terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Mensagem do Papa Francisco 2014


Mensagem do Papa Francisco 
para o Dia Mundial da Paz
1º de janeiro de 2014


O Vaticano divulgou a primeira mensagem do Papa Francisco para a celebração do Dia Mundial da Paz, celebrado no dia 1º de janeiro de 2014, com o tema “Fraternidade, fundamento e caminho para a paz”. Um convite para cada cristão redescobrir o valor da solidariedade como remédio para os males sociais do mundo de hoje.

Mensagem completa:

FRATERNIDADE, FUNDAMENTO E CAMINHO PARA A PAZ

Nesta minha primeira Mensagem para o Dia Mundial da Paz, desejo formular a todos, indivíduos e povos, votos duma vida repleta de alegria e esperança. Com efeito, no coração de cada homem e mulher, habita o anseio duma vida plena que contém uma aspiração irreprimível de fraternidade, impelindo à comunhão com os outros, em quem não encontramos inimigos ou concorrentes, mas irmãos que devemos acolher e abraçar.

Na realidade, a fraternidade é uma dimensão essencial do homem, sendo ele um ser relacional. A consciência viva desta dimensão relacional leva-nos a ver e tratar cada pessoa como uma verdadeira irmã e um verdadeiro irmão; sem tal consciência, torna-se impossível a construção duma sociedade justa, duma paz firme e duradoura. E convém desde já lembrar que a fraternidade se começa a aprender habitualmente no seio da família, graças sobretudo às funções responsáveis e complementares de todos os seus membros, mormente do pai e da mãe. A família é a fonte de toda a fraternidade, sendo por isso mesmo também o fundamento e o caminho primário para a paz, já que, por vocação, deveria contagiar o mundo com o seu amor.

O número sempre crescente de ligações e comunicações que envolvem o nosso planeta torna mais palpável a consciência da unidade e partilha dum destino comum entre as nações da terra. Assim, nos dinamismos da história – independentemente da diversidade das etnias, das sociedades e das culturas –, vemos semeada a vocação a formar uma comunidade feita de irmãos que se acolhem mutuamente e cuidam uns dos outros. Contudo, ainda hoje, esta vocação é muitas vezes contrastada e negada nos factos, num mundo caracterizado pela «globalização da indiferença» que lentamente nos faz «habituar» ao sofrimento alheio, fechando-nos em nós mesmos.

Em muitas partes do mundo, parece não conhecer tréguas a grave lesão dos direitos humanos fundamentais, sobretudo dos direitos à vida e à liberdade de religião. Exemplo preocupante disso mesmo é o dramático fenómeno do tráfico de seres humanos, sobre cuja vida e desespero especulam pessoas sem escrúpulos. Às guerras feitas de confrontos armados juntam-se guerras menos visíveis, mas não menos cruéis, que se combatem nos campos económico e financeiro com meios igualmente demolidores de vidas, de famílias, de empresas.

A globalização, como afirmou Bento XVI, torna-nos vizinhos, mas não nos faz irmãos.[1] As inúmeras situações de desigualdade, pobreza e injustiça indicam não só uma profunda carência de fraternidade, mas também a ausência duma cultura de solidariedade. As novas ideologias, caracterizadas por generalizado individualismo, egocentrismo e consumismo materialista, debilitam os laços sociais, alimentando aquela mentalidade do «descartável» que induz ao desprezo e abandono dos mais fracos, daqueles que são considerados «inúteis». Assim, a convivência humana assemelha-se sempre mais a um mero do ut des pragmático e egoísta.

Ao mesmo tempo, resulta claramente que as próprias éticas contemporâneas se mostram incapazes de produzir autênticos vínculos de fraternidade, porque uma fraternidade privada da referência a um Pai comum como seu fundamento último não consegue subsistir.[2] Uma verdadeira fraternidade entre os homens supõe e exige uma paternidade transcendente. A partir do reconhecimento desta paternidade, consolida-se a fraternidade entre os homens, ou seja, aquele fazer-se «próximo» para cuidar do outro.

«Onde está o teu irmão?» (Gn 4, 9)

Para compreender melhor esta vocação do homem à fraternidade e para reconhecer de forma mais adequada os obstáculos que se interpõem à sua realização e identificar as vias para a superação dos mesmos, é fundamental deixar-se guiar pelo conhecimento do desígnio de Deus, tal como se apresenta de forma egrégia na Sagrada Escritura.

Segundo a narração das origens, todos os homens provêm dos mesmos pais, de Adão e Eva, casal criado por Deus à sua imagem e semelhança (cf. Gn 1, 26), do qual nascem Caim e Abel. Na história desta família primigénia, lemos a origem da sociedade, a evolução das relações entre as pessoas e os povos.

Abel é pastor, Caim agricultor. A sua identidade profunda e, conjuntamente, a sua vocação é ser irmãos, embora na diversidade da sua actividade e cultura, da sua maneira de se relacionarem com Deus e com a criação. Mas o assassinato de Abel por Caim atesta, tragicamente, a rejeição radical da vocação a ser irmãos. A sua história (cf. Gn 4, 1-16) põe em evidência o difícil dever, a que todos os homens são chamados, de viver juntos, cuidando uns dos outros. Caim, não aceitando a predilecção de Deus por Abel, que Lhe oferecia o melhor do seu rebanho – «o Senhor olhou com agrado para Abel e para a sua oferta, mas não olhou com agrado para Caim nem para a sua oferta» (Gn 4, 4-5) –, mata Abel por inveja. Desta forma, recusa reconhecer-se irmão, relacionar-se positivamente com ele, viver diante de Deus, assumindo as suas responsabilidades de cuidar e proteger o outro. À pergunta com que Deus interpela Caim – «onde está o teu irmão?» –, pedindo-lhe contas da sua acção, responde: «Não sei dele. Sou, porventura, guarda do meu irmão?» (Gn 4, 9). Depois – diz-nos o livro do Génesis –, «Caim afastou-se da presença do Senhor» (4, 16).

É preciso interrogar-se sobre os motivos profundos que induziram Caim a ignorar o vínculo de fraternidade e, simultaneamente, o vínculo de reciprocidade e comunhão que o ligavam ao seu irmão Abel. O próprio Deus denuncia e censura a Caim a sua contiguidade com o mal: «o pecado deitar-se-á à tua porta» (Gn 4, 7). Mas Caim recusa opor-se ao mal, e decide igualmente «lançar-se sobre o irmão» (Gn 4, 8), desprezando o projecto de Deus. Deste modo, frustra a sua vocação original para ser filho de Deus e viver a fraternidade.

A narração de Caim e Abel ensina que a humanidade traz inscrita em si mesma uma vocação à fraternidade, mas também a possibilidade dramática da sua traição. Disso mesmo dá testemunho o egoísmo diário, que está na base de muitas guerras e injustiças: na realidade, muitos homens e mulheres morrem pela mão de irmãos e irmãs que não sabem reconhecer-se como tais, isto é, como seres feitos para a reciprocidade, a comunhão e a doação.

«E vós sois todos irmãos» (Mt 23, 8)

Surge espontaneamente a pergunta: poderão um dia os homens e as mulheres deste mundo corresponder plenamente ao anseio de fraternidade, gravado neles por Deus Pai? Conseguirão, meramente com as suas forças, vencer a indiferença, o egoísmo e o ódio, aceitar as legítimas diferenças que caracterizam os irmãos e as irmãs?

