domingo, 24 de novembro de 2013

Falar com Deus

Havia um menino que queria encontrar-se com Deus. 
Ele sabia que tinha um longo caminho pela frente, portanto ele encheu a sua mochila com comida, e começou a sua caminhada. 
Quando ele andou três quarteirões, encontrou um velhinho sentado num banco da praça olhando para os pássaros. 
O menino sentou-se junto dele, abriu a sua mochila, e ia começar a comer, quando olhou para o velhinho e viu que ele estava com fome, e ofereceu-lhe um pão. 
O velhinho muito agradecido aceitou e sorriu ao menino. 
O seu sorriso era tão incrível que o menino quis ver de novo, e então ofereceu-lhe outro. 
Mais uma vez o velhinho sorriu ao menino. 
O menino estava tão feliz! 
Ficaram sentados ali a sorrirem, a comer e a beber durante o resto da tarde sem falarem um ao outro.

Quando começou a escurecer o menino estava cansado, e resolveu voltar para casa, mas antes de sair ele voltou-se e deu um grande abraço ao velhinho. 
O velhinho deu-lhe o maior sorriso que o menino já havia recebido. 

Quando o menino entrou em casa, a sua mãe surpreendida perguntou-lhe ao ver a felicidade estampada na sua cara: "O que fizeste hoje que estás tão feliz? 
Ele respondeu. "Passei a tarde com Deus!" E acrescentou: "Sabes, ele tem o mais lindo sorriso que eu nunca vi"

Durante esse tempo, o velhinho foi para casa com o mais radiante sorriso na cara e o seu filho perguntou-lhe: "Onde estiveste que estás tão feliz?" 
Ele respondeu "Comi no parque com Deus ". 

Antes que o seu filho pudesse dizer algo disse-lhe: "Tu sabes que ele é bem mais jovem do que eu pensava?" 

Nunca subestimes a força de um sorriso, o poder de uma palavra, de um ouvido para ouvir, um honesto elogio, ou até o menor acto de carinho. 
Tudo isso tem o potencial de fazer virar uma vida. 

HÉLDER GONÇALVES

sábado, 23 de novembro de 2013

Visão de Santo Anselmo

Revelação do Inferno por Santo Anselmo


1. Jazem nas 'trevas exteriores'.
Pois, lembrai-vos, o fogo do Inferno não emite nenhuma luz.
Assim como, ao comando de Deus, o fogo da fornalha babilónica perdeu o seu calor, mas não perdeu a sua luz, assim, no comando de Deus, o fogo no Inferno, conquanto retenha a intensidade do seu calor, arde eternamente nas trevas.

2. É uma tempestade que nunca mais acaba, de trevas, de negras chamas e de negra fumaça de enxofre a arder, por entre as quais os corpos estão amontoados uns sobre os outros, sem uma nesga de ar.
De todas as pragas com que a terra dos faraós foi flagelada, uma praga só, a das trevas, foi chamada de horrível.
Qual o nome, então, que devemos dar às trevas do Inferno, que hão de durar não por três dias apenas, mas por toda a eternidade?

3. O horror desta estreita e negra prisão é aumentado pelo seu tremendo cheiro activo.
Toda a imundície do mundo, todos os monturos e escórias do mundo, nos é dito, correrão para lá como para um vasto e fumegante esgoto, quando a terrível conflagração do último dia houver purgado o mundo.
O enxofre, também, que arde lá em tão prodigiosa quantidade, enche todo o Inferno com o seu intolerável fedor; e os corpos dos danados, eles próprios, exalam um cheiro tão pestilento que, como diz S. Boa-ventura, só um deles bastaria para infeccionar todo o mundo.

4. O próprio ar deste mundo, esse elemento puro, torna-se fétido e irrespirável quando fica fechado longo tempo.
Considerai, então, quanto deva ser (irrespirável) o fétido ar do Inferno.
Imaginai um cadáver fétido e pútrido, que tenha jazido a decompor-se e a apodrecer na sepultura, uma matéria gosmenta de corrupção líquida.
Imaginai tal cadáver preso das chamas, devorado pelo fogo do enxofre a arder e a emitir densos e horrendos fumos de nauseante decomposição repugnante.
E a seguir, imaginai esse fedor malsão multiplicado um milhão e mais outro milhão de milhões sobre milhões de carcaças fétidas comprimidas juntas na treva fumarenta, uma enorme fogueira de podridão humana.
Imaginai tudo isso e tereis uma certa ideia do horror do cheiro do Inferno.

