quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Cursilho Cristandade


O MEU TESTEMUNHO

Fiz o meu Cursilho de Cristandade em Viana do Castelo em 25/01/2001.

Receber um convite para participar num Cursilho é uma graça; e poder participar como dirigente é uma graça ainda maior...
Gostei muito pelo que ouvi e pela transformação que notei em muitos dos participantes e como todos Eu também digo que o Cursilho "vive-se e não se explica".

Tem um método próprio para nos levar a viver o Evangelho e transmiti-lo sempre com muita alegria.

Cada Cursilho é diferente, como diferentes são os seus participantes que fazem uma paragem na vida, apenas de três dias e por isso se chama "Cursilho", curso pequeno.

Quem participa não vai aprender nenhuma doutrina nova, mas aprendê-la a viver melhor para melhor a transmitir aos outros.

O cristão não se salva só mas trabalha pela salvação dos outros, isto é, sendo operário na vinha do Senhor, mas operário que trabalha, que merece o salário... da vida eterna.

São Paulo, judeu muito activo no judaísmo, não aceitava os cristãos. Até que um dia encontrou Jesus Cristo no caminho de Damasco e caiu do cavalo (animal?), mas também de outro cavalo (orgulho). Ou melhor: Jesus Cristo atravessou-se-lhe no caminho e Paulo nunca mais O largou.

Quem encontra Jesus Cristo em qualquer momento da vida, imita São Paulo. E como São Paulo nunca mais O abandonou, leva-O aos outros.

Sentimo-nos felizes quando fazemos os outros felizes.

Se encontrares Jesus Cristo, nos caminhos da vida, segue-O e leva-O a toda a gente e serás sempre feliz.

“O espírito do Cursilho não é mais do que a substância do Evangelho levado à realidade de muitas vidas”, lembra Eduardo Bonnim Águiló.

RICARDO IGREJA

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Cruz de Justino II


A Cruz de Justino II, um dos muitos tesouros que podem ser admirados no Vaticano, é um relicário no interior do qual se conserva, segundo a tradição, um fragmento de madeira da Santa Cruz em que Cristo foi crucificado.

Trata-se, portanto, como a Cruz de Caravaca e algumas outras, sobre as quais ninguém consegue determinar com certeza absoluta a autenticidade, de uma “lignum crucis”, que Justino II, imperador bizantino entre 565 e 578, sobrinho e sucessor de Justiniano, ofereceu ao papa na segunda metade do século VI, muito provavelmente em 568.

Decorado segundo os traços característicos da arte bizantina, o relicário é revestido por filigrana dourada e bordejado por uma franja onde brilham intensamente pedras preciosas.

A esplendorosa cruz é dominada, no centro, por um disco que representa o sol e os seus raios. Recorde-se que, segundo a liturgia oriental, Cristo é “o sol maior do que o sol”.

É no interior desse disco que está guardada a relíquia, apenas um dos fragmentos da Santa Cruz que Justino II ofereceu a algumas personalidades, como a Santa Radegunda, rainha dos francos e fundadora do Mosteiro de Santa Cruz, em Poitiers.

Sublinhe-se que, no mundo cristão, o culto das imagens santas começou apenas no século V e conheceu um grande impulso na segunda metade do século seguinte, sobretudo no Império Bizantino, por acção de Justino II.

HÉLDER GONÇALVES

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Eis-me aqui Senhor


Eis-me aqui

Na vocação de Samuel, são centrais as palavras “Eis-me aqui”: “Eli, chamou-o e disse: «Samuel, meu filho!» perguntou-lhe Eli: «Que te disse o Senhor? Não me ocultes nada. O Senhor te castigue severamente, se me encobrires alguma coisa de quando Ele te disse.» então Samuel contou-lhe tudo sem nada ocultar. Eli exclamou: «O Senhor fará o que bem lhe parecer.» Samuel ia crescendo, o Senhor estava com ele e cumpra à letra todas as suas predições.

Todo Israel, desde Dan até Bercheba, reconheceu que Samuel era um profeta do Senhor. O Senhor continuou a manifestar-se em Silo. Era ali que o Senhor aparecia a Samuel, revelando-lhe a sua palavra” (ISm 3, 16-ss).
Samuel entra, numa dinâmica de permanente conversão ao Senhor, procurando conhecê-LO, segui-LO e cumprir a Sua vontade. O seguimento de Deus é expressão da vontade de realizar a conversão permanente.


Eis-me aqui, para Te seguir

Optar por seguir ou não o Senhor é uma opção que estrutura radicalmente a vida de cada pessoa e das comunidades, e que é posta à prova diariamente, nomeadamente quando há mudanças importantes na vida.
O seguimento de Deus tem o seu expoente máximo em Jesus Cristo – verdadeiro Deus e verdadeiro Homem-, o único que cumpriu a vontade do Pai na totalidade. É Jesus Cristo – ontem, hoje e sempre – que intervém nas comunidades reunidas em Seu nome, nos crentes que se decidem a seguir o projecto de Deus. Ele mostra que essa acção é resposta à fidelidade de Deus e convite para prosseguir em comunhão de fé e de amor a vida inspirada pelo Espírito Santo e actualizada na Igreja, de geração em geração. Esta dinâmica histórica postula que cada cristão ‘viva’ a história de Deus e reconstrua na sua vida a vida divina, procurando discernir os melhores caminhos para O seguir, num esforço permanente de superar arbitrariedades e reduções.
A resposta a Deus não só gera um estilo de vida, como ela mesma já é um estilo de vida fiel a Deus, diariamente assumida e discernida em comunhão com a comunidade dos crentes, espírito de missão, em abertura ao futuro e comunhão com o Eterno.