Parafraseando as palavras do Senhor Jesus, poderemos sintetizar assim a resposta que Ele nos dá: dado que há um só Pai, que é Deus, vós sois todos irmãos (cf. Mt 23, 8-9). A raiz da fraternidade está contida na paternidade de Deus. Não se trata de uma paternidade genérica, indistinta e historicamente ineficaz, mas do amor pessoal, solícito e extraordinariamente concreto de Deus por cada um dos homens (cf. Mt 6, 25-30). Trata-se, por conseguinte, de uma paternidade eficazmente geradora de fraternidade, porque o amor de Deus, quando é acolhido, torna-se no mais admirável agente de transformação da vida e das relações com o outro, abrindo os seres humanos à solidariedade e à partilha activa.

Em particular, a fraternidade humana foi regenerada em e por Jesus Cristo, com a sua morte e ressurreição. A cruz é o «lugar» definitivo de fundação da fraternidade que os homens, por si sós, não são capazes de gerar. Jesus Cristo, que assumiu a natureza humana para a redimir, amando o Pai até à morte e morte de cruz (cf. Fl 2, 8), por meio da sua ressurreição constitui-nos como humanidade nova, em plena comunhão com a vontade de Deus, com o seu projecto, que inclui a realização plena da vocação à fraternidade.

Jesus retoma o projecto inicial do Pai, reconhecendo-Lhe a primazia sobre todas as coisas. Mas Cristo, com o seu abandono até à morte por amor do Pai, torna-Se princípio novo e definitivo de todos nós, chamados a reconhecer-nos n’Ele como irmãos, porque filhos do mesmo Pai. Ele é a própria Aliança, o espaço pessoal da reconciliação do homem com Deus e dos irmãos entre si. Na morte de Jesus na cruz, ficou superada também a separação entre os povos, entre o povo da Aliança e o povo dos Gentios, privado de esperança porque permanecera até então alheio aos pactos da Promessa. Como se lê na Carta aos Efésios, Jesus Cristo é Aquele que reconcilia em Si todos os homens. Ele é a paz, porque, dos dois povos, fez um só, derrubando o muro de separação que os dividia, ou seja, a inimizade. Criou em Si mesmo um só povo, um só homem novo, uma só humanidade nova (cf. 2,14-16).

Quem aceita a vida de Cristo e vive n’Ele, reconhece Deus como Pai e a Ele Se entrega totalmente, amando-O acima de todas as coisas. O homem reconciliado vê, em Deus, o Pai de todos e, consequentemente, é solicitado a viver uma fraternidade aberta a todos. Em Cristo, o outro é acolhido e amado como filho ou filha de Deus, como irmão ou irmã, e não como um estranho, menos ainda como um antagonista ou até um inimigo. Na família de Deus, onde todos são filhos dum mesmo Pai e, porque enxertados em Cristo, filhos no Filho, não há «vidas descartáveis». Todos gozam de igual e inviolável dignidade; todos são amados por Deus, todos foram resgatados pelo sangue de Cristo, que morreu na cruz e ressuscitou por cada um. Esta é a razão pela qual não se pode ficar indiferente perante a sorte dos irmãos.

A fraternidade, fundamento e caminho para a paz

Suposto isto, é fácil compreender que a fraternidade é fundamento e caminho para a paz. As Encíclicas sociais dos meus Predecessores oferecem uma ajuda valiosa neste sentido. Basta ver as definições de paz da Populorum progressio, de Paulo VI, ou da Sollicitudo rei socialis, de João Paulo II. Da primeira, apreendemos que o desenvolvimento integral dos povos é o novo nome da paz[3] e, da segunda, que a paz é opus solidaritatis, fruto da solidariedade.[4]

Paulo VI afirma que tanto as pessoas como as nações se devem encontrar num espírito de fraternidade. E explica: «Nesta compreensão e amizade mútuas, nesta comunhão sagrada, devemos (...) trabalhar juntos para construir o futuro comum da humanidade».[5] Este dever recai primariamente sobre os mais favorecidos. As suas obrigações radicam-se na fraternidade humana e sobrenatural, apresentando-se sob um tríplice aspecto: o dever de solidariedade, que exige que as nações ricas ajudem as menos avançadas; o dever de justiça social, que requer a reformulação em termos mais correctos das relações defeituosas entre povos fortes e povos fracos; o dever de caridade universal, que implica a promoção de um mundo mais humano para todos, um mundo onde todos tenham qualquer coisa a dar e a receber, sem que o progresso de uns seja obstáculo ao desenvolvimento dos outros.[6]

Ora, da mesma forma que se considera a paz como opus solidarietatis, é impossível não pensar que o seu fundamento principal seja a fraternidade. A paz, afirma João Paulo II, é um bem indivisível: ou é bem de todos, ou não o é de ninguém. Na realidade, a paz só pode ser conquistada e usufruída como melhor qualidade de vida e como desenvolvimento mais humano e sustentável, se estiver viva, em todos, «a determinação firme e perseverante de se empenhar pelo bem comum».[7] Isto implica não deixar-se guiar pela «avidez do lucro» e pela «sede do poder». É preciso estar pronto a «“perder-se” em benefício do próximo em vez de o explorar, e a “servi-lo” em vez de o oprimir para proveito próprio (...). O “outro” – pessoa, povo ou nação – [não deve ser visto] como um instrumento qualquer, de que se explora, a baixo preço, a capacidade de trabalhar e a resistência física, para o abandonar quando já não serve; mas sim como um nosso “semelhante”, um “auxílio”».[8]

A solidariedade cristã pressupõe que o próximo seja amado não só como «um ser humano com os seus direitos e a sua igualdade fundamental em relação a todos os demais, mas [como] a imagem viva de Deus Pai, resgatada pelo sangue de Jesus Cristo e tornada objecto da acção permanente do Espírito Santo»,[9] como um irmão. «Então a consciência da paternidade comum de Deus, da fraternidade de todos os homens em Cristo, “filhos no Filho”, e da presença e da acção vivificante do Espírito Santo conferirá – lembra João Paulo II – ao nosso olhar sobre o mundo como que um novo critério para o interpretar»,[10] para o transformar.

A fraternidade, premissa para vencer a pobreza

Na Caritas in veritate, o meu Predecessor lembrava ao mundo que uma causa importante da pobreza é a falta de fraternidade entre os povos e entre os homens.[11] Em muitas sociedades, sentimos uma profunda pobreza relacional, devido à carência de sólidas relações familiares e comunitárias; assistimos, preocupados, ao crescimento de diferentes tipos de carências, marginalização, solidão e de várias formas de dependência patológica. Uma tal pobreza só pode ser superada através da redescoberta e valorização de relações fraternas no seio das famílias e das comunidades, através da partilha das alegrias e tristezas, das dificuldades e sucessos presentes na vida das pessoas.

Além disso, se por um lado se verifica uma redução da pobreza absoluta, por outro não podemos deixar de reconhecer um grave aumento da pobreza relativa, isto é, de desigualdades entre pessoas e grupos que convivem numa região específica ou num determinado contexto histórico-cultural. Neste sentido, servem políticas eficazes que promovam o princípio da fraternidade, garantindo às pessoas – iguais na sua dignidade e nos seus direitos fundamentais – acesso aos «capitais», aos serviços, aos recursos educativos, sanitários e tecnológicos, para que cada uma delas tenha oportunidade de exprimir e realizar o seu projecto de vida e possa desenvolver-se plenamente como pessoa.