5. Mas tal fedentina não é, horrível pensamento é este, o maior tormento físico ao qual os danados estão sujeitos. O tormento do fogo é o maior tormento ao qual o demo tem sempre sujeitado suas criaturas. Colocai o vosso dedo por um momento na chama duma vela e sentireis a dor do fogo. Mas o nosso fogo terreno foi criado por Deus para benefício do homem, para manter nele a centelha de vida e para ajudá-lo nas artes úteis, ao passo que o fogo do inferno é duma outra qualidade e foi criado por Deus para torturar e punir o pecador sem arrependimento.

6. O nosso fogo terrestre, outrossim, se consome mais ou menos rapidamente, conforme o objeto que ele ataca for mais ou menos combustível, a ponto de a ingenuidade humana ter-se sempre entregado a inventar preparações químicas para garantir ou frustrar a sua ação. Mas o sulfuroso breu que arde no inferno é uma substância que foi especialmente designada para arder para sempre e ininterruptamente com indizível fúria. Além disso, o nosso fogo terrestre destrói ao mesmo tempo que arde, de maneira que quanto mais intenso ele for mais curta será a sua duração; já o fogo do inferno tem esta propriedade de preservar aquilo que ele queima e, embora se enfureça com incrível ferocidade, ele se enfurece para sempre.

7. O nosso fogo terrestre, ainda, não importa que intensidade ou tamanho possa ter, é sempre duma extensão limitada; mas o lago de fogo do inferno é ilimitado, não tem praias nem fundo. E está documentado que o próprio demônio, ao lhe ser feita a pergunta por um soldado, foi obrigado a confessar que se uma montanha inteira fosse jogada dentro do oceano ardente do inferno seria queimada num instante como um pedaço de cera. E esse terrível fogo não aflige os danados somente por fora, pois cada alma perdida se transforma num inferno dentro de si mesma, o fogo sem limites se enraivecendo mesmo em sua essência. Oh! Quão terrível é a sorte desses desgraçados seres! O sangue ferve e referve nas veias; os cérebros ficam fervendo nos crânios; o coração no peito flamejando e ardendo; os intestinos, uma massa vermelha e quente de polpa a arder; os olhos. coisa tão tenra, flamejando como bolas fundidas.

8. Ainda assim, quanto vos falei da força, da qualidade e da ilimitação desse fogo é como se fosse nada quando comparado com a sua intensidade, uma intensidade que é justamente tida como sendo o instrumento escolhido pelo desígnio divino para punição da alma assim como do corpo igualmente. Trata-se dum fogo que procede diretamente da ira de Deus, trabalhando não por sua própria atividade, mas como um instrumento da vingança divina. Assim como as águas do batismo limpam tanto a alma como o corpo, assim o fogo da punição tortura o espírito junto com a carne.

9. Todos os sentidos da carne são torturados; e todas as faculdades da alma outro tanto: os olhos com impenetráveis trevas; o nariz com fétidos nauseantes; os ouvidos com berros, uivos e execrações; o paladar com matéria sórdida, corrupção leprosa, sujeiras sufocantes inomináveis; o tato com aguilhões e chuços em brasa e cruéis línguas de chamas. E através dos vários tormentos dos sentidos a alma imortal é torturada eternamente, na sua essência mesma, no meio de léguas e léguas de ardentes fogos acesos nos abismos pela majestade ofendida de Deus Onipotente e soprados numa perene e sempre crescente fúria pelo sopro da raiva da Divindade.

10. Considerai, finalmente, que o tormento dessa prisão infernal é acrescido pela companhia dos condenados mesmos. A má companhia, sobre a terra, é tão nociva que as plantas, como que por instinto, apartam-se da companhia seja do que for que lhes seja mortal ou funesto. No inferno, todas as leis estão trocadas lá não há nenhum pensamento de família, de pátria, de laços, de relações. O danado goela e grita um com o outro, sua tortura e raiva se intensificando pela presença dos seres torturados e se enfurecendo como ele.