Eis-me aqui, para ser Igreja

Para seguir Deus e o Seu projecto é indispensável viver em comunhão e sintonia com a Igreja. A inspiração que leva a uma tomada de posição, a orientar-se para Deus, a discernir no que se comprometer na construção do Reino, é uma inspiração que vai amadurecendo mediante um diálogo longo e profundo na fé, na escuta humilde e atenta da Palavra de Deus, celebrada na liturgia. Mas é também uma inspiração interpretada no discernimento arriscado do dia-a-dia, numa leitura dos sinais dos tempos, que leva ao compromisso solidário com os homens e comunidades de boa vontade.
Ser Igreja, seguir Jesus Cristo, responder ao apelo de Deus, dizendo “Eis-me aqui” é, sobretudo, optar pela vida, pelo amor, crescer na fidelidade e comprometer-se no serviço ao Reino de Deus, solidarizando-se na justiça e na amizade. Ora, esta acção nunca está acabada e o modo de seguir Deus nunca está totalmente perfeito. Exige um esforço contínuo de discernir e aperfeiçoar o que é ser discípulo de Cristo.


Eis-me aqui, para ser com Cristo

Ao optar por ser discípulo de Cristo, mostrando a disponibilidade de O seguir verifica-se que nesta aventura não há lugar para o anonimato e para a rotina. Deus chama cada pessoa pelo seu nome, e imprime-lhe uma dinâmica de vida que não se compadece com rotinas.
O seu discípulo de Cristo coloca cada crente sob lei de Cristo, isto é, sobre a lei da cruz, que é a lei do amor. Por esta dinâmica interna do amor, Jesus Cristo faz de cada discípulo uma pessoa de comunhão. E é esta comunhão com a Trindade que revela a cada pessoa aquilo que ela é e o que pode ser, mostra-lhe as suas limitações e as suas potencialidades. Unido a Cristo, o crente explode em possibilidades de ser como Cristo, Aquele que foi totalmente fiel ao Pai.
Chega-se ao umbral do inefável, onde a experiência de relação e comunhão com Deus cresce à medida que esta entrega se intensifica em obras, em mística e em relação filial com Deus, por Jesus Cristo.
Aí a meta será dizer como São Paulo: “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim. E a vida que agora tenho na carne, vive-a na fé do filho de Deus que me amou e a si mesmo se entregou por mim” (GI 2, 20).

HÉLDER GONÇALVES

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

10 Mandamentos do Ministro Extraordinário da Comunhão


 Assumirei o meu compromisso de cristão.

 Exercerei o ministério com dedicação.

 Actuarei em comunhão com a comunidade.

  Participarei nas celebrações com alegria.

  Farei da Eucaristia o meu serviço.

  Serei solidário com os enfermos.

  Celebrarei as exéquias com fé na Vida.

  Anunciarei a Palavra com convicção.

  Converterei continuamente o meu coração.

10º Evangelizarei todos os ambientes.

HÉLDER GONÇALVES

domingo, 20 de janeiro de 2013

Onde está a vossa Fé?


Não sendo a fé primeiramente adesão a verdades nem submissão a uma afirmação que não pode ser verificada, é essencialmente confiança, entrega de si a um outro, à sua palavra ou ao que ele é capaz de fazer. Aquele que crê deixa de avaliar tudo em relação a si próprio.
Não olha para si. Abandona-se.
No entanto, o dom da fé em Cristo só pode crescer apoiando-se num conhecimento. À medida que avanço, torna-se-me indispensável compreender melhor o que, à partida, me atraiu para Ele e me levou a dar-Lhe a minha confiança. A palavra hebraica para conhecimento expressa mais uma comunhão entre pessoas do que uma aproximação intelectual. Ao querer conhecer a Cristo, procuro aprofundar o que posso saber sobre Ele,
como os Evangelhos falam d’Ele e como os outros escritos do Novo Testamento O apresentam vivo.

Numa das passagens mais pessoais que alguma vez escreveu (Filipenses 3,4-11), São Paulo passa sem dificuldade da fé em Cristo ao conhecimento de Cristo. Se a fé o faz abandonar tudo aquilo de que se podia vangloriar para se confiar apenas a Cristo, esta fé torna-se necessariamente conhecimento pessoal de Cristo, no concreto da vida, conhecimento do poder da sua ressurreição e comunhão com os seus sofrimentos.

Dado que Cristo não é uma figura do passado e que viver com Ele não tem nada de estático, a confiança será sempre uma das características da fé, pois seremos constantemente confrontados com situações imprevisíveis. A própria vida nunca nos deixa no mesmo lugar. Ainda por cima, o próprio Cristo chama-nos a segui-l’O para onde Ele nos precede.

Ninguém pode abastecer-se de confiança. É verdade que podemos conseguir uma certa serenidade ou tornar as nossas convicções mais sólidas. Podemos impregnar-nos da palavra «confiança» e redizer textos que dela falam. Mas a confiança que temos em alguém vive-se sempre no caminho. Este caminho conduz-nos a situações inéditas, torna-se por vezes quase impraticável, pode mesmo descer a uma escuridão onde parece faltar todo o apoio sensível. É então que só Ele conta. É ainda impossível olhar para nós próprios.

