Puratan Janam-sakhi).

O Guru Nanak instituiu o sistema do langar ("cozinha" ou "refeitório comunitário") que se perpetuou até aos nossos dias. O objectivo desta instituição foi fomentar a fraternidade e a igualdade entre os seres humanos. No langar prepara-se o karah prasad, uma refeição sagrada feita à base de farinha, açúcar e manteiga batida. Todos os participantes numa cerimónia religiosa de um templo sikh recebem este alimento, sem distinção de casta, nível económico ou crenças religiosas.

Após a morte do Guru Nanak sucederam-se nove gurus. Cada um deles contribuiu para a consolidação da religião e da identidade sikh.

Nanak nomeou como seu sucessor não o seu filho, mas um dos seus discípulos mais próximos, Lehna, a quem ele chamou de Angad ("um outro eu"). O Guru Angad (1504/1539-1552) dotou a língua panjabi da escrita gurmukhi.

O Guru Amar Das (1479/1552-1574) aboliu entre os sikhs a prática hindu da sati (o sacrifício das viúvas), bem como o uso do véu (purdah) pelas mulheres. Criou também vinte e dois distritos de pregação.

O Guru Ram Das (1534/1574-1581) comprou um terreno onde mandou escavar um tanque, o Amritsar ("tanque da Ambrosia"), na origem do nome da actual cidade do Penjabe.

O Guru Arjun (1563/1581-1606) ordenou em 1589 a construção, no meio do tanque de Amritsar, do primeiro templo sikh, o Harmandir ("Templo de Hari"), hoje conhecido como o Templo de Ouro. Ele também compilou o livro sagrado da religião, o Guru Granth Sahib, e mandou instalá-lo no templo. Os mogóis, senhores do Punjabe nesta época, reagem com hostilidade ao crescimento da comunidade sikh, tendo o Guru Arjun sido detido e morto pelo imperador mogol Jehangir.

O Guru Hargobind (1595/1606-1645), perante a perseguição movida aos sikhs, militarizou a religião. Ele acrescentou uma segunda espada à que os cinco gurus já tinham usado. O uso das duas espadas pelo guru representou a concentração na sua pessoa de dois tipos de autoridade, a espiritual (piri) e a temporal (miri). Desenvolveu-se desta forma a ideia da guerra como acto de auto-defesa da comunidade sikh e como garante da ordem e da justiça.

Os dois gurus que o sucederam, o Guru Har Rai (1630/1644-1661) e o Guru Har Khrishan (1656/1661-1664) tiveram uma liderança apolítica. O primeiro tinha um carácter contemplativo e interessou-se pouco pelo aspecto temporal da religião, enquanto que o segundo foi Guru por apenas três anos.

O Guru Tegh Behadur (1622/1664-1676) recusou converter-se ao islão, tendo sido por esta razão executado pelo imperador mogol Aurangzeb.

O décimo Guru sikh, Gobind Singh (1666/1676-1708), fundou a ordem militar dos Khalsa e criou um rito de iniciação chamado amrit, também conhecido como khande de pahul. Amrit designa a água açucarada, mexida com o sabre de dois gumes, que o iniciado e os outros participantes na cerimónia devem beber.

O século XVIII ficou marcado pela ascensão política do sikhs no Punjabe. Em 1801 Ranjit Singh fundou o reino de Lahore que durou até 1849, ano em que foi anexado pelos britânicos. Em 1873 a comunidade sikh agrupou-se na Singh Sabha ("Assembleia dos Leões"), um órgão criado como forma de garantir os interesses da comunidade sikh no Punjabe de finais do século XIX, marcado pelo revivalismo religioso islâmico e hindu, bem como pela acção dos missionários cristãos. Em 1920 os sikhs criaram um partido político, o Akali Dal ("Partidários do Intemporal") como o propósito de assegurarem os seus interesses. Este partido opôs-se à partilha do Punjabe entre a Índia e o Paquistão, facto que se consumou em 1947. A maior parte dos sikhs que viviam no território actualmente paquistanês migraram para a Índia aquando da separação como forma de evitar a perseguição religiosa.

HÉLDER GONÇALVES

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

SAGRADA FAMILIA - Inauguração da Igreja

Igreja da Sagrada Familia

A Paróquia de Nossa Senhora de Fátima em Viana do Castelo inaugurou no passado sábado, 8 de Setembro, a maior igreja do Alto Minho, com capacidade para 840 pessoas sentadas e 360 pessoas de pé, e está pensada para funcionar com um serviço de «babysitting», para comodidade dos pais, afirmou o padre Artur Coutinho.