Reconhece-se haver necessidade também de políticas que sirvam para atenuar a excessiva desigualdade de rendimento. Não devemos esquecer o ensinamento da Igreja sobre a chamada hipoteca social, segundo a qual, se é lícito – como diz São Tomás de Aquino – e mesmo necessário que «o homem tenha a propriedade dos bens»,[12] quanto ao uso, porém, «não deve considerar as coisas exteriores que legitimamente possui só como próprias, mas também como comuns, no sentido de que possam beneficiar não só a si mas também aos outros».[13]

Por último, há uma forma de promover a fraternidade – e, assim, vencer a pobreza – que deve estar na base de todas as outras. É o desapego vivido por quem escolhe estilos de vida sóbrios e essenciais, por quem, partilhando as suas riquezas, consegue assim experimentar a comunhão fraterna com os outros. Isto é fundamental, para seguir Jesus Cristo e ser verdadeiramente cristão. É o caso não só das pessoas consagradas que professam voto de pobreza, mas também de muitas famílias e tantos cidadãos responsáveis que acreditam firmemente que a relação fraterna com o próximo constitua o bem mais precioso.

A redescoberta da fraternidade na economia

As graves crises financeiras e económicas dos nossos dias – que têm a sua origem no progressivo afastamento do homem de Deus e do próximo, com a ambição desmedida de bens materiais, por um lado, e o empobrecimento das relações interpessoais e comunitárias, por outro – impeliram muitas pessoas a buscar o bem-estar, a felicidade e a segurança no consumo e no lucro fora de toda a lógica duma economia saudável. Já, em 1979, o Papa João Paulo II alertava para a existência de «um real e perceptível perigo de que, enquanto progride enormemente o domínio do homem sobre o mundo das coisas, ele perca os fios essenciais deste seu domínio e, de diversas maneiras, submeta a elas a sua humanidade, e ele próprio se torne objecto de multiforme manipulação, se bem que muitas vezes não directamente perceptível; manipulação através de toda a organização da vida comunitária, mediante o sistema de produção e por meio de pressões dos meios de comunicação social».[14]

As sucessivas crises económicas devem levar a repensar adequadamente os modelos de desenvolvimento económico e a mudar os estilos de vida. A crise actual, com pesadas consequências na vida das pessoas, pode ser também uma ocasião propícia para recuperar as virtudes da prudência, temperança, justiça e fortaleza. Elas podem ajudar-nos a superar os momentos difíceis e a redescobrir os laços fraternos que nos unem uns aos outros, com a confiança profunda de que o homem tem necessidade e é capaz de algo mais do que a maximização do próprio lucro individual. As referidas virtudes são necessárias sobretudo para construir e manter uma sociedade à medida da dignidade humana.

A fraternidade extingue a guerra

Ao longo do ano que termina, muitos irmãos e irmãs nossos continuaram a viver a experiência dilacerante da guerra, que constitui uma grave e profunda ferida infligida à fraternidade.

Há muitos conflitos que se consumam na indiferença geral. A todos aqueles que vivem em terras onde as armas impõem terror e destruição, asseguro a minha solidariedade pessoal e a de toda a Igreja. Esta última tem por missão levar o amor de Cristo também às vítimas indefesas das guerras esquecidas, através da oração pela paz, do serviço aos feridos, aos famintos, aos refugiados, aos deslocados e a quantos vivem no terror. De igual modo a Igreja levanta a sua voz para fazer chegar aos responsáveis o grito de dor desta humanidade atribulada e fazer cessar, juntamente com as hostilidades, todo o abuso e violação dos direitos fundamentais do homem.[15]

Por este motivo, desejo dirigir um forte apelo a quantos semeiam violência e morte, com as armas: naquele que hoje considerais apenas um inimigo a abater, redescobri o vosso irmão e detende a vossa mão! Renunciai à via das armas e ide ao encontro do outro com o diálogo, o perdão e a reconciliação para reconstruir a justiça, a confiança e esperança ao vosso redor! «Nesta óptica, torna-se claro que, na vida dos povos, os conflitos armados constituem sempre a deliberada negação de qualquer concórdia internacional possível, originando divisões profundas e dilacerantes feridas que necessitam de muitos anos para se curarem. As guerras constituem a rejeição prática de se comprometer para alcançar aquelas grandes metas económicas e sociais que a comunidade internacional estabeleceu».[16]

Mas, enquanto houver em circulação uma quantidade tão grande como a actual de armamentos, poder-se-á sempre encontrar novos pretextos para iniciar as hostilidades. Por isso, faço meu o apelo lançado pelos meus Predecessores a favor da não-proliferação das armas e do desarmamento por parte de todos, a começar pelo desarmamento nuclear e químico.

Não podemos, porém, deixar de constatar que os acordos internacionais e as leis nacionais, embora sendo necessários e altamente desejáveis, por si sós não bastam para preservar a humanidade do risco de conflitos armados. É precisa uma conversão do coração que permita a cada um reconhecer no outro um irmão do qual cuidar e com o qual trabalhar para, juntos, construírem uma vida em plenitude para todos. Este é o espírito que anima muitas das iniciativas da sociedade civil, incluindo as organizações religiosas, a favor da paz. Espero que o compromisso diário de todos continue a dar fruto e que se possa chegar também à efectiva aplicação, no direito internacional, do direito à paz como direito humano fundamental, pressuposto necessário para o exercício de todos os outros direitos.

A corrupção e o crime organizado contrastam a fraternidade

O horizonte da fraternidade apela ao crescimento em plenitude de todo o homem e mulher. As justas ambições duma pessoa, sobretudo se jovem, não devem ser frustradas nem lesadas; não se lhe deve roubar a esperança de podê-las realizar. A ambição, porém, não deve ser confundida com prevaricação; pelo contrário, é necessário competir na mútua estima (cf. Rm 12, 10). Mesmo nas disputas, que constituem um aspecto inevitável da vida, é preciso recordar-se sempre de que somos irmãos; por isso, é necessário educar e educar-se para não considerar o próximo como um inimigo nem um adversário a eliminar.

A fraternidade gera paz social, porque cria um equilíbrio entre liberdade e justiça, entre responsabilidade pessoal e solidariedade, entre bem dos indivíduos e bem comum. Uma comunidade política deve, portanto, agir de forma transparente e responsável para favorecer tudo isto. Os cidadãos devem sentir-se representados pelos poderes públicos, no respeito da sua liberdade. Em vez disso, muitas vezes, entre cidadão e instituições, interpõem-se interesses partidários que deformam essa relação, favorecendo a criação dum clima perene de conflito.

Um autêntico espírito de fraternidade vence o egoísmo individual, que contrasta a possibilidade das pessoas viverem em liberdade e harmonia entre si. Tal egoísmo desenvolve-se, socialmente, quer nas muitas formas de corrupção que hoje se difunde de maneira capilar, quer na formação de organizações criminosas – desde os pequenos grupos até àqueles organizados à escala global – que, minando profundamente a legalidade e a justiça, ferem no coração a dignidade da pessoa. Estas organizações ofendem gravemente a Deus, prejudicam os irmãos e lesam a criação, revestindo-se duma gravidade ainda maior se têm conotações religiosas.

Penso no drama dilacerante da droga com a qual se lucra desafiando leis morais e civis, na devastação dos recursos naturais e na poluição em curso, na tragédia da exploração do trabalho; penso nos tráficos ilícitos de dinheiro como também na especulação financeira que, muitas vezes, assume caracteres predadores e nocivos para inteiros sistemas económicos e sociais, lançando na pobreza milhões de homens e mulheres; penso na prostituição que diariamente ceifa vítimas inocentes, sobretudo entre os mais jovens, roubando-lhes o futuro; penso no abomínio do tráfico de seres humanos, nos crimes e abusos contra menores, na escravidão que ainda espalha o seu horror em muitas partes do mundo, na tragédia frequentemente ignorada dos emigrantes sobre quem se especula indignamente na ilegalidade. A este respeito escreveu João XXIII: «Uma convivência baseada unicamente em relações de força nada tem de humano: nela vêem as pessoas coarctada a própria liberdade, quando, pelo contrário, deveriam ser postas em condição tal que se sentissem estimuladas a procurar o próprio desenvolvimento e aperfeiçoamento».[17] Mas o homem pode converter-se, e não se deve jamais desesperar da possibilidade de mudar de vida. Gostaria que isto fosse uma mensagem de confiança para todos, mesmo para aqueles que cometeram crimes hediondos, porque Deus não quer a morte do pecador, mas que se converta e viva (cf. Ez 18, 23).