11. Todo o senso de humanidade é esquecido. Os lamentos dos pecadores a sofrerem enchem os mais recuados cantos do vasto abismo. As bocas dos danados estão cheias de blasfêmias contra Deus e de ódio por seus companheiros de suplício e de maldições, contra as almas que foram seus companheiros no pecado. Era costume, nos antigos tempos, punir o parricida, o homem que havia erguido sua mão assassina contra o pai, arremessando nas profundezas do mar num saco dentro do qual também eram colocados um galo, um burro e uma serpente.

12. A intenção desses legisladores, que inventaram tal lei, a qual parece cruel nos nossos tempos, era punir o criminoso pela companhia de animais malignos e abomináveis. Mas que é a fúria dessas bestas estúpidas comparada com a fúria da execração que rompe dos lábios tostados e das gargantas inflamadas dos danados no inferno, quando eles contemplam em seus companheiros em miséria aqueles mesmos que os ajudaram e incitaram no pecado, aqueles cujas palavras semearam as primeiras sementes do mal em pensamento e em ação em seus espíritos, aqueles cujas sugestões insensatas os conduziram ao pecado, aqueles cujos olhos os tentaram e os desviaram do caminho da virtude? Voltam-se contra tais cúmplices e os xingam e amaldiçoam. Não terão, todavia, socorro nem ajuda; agora é tarde demais para o arrependimento.

13. Por último de tudo, considerai o tremendo tormento daquelas almas condenadas, as que tentaram e as que foram tentadas, agora juntas, e ainda por cima, na companhia dos demônios. Esses demônios afligirão os danados de duas maneiras: com a sua presença e com as suas admoestações. Não podemos ter uma idéia de quão terríveis são esses demônios. Santa Catarina de Siena uma vez viu um demônio e escreveu que preferia caminhar até o fim de sua vida por um caminho de carvões em brasa a ter que olhar de novo um único instante para tão horroroso monstro.

14. Tais demônios, que outrora foram formosos anjos, tornaram-se tão repelentes e feios quanto antes tinham de lindos. Escarnecem e riem das almas perdidas que arrastaram para a ruína. É com eles que são feitas, no inferno, as vozes da consciência. Por que pecaste? Por que deste ouvido às tentações dos amigos? Por que abandonaste tuas práticas piedosas e tuas boas ações? Por que não evitaste as ocasiões de pecado? Por que não deixaste aquele mau companheiro? Por que não desististe daquele mau hábito, aquele hábito impuro? Por que não ouviste os conselhos do teu confessor? Por que, mesmo depois de haveres tombado a primeira, ou a segunda, ou a terceira, ou a quarta ou a centésima vez, não te arrependeste dos teus maus passos e não voltaste para Deus, que esperava apenas pelo teu arrependimento para te absolver dos teus pecados? Agora o tempo para o arrependimento se foi. Tempo existe, tempo existiu, mas tempo não existirá mais!

15. Tempo houve para pecar às escondidas, para se satisfazer na preguiça e no orgulho, para ambicionar o ilícito, para ceder às instigações da tua baixa natureza, para viver como as bestas do campo, ou antes, pior do que as bestas do campo, porque elas, ao menos, não são senão brutos e não possuem uma razão que as guie; tempo houve, mas tempo não haverá mais. Deus te falou por intermédio de tantas vozes, mas não quiseste ouvir. Não quiseste esmagar esse orgulho e esse ódio do teu coração, não quiseste devolver aquelas ações mal adquiridas, não quiseste obedecer aos preceitos da tua Santa Igreja nem cumprir teus deveres religiosos, não quiseste abandonar aqueles péssimos companheiros, não quiseste evitar aquelas perigosas tentações. Tal é a linguagem desses demoníacos atormentadores, palavras de sarcasmo e de reprovação, de ódio e de aversão. De aversão, sim! Pois mesmo eles, os demônios propriamente, quando pecaram, pecaram por meio dum pecado que era compatível com tão angélicas naturezas: foi uma rebelião do intelecto; e eles, estes mesmos, têm que se afastar, revoltados e com nojo de terem de contemplar aqueles pecados indizíveis com os quais o homem degradado ultraja e profana o templo do Espírito Santo, e se ultraja e avilta a si mesmo.