«São salas insonorizadas, nas quais queremos instalar um serviço de babysitting para os nossos fiéis. As crianças mais novas, que ainda não assistem às celebrações, poderão ficar ali a brincar, em segurança, para comodidade dos pais».

Esta será uma das valências a criar a curto prazo, agora que a nova igreja está concluída, após mais de dois milhões de euros de investimento garantido exclusivamente através de donativos de fiéis e de um empréstimo bancário.

«Para já, vamos inaugurar a obra assim. O serviço de babysitting, de uma forma ou de outra, vai fazer-se no futuro, mal haja dinheiro para acabar os restantes espaços», garantiu o Padre Artur Coutinho.

Esta obra é composta por cinco pisos e ainda está muita obra por acabar, como salas de catequese, salas de reuniões, salas de grupos e movimentos paroquiais, a capela do Santíssimo Sacramento que se encontra por baixo da Igreja agora inaugurada e muitas outras valências.

Apenas a igreja propriamente dita foi inaugurada, face aos mais de 500 mil euros ainda necessários para acabar o edifício, de cinco andares, onde funcionarão os restantes serviços do centro social desta paróquia.

A paróquia está hoje «endividada», «Mas é uma obra que só fizemos depois de, por exemplo, estarmos a prestar o apoio social a muitas pessoas», esclareceu o padre Artur Coutinho.

O novo templo, dedicado à Sagrada Família, aposta no aproveitamento da energia solar, através de painéis fotovoltaicos, que permitirão reduzir a fatura da eletricidade.

«Durante o dia, as celebrações serão feitas apenas com a luz natural. Quando chegar o inverno, a comodidade será garantida através do piso radiante, porque ninguém gosta de ter frio. Temos de pensar nos fiéis e nas condições que oferecemos», justificou ainda o pároco.

A nova igreja está implantada na zona da Abelheira, a mais populosa da freguesia de Santa Maria maior (cerca de 10.000 habitantes), no centro da cidade.

A abertura do novo templo, que será o terceiro desta paróquia, chegou a estar prevista para 2009, mas foi sucessivamente adiada devido a dificuldades na construção, de projeto e, entretanto, também financeiras, fruto da crise e da quebra das ofertas dos paroquianos.

Um «sonho» que «começou a nascer» em 1983, pela necessidade de espaço que «já os mais velhos sentiam».

Em 2000, foi assinada a doação dos terrenos e quatro anos mais tarde arrancou a construção.

«É uma verdadeira obra de arte, que pode ser apreciada de três ângulos diferentes. Vista de cima parece uma árvore, de dentro um ovo e de fora uma nave», descreveu ainda o padre, assegurando que desde sábado aquele será o maior templo da Diocese de Viana do Castelo.


Deixo aqui algumas fotos, mas algumas não estão muito nitidas devido á grande quantidade de fumo de incenso que foi colocado na igreja.


Autoridades Locais
Bispo Diocesano Dom Anacleto Oliveira
Padre Artur Coutinho
Dr. João Maria Costa - Presidente da Câmara
Dr. Defensor Moura - Anterior Presidente da Câmara
e Vereadora ???


Cortejo Inicial:
Acólitos, Sacerdotes,
Bispo Emérito Dom José Augusto
Bispo Diocesano Dom Anacleto Oliveira


Entrega da Chave da Igreja


Povo de Deus, convidado a entrar
naquele que vai ser o novo
Templo dedicado à Sagrada Familia


Bênção da Água


Bênção de todas as paredes da Igreja
pelo Bispo Diocesano Dom Anacleto Oliveira


Unção do Altar com o óleo do Crisma


Dom Anacleto Oliveira
Unge todo o Altar com o óleo do Crisma


Dom Anacleto Unge as quatro colunas da Igreja


Incensação do Altar
Bispo Dom Anacleto, Diácono Christofer e Seminarista Duarte


Insensação de toda a Igreja
e do Povo de Deus pelo Diácono Christofer


Colocação dos Cirios ao lado do Altar


Colocação da Toalha sobre o Altar    


Bênção da Luz



 Cirios acesos pelo Diácono Christofer
e também os cirios das colunas e de toda a Igreja


Povo de Deus


Ofertório Solene



Preparação do Altar pelo
Diácono Christofer e pelo Seminarista Duarte


Consagração pelos Bispos e Sacerdotes


Ministros Extraordinários da Comunhão


Preparação para o Ritual Final


Ritual Final


Agradecimentos do Padre Artur Coutinho

Espero que gostem e tenham ficado apenas com uma pequena ideia
do que se passou durante toda a cerimónia.