No contexto alargado da sociabilidade humana, considerando o delito e a pena, penso também nas condições desumanas de muitos estabelecimentos prisionais, onde frequentemente o preso acaba reduzido a um estado sub-humano, violado na sua dignidade de homem e sufocado também em toda a vontade e expressão de resgate. A Igreja faz muito em todas estas áreas, a maior parte das vezes sem rumor. Exorto e encorajo a fazer ainda mais, na esperança de que tais acções desencadeadas por tantos homens e mulheres corajosos possam cada vez mais ser sustentadas, leal e honestamente, também pelos poderes civis.

A fraternidade ajuda a guardar e cultivar a natureza

A família humana recebeu, do Criador, um dom em comum: a natureza. A visão cristã da criação apresenta um juízo positivo sobre a licitude das intervenções na natureza para dela tirar benefício, contanto que se actue responsavelmente, isto é, reconhecendo aquela «gramática» que está inscrita nela e utilizando, com sabedoria, os recursos para proveito de todos, respeitando a beleza, a finalidade e a utilidade dos diferentes seres vivos e a sua função no ecossistema. Em suma, a natureza está à nossa disposição, mas somos chamados a administrá-la responsavelmente. Em vez disso, muitas vezes deixamo-nos guiar pela ganância, pela soberba de dominar, possuir, manipular, desfrutar; não guardamos a natureza, não a respeitamos, nem a consideramos como um dom gratuito de que devemos cuidar e colocar ao serviço dos irmãos, incluindo as gerações futuras.

De modo particular o sector produtivo primário, o sector agrícola, tem a vocação vital de cultivar e guardar os recursos naturais para alimentar a humanidade. A propósito, a persistente vergonha da fome no mundo leva-me a partilhar convosco esta pergunta: De que modo usamos os recursos da terra? As sociedades actuais devem reflectir sobre a hierarquia das prioridades no destino da produção. De facto, é um dever impelente que se utilizem de tal modo os recursos da terra, que todos se vejam livres da fome. As iniciativas e as soluções possíveis são muitas, e não se limitam ao aumento da produção. É mais que sabido que a produção actual é suficiente, e todavia há milhões de pessoas que sofrem e morrem de fome, o que constitui um verdadeiro escândalo. Por isso, é necessário encontrar o modo para que todos possam beneficiar dos frutos da terra, não só para evitar que se alargue o fosso entre aqueles que têm mais e os que devem contentar-se com as migalhas, mas também e sobretudo por uma exigência de justiça e equidade e de respeito por cada ser humano. Neste sentido, gostaria de lembrar a todos o necessário destino universal dos bens, que é um dos princípios fulcrais da doutrina social da Igreja. O respeito deste princípio é a condição essencial para permitir um acesso real e equitativo aos bens essenciais e primários de que todo o homem precisa e tem direito.

Conclusão

Há necessidade que a fraternidade seja descoberta, amada, experimentada, anunciada e testemunhada; mas só o amor dado por Deus é que nos permite acolher e viver plenamente a fraternidade.

O necessário realismo da política e da economia não pode reduzir-se a um tecnicismo sem ideal, que ignora a dimensão transcendente do homem. Quando falta esta abertura a Deus, toda a actividade humana se torna mais pobre, e as pessoas são reduzidas a objecto passível de exploração. Somente se a política e a economia aceitarem mover-se no amplo espaço assegurado por esta abertura Àquele que ama todo o homem e mulher, é que conseguirão estruturar-se com base num verdadeiro espírito de caridade fraterna e poderão ser instrumento eficaz de desenvolvimento humano integral e de paz.

Nós, cristãos, acreditamos que, na Igreja, somos membros uns dos outros e todos mutuamente necessários, porque a cada um de nós foi dada uma graça, segundo a medida do dom de Cristo, para utilidade comum (cf. Ef 4, 7.25; 1 Cor 12, 7). Cristo veio ao mundo para nos trazer a graça divina, isto é, a possibilidade de participar na sua vida. Isto implica tecer um relacionamento fraterno, caracterizado pela reciprocidade, o perdão, o dom total de si mesmo, segundo a grandeza e a profundidade do amor de Deus, oferecido à humanidade por Aquele que, crucificado e ressuscitado, atrai todos a Si: «Dou-vos um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros; que vos ameis uns aos outros assim como Eu vos amei. Por isto é que todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros» (Jo 13, 34-35). Esta é a boa nova que requer, de cada um, um passo mais, um exercício perene de empatia, de escuta do sofrimento e da esperança do outro, mesmo do que está mais distante de mim, encaminhando-se pela estrada exigente daquele amor que sabe doar-se e gastar-se gratuitamente pelo bem de cada irmão e irmã.

Cristo abraça todo o ser humano e deseja que ninguém se perca. «Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele» (Jo 3, 17). Fá-lo sem oprimir, sem forçar ninguém a abrir-Lhe as portas do coração e da mente. «O que for maior entre vós seja como o menor, e aquele que mandar, como aquele que serve – diz Jesus Cristo –. Eu estou no meio de vós como aquele que serve» (Lc 22, 26-27). Deste modo, cada actividade deve ser caracterizada por uma atitude de serviço às pessoas, incluindo as mais distantes e desconhecidas. O serviço é a alma da fraternidade que edifica a paz.

Que Maria, a Mãe de Jesus, nos ajude a compreender e a viver todos os dias a fraternidade que jorra do coração do seu Filho, para levar a paz a todo o homem que vive nesta nossa amada terra.
Vaticano, 8 de Dezembro de 2013


FRANCISCUS

HÉLDER GONÇALVES

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Coroa de nossa Senhora de Fátima

A Imagem que se venera na Capelinha das Aparições, em Fátima, foi oferecida em 1920 por Gilberto Fernandes dos Santos.

É obra do escultor José Ferreira Thedim (de Braga) que a executou em cedro do Brasil, e mede 1,10m.

Foi benzida na Igreja Paroquial de Fátima (onde foram baptizados os Pastorinhos) a 13 de Maio de 1920, entronizada na Capelinha das Aparições a 13 de Junho de 1920 e coroada pelo Legado Pontifício Cardeal Masela, em 13 de Maio de 1946.

coroa, que ostenta apenas nas grandes celebrações é um exemplar único executado em Lisboa e nela trabalharam gratuitamente 12 artistas durante três meses.

Pesa 1200 gramas e é enriquecida por 2679 pedras preciosas.

- 950 Brilhantes
- 1400 Diamantes
- 313 Pérolas
- 1 Esmeralda grande
- 13 Esmeraldas pequenas
- 33 Safiras
- 17 Rubis
- 260 Turquesas
- 1 Ametista
- 4 Águas marinhas

Todo ofertas das mulheres portuguesas – a 13 de Outubro de 1942, em acção de graças por Portugal não ter entrada na 2ª Guerra Mundial.