HÉLDER GONÇALVES

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Catedral de Notre-Dame de Paris - França



A Catedral de Notre-Dame de Paris é uma das mais antigas
catedrais francesas em estilo gótico.

Iniciada a sua construção no ano de 1163, é dedicada a Maria, Mãe de Jesus Cristo (daí o nome Notre-Dame – Nossa Senhora), situa-se na praça Parvis, na pequena ilha Île de la Cité em Paris, França, rodeada pelas águas do Rio Sena.

A catedral surge intimamente ligada à ideia de gótico no seu esplendor, ao efeito claro das necessidades e aspirações da alta sociedade, a uma nova abordagem da catedral como edifício de contacto e ascensão espiritual.

A arquitectura gótica é um instrumento poderoso no seio de uma sociedade que vê, no início do século XI, a vida urbana transformar-se a um ritmo acelerado. A cidade ressurge com uma extrema importância no campo político, no campo económico (espelho das crescentes relações comerciais), ascendendo também, por seu lado, a burguesia endinheirada e a influência do clero urbano. 

Resultado disto é uma substituição também das necessidades de construção religiosa fora das cidades, nas comunidades monásticas rurais, pelo novo símbolo da prosperidade citadina, a catedral gótica. 

E como reposta à procura de uma nova dignidade crescente no seio de França, surge a Catedral de Notre-Dame de Paris.

HÉLDER GONÇALVES

domingo, 17 de novembro de 2013

Jesus Cristo no seu tempo

Um país ocupado pelos Romanos, uma actividade rural intensa, uma religião omnipresente…

Eis o pano de fundo da Palestina quando aparece Jesus.



Sob o controle romano
Jesus nasce numa Palestina administrada pelos Romanos desde 63 AC.
O ocupante delega o seu poder num judeu Herodes o Grande. Este fez pesar o seu poder: impostos, controle na nomeação dos novos sacerdotes e, segundo a vontade do imperador, recenseamento regular (obrigando Maria e José a descerem a Belém).
No ano 6, Archélaos, filho de Herodes, foi exilado: Judeia e Samaria passaram para o controle de Roma. Pôncio Pilatos é nomeado procurador. A Galileia fica governada por conta do Império, por Herodes Antipas, um outro filho de Herodes o Grande. Aquando da sua Paixão, Jesus, porque é galileu, será julgado por Herodes Antipas e por Pôncio Pilatos; estes acontecimentos acontecem em Jerusalém.

Um mundo de artesãos e aldeãos
Na Galileia, a primeira actividade económica não é a carpintaria! Mesmo se os carpinteiros, ferreiros, cordoeiros são essenciais, a principal ocupação é a agricultura.
Muitas famílias são proprietárias porque, no tempo dos Macabeus (2 séculos AC), as terras foram largamente distribuídas.
Os aldeãos cultivam o trigo, o linho, o azeite, a vinha, os figos ou criam rebanhos de ovelhas. Um pouco mais longe, a pesca é uma actividade lucrativa: o lago de Tiberíades é conhecido pelas suas águas ricas em peixe. Jesus, banhado neste ambiente, multiplicará as imagens rurais ( «Um semeador saiu a semear…»).

A família, centro de tudo
A celebração do casamento (como as Bodas de Canná) podem durar uma semana, sinal do carácter central da família na sociedade. Na maior parte das casas dos aldeãos, parentes, crianças e noivos vivem debaixo do mesmo teto.
Eles têm pouco conforto e pouca vida privada.

As crianças por vezes esquecidas
Jesus, escolhe de pôr em evidencia os mais pequenos aos quais lhes presta atenção. As famílias são muitas vezes numerosas, os pais trabalham muito e, por necessidade, as crianças são rapidamente iniciadas a uma profissão. Aos 13 anos, os rapazes obtêm o reconhecimento da comunidade. Na Sinagoga, eles celebram a “bar-mitsva” lendo e comentando a Escritura pela primeira vez. Como os outros, Jesus viveu este ritual como passagem para a idade adulta.