HÉLDER GONÇALVES

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

IGREJA SAGRADA FAMILIA

Inauguração da Igreja Nova da Sagrada Família


“Nós somos as pedras vivas do Templo do Senhor; somos Povo Sacerdotal, Igreja Santa de Deus “
(1Pe 2, 5)

A nossa comunidade, Paróquia de Nossa Senhora de Fátima em Viana do Castelo, prepara-se para inaugurar e dedicar amanhã, 8 de Setembro 2012 às 17h00, a Igreja Nova da Sagrada Família.

É o sonho e o concluir de uma etapa de muitos anos de trabalho e contributo dos seus paroquianos e não só.

É um edifício sagrado destinado ao culto divino após o dia da sua dedicação que há muitos anos esta comunidade espera por causa da falta de espaço para as suas actividades diversas e as próprias celebrações litúrgicas.

A construção de uma Igreja nova é – deve ser – um desafio pastoral para toda a comunidade. A abertura solene da Igreja não significa que se acabaram os trabalhos; ao contrário, este passo marca o início ou a continuidade de um trabalho permanente e contínuo que consiste na aposta na Iniciação cristã e formação permanente da comunidade.

Neste contexto, importa reflectir e perspectivar a passagem que é necessário a Comunidade Paroquial de Nossa Senhora de Fátima concretizar, no sentido de passar do simples lugar (agora novo e belo) a espaço vital, redefinindo o seu modo de ser, estar e ser na comunidade e no sentido de fazer desta Nova Igreja uma casa comum.

A Igreja-edifício é o lugar da reunião da comunidade paroquial. Todos os que na comunidade se reconhecem filhos de Deus, enxertados em Cristo, habitados pelo Espírito Santo, encontram neste lugar a referência geográfica que evoca e convoca outra referência, de ordem espiritual, e que é a sua pertença a uma comunidade, instituída e conduzida por Cristo, na pessoa do seu pastor. Este lugar torna-se assim a matriz configuradora do existir-em-Cristo, no seio da comunidade paroquial. Ter uma igreja nova, de pedra e cal, é fundamental se apoiada e sustentada por pedras vivas; uma igreja, por mais bela e cómoda que seja, se não for casa de família da comunidade, se não for lugar de encontro e celebração com Cristo e com os outros, se não for lugar de sintonia entre a fé e a vida, se não for lugar de para fazer perguntas e encontrar respostas, será apenas um edifício belo e cómodo, sem a vida que lhe é inerente.

Importa por isso e agora que há uma nova igreja, um novo edifício, dar vida a esta Casa de Deus e Casa da Comunidade e isto faz-se, fundamentalmente, pela exercitação da vida-em-Cristo:

• pela participação activa e consciente na reunião dominical, a Eucaristia, e nos outros sacramentos;

• pela colaboração séria e empenhada nos diversos serviços paroquiais;

• pelo testemunho de vida e de palavra firme e sereno;

• pela caridade audaz e comprometida e pela leitura atenta e evangélica dos sinais dos tempos.


Cada um destes aspectos exige e reclama um modo de estar novo na igreja nova, uma caminhada espiritual de conversão e Páscoa, de modo a que, a partir da igreja-edifício se passe, consciente e assumidamente, à igreja-comunidade, à igreja-edifício-espiritual, à igreja de que Cristo é a pedra angular.

A nova igreja, pela sua criatividade arquitectónica e cuidado litúrgico, impulsiona cada um, na comunidade, a um novo modo de ser que se concretiza no modo de estar: estar em celebração. Trata-se de aceitar que a configuração do edifício e a sua pertinência litúrgica nos associa ao mistério pascal de Cristo, que no memorial da Eucaristia, reedifica o seu Corpo.

O desafio pastoral da nova igreja é exactamente o de impulsionar um processo participativo que impulsiona cada um, não simplesmente a estar (inactivo e inerte, como espectador), mas a celebrar, a incorporar-se na dinâmica existencial do que nela se celebra e acontece salvificamente. Este “incorporar-se” na celebração implica “o corpo inteiro” e a alma, isto é, implica uma opção firme e permanentemente reiterada de fazer comunidade, de refazer, alargar e potenciar todos os canais da graça.

A altura e a profundidade, o comprimento e a largura da nova igreja dizem a cada um que, sozinho, é pequeno, frágil e impotente, ao passo que, em comunidade – com os irmãos em Cristo -, se tornam sinal e símbolo dos bens do alto a que aspiramos, das coisas terrenas que queremos santificar, da aventura larga que é estar no mundo sem ser do mundo, da amplitude e universalidade do nosso ser-em-Cristo e ser Igreja Católica. Não deve, pois, entender-se este espaço unicamente como um lugar de uso privado, a que se vem para o encontro a sós com Deus, mas como um âmbito de comunhão e encontro com Deus e com os irmãos. Esta casa é uma casa de família e se é, em alguma ocasião e para alguém, um lugar de refúgio, é-o na exacta medida em que se procura e se possibilita a comunhão. É uma casa onde cada um se faz e se refaz para ser comunidade.