Tem incrustada, oferecida por João Paulo II, a bala com que foi atingido no atentado de 13 de Maio de 1981 na Praça de S. Pedro.


HÉLDER GONÇALVES

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Santo Estevão - 1º Mártir

Chamado como “homem cheio de fé e do Espírito Santo; cheio de graça e fortaleza” (Act 6, 5.8), Estêvão foi um dos sete primeiros diáconos ordenados pelos apóstolos. Realizava muitas curas e milagres em nome de Jesus, mas, acusado injustamente de blasfémia, foi preso e condenado à morte.

Deus manifestou-se de tal forma nele, pelo seu Espírito Santo, que o rosto de Estêvão pode ser visto tão radiante como o de um anjo, manifestando externamente o brilho da pureza e da entrega a Deus que já era completa no seu coração. Assim movido pelo Espírito, Estêvão anunciou ao Conselho o mistério da nossa Salvação, desde Abraão a Jesus Cristo, e a insensatez deles em não reconhecer em Jesus a realização das Promessas.

O Conselho ficou completamente enfurecido com o discurso de Estêvão, o qual olhou para o céu e disse: “Eis que vejo os céus abertos e o Filho do Homem, de pé, à direita de Deus” (Act 7, 56).

Logo, então, Estêvão foi levado para fora da cidade e apedrejado e, até mesmo nas suas palavras, quis assemelhar-se a Jesus, pois, antes de morrer, disse: “Senhor Jesus, recebe o meu espírito; Senhor, não lhes leves em conta este pecado…” (Act 7, 59s).

Estêvão morreu aos pés de Saulo, aquele que, após o seu encontro com Jesus no caminho para Damasco, foi convertido e tornou-se apóstolo, anunciando aos pagãos o Evangelho de Nosso Senhor.

Assim, Estêvão tornou-se o primeiro mártir da Igreja Católica, morto por defender a sua fé, morto por proclamar a Salvação em nome de Jesus Cristo.

Assemelhemo-nos, portanto, a Santo Estêvão e desejemos ardentemente que a nossa face resplandeça pelo poder do Espírito Santo, anunciando ao mundo o Evangelho, ainda que isso nos custe o preço da nossa vida, como nos recorda Paulo: “Porque para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro” (Fl 1, 21).

HÉLDER GONÇALVES

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

10 Mandamentos do Ser Natal

É NATAL...


1. É Natal, cada vez que enxugamos uma lágrima no rosto de uma criança.

2. É Natal, cada vez que vencemos as intrigas e tentamos compreender-nos.

3. É Natal cada vez que desfazemos os punhos fechados e abrimos os braços pela paz.

4. É Natal, cada vez que trazemos os outros para uma vida mais digna, onde se sintam felizes.

5. É Natal cada vez que os nossos corações esquecem as ofensas recebidas e procuramos viver como irmãos.

6. É Natal, cada vez que criamos a esperança de uma vida melhor juntos dos outros.

7. É Natal, cada vez que conseguimos aliviar o sofrimento que pesa na vida dos outros e lhes damos um pouco de alegria de viver.

8. É Natal, cada vez que conseguimos calar as mentiras e fazemos aparecer a verdade.

9. É Natal, cada vez que aumentamos o pão no lar dos outros.

10. É Natal, cada vez que distribuímos um pouco de amor à nossa volta como reflexo do amor que Deus, feito homem, mostrou por todos nas palhinhas de Belém.

HÉLDER GONÇALVES

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Mensagens de Natal

Que a estrela principal do Natal, Jesus Cristo, seja uma luz a brilhar sempre na vida daqueles que o procuram.


Natal é o nascimento de Cristo. Ano Novo é o nascimento de uma nova esperança


Para quem procura Cristo, é sempre natal!


O Natal não é um momento nem uma estação, mas um estado da mente. Valorizar a paz e a generosidade e ter graça é compreender o verdadeiro significado de Natal.


Talvez o melhor enfeite de natal seja um grande sorriso a quem se ama.


Que a paz e a harmonia festejadas no natal estejam presentes todos os dias do ano.


Que Deus, na sua infinita bondade, abençoe e encha de paz todos os corações nesta noite de Natal.


Bendita seja a data que une o mundo todo numa conspiração de amor. Feliz Natal!

HÉLDER GONÇALVES

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Como nasceu Jesus?

Maria concebeu Jesus sem intervenção do homem.
Assim afirma claramente nos dois primeiros capítulos dos Evangelhos de São Mateus e de São Lucas: «O que Ela concebeu é obra do Espirito Santo», disse o anjo a São José (Mt 1,20); e a Maria que pergunta: «Como será isso, se eu não conheço homem?» o anjo responde: «O Espirito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo estenderá sobre ti a sua sombra…» (Lc 1, 34-35).
Por outro lado, o facto de Jesus, na Cruz, recomendar sua Mãe a São João leva a pressupor que a Virgem não tinha outros filhos. O facto de nos Evangelhos se mencionar, por vezes, os «irmãos de Jesus» pode explicar-se pelo uso do termo «irmãos», em hebraico, no sentido de parentes próximos (Gen 13,8; etc), ou pela hipótese de São José ter tido filhos de um casamento anterior; ou ainda pela utilização do termo com o sentido de membro de grupo de crentes, tal como se usa no Novo Testamento (Act 1,15).

A tradição da Igreja transmitiu, desde muito cedo, o carácter sobrenatural do nascimento de Jesus. Por volta do ano 100, Santo Inácio de Antioquia afirma-o ao dizer que «ao príncipe deste mundo foi ocultada a virgindade de Maria e o seu parto, bem como a morte do Senhor. Três mistérios portentosos realizados no silêncio de Deus» (Carta aos Efésios 19,1). Em finais do século II, Santo Irineu assinala que o parto de Maria foi sem dor (Demonstração evangélica, 54) e Clemente de Alexandria, já sob influencia dos apócrifos, afirma que o nascimento de Jesus foi virginal (Stromata, 7,16). Num texto do século IV, atribuído a São Gregório Taumaturgo diz-se, claramente: «Ao nascer Cristo conservou intactos o seio e a virgindade da Mãe, para que a inaudita natureza deste parto fosse para nós sinal de um grande mistério»» (J. B. Pitra, Analecta Sacra 4, Greg Press, Farmborough, 1966, p. 391). Os Evangelhos apócrifos mais antigos, apesar do seu carácter  extraordinário, preservam tradições populares que coincidem com os testemunhos acima assinalados. As Odes de Salomão (Ode 19), a Ascensão de Isaías, 14, e o Protoevangelho de Tiago, 20-21, referem como o nascimento de Jesus se revestiu de um carácter milagroso.

Todos estes testemunhos reflectem uma tradição de fé sancionada pelo ensinamento da Igreja, segundo a qual Maria foi virgem antes do parto, no parto e depois do parto: «O aprofundamento da fé na maternidade virginal de Maria levou a Igreja a confessar a virgindade real e perpétua de Maria (cf. DS 427) inclusive no parto do Filho de Deus feito homem (cf. DS 291; 294, 442; 503; 571; 1880). Com efeito, o nascimento de Cristo “não diminuiu, antes consagrou a integridade virginal” de sua Mãe (LG 57). A liturgia da Igreja celebra Maria como a “Aeiparthenos”, a “sempre virgem” (cf. LG 52)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 499).

HÉLDER GONÇALVES

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

A Fé em Jesus ao longo dos séculos

Exprimir o mistério da fé preocupa muitas gerações.

Foi uma longa história, às vezes conflituosa, por vezes brutal.