Resta-nos escutar o pouco que se ouve da sua voz, a pequena centelha que discernimos da sua luz. Por vezes, a angústia pode tornar-se tal que deixamos de ver ou ouvir seja o que for.
Como pôde Jesus repreender «a pouca fé» dos seus discípulos (Mateus 6,30; 8,26; 14,31; 16,8) em tais situações? Será possível medir a fé? Os discípulos deveriam ter tido mais (ou uma reserva maior de) confiança? Em que é que a sua fé foi insuficiente? Jesus teria querido que eles se mostrassem capazes de fazer face ou de resolver a situação por si próprios? É aliás estranho que o evangelista Mateus tenha colocado lado a lado a repreensão pela «pouca fé» e a promessa de uma «fé como um grão de mostarda» (17,20). Se a fé, em si, é quase nada, porquê criticar os que têm pouca fé?

Será que a fé dos discípulos devia ter crescido ao ponto de superar a situação e a dominar? Mas uma atitude dessas não seria coerente com o espírito do Evangelho, com a confiança simples de homens e mulheres pobres. Talvez a expressão «pouca fé» exprima acima de tudo uma confiança demasiado limitada, que tivesse ficado a meio caminho, como se houvesse domínios onde não pudéssemos depender de Jesus, uma confiança que tivesse limitado o poder de Jesus ao que é unicamente espiritual ou interior e não fosse capaz
de reconhecer a sua presença na Criação ou na História. Os discípulos não foram suficientemente longe.

Voltaram ao que lhes parecia possível, em vez de ousar avançar apenas com quase nada, só com Jesus. A sua confiança tinha vistas curtas.
Guardo na memória certas pessoas que mesmo tendo experimentado a dúvida se empenharam com uma grande audácia. Souberam dar prioridade à pouca luz contida na fé. Essa pequena luz tinha para elas infinitamente mais peso que as argumentações mais inteligentes que se lhes ofereciam. Conseguiram assim chegar longe e nunca parar. Uma fé plena pode ser ao mesmo tempo uma fé pequenina. Uma fé que se apercebe de tudo o que a pode perturbar, mas se recusa a deixar-se dividir, limitando-se a uma parte da vida. Repousa inteiramente naquele em Quem crê. Não se funda em si mesma. Só O tem a Ele. E a Ele, não O pode fixar, fechar, reduzi-Lo à sua própria medida. Ele vai sempre à frente, dando-nos a impressão de não ter fé suficiente.

Ao contar a história da tempestade acalmada à sua maneira, São Lucas substitui a repreensão de Jesus aos seus discípulos («porque temeis, homens de pouca fé?») por uma pergunta: «Onde está a vossa fé?» (Lucas 8,25). Lucas atenua a repreensão e desejaria uma resposta do leitor. Gostaria de me imaginar numa situação semelhante e ouvir eu próprio a pergunta de Jesus. Parece-me que não poderia deixar de responder: «Mas és Tu a nossa fé». É evidente que em nós há falta de fé. Ela nunca está à altura do dom que nos foi entregue
e não consegue fazer face a acontecimentos críticos. Mas quanto Tu estás presente, eu creio.

Tu carregas tudo, inclusive a minha falta de fé. A Tua presença é presença de fé.
A história do pai da criança epiléptica referida no início desta reflexão mostra ainda melhor até que ponto Jesus está próximo daquele que não pode crer. O pai tinha-se aproximado de Jesus dizendo: «Se podes alguma coisa, socorre-nos, tem compaixão de nós» (Marcos 9,22). Jesus devolve ao pai as palavras «se podes», acrescentando: «Tudo é possível a quem crê.» No fundo diz-lhe praticamente: «Cabe-te a ti ter confiança». No entanto, não ficou à espera, pôs-Se ao lado deste pai e quando ele não conseguia acreditar, carregou também isso aos seus ombros. Acreditou com o pai e assim o impossível aconteceu. Deste modo, não devemos pensar que uma fé enfraquecida está longe de Jesus. Ele próprio vem em auxílio dos que têm dificuldade em acreditar.

HÉLDER GONÇALVES


sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Cardeal Mauro Piacenza


Cardeal Mauro Piacenza, Prefeito da Congregação para o Clero concede entrevista exclusiva

Entrevista exclusiva concedida à ZENIT pelo Cardeal Mauro Piacenza, Prefeito da Congregação para o Clero, em vista do 50° aniversário da abertura do Concílio Vaticano II.


ZENIT: Eminência, com esta entrevista, a Zenit pretende inaugurar uma série de contribuições para o Ano da Fé, tendo em vista o Concílio Vaticano II, em ocasião do seu 50º aniversário. Por que tanto debate sobre este evento eclesial?

Card.Piacenza: O debate é sempre positivo, porque é um sinal de vitalidade e vontade de aprofundar; e se o tema do debate não é exclusivamente humano, mas um Concílio Ecuménico  ou seja, um evento humano e sobrenatural, pois é o Espírito Santo que conduz a Igreja à progressiva e plena compreensão da única Verdade revelada, então não surpreende que a compreensão dos ditames conciliares requeira décadas de discussões – e até mesmo de debates – sempre no sulco da escuta daquilo que o Espírito Santo quis dizer à Igreja naquele extraordinário momento.


ZENIT: Qual deveria ser um justo posicionamento diante do Concílio?

Card.Piacenza: Aquele de escuta! O Concílio Ecuménico Vaticano II foi o primeiro Concílio da “mídia”, cujas dinâmicas fisiológicas de confronto e respectivos textos foram imediatamente divulgados pelos meios de comunicação, que não captaram sempre a sua verdadeira expressão e, com frequência, orientaram para uma compreensão mundanizante. Creio que seja particularmente interessante – e, talvez, necessário – retomar, ou melhor, buscar uma autêntica escuta daquilo que o Espírito Santo quis dizer à toda a Igreja através dos Padres conciliares. Tal dinâmica de aprofundamento, este “justo posicionamento” realiza-se através da leitura directa dos textos. É a partir desta leitura que se pode inferir o autêntico espírito do Concílio, a sua exacta localização dentro da história eclesial e a génese editorial.