O desafio pastoral da nova igreja será o de “fazer da Igreja a casa e a escola da comunhão” (João Paulo II, NMI, 43). Trata-se de, num primeiro âmbito, trabalhar incansavelmente por fazer acontecer a comunhão: a comunhão na mesma fé (a fé da Igreja que inclui a de cada um e a que cada um se referencia), a comunhão no mesmo celebrar e rezar (celebramos o mesmo Cristo) e a comunhão no mesmo viver e sentir (apesar das nossas e tantas diferenças). O que nos une é mais amplo e abrangente do que as razões, habitualmente de ordem emocional, que nos separam.

Num segundo âmbito, trata-se de “promover uma espiritualidade da comunhão”, elevando-a ao nível de princípio educativo em todos os lugares onde se plasma o homem e o cristão (NMI, 43). Do ponto de vista prático, há que compreender que a “espiritualidade da comunhão significa em primeiro lugar ter o olhar do coração voltado para o mistério da Trindade, que habita em nós e cuja luz há-de ser percebida também no rosto dos irmãos que estão ao nosso redor; (…) significa também a capacidade de sentir o irmão de fé na unidade profunda do Corpo místico, isto é, como “um que faz parte de mim”, para saber partilhar as suas alegrias e os seus sofrimentos, para intuir os seus anseios e dar remédio às suas necessidades, para oferecer-lhe uma verdadeira e profunda amizade; (…) é ainda a capacidade de ver antes de mais nada o que há de positivo no outro, para acolhê-lo e valorizá-lo como dom de Deus: um “dom para mim”, como o é para o irmão que directamente o recebeu; (…) é saber “criar espaço” para o irmão, levando “os fardos uns dos outros” (Gal 6,2) e rejeitando as tentações egoístas que sempre nos insidiam e geram competição, arrivismo, suspeitas, ciúmes” (João Paulo II, NMI, 43).

Esta espiritualidade de comunhão há-de tornar-se visível na nova igreja: um lugar onde se vai e onde se está e donde se vem re-feito (e satis-feito), apesar de sadiamente incomodado, e não des-feito, dividido e revoltado. Isto é tarefa que depende absolutamente de todos, é processo de que todos são responsáveis, individualmente e com os outros (co-responsáveis).

De um lugar belo, luminoso, ordenado, onde cada coisa está no seu lugar e do qual se capta simbolicamente o sentido e o significado e onde se está bem, só pode sair-se com os mesmos atributos. Como se houvesse uma transfusão de beleza, bondade e justiça do edifício / lugar para o interior da comunidade da qual se faz parte, se é pedra viva. A experiência destas dimensões impulsiona cada um, individualmente e em comunidade, a sair de lá renovado, fortalecido, reorientado e capacitado, pela graça recebida, de ir em missão e fazer das palavras e atitudes de cada dia um testemunho singelo com efeitos incontáveis. Há um dinamismo que a fé, professada, celebrada e vivida em comunidade, na casa da família, gera e que é absolutamente inédito: quando celebramos a fé levamos ao coração de Deus, em Cristo, as alegrias e as angústias, as esperanças e os sonhos do mundo e trazemos de lá a Boa Nova capaz de dar um sentido e uma resposta de vida feliz e eterna ao mundo. Nem toda a gente celebra (ou pode celebrar) a fé, mas a celebração da fé pode chegar a todos, pela palavra, atitudes, razões e sentimentos de que a celebra e depois a partilha.

O desafio pastoral da nova igreja da Sagrada Família é o de perceber que não é só ponto de chegada, mas também e simultaneamente ponto de partida. Esta percepção há-de ter repercussões no modo de apreender a fé da Igreja como um processo dinâmico e comunitário, com implicações reais e concretas na vida do dia-a-dia e não de modo individualista e intimista; no modo de celebrar que supera os gostos e sensibilidades individuais e traduz a linguagem da fé para hoje; no modo de viver os diversos ministérios e serviços na comunidade e de viver os problemas quotidianos; no modo de testemunhar a fé, concebendo este testemunho como uma proposta, uma mais-valia de sentido e não como proselitismo ou conquista.

Os espaços, oferecidos pela nova igreja, hão-de entender-se como oportunidades para promover serviços e atitudes sadias de caridade, solidariedade social, cultura e descanso, como âmbito de culto e de cultura. Este novo espaço não é um espaço do qual nos podemos servir conforme as necessidades individuais, grupais ou sociais, como se fosse um direito, mas terá de ser um espaço com dever de servir quando e na medida em que a comunidade se sentir interpelada a fazê-lo. Trata-se de converter a mentalidade e compreender que este é um espaço do qual eu me sirvo, não por razões pessoais e interesseiras, mas para me colocar numa atitude de serviço, ao próprio espaço, à comunidade e a todos os outros.