Em jogo: ficar fiel à mensagem da Escritura


II Século: A fé dos Apóstolos e dos seus discípulos
Eles foram «enviados» - é este o sentido do apostolo -  para proclamar a Ressurreição. Estes dois primeiros séculos são essenciais na vida da igreja para a formação da fé.
Que palavras dar à experiencia vivida com Jesus? Mas também que palavras dar – já – desmentir as falsas interpretações, as falsas ideias e outros falsos profetas?
Os autores do Novo Testamento, em particular Paulo e João, elaboram uma primeira teologia. Deus «fez-Se homem» através da sua «Encarnação». Ele propõe a «saudação de todo homem dentro da morte e ressurreição de Cristo». Esta «redenção», os apóstolos experimentaram-na com Jesus que os chamou para O acompanhar.

Ano 30 em Jerusalém: Doze homens anunciam publicamente e com força uma grande e boa noticia: «Jesus, enviado de Deus que foi crucificado como um desordeiro e depois posto no túmulo, está vivo! Deus ressuscitou-O! Ele é o Messias!». Maria, sua Mãe, está com eles.
É o dia do Pentecostes, festa judia do dom das «Tábuas da Lei» a Moisés. Elas tornam-se para os cristãos, aquelas do dom do espírito de Deus que faz proclamar a mensagem (Kerigma) da Boa Nova.

Anos 140 a 170:  Duas primeiras doutrinas divergem: as de Marcion e a de Montan. Marcion, armador em Roma, sonha por uma igreja que não disforma o Evangelho. Ele quer conservar o Evangelho puro. Teólogo, ele distingue dois princípios em Deus: um, criador e incarnando a Lei; outro, amor misericordioso em Cristo. Ele selecciona na Escritura o que lhe convém. Assim, só aceito o Evangelho de Lucas, purgado de citações da infância. À sua maneira, ele propõe já uma elite pura. Montan, quanto a ele, pretende ser profeta e incarnar o espírito Paráclito que fala João; ele deve anunciar o regresso iminente de Cristo. Então, é inútil casar, e é preciso duplicar os jejuns. Montain exige uma obediência cega.

III e IV Século: Deus Trindade
Com os séculos, as questões evoluem mas é necessário ficar fiel ao Novo Testamento. Face às antigas filosofias, às religiões tradicionais, ricas em conceitos e vocabulários, como exprimir o conteúdo da fé? Como passar da recitação duma experiencia às palavras que dão conta, diria que defendem, esta experiencia face às tradições gregas e romanas…? Como igualmente, confirmar o Deus único se Ele se revela Pai, Filho e espírito Santo? Como enfim, não diminuir do Verbo de Deus, Filho Eterno, e receber um homem salvador na nossa carne?
«Se Deus se fez homem, é para que o homem seja feito Deus», dirão os primeiros teólogos. Para isso, é preciso que Jesus Cristo seja homem e Deus. É tudo o que está em causa nos primeiros Concílios que decorrem no Oriente. Eles fixaram definitivamente a fé cristã.

Anos 220:  Tertúlio de Cartago (160-220), escrivão latino, reflectia sobre a presença dos cristãos na sociedade, sobre a tradição e sobre o baptismo enquanto que Origine de Alexandria (185-253), escrivão grego, propõe diferentes leituras (alegórica, simbólica, etc..) da Escritura. Alguns, um chamado Sabellius (provavelmente africano) na preocupação de preservar a unidade de Deus, afirmando que o único e mesmo principio divino age sob os «modos» diferentes, por vezes como Pai, por vezes como Filho. Chamam-lhes «modalistas». Mas, puxado ao extremo, uma tal doutrina faria do Pai aquele que sofreu na cruz!

Ano 318:  Ariús, padre heterodoxo de Alexandria, prega que o Filho não é eterno, igual ao Pai, mas a primeira e mais importante criaturas de Deus. Mexendo no Filho, ele ameaça assim a Trindade.

Anos 325 a 381:  Para rejeitar Ariús, os dois primeiros Concílios ecuménicos de Niceia e Constantinopla elaborarão o símbolo do Credo, proclamado hoje em todas as Eucaristias.
Os católicos têm um Deus em três pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Eles são iguais e unidos sem confusão.

V a VIII séculos:  Os Concílios Cristológicos
Depois de precisar a relação no seio da Trindade, os debates viram-se singularmente sobre Jesus. É Ele somente Deus com uma aparência humana? Não é um homem, certo favorecido por Deus, com ensinamento evidentemente extraordinário… mas somente um homem? A Sua Mãe estava realmente virgem? Propõe ele uma simples sabedoria? Uma gnose (ou conhecimento de mistérios espirituais escondidos)? A arte pode ser representada? Em realidade, todas as questões contemporâneas sobre Jesus encontram as suas raízes nas origens do cristianismo.

Depois de 418: Nestorius, patriarca de Constantinopla, recusa de chamar à Virgem Maria, Mãe de Deus. Portanto, numerosos crentes e teólogos fazem-no à muito tempo. A questão levantada de novo é sobre Cristo, Deus faz-Se homem, Verbo faz-Se carne. Quem nasceu de Maria? Um Deus, um homem ou ainda um Deus-homem?

Anos 431 a 451: Os concílios ecuménicos Èfaso e de Calcedónia traçam a doutrina da igreja. Em Èfaso Maria é proclamada Theotokos (Mãe de Deus). Ela não é, bem entendido, Mãe da divindade do Cristo mas ela é sem duvida «Mãe de Deus segundo a humanidade». Confessar que o Verbo de Deus assumiu a humanidade, é reconhecer que Ele não é uma pessoa humana distinta da pessoa divina. O Verbo é homem Jesus Cristo e vice-versa. Numa só pessoa conjuga-se a personalidade humana e a divina. Muito depressa, um novo desafio aparece: uma pessoa, seja. Mas como se “organiza” então a humanidade e a divindade? È uma mistura dos dois? Em Calcedónia, precisa-se como o Cristo è uma pessoa e duas naturezas:  o Cristo è um, Ele è verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem; «engendrado do Pai antes dos séculos quanto à sua divindade, mas nos últimos dias, para nós e para nossa saudação, de Maria, a Virgem, a Mãe de Deus, quanto à sua humanidade, um único e mesmo Cristo, Filho, Senhor, único engendrado que nós reconhecemos haver as duas naturezas, sem confusão nem mudança, sem divisão nem separação…». Os debates foram por vezes muito rudes, mesmo brutais! O patriarca de Alexandria, Cyrile, combateu violentamente Nestorius em Èfaso. Em Calcedónia, o papa Leão o Grande joga um papel essencial como arbitro. As igrejas nestorianas (em Mesopotâmia essencialmente) rejeitam Èfaso. As igrejas monofisitas (em Egipto, em Etiópia…) ignoram Calcedónia. Desde 1970, grandes avanços ecuménicos aproximaram essas igrejas da «grande Igreja».

V século: A igreja latina muda a formulação trinitária do Credo que tinha sido concretizado pelos concílios de Niceia e Constantinopla: ela substitui a expressão «procede do Pai» pela «procede do Pai e do Filho». Isto provoca um descontentamento de muitos crentes gregos do Oriente e será uma das causas, em 1504, da ruptura entre Oriente ortodoxo e Ocidente católico.

Anos 640 a 681:  Héraclius, imperador de Constantinopla e Sergius, seu patriarca, afirmam: «não há uma só única vontade» (Divina) em Cristo e «uma só energia». È o «monoteísmo» e o «monoenergismo». O papa João IV condena o monotelismo, Martin 1º, seu sucessor, afirma a existência de «duas vontades e duas operações, divinas e humanas» em Jesus Cristo: ele quer e age como homem e como Deus. Maxime, chamou «confessor» da verdadeira fé, morremos mártires. Em 681, o terceiro concilio de Constantinopla dá-lhe razão: verdadeiro Deus, verdadeiro homem, Jesus quis essa vontade como Deus e como homem.