ZENIT: Algumas escolhas, também do Magistério, às vezes parecem que vão “contra” o Concílio.

Card.Piacenza: Basta considerar os pronunciamentos do Magistério autêntico pós-Conciliar, em sua dimensão universal, para constatar que isto não ocorreu. Entretanto, outra questão é favorecer uma correta recepção das decisões conciliares, esclarecer o significado de determinadas afirmações e, às vezes, corrigir devidamente interpretações unilaterais, ou até mesmo erradas, artificialmente introduzidas por quem lê os eventos pneumáticos eclesiais com lentes exclusivamente humanas e historicistas. O serviço eclesial do Magistério, que tem suas próprias raízes na explícita Vontade divina, prepara os Concílios Ecuménicos, neles actua com sua máxima expressão e, nas intervenções sucessivas, a eles obedecem, favorecendo uma correta recepção.


ZENIT: O que realmente significa a “hermenêutica da continuidade” de que fala o Santo Padre?

Card.Piacenza: Segundo aquilo que foi explicitamente indicado pelo Santo Padre, é o único modo de ler e de interpretar todo Concílio Ecuménico e, portanto, também o Concílio Vaticano II. A continuidade do único Corpo eclesial, antes de ser um critério hermenêutico, ou seja, de interpretação dos textos, é uma realidade teológica que tem suas raízes no ato de fé que nos faz professar: “Creio na Igreja Una”. Por esta razão não é possível pensar numa espécie de dicotomia entre o pré e o pós Concílio Vaticano II. Certamente deve ser reprovado o posicionamento de quem vê no Concílio Ecuménico Vaticano II um “novo início” da Igreja e também daqueles que vêem a “verdadeira Igreja” somente antes deste Concílio histórico.Ninguém pode, arbitrariamente, decidir se e quando inicia a “verdadeira Igreja”. Nascida do costado de Cristo e corroborada pela efusão do Espírito em Pentecostes, a Igreja é Una e Única, até a consumação da história, e a comunhão que nela se realiza é para a eternidade. Alguns sustentam que a hermenêutica da reforma na continuidade seja somente uma das possíveis hermenêuticas, juntamente com aquela da descontinuidade e da ruptura. O Santo Padre recentemente definiu como inaceitável a hermenêutica da descontinuidade (Audiência à Assembleia Geral da Conferência Episcopal Italiana, 24 de maio de 2012). Além disso, trata-se de algo óbvio, caso contrário não se seria católico e se injectaria como que um germe de infecção e de uma progressiva decadência; se provocaria, igualmente, um grave dano ao ecumenismo.


ZENIT: Mas é possível que seja tão difícil compreender esta realidade?

Card.Piacenza: Sabes melhor do que eu como a compreensão, também de realidades evidentes, pode ser condicionada por aspectos emotivos, biográficos, culturais e, até mesmo, ideológicos. É humanamente compreensível que quem viveu durante sua juventude, o legítimo entusiasmo que gerou o Concílio, desejoso de superar certas “obstruções” – que deveriam necessária e urgentemente serem tiradas da Igreja – possa interpretar como perigo de “traição” do Concílio toda expressão que não coadune com o mesmo “estado emotivo”. É necessário, para todos, um salto radical de qualidade na aproximação dos textos conciliares, para que se compreenda, depois de meio século daquele evento extraordinário, o que realmente o Espírito Santo sugeriu e sugere à Igreja. Cristalizar o Concílio na sua necessária, mas insuficiente, “dimensão entusiástica” equivale a não desenvolver um bom serviço ao trabalho de recepção do Concílio, que permanece quase paralisada, pois com o passar dos anos pode-se afrontar e se podem compartilhar avaliações sobre os textos objectivos  mas não sobre os estados emotivos e sobre os entusiasmos historicamente assinalados.


ZENIT: Sabe-se que Vossa Eminência sempre falou com grande entusiasmo do Concílio Vaticano II. O que ele representou para Vossa Eminência?

Card.Piacenza: Como não se entusiasmar com um evento tão extraordinário como um Concílio Ecuménico  Nele, a Igreja refulge em toda a sua beleza: Pedro e todos os Bispos em comunhão com ele, colocam-se em atitude de escuta do Espírito Santo, daquilo que Deus tem a dizer à Sua Esposa, procurando explicitar – segundo os auspícios do Beato João XXIII – no hoje da história, as imutáveis verdades reveladas e lendo os sinais de Deus nos sinais dos tempos, e os sinais dos tempos à luz de Deus! Dizia o mesmo Pontífice na solene alocução de abertura do Concílio, no dia 11 de outubro de 1962: “Transmitir pura e íntegra a doutrina, sem atenuações nem subterfúgios [...] esta doutrina certa e imutável, que deve ser fielmente respeitada, seja aprofundada e exposta de forma a responder às exigências do nosso tempo”. Nos anos do Concílio eu era um jovem estudante, depois, seminarista e o meu ministério sacerdotal, desde os primeiros passos desenvolveu-se à luz do Concílio e das suas reformas. De fato, fui ordenado sacerdote em 1969. Não posso negar que sou filho do Concílio que, também graças aos meus mestres, procurei acolher, desde o início, as indicações conciliares segundo a hermenêutica da unidade e continuidade. Esta reforma na continuidade pessoalmente sempre a senti, vivi e, também como docente, ensinei.