Os espaços amplos, polivalentes e variados de que a comunidade vai usufruir, amplificam e diversificam as possibilidades de serviços que a comunidade deve proporcionar. E este é um desafio pastoral que deve assumir-se porque é uma das formas privilegiadas de testemunho e de proposta da fé.

De entre os diversos serviços que a comunidade deve prestar, três merecem especial menção, em razão da sua importância teologal e pastoral:

• o exercício audaz e comprometido da caridade, apontado por S. Paulo como o distintivo e decisivo da identidade cristã (1 Cor, 13, 1 e sgs), e que diversos grupos paroquiais tomam como principal responsabilidade, em nome de todos da comunidade. “A caridade tomará então necessariamente a forma de serviço à cultura, à política, à economia, à família, para que em toda a parte sejam respeitados os princípios fundamentais de que depende o destino do ser humano e o futuro da civilização” (João Paulo II, NMI, 51).

• a leitura atenta e evangélica dos sinais dos tempos, tão premente nestes dias conturbados e politicamente tão fragmentada e radicalizada. “E como ficar indiferentes diante das perspectivas dum desequilíbrio ecológico, que torna inabitáveis e hostis ao homem vastas áreas do planeta? Ou face aos problemas da paz, frequentemente ameaçada com o incubo de guerras catastróficas? Ou frente ao vilipêndio dos direitos humanos fundamentais de tantas pessoas, especialmente das crianças? Muitas são as urgências, a que o espírito cristão não pode ficar insensível” (João Paulo II, NMI, 51).

• a cultura séria, de cariz popular e/ou outra, que capacita a dimensão festiva e jubilosa da vida, tão próxima da esperança.


Em síntese, e como propôs o Papa João Paulo II para este novo milénio, importa concluir: “Devemos procurar que os pobres se sintam, em cada comunidade cristã, como “em sua casa”. Não seria, este estilo, a maior e mais eficaz apresentação da boa nova do Reino? Sem esta forma de evangelização, realizada através da caridade e do testemunho da pobreza cristã, o anúncio do Evangelho — e este anúncio é a primeira caridade — corre o risco de não ser compreendido ou de afogar-se naquele mar de palavras que a actual sociedade da comunicação diariamente nos apresenta. A caridade das obras garante uma força inequivocável à caridade das palavras” (NMI, 50).


Aponto alguns desafios gerais a serem entendidos como caminhos de conversão e mudança, e consequentemente, como processos de ressurreição a encetar, individual e comunitariamente. Vejamos alguns desafios concretos, ligados à vertente litúrgica que a nova igreja potencia e possibilita de modo nobre e belo.

Alguém que faz da Casa de Deus e Casa da Comunidade a sua casa de família, quer que outros façam esta descoberta e esta experiência. Fundamental para a concretização deste desejo é o acolhimento, que é – deve ser – uma característica própria da comunidade cristã, na fidelidade a Deus que é Amor.

Esta não é uma estratégia de “marketing”, mas um modo de ser e estar desta família que se reúne neste lugar. O próprio lugar – a igreja – é e simboliza o acolhimento que Deus faz a quem quer ser iniciado e incorporado na comunidade. É imperioso reconhecer que, hoje, o acolhimento é missão de todos e cada um. O objectivo do mesmo é que cada um se sinta em casa e se sinta bem e não seja e não faça como o irmão mais velho da Parábola do Filho Pródigo. É verdade que o acolhimento não é uma tarefa fácil e exige um tacto e uma sensibilidade especiais.

O novo espaço litúrgico abre novas possibilidades para o acolhimento efectivo:

• mostra-o a Porta, alta, grande, mostrando assim que este é e será um espaço sempre aberto a quem se deixar interpelar, converter e dinamizar pela fé e pela vida da Igreja;

• mostra-o a Nave, espaço da assembleia, unido ao presbitério, onde todos caberão e todos farão falta, como pedra viva da construção espiritual que Cristo nos faz participar;

• mostra-o as grandes janelas, dando a entender que aqui tudo é – quer ser – claro, limpo e transparente, para que todos possam aproximar-se em razão da verdade e da lisura que vêem e querem experimentar;

• mostra-o o espaço exterior circundante, que abre o edifício à paisagem e abre a paisagem ao edifício; este aspecto é importante porque faz perceber que o acolhimento não se faz apenas do lado de dentro, mas começa antes, começa fora e continua, perpetua-se (de dentro para) fora.