Ano 787:  O concilio de Niceia II é o ultimo concilio bem recebido pelos latinos ocidentais e pelos gregos orientais. Ele é o último literalmente ecuménico. Niceia II responde à questão de saber se è possível fazer das imagens de Cristo, dos santos, e de os venerar sem idolatria. «Não!», afirmarão vários imperadores de Constantinopla que partem as imagens e lançam uma perseguição desconhecida desde as ultimas grandes perseguições idólatras. O oriente crente está a fogo e sangue mas em nome da fé a Cristo. Santo João de Damas combate a teologia destes que querem quebrar as imagens. Porque o Cristo, fez-se homem, e a arte pode expandir a beleza de Deus. È legítimos de venerar ícones, janelas abertas sobre o mistério divino onde elas são imagens. Niceia II traçará este sentido.

XVI Século:  Vias católica e protestante
Luther (1483-1546), em nome da Escritura, mete em causa a teologia e a tradição medievais da igreja que ele quer reformar. No seu seguimento, Zwingli, Calvin e outros deram nascimento a outras novas igrejas e a novas teologias, qualificadas de protestantes. A salvação è puro dom de Deus: ele não è merecido pelas boas acções do homem; nenhuma acção humana o podem comprar, somente conta a fé em Cristo.

Anos 1545 a 1563:  A graça de Cristo está ela presente nos sete sacramentos? Sim, respondem os padres do concilio de Trento, afinando a teologia católica dos sacramentos e ao qual eles confirmam o numero. Os protestantes só retêm dois: o Baptismo e a Eucaristia. Para os católicos, os sacramentos dão a graça por eles mesmos, eles são «eficazes» para quem os celebra com fé e sinceridade. Para os protestantes, os sacramentos confirmam simplesmente a fé do crente. 

HÉLDER GONÇALVES

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Jesus nasceu em Belém ou Nazaré?

São Mateus disse de maneira explicita que Jesus nasceu em «Belém da Judeia no tempo do rei Herodes» (Mt 2,1; cf 2,5.6.8.16) e o mesmo diz São Lucas (Lc 2,4.15). O quarto evangelho menciona-o de maneira indirecta. No contexto de uma discussão a propósito da identidade de Jesus: «Uns diziam: ”Ele é realmente o profeta”. Diziam outros: “É o Messias”. Outros, porém, replicavam: “Mas pode lá ser que o Messias venha da Galileia?!” Não diz a Escritura que o Messias vem da descendência de David e da cidade de Belém, donde era David?» (Jo 7, 40-42). O quarto evangelista recorre aqui a uma ironia: tanto ele como o leitor cristão sabem que Jesus é o Messias e nasceu em Belém. Alguns opositores de Jesus querem demonstrar que Ele não é o Messias dizendo que, se o fosse, teria nascido em Belém, mas eles sabem (julgam saber), pelo contrário, que Jesus nasceu em Nazaré. Este procedimento é habitual no quarto evangelho (Jo 3,12; 6,42; 9,40-1).  Por exemplo, a mulher samaritana pergunta a Jesus: «Porventura és maior do que o nosso patriarca Jacob?» (Jo 4,12). Os leitores de João sabem que Jesus é o Messias, Filho de Deus, superior a Jacob, de modo que a pergunta da mulher era uma afirmação dessa superioridade. Portanto, o evangelista prova que Jesus é o Messias, servindo-se até das afirmações dos seus opositores.

Este foi o consenso comum ente crentes e investigadores durante mais de mil e novecentos anos. No entanto, no século passado, alguns investigadores afirmaram que Jesus é chamado em todo o Novo testamento «o Nazareno» (o que é, ou o que provém, de Nazaré) e que a menção a Belém como local do nascimento de Jesus obedece a uma invenção de Mateus e Lucas, que revestem Jesus de uma das características que naquele momento se atribuía ao futuro Messias: ser descendente de David e nascer em Belém. O certo é que uma argumentação como esta não prova nada. No século I dizia-se bastantes coisas sobre o futuro Messias que não se cumprem em Jesus e, pelo que sabemos, não parece que a do nascimento em Belém fosse uma das que mais frequentemente se invocava como prova. Há que raciocinar antes de forma inversa: pelo facto de Jesus, que era de Nazaré (quer dizer, que ali fora criado), ter nascido em Belém, é que os Evangelistas descobrem, nos textos do Antigo Testamento, que nele se cumpre essa qualidade messiânica. Além disso, todos os testemunhos da tradição comprovam todos os dados evangélicos. São Justino, nascido na Palestina por volta do ano 100 d.C, menciona, uns cinquenta anos mais tarde, que Jesus nasceu numa gruta perto de Belém (Giálogo, 78). Os Evangelhos apócrifos atestam o mesmo (Protoevangelho de Tiago, 17 ss; Evangelho da infância, 2-4; Pseudo-Mateus 13).

Em suma, segundo o consenso dos estudiosos actuais, não há argumentos fortes para ir contra o que afirmam os Evangelhos e se recebeu de toda a tradição: Jesus nasceu em Belém da Judeia no tempo do rei Herodes.

Quanto ao lugar concreto em Belém, Lucas indica que Maria, depois de ter dado à luz o seu filho, «recostou-O numa manjedoura por não haver lugar para eles na hospedaria» (Lc 2,7). A «manjedoura» indica que no lugar onde nasceu Jesus se guardava o gado. Lucas assinala também que o menino deitado na manjedoura será sinal para os pastores de que ali nasceu o Salvador (Lc 2, 12.16). A palavra grega empregue para «hospedaria» é Katállyma. Designa a divisão espaçosa das casas que podia servir como sala ou como quarto de hospedes. No Novo Testamento utiliza-se mais duas vezes a mesma palavra (Lc 22,11 e Mc 14,14) para indicar a sala onde Jesus celebrou a última ceia com os seus discípulos. Possivelmente o evangelista quis assinalar com as suas palavras que esse lugar não permitia preservar a intimidade do acontecimento.

HÉLDER GONÇALVES

domingo, 15 de dezembro de 2013

Virgindade de Nossa Senhora

A concepção virginal de Jesus tem de ser entendida como uma obra do poder de Deus - «a Ele nada é impossível» (Lc 1,37) – que escapa a toda a compreensão e a toda a possibilidade humanas. Nada tem que ver com as representações mitológicas pagãs em que um deus se une a uma mulher fazendo as vezes do homem.

Na concepção virginal de Jesus trata-se de uma obra divina no seio de Maria, similar à criação. Isto é impossível de aceitar para o não crente, como o era para os judeus e para os pagãos, entre os quais surgiram histórias grosseiras acerca da concepção de Jesus, como aquela que a atribui a um soldado romano chamado Phanteras. Na realidade, esse personagem é uma ficção literária que deu origem a uma lenda para troçar dos cristãos. Do ponto de vista da ciência histórica e filológica, o nome Phanteras (ou Pandera) é uma paródia corrupta da palavra parthémos (em grego: virgem). Aquelas gentes, que utilizavam, como grande parte do império romano do Oriente, o grego como língua de comunicação, ouviam os cristãos falar de Jesus como o Filho da Virgem  (huiós tou parthénou), e quando queriam rir-se deles chamavam-lhe «o filho de Pantheras». Tais histórias, em definitivo, dó testemunham que a igreja sustentava a virgindade de Maria, ainda que esta parecesse impossível.