ZENIT: Como Prefeito da Congregação para o Clero, acredita que os Sacerdotes receberam bem o Concílio?

Card.Piacenza: Certamente, como porção eleita do Povo de Deus, os sacerdotes são aqueles que, na Igreja, melhor conhecem e mais aprofundaram os ensinamentos conciliares. Entretanto, parece-me que não faltaram as mesmas problemáticas que antes evidenciei, seja em relação à uma justa hermenêutica da reforma na continuidade, seja no que diz respeito à devida aproximação não predominantemente emotiva ao evento conciliar. Se, neste Ano da Fé, todos tivéssemos a humildade e a boa vontade de tomar em mãos os textos do Concílio, naquilo que realmente disseram e não na “vulgata”, que teve uma certa propagação, descobriríamos como o Concílio Vaticano II foi realmente profético e muitas das suas indicações estejam ainda diante de nós, como um horizonte a ser contemplado e uma meta a ser alcançada, com a ajuda da Graça. Certamente, para que tal obra se realize, é necessária uma grande dose de humildade e uma certa capacidade de superação de um juízo pré-constituído, para que se possa acolher de novo uma verdade que, por muito tempo, foi concebida de modo diverso.


ZENIT: Sobre quais pontos poder-se-ia focalizar a recepção dos documentos conciliares?

Card.Piacenza: Evidenciaria um ponto de particular tensão, que representa a reforma litúrgica, mesmo porque constitui o elemento de maior visibilidade da Igreja. O Servo de Deus Paulo VI, o Beato João Paulo II e o Santo Padre Bento XVI, em vários momentos sublinharam a importância da liturgia como lugar no qual se realiza plenamente o ser da Igreja. Mas, infelizmente, como se pode notar em vários casos, ainda estamos longe de um equilíbrio mútuo a este respeito. Certamente, uma liturgia dessacralizada ou reduzida à “representação humana”, em que se desvanece até ao ponto de perder a dimensão cristológica e teológica, não é aquilo que a letra e o espírito da Sacrosantum Concilium desejava. Entretanto, isto não justifica o posicionamento daqueles que, adoptando a hermenêutica da descontinuidade, recusam a reforma conciliar, considerando-a como uma “traição” da “verdadeira Igreja”.


ZENIT: Existem inovações mais importantes que as litúrgicas?

Card.Piacenza: Vista a centralidade da Liturgia, “fonte e centro” da vida da Igreja (cf. SC,10), não falaria de maior importância. Certamente o Concílio procurou valorizar as verdades evangélicas, que hoje representam um patrimônio comum da catolicidade. Em tal sentido, bastaria pensar a feliz evidência que se dá à vocação universal à santidade de todos os baptizados  que favoreceu o nascimento e o desenvolvimento de tantas novas experiências. Além disto, é preciso recordar a abertura em relação aos cristãos de outras confissões, que fez emergir o valor da unidade, com toda a sua beleza, como um necessário atributo da Igreja e como um dom gratuitamente oferecido por Cristo. Este dom deve ser acolhido sempre, através de uma purificação contínua dos que a Ele pertencem. A importância da colegialidade episcopal, que está entre as expressões mais eficazes da comunhão eclesial e mostra ao mundo como a Igreja é necessariamente um corpo unido. A compreensão orgânica do Ministério Ordenado, a serviço do sacerdócio baptismal  que concebe presbíteros e diáconos intimamente unidos ao próprio Bispo, como expressão de uma comunhão sacramental no serviço à Igreja e aos homens, representou um objectivo e feliz desenvolvimento da compreensão da face da Igreja tal como Nosso Senhor quis delinear.


ZENIT: Eminência, neste momento a Igreja dedica-se ao Sínodo sobre a nova Evangelização e o Ano da Fé. Se tivesse que dizer uma palavra sintética aos sacerdotes, o que diria?

Card. Piacenza: À luz da fé: Sacerdote, torne-se a cada dia aquilo que és!

RICARDO IGREJA


terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Tu meu Deus


O povo de Deus, na Antiga Aliança, constitui-se como povo de Deus precisamente no Sinai (Cf Ex.19). Foi aí que o povo hebreu conheceu a sua verdadeira identidade: ser ‘de Deus’. Aliás a Aliança firma-se neste pressuposto: “serei o vosso Deus, e vós sereis o Meu povo” (Lv 26,12).

Desde então, é cada vez mais real o diálogo entre Deus e os homens, através do povo eleito, constituído em sinal para todas as nações. O homem percebe-se como «capaz de Deus», porque criado à Sua imagem e semelhança, o que faz com que o desejo de Deus esteja inscrito no coração do homem, e Deus não cessa de chamar a Si a humanidade, e somente em Deus se há-de encontrar a verdade e a felicidade que é sempre desejada por cada pessoa.
O aspecto mais sublime da dignidade humana está nesta vocação do homem à comunhão com Deus (Cf GS 19). Este convite que Deus realiza para levar ao diálogo, á comunhão.

A sublimidade deste convite à comunhão com Deus vê-se e compreende-se mais claramente quando a Revelação chegou ao seu ponto culminar: a Encarnação do Verbo. Deus, não só cria o homem por amor, para o salvar, como em Seu Filho Jesus Cristo dá a possibilidade de cada ser humano «ser como Deus» (Gn 3,5), não pela desobediência adâmica, mas pela comunhão amorosa e filial com Deus, Jesus Cristo.