Todos estes lugares hão-de possibilitar uma participação próxima e efectiva na celebração dos sacramentos e da liturgia, celebrados com sensibilidade e solicitude pela especificidade da assembleia reunida e acolhida neste lugar.


Na nova igreja, a Fonte Baptismal estabelece um contacto (também visual) entre o exterior e o interior, dando a entender que esta é a porta que abre a pessoa à fé e lhe possibilita a passagem a uma nova condição existencial e espiritual: a de filho predilecto de Deus, de discípulo de Cristo, de templo do Espírito Santo e de membro da Igreja. A compreensão da importância e centralidade teológica, há-de dar à comunidade uma tripla responsabilidade: a de gerar, fazer nascer e iniciar para a fé e a vida da Igreja.

A responsabilidade de gerar precede qualquer processo ou itinerário e concretiza-se no testemunho que a comunidade faz da verdade de si mesma, na fidelidade a Jesus Cristo. É o testemunho que fecunda e acompanha o processo de gestação de novos discípulos de Cristo. Este testemunho acontece na vida de cada dia, na vivência das alegrias e esperanças, das angústias e tribulações e leva à celebração do mistério da vida que se (con)centra (no lugar) da Eucaristia.

A responsabilidade de fazer nascer, simbolicamente expressa na Fonte Baptismal, refaz a comunidade, dando-lhe novos membros e retomando o ciclo da vida cristã. O Baptistério é a porta que abre a comunidade a um modo de ser e de estar: ser-em-Cristo e estar-em-comunidade. O baptizado é aquele que nasce e renasce, morre e ressuscita em Cristo, permanentemente. Assim, a comunidade vive em PREC, isto é, em Processo de Renascimento / Ressurreição em Curso.

A responsabilidade de iniciar à fé e à vida da Igreja é própria da comunidade que se enraíza em Cristo e faz da celebração um encontro autêntico, verdadeiro e profundo com Cristo. Iniciar é perfumar quem se aproxima da Igreja com o perfume de Cristo, o perfume que transforma a vida, o perfume que contamina de beleza a existência.

O novo espaço litúrgico tem todas as condições para que a comunidade assuma e desenvolva cada uma destas responsabilidades. Assim entenda cada um e todos juntos, em comunidade, que a Nova Igreja potencia e capacita cada uma e todas estas responsabilidades.

Na Nova Igreja destaca-se e assume relevo especial, pela grandeza e altura, o espaço da assembleia e a sua ligação ao presbitério e a outros espaços. A amplitude deste espaço desafia a comunidade a estar de modo novo, reconhecendo-se, conscientemente, como assembleia convocada por Deus (ecclesia), onde todos são iguais em dignidade diante de Deus, embora com serviços e ministérios distintos, e em que todos estão chamados a aspirar às coisas do alto. Este “ser assembleia” convocada há-de configurar o modo renovado de estar na assembleia e na comunidade.

Neste contexto, a Nova Igreja deverá ser:

• Um meio vital onde se aprende a ser e a viver em e como comunidade, na unidade da mesma fé (a fé da Igreja) e na rica diversidade de serviços, ministérios e talentos;

• Um lugar de descoberta e encontro de sentido(s) para a vida e para as questões do quotidiano;

• Uma proposta de beleza e de fruição estética por referência ao Cristo, numa experiência gozosa de contemplação da verdade e da lisura do mesmo Cristo;

• Uma autêntica “escola” de oração, “onde o encontro com Cristo não se exprima apenas em pedidos de ajuda, mas também em acção de graças, louvor, adoração, contemplação, escuta, afectos de alma, até se chegar a um coração verdadeiramente “apaixonado”. Uma oração intensa, mas sem afastar do compromisso na história: ao abrir o coração ao amor de Deus, aquela abre-o também ao amor dos irmãos, tornando-nos capazes de construir a história segundo o desígnio de Deus.” (João Paulo II, NMI, 33);

• Uma escola de caridade, onde, em união com a fé e a esperança, se faz e refaz a identidade cristã.


A escuta da Palavra de Deus, como palavra viva que interpela, orienta, plasma a existência, é um desafio a que terá de dar-se atenção na hora de potenciar a Nova Igreja. “Alimentar-nos da Palavra para sermos “servos da Palavra” (…) é, sem dúvida, uma prioridade da Igreja (…)” (João Paulo II, NMI, 40). Nunca será demais salientar a importância e dignidade da Palavra de Deus. O novo ambão evidencia estas características, mas precisa de ser completado, na sua plenitude, com uma proclamação cuidada e perfeita, no sentido de ecoar, do modo mais limpo e claro possível, no coração da comunidade.