A concepção virginal de Jesus é um sinal de que Jesus é verdadeiramente Filho de Deus por natureza – daí que não tenha um pai humano -, ao mesmo tempo que é verdadeiro homem nascido de mulher (Gal 4,4). Nas passagens evangélicas que se referem à concepção virginal de Jesus põe-se em destaque a iniciativa absoluta de Deus na história humana quanto ao Advento da salvação, e que esta se insere na própria história, como mostram as genealogias de Jesus.

Jesus, concebido do Espirito Santo e sem a intervenção do homem, pode compreender-se melhor como o novo Adão que inaugura uma nova criação, à qual pertence o homem novo por Ele redimido (1 Cor 15,47; Jo 3,3-4).

A virgindade de Maria é, além disso, sinal da fé sem sombra de dúvida e da entrega total da Mãe de Jesus à vontade de Deus. Foi dito, inclusivamente, que, por essa fé, Maria concebeu Cristo na sua mente antes de o ter concebido no seu ventre, e que «é mais bem-aventurada ao receber Cristo pela fé do que ao conceber no seu seio a carne de Cristo» (Santo Agostinho, Santa Virgindade, 3). Sendo virgem e mãe, Maria é também figura da Igreja e a sua mais perfeita realização.

HÉLDER GONÇALVES

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Advento a realização e confirmação da Aliança

O Advento é tempo de preparação para o nascimento de Jesus Cristo no Natal.
É hora de renovação das esperanças, com a advertência do próprio Cristo, quando diz: “Vigiai!”, para não sermos surpreendidos.

A chegada do Natal, preparado pelo ciclo do Advento, é a realização e confirmação da Aliança anunciada no passado pelos profetas. É a Aliança do amor realizada plenamente em Jesus Cristo e na vida de todos aqueles que praticam a justiça e confiam na Palavra de Deus.

Estamos em tempo de educar a nossa fé, quando Deus apresenta-se como oleiro, que trabalha o barro, dando-lhe formas diversas. Nós somos como argila, que deve ser transformada conforme a vontade do oleiro. É a ação de Deus na nossa vida, transformando-a do Seu jeito.

Neste caminho de mudanças, Deus deu-nos diversos dons conforme as possibilidades de cada um. E somos conduzidos pelas exigências da Palavra de Deus. É uma trajetória que passa pela fidelidade ao Todo-poderoso e ao próximo, porque ninguém ama a Deus não amando também o seu irmão.

O Advento é convocação para a vigilância. A vida pode ser cheia de surpresas e a morte chegar quando não esperamos. Por isso é muito importante estar acordado e preparado, conseguindo distanciar-se das propostas de um mundo totalmente afastado de Deus.

Outro facto é não desanimar diante dos tipos de dificuldades e de motivações que aparecem diante nós. Estamos numa cultura de disputa peço poder, de ocupar os primeiros lugares sem ser vigilantes na prestação de serviço. Quem serve, disse Jesus, é “servo vigilante”.

Confiar significa ter a sensação de não estar abandonado por Deus. Com isso, no Advento vamos sendo moldados para acolher Jesus no Natal como verdadeiro Deus.
Aquele que nos convoca a abandonar o egoísmo e seguir Jesus Cristo.

Preparar-se para o Natal já é ter a sensação das festas de fim de ano. Não sejamos enganados pelas propostas atraentes do consumismo.

O foco principal é Jesus Cristo como ação divina em todo o mundo.

HÉLDER GONÇALVES

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Sentido do Advento

Precisamos de compreender o significado do Advento, que vem do grego parusia, que significa presença, chegada, presença iniciada.

Nesse significado “presença iniciada de Deus”, o Todo-poderoso dá início ao mistério da redenção com a Sua presença. Presença de Deus no mundo que já começou e presença que apenas começou, não consumada, a qual vem para dissipar as trevas do mundo e dos nossos corações.
A presença do Cristo no mundo como Salvador.

Advento, a vinda do Senhor, já começada. Para levar o cristão a não ficar preso àquilo que passou, mas Àquele que virá. O nosso olhar deve estar voltado para o Senhor que vem.

Neste mistério do Advento precisamos de ter uma posição activa diante do Senhor e em preparação para Cristo fazer parte da nossa vida e vir ao nosso encontro.

São Bernardo ajuda-nos a compreender este mistério quando diz: “Este mistério é a revelação do próprio Deus em suas perfeições. É o plano concreto de Deus para a salvação do homem e a restauração do mundo todo em Cristo. Este plano é visto, não como um projeto hipotético, mas sim como um facto atual.
É o Reino de Deus entre nós este mistério só pode ser conhecido por aqueles que penetram n’Ele, que acham o seu lugar no Cristo Místico e por isso encontram o mistério realizado e preenchido em si mesmo”.

Por isso, este tempo é de penitência, mas com alegria predominante e não tristeza. Com a espiritualidade da esperança. Tempo de vigilância com lâmpadas acesas e preparados para a grande parusia.

Tempo de procurar os valores eternos, caminho de humildade, sobriedade, lealdade, a liturgia e firmes na fé.

É de recolhimento interior de compunção, princípio da conversão, uma transformação, a metanoia.

HÉLDER GONÇALVES

sábado, 7 de dezembro de 2013

Advento Catequese de Infância

Advento - Dinâmica para a Catequese de Infância



HÉLDER GONÇALVES

Advento Catequese de Adolescência

Advento - Dinâmica para a Catequese de Adolescência



HELDER GONÇALVES

Advento

O Ano Litúrgico começa com o tempo do Advento; um tempo de preparação para a Festa do Natal de Jesus.
Este foi o maior acontecimento da História: o Verbo fez-se carne e habitou entre nós. Dignou-se assumir a nossa humanidade, sem deixar de ser Deus.
Esse acontecimento precisa de ser preparado e celebrado a cada ano. Nestas quatro semanas de preparação, somos convidados a esperar Jesus que vem no Natal e que vem no fim dos tempos.

Nas duas primeiras semanas do Advento, a liturgia convida-nos a vigiar e a esperar a vinda gloriosa do Salvador. Um dia, o Senhor voltará para colocar um fim na História humana, mas o nosso encontro com Ele também está marcado para logo após a nossa morte.

Nas duas últimas semanas, lembrando a espera dos profetas e de Maria, nós preparamo-nos mais especialmente para celebrar o nascimento de Jesus em Belém.
Os Profetas anunciaram esse acontecimento com riqueza de detalhes: nascerá da tribo de Judá, em Belém, a cidade de Davi; seu Reino não terá fim… Maria O esperou com zelo materno e O preparou para a missão terrena.

Coroa do Advento:
Para nos ajudar nesta preparação usa-se a Coroa do Advento, composta por 4 velas nos seus cantos – presas aos ramos formando um círculo. A cada domingo acende-se uma delas. As velas representam as várias etapas da salvação. Começa-se no 1º Domingo, acendendo apenas uma vela e à medida que vão passando os domingos, vamos acendendo as outras velas, até chegar ao 4º Domingo, quando todas devem estar acesas.
As velas acesas simbolizam a nossa fé, a nossa alegria. Elas são acesas em honra do Deus que vem até nós.
Deus, a grande Luz, “a Luz que ilumina todo homem que vem a este mundo”, está para chegar, então, nós O esperamos com luzes, porque O amamos e também queremos ser, como Ele, Luz.

Termo:
Advento vem de adventus do latim, que significa vinda, chegada.

Sentido:
O sentido do Advento é avivar nos fiéis a espera do Senhor.

HÉLDER GONÇALVES

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