Para que isto seja possível, e «em virtude desta revelação, Deus invisível (cfr. Col. 1,15; 1 Tim. 1,17), na riqueza do Seu amor fala aos homens como amigos (cfr. Bar. 3,38), para os convidar e admitir à comunhão com Ele» (DV 2).
Ao Deus que Se revela, que entra em diálogo, responde o ser humano pela «obediência da fé» (Rom. 16,26). Por esta, a pessoa «entrega-se total e livremente a Deus oferecendo ‘ a Deus revelador obséquio pleno da inteligência e da vontade’ e prestando voluntário assentimento à Sua revelação. Para prestar esta adesão da fé, são necessários a prévia e concomitante ajuda da graça divina e os interiores auxílios do Espírito Santo, o qual move e converte a Deus o coração, abre os olhos do entendimento, e dá ‘a todos a suavidade em aceitar e crer a verdade’. Para que a compreensão da revelação seja sempre mais profunda, o mesmo Espírito Santo aperfeiçoa sem cessar a fé mediante os seus dons» (DV 5).


Diálogo na transmissão da Fé

Ainda hoje, Deus vem ao encontro de cada pessoa humana, para dialogar com ela e dar-Se a conhecer, de modo humano, ou seja dando-Se a conhecer - revelando-Se – pelo que diz e pelo que faz.

Hoje, a Igreja transmite a Palavra de Deus, contida na Revelação, e permite que cada pessoa se deixe tocar por Deus, experimentar os seus gestos salvíficos, através da celebração dos Sacramentos e da liturgia.

É Deus que vem ao encontro, que se dá a conhecer, tornando-se próximo de cada pessoa de boa vontade. Esta, com os auxílios da graça divina, responde por uma vida em Cristo, vivendo de acordo com aquele amor que descobre em Deus e numa relação viva e pessoal com Deus vivo e verdadeiro. A isso chamamos oração.


Diálogo de amigos

À medida que o crente vai entrando neste diálogo misterioso – porque Deus permite que se faça parte do Mistério divino – percebe que quanto se ouve e se deixa tocar por Jesus Cristo e lhe responde positivamente pela vida em Cristo e pela oração, tanto mais quer aprofundar essa comunhão. Aí inicia um diálogo incessante com Deus, ouvindo a Sua Palavra e celebrando as maravilhas de Deus, para se alimentar e instruir na comunhão com esse mesmo Deus, e responder-Lhe de uma forma cada vez mais radical pela comunhão fraterna e pela vida de oração.

Entra num diálogo elíptico e experimenta a suave doçura de crer e acreditar em tudo o que Deus revelou. Este acreditar compromete na acção e leva a descobrir na vida cristã mais um caminho para descobrira presença de Deus: quando se investe numa vida de caridade, e se amam os irmãos por amor de Deus, este torna mais vidente a Sua presença para todos aqueles que O seguem.

A fé é, pois, um diálogo entre Deus e o homem: do Deus que toma a iniciativa de vir ao encontro do homem e do homem que Lhe responde, comprometendo-se numa vida de seguimento.

Cada pessoa pode dirigir-se a Deus, tratando-O e percebendo-O como tu por excelência, porque n’Ele cada ‘eu’ é mais ‘eu’.

HÉLDER GONÇALVES

domingo, 13 de janeiro de 2013

Rolando Rivi

Reconhecido o martírio do jovem seminarista Rolando Rivi.

“Um juízo pleno e unânime”. Assim os teólogos da Congregação para a Causa dos Santos reconheceram o martírio do jovem seminarista italiano, de apenas 14 anos, Rolando Rivi.

Rolando Rivi: “Estou a estudar para ser padre e a batina é o sinal que eu sou de Jesus” Esta decisão abre as portas da beatificação do menino assassinado por ódio à Fé, que proclamava corajosamente vestindo sempre a sua batina.

Rolando Rivi é o primeiro dos 130 padres e seminaristas assassinados durante e após a II Guerra Mundial pelos partiggiani — movimento armado marxista de oposição ao fascismo e à ocupação alemã da Itália — cujo processo de beatificação chega à fase final. 

Resta agora o aval dos Cardeais e do Santo Padre. 

Será também o primeiro seminarista proclamado beato por martírio na história da Igreja italiana.

Segundo Dom Luigi Negri, bispo de San Marino e presidente da Comissão Amigos de Rolando Rivi, entidade que mantém todo o processo de canonização do jovem, “nesta causa está em jogo não só o reconhecimento da santidade de vida e do martírio de Rolando, mas muito do destino da Igreja, não só na Itália”

Para o bispo, a renovação da Igreja requer um “novo sangue”. “Se no corpo da Igreja circular também o sangue de Rolando Rivi, mártir simples e puríssimo assassinado por ódio à Fé com apenas 14 anos pela violência da ideologia marxista, se circular o sangue do seu testemunho de vida e do seu amor total a Jesus, nós daremos à Igreja nova energia para voltar a ser uma Igreja fiel a Cristo e apaixonada pelo homem”.

Em 1944, após a ocupação alemã do seminário em que estudava, Rivi e os seus colegas seminaristas foram mandados de volta para casa. Lá, continuou a estudar, rezando e vivendo como fazia no seu seminário. Mais: continuou a usar a sua batina, apesar da perigosa onda anti-clerical e até do conselho dos seus pais para que deixasse de fazê-lo.

Em 10 de Abril de 1945, após a Santa Missa, facilmente identificável pela sua batina, Rolando foi capturado pelos partiggiani. Permaneceu três dias nas mãos dos carrascos, sendo torturado física e moralmente. Por fim, todo ferido, ajoelhou-se para receber dois tiros… e a palma do martírio.

“Estou a estudar para ser padre e a batina é o sinal que eu sou de Jesus”.