A Nova Igreja constitui um desafio aos serviços litúrgicos; estes hão-de colocar-se numa atitude de verdadeiro e empenhado serviço, na medida em que tornam visível e audível, os sinais da graça de Deus. Potenciar a escuta da palavra reclama que se potencie e cuide a proclamação da mesma palavra. Escutar é, no contexto da celebração dos sacramentos, uma forma activa de participação nos mesmos. Uma comunidade que se põe à escuta da palavra de Deus é uma comunidade que não vive de si nem para si, mas de Deus e para Deus, no serviço aos outros. Diremos, correndo o risco de cair num lugar-comum, que, na Nova Igreja, tudo nos fala de Deus e tudo nos silencia para que nos abramos à força e ao dinamismo da (única) palavra viva de que importa viver e com a qual é crucial empenhar e comprometer a vida.

Escutar, meditar e viver a Palavra de Deus levará a comunidade e cada um à (nova) evangelização, experienciando em nós o sentimento ardente de Paulo que o levava a exclamar: “Ai de mim se não evangelizar!” (1 Cor 9,16). “Quem verdadeiramente encontrou Cristo, não pode guardá-Lo para si; tem de O anunciar” (João Paulo II, NMI, 34). A escuta, meditação e encarnação da Palavra de Deus levará a comunidade a semeá-la no campo do mundo e a partilhá-la na mesa da aventura comum.

Ao celebrar a Páscoa, não só uma vez por ano mas todos os domingos, a Igreja continuar a indicar a cada comunidade e a cada um “o eixo fundamental da história, ao qual fazem referência o mistério das origens e o do destino final do mundo”. A Eucaristia dominical é a Páscoa semanal. E sentar-se à mesa da Eucaristia é uma atitude natural de quem vive de Cristo e para Cristo. Esta é uma experiência com dois mil e oito anos de história, quando Cristo ressuscitado trouxe aos Apóstolos o dom da paz e do Espírito (cf. Jo 20,19-23).

Assim, para a comunidade, a Nova Igreja é o Cenáculo, onde a Páscoa e o Pentecostes se refaz, pela participação na Eucaristia. Esta, há-de ser:

• “Para cada baptizado, o coração do domingo: um compromisso irrenunciável, abraçado não só para obedecer a um preceito mas como necessidade para uma vida cristã verdadeiramente consciente e coerente” (João Paulo II, NMI, 35);

• Para cada discípulo de Cristo, a Eucaristia é incorporação da “manducação da fé” (Sto Agostinho). O pão que se come e o vinho que se bebe são o símbolo sacramental da presença real da pessoa que se dá por meio deles. O corpo que se recebe é todo o corpo de Cristo. Este alimento incorpora o crente no caminho pascal de Cristo. Sentar-se à mesa e comungar o corpo de Cristo é, por conseguinte, um acto de inserção no mesmo dinamismo do Espírito que ressuscitou Jesus. Comer o Corpo de Cristo significa deixar-se vivificar, aqui e agora, pela vida que brota da sua ressurreição. A Eucaristia é alimento para a vida cristã;

• Para a comunidade, a Eucaristia é concretização duma pedagogia da comensalidade em ordem a fazer descobrir e ajudar a viver a eucaristia como comida celebrativa festiva, com um ritmo e uma estrutura próprios (segundo os relatos da instituição da eucaristia): Ele – eles/nós – em relação – em redor – da mesma mesa – e comida…

• Para cada um, o fazer a experiência da mesa comum, de sentar-se “à volta da mesa da Palavra e do Pão de vida, a Eucaristia dominical é também o antídoto mais natural contra o isolamento; é o lugar privilegiado, onde a comunhão é constantemente anunciada e fomentada” (João Paulo II, NMI, 35).

O edifício-igreja é o lugar onde o encontro e a comunhão de Deus com o homem e do homem com Deus se faz e acontece sacramentalmente para a plenitude da vida. O ser e estar na Nova Igreja reclama de cada um, em comunidade, um modo novo renovado de estar e ser sinal do Corpo de Cristo.


Este ser sinal do Corpo de Cristo concretiza-se:

• Na articulação entre o que se celebra e se vive e vice-versa. É preciso “eucaristizar a vida” ou iniciar a um “viver eucarístico”. O “fazei isto em memória de mim” (Lc 22, 19) não é o pedido ou a encomenda dum ritual, mas é uma exigência que configura um modo de viver e de celebrar. “O ‘memorial’ de Jesus realiza-se na existência e celebra-se na eucaristia. É esta indissolúvel relação que S. Paulo lembra aos cristãos de Corinto quando eles se limitam a repetir os gestos da ceia de Jesus, sem viver na comunidade o amor total que na Eucaristia se manifesta. O apóstolo diz claramente que sem as atitudes eucarísticas, “isso que celebrais não é a ceia do Senhor” (1 Cor 11, 20);

• Na edificação vital da comunhão. A vida de Jesus foi comunhão total e radical com o Pai. O mesmo acontece com os seus discípulos, ou seja, a vida autêntica e profunda dos discípulos de Jesus é a comunhão com Deus, na experiência de Deus-Amor que gera gratuidade amorosa, na experiência de Deus entregue e aceite que gera e possibilita vida amorosa. A vida cristã é, portanto, encontro, diálogo, intimidade, comunhão. A Eucaristia é o “lugar” onde esta comunhão se possibilita sacramentalmente de modo único e inefável. Ser sinal do Corpo de Cristo implica, para a comunidade, ser lugar onde se possibilita o encontro e a comunhão com Deus, de modo a que brote do coração de todos a confissão de fé de que não se pode viver sem a eucaristia; de modo que a inteligência procure a iluminação inteira da memória e da presença que se celebra; de modo que ajude a fazer comunhão quotidiana, no serviço e na missão; de modo que ajude ao louvor perfeito, “em espírito e verdade”.

• No professar e viver a experiência duma “presença”. A Eucaristia é memorial, encontro, adesão, seguimento, permanência em Jesus e com Jesus; é deixar-se invadir pelo dinamismo da sua vida pascal. A Eucaristia de Jesus torna-se a Eucaristia do crente se este se reconhece filho no Filho e com o Filho, se este se faz cristo com Cristo, nova criatura com o Primogénito da nova humanidade, se este é consepultado com Cristo, se é conressuscitado com Cristo. O núcleo da existência eucarística é “viver ‘Cristo em mim e eu em Cristo’; ‘Cristo presente a mim e eu presente a Ele’, ‘Cristo dado a mim em comunhão e eu oferecido a Ele em comunhão’.”

• No viver a comunhão em comunidade. A comunhão com Deus e com Cristo, no Espírito Santo, concretiza-se necessariamente na comunhão com os irmãos. O amor a Deus gera o amor aos irmãos. A existência cristã só pode autenticamente designar-se de cristã quando se vive no amor inteiro a Deus e aos irmãos. É sobre este alicerce que acontece e se constrói a acção Eucarística. Só quem vive a dinâmica da vida entregue “pode realizar a acção singular de pertencer à comunhão do ‘Corpo de Cristo’.”


A comunidade cristã é o âmbito da expressão e da comunhão com Deus. Na Comunidade realiza-se a entrega dos crentes a Deus e a Cristo. A comunidade é o corpo de Cristo e a Eucaristia é o sacramento do corpo de Cristo, que é a Igreja.

Uma Igreja Nova, depois de tantos empenhos, lutas e canseiras para a sua construção, reclama uma renovação do edifício espiritual que é a comunidade, sob pena de que a comunidade não seja digna do novo edifício de que dispõe. Como o crescimento humano e espiritual da comunidade fez sentir necessidade de uma nova igreja, assim esta faça surgir agora, na comunidade, o desejo de se aperfeiçoar permanente e constantemente. Não terá sentido celebrar a abertura de uma Nova Igreja se a comunidade paroquial – a verdadeira Igreja – for ou continuar velha e resistente ao apelo de renovação que vem do Evangelho e, hoje, de todos os lados. Esta renovação não pode ficar-se pela geografia e pelas suas variantes externas e exteriores, mas deve chegar e fazer-se desde o coração, um coração novo, capaz de se render à beleza de ser e de se querer Nova Jerusalém, Igreja Santa de Deus.

HÉLDER GONÇALVES

Em breve colocarei as fotos da inauguração da Igreja Nova

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

10 MANDAMENTOS DO CASAL

1. Não se considere propriedade do outro, nem considere o outro propriedade sua.

2. Aceite o outro incondicionalmente. Não exija que o outro seja perfeito.

3. Cultive a cortesia e o respeito mútuo.

4. Converse, converse sempre. É o único modo de conhecer os pontos de vista, as preferências e as coisas que não gostam.

5. Lembre-se que as brigas, embora desagradáveis, permitem também que se conheçam.

6. Procure, somente, não emitir juízo de valor, quando as brigas ocorrerem.

7. O erro mais comum numa relação é uma das partes abrir mão de seu espaço individual. Isto torna impossível a existência de algo comum a ambos. Será apenas de uma das partes.

8. Desfrute coisas juntos. Estes momentos são como tijolos na construção de relações duradouras.

9. Mantenha o seu próprio círculo de amizades e estimule o outro a conservar o dele. Evite se enclausurarem.

10. E tenha sempre em mente que uma relação é uma obra que se constrói (ou se destrói) a dois.

HÉLDER GONÇALVES

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