Tivesse vivido mais algumas décadas, Rivi veria outros revolucionários, desta vez infiltrados na Santa Igreja, promover o ódio e o abandono do hábito talar.

Que o seu sangue seja semente de santas e numerosas vocações (de batina!).

Senhor, dai-nos sacerdotes.
Senhor, dai-nos santos sacerdotes.
Senhor, dai-nos muitos santos sacerdotes.

RICARDO IGREJA


terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Cruz de Jerusalém


A Cruz de Jerusalém tem uma forma complexa. É composta por uma cruz central constituída a partir da junção de quatro cruzes tau em forma de T maiúsculo, integrando, ainda, quatro cruzes gregas mais pequenas, distinguidas por terem os quatro braços iguais.

Segundo a interpretação mais citada, a cruz central representa o Antigo Testamento, enquanto as cruzes complementares simbolizam o pleno cumprimento da lei de Moisés no Evangelho de Cristo.

Mas há quem lhe atribua significados diferentes e a interprete, por exemplo, como a obra evangélica e missionária da Igreja, levando a Boa Nova a todos os cantos da terra, representados pelos quatro pontos cardinais.

Outros autores sustentam que as cinco cruzes perfeitamente perceptíveis nesta insígnia simbolizam as cinco feridas impostas a Jesus Cristo na cruz (mãos, pés e costas).

E outros historiadores, ainda, defendem que as quatro cruzes pequenas representam os quatro evangelhos proclamados nos quatro confins da terra, a começar por Jerusalém, enquanto a cruz central simboliza o próprio Jesus Cristo.

A Cruz de Jerusalém, também conhecida como Cruz da Palestina, ficou associada à heráldica das cruzadas e foi utilizada como símbolo do reino latino de Jerusalém, depois de a Cidade Santa ter sido conquistada aos mouros pelos cruzados. Godofredo de Bulhão, primeiro rei cristão em Jerusalém, usou-a.

Refira-se que a Cruz de Jerusalém é muito semelhante à Cruz Quadriculada. A única diferença é que, nesta, a cruz central é composta por quatro cruzes latinas e não em forma de T maiúsculo.

HÉLDER GONÇALVES

domingo, 6 de janeiro de 2013

Quem és Tu?


Começo por fazer duas perguntas que podemos encontrar nos Evangelhos: uma colocada a Jesus e outra em que é Ele que nos interroga.

Em primeiro lugar, a pergunta que as multidões fazem a Jesus: «Quem és Tu, afinal?» (João 8,25).

Acreditar é difícil. Isto deve-se à natureza da fé, porque acreditar expõe-nos ao que não pode ser provado.
Na medida em que a fé é autêntica, haverá sempre fragilidade nela, uma fragilidade que lhe é inerente.

No entanto, a dificuldade em acreditar reside também na identidade deste Jesus no qual eu creio. Queria perguntar-lhe: «Quem és Tu, afinal?»
Mesmo se é verdade que a fé é em si frágil, em última instância a interrogação vem-nos da tua pessoa, Senhor Jesus. Quem és Tu, afinal?

Se tivesses sido uma grande figura religiosa, poderia admirar-Te e tomar a tua vida e os teus ensinamentos como modelo de vida. Mas ficaria distante e não acreditaria em Ti. de tanto Te evocar interiormente poderia tornar-Te próximo de mim, mas a fé ficaria de lado, não me abandonaria. Talvez até pudesse sentir que não tinha percebido quem Tu eras.

Mas foste tão diferente das grandes figuras religiosas da humanidade. É verdade que foste muito religioso: os Evangelhos relatam a forma como oravas. Mas até nesse campo continuas a ser diferente. A Tua vida
assemelha-se tão pouco a uma subida penosa. Nunca Te apresentas como uma excepção genial da humanidade. Não foram a ascese, a meditação, a luta ou o sofrimento que contribuíram para que atingisses um estado superior de experiência.

O movimento da tua vida é outro. Não é uma lenta conquista, uma dura iniciação, um aperfeiçoamento progressivo. Fazendo um percurso normal de evolução em termos de crescimento humano, Tu és um ser que, desde o início, vive como um dom. Está tudo em Ti, no que aceitaste ser, ou seja na tua natureza.

Pelo que dizes de Deus não parece que O tenhas descoberto depois de um longo caminho. Falas d’Ele como se fosse tudo evidente. De tal forma que sabes falar d’Ele de uma maneira que até uma criança é capaz de compreender. E quando nos dizes para amar os inimigos – verdade que constitui a chave de toda a existência humana na terra, verdade última para além da qual não é preciso procurar qualquer outra mais profunda –, expressa-la não como fruto de uma laboriosa procura, mas como uma evidência dada com aquilo que és. Não precisas de justificar este chamamento, de apresentar as razões desta verdade. Na tua boca, ela é simples e clara.

A necessidade que marca toda a experiência humana, necessidade de vencer, de conseguir, não caracterizam a tua vida. Pelo menos quando leio os Evangelhos, pareces, acima de tudo, receber, receber sempre.
O teu próprio ser é inteiramente um dom do Alto. A linguagem simbólica di-lo bem: Tu és Aquele que vem do Alto (João 3,31).

Vens de outro lugar. Há na tua vida uma naturalidade, uma inocência que só se explica desta maneira. A tua origem parece, de facto, diferente da nossa. Nem mesmo os mais religiosos e os mais cultos foram tão simples.

Quando tenho dificuldade em explicar-me o teu nascimento e a tua ressurreição, basta-me centrar o olhar naquilo que, segundo o Evangelho, incontestavelmente foste. A partir daí, o que me parece difícil vai ao lugar.

A tua própria pessoa, o teu comportamento, manifestam que Tu não és daqui e que não Te posso julgar segundo as leis deste mundo. Tu sabes de onde vieste e para onde vais (João 8,14). Os dois extremos da tua vida, a tua vinda e a tua partida, os dois instantes em que o céu e a terra devem ter-se tocado, iluminam-se a partir do centro, lá onde Te vejo ser e agir.

Dom do Alto, Tu só podes descer. Tens o peso de qualquer grande dom. Tu «desceste do céu» como diz o Evangelho (João 6,33 e 38) e continuas a descer. Está tudo neste movimento: descer, ir ao encontro dos que estão mais abaixo e parecem inatingíveis.

Deste modo, a palavra «dom» não explica apenas de onde vens. É também preciso compreender para onde vais. Tu voltas para o Pai, de onde vieste, mas voltas para lá num mesmo movimento de dom. Poderíamos chamar subida a este retorno, mas na realidade só reencontras o Pai ao esgotar totalmente o dom. Perante o peso deste amor – amor do Pai que Te oferece aos homens, o teu próprio amor que faz com que Te ofereças – a morte já não tem qualquer poder.

Foi atravessada a barreira intransponível.

Podemos perguntar-Te agora onde vais, pois foi aberto um caminho.

Voltaste para junto do Pai e contigo agora também nós passaremos.

Foste muitas vezes discreto sobre Ti mesmo. 

Para falar da origem e do fim da tua vida utilizaste expressões misteriosas.

Era intencional. Era preciso que fôssemos a Ti pela fé. 

Cabe-nos agora adivinhar o sentido desta discrição.

HÉLDER GONÇALVES

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

2013 com Cristo

Neste Novo Ano que iniciamos teremos uma nova oportunidade para mudar o nosso estilo de vida. Um novo tempo que Deus está a conceder-nos pela sua infinita bondade. Então é preciso começar com um propósito, desde já é ver o que Deus pode fazer por mim.

Neste Novo Ano tu terás a oportunidade de viver de acordo com a vontade de Deus, desfrutando da sua comunhão e companhia. Isso é tudo que Deus quer te abençoar e fazer com que a tua vida se torne maravilhosa. Neste Novo Ano que está a começar lembra-te que Deus quer fazer coisas novas na tua vida, Ele pode fazer porque a sua promessa não falha.

Talvez te encontres desanimado, desmotivado e sem esperança de dias melhores na tua vida. Não desistas! Deus nosso criador tem muitas coisas novas para realizar em teu favor. Ele tem um caminho novo em Cristo, que te fará andar numa nova vida neste Novo Ano. Neste caminho tu encontrarás a paz, a segurança e a felicidade que tanto tens procurado e nunca encontrado. Então pensa nessas oportunidades que estão a começar agora. Então decide abraçar essas oportunidades concedidas em Cristo.

A Salvação em Cristo: Neste Ano experimenta a Salvação em Cristo, toma essa decisão enquanto podes, não deixes para mais tarde, pois talvez seja tarde demais quando tu pensares na salvação. Pense bem no maior presente que Deus quer conceder-te neste Novo Ano. Lembra-te que não adianta ganhares o mundo inteiro e perderes a tua alma, disse Jesus. Eis o tempo oportuno da salvação para a tua vida. A salvação é concedida pela graça em Cristo. Tu deves levar a sério o conselho Bíblico sobre a salvação. O homem deixa sempre de pensar na salvação, deixando para segundo plano a vida. Não continues a cometer esse erro que tem levado muitos para condenação eterna. A salvação é urgente, pois não sabemos a hora em que Deus te vai chamar. Por isso é preciso estar preparado para esse encontro com Deus.

Restaurado por Cristo: Neste Novo Ano Cristo quer restaurar aqueles que se afastaram do seu caminho. Deus dá-te uma nova oportunidade poderes recomeçar e voltares ao primeiro amor em Cristo. Deus quer restaurar vidas que se perderam no decorrer do tempo, que deixaram a Igreja, por frieza, problemas de incompreensão, queda no pecado voltando para mundo do pecado. Hoje encontras-te afastado da presença de Deus, sofrendo pela destruição do pecado, sem forças para voltares envergonhado. Começou o tempo da restauração da tua vida em Cristo. Uma nova oportunidade está a surgir, tem coragem e volta para Deus, Ele fará de ti um vaso novo, serás vaso de honra.

Servir a Cristo: Começa este Novo Ano servindo a Deus, empenha-te na obra de Cristo. Tu que passaste o ano inteiro sem fazeres nada na tua Igreja. Deus quer usar a tua vida grandemente, toma uma decisão não fiques apenas no banco da tua Igreja a ouvir como um simples expectador a ver o tempo passar. Faz hoje um propósito com Cristo de ser uma bênção na Igreja. Saibas que Deus tem chamado por ti e concedeu-te dons espirituais para seres: um pregador, um acólito, um catequista, um leitor, um ministro extraordinário da comunhão, etc… em louvor a Deus. A vida cristã é servir a Deus com alegria, e quem não está disposto a servir caminha para o fracasso. Quem serve a Cristo descobre que está a ser mais beneficiado e experimenta as grandezas de Cristo. O fracasso de muitos cristãos acontece porque não se envolveram com nenhum serviço dedicado a Cristo. “No Senhor o nosso trabalho não é em vão”.

Portanto temos motivos para abraçar as novas oportunidades que Deus nos concede neste Novo Ano de 2013. Para que o Novo Ano se torne uma realidade de uma vida abençoada depende de ti.

HÉLDER GONÇALVES

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