Jerusalém, Cidade santa
«Que alegria quando me disseram: vamos para a casa do Senhor, os nossos passos se detêm, ás tuas portas Jerusalém»
Eis o que cantam os peregrinos á sua chegada á Cidade santa, conquistada por David 1000 AC. Eles querem rezar no Templo (construído uma primeira vez 950 AC), sinal da presença de Deus no meio do seu povo.
Os Judeus têm o propósito de lá ir ao menos uma vez por ano. É o que fará pela primeira vez Jesus quando atingir 12 anos. Adulto, ele voltará e será célebre no dia dor “Ramos” pouco antes da Paixão.

O Templo no coração da fé
O templo de Jerusalém está nas mãos do sacerdote, escolhido no meio das famílias sacerdotais e aristocráticas. O culto do sacrifício supõe o comércio de animais puros, incenso ou madeira.
Os comerciantes proliferam e por isso, para alegria dos responsáveis do culto ganham a sua parte de benefício. Jesus fica ofuscado. Para Ele, o Templo é em primeiro de tudo a casa de Deus e o culto é antes de tudo um sacrifício espiritual. Ele expulsa os comerciantes para dar ao Templo a sua vocação. Ele criou inúmeros inimigos mesmo entre os mais notáveis.

As festas que ritmão a vida
Quando Jesus instituiu a Eucaristia, Ele enraíza-se na história das festas religiosas populares. A partilha do pão e do cálice intervém no momento da festa de Pessach (Páscoa) que comemora a travessia do mar vermelho pelos Hebreus e a sua libertação da escravatura do Egipto.

HÉLDER GONÇALVES

Cruz da Ordem de Malta

A Ordem de Malta – nome pelo qual é vulgarmente designada aquele que também é conhecida como Ordem Religiosa Militar do Hospital, Ordem dos Cavaleiros de São João de Jerusalém ou Ordem de Rodes – foi fundada no século XI, em Jerusalém por Gerardo de Tenque.

O objectivo inicial desta ordem religiosa era o de prestar assistência aos peregrinos e doentes na Cidade Santa, onde construiu o seu primeiro hospital, dedicado a São João Baptista.

Aprovada pelo Papa em 1113, a Ordem de Malta alargou rapidamente o seu âmbito de acção, passando igualmente a defender os peregrinos cristãos dos ataques dos muçulmanos, a proteger os lugares santos e a apoiar as cruzadas.

Quando os cristãos foram expulsos dos lugares santos, em 1187, os Cavaleiros de São João passaram por São João de Acre e por Chipre, antes de se fixarem em Rodes, 1309, e em Malta 1530.

Em 1798 foram forçados a abandonar a ilha de Malta e, finalmente, numa altura em que desenvolviam novamente apenas acções de beneficência, fixaram sede em Roma.

Apesar de fortemente ligada ao Vaticano, a Ordem de Malta é uma entidade independente e soberana, mesmo à luz do direito internacional, mantendo relações diplomáticas com um número elevado de países.

Em Portugal existem Hospitaleiros desde 1116, que se estabeleceram inicialmente no Mosteiro de Leça do Bailio.

Em 1899, depois de vicissitudes várias, entre as quais a extinção das ordens militares do país, foi constituída a instituição de beneficência Assembleia dos Cavaleiros Portugueses da Soberana Ordem de Malta.

A Cruz da Ordem de Malta, também venerada como símbolo sanjoanino, é branca e octogonal, numa referência às oito bem-aventuranças.

HÉLDER GONÇALVES

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Inquietação

Inquietação. Palavra pouco mencionada mas muito sentida. Sente-se sobretudo o seu efeito desgastante nas relações familiares, profissionais e pessoais. É como um nervoso miudinho que não deixa espaço para a reflexão, para o equilíbrio e a tranquilidade. É uma agitação constante que dá conta de tudo excepto do que é fundamental. É uma asfixia do outro quando não se sente bem consigo próprio.

O que poderá gerar a inquietação?
Provavelmente um mal-estar interior fruto de um activismo exagerado. Ou o culminar de um conjunto de situações mal resolvidas e calcadas no nosso inconsciente. As causas podem ser tantas quantas as pessoas, mas os efeitos são sempre os mesmos: falta de serenidade, falta de reflexão, falta de aceitação, falta de compreensão.

O mal não é recente. Já Jesus tinha prevenido a irmã de Maria: «Marta, Marta, andas inquieta e perturbada com muitas coisas; mas só uma é necessária.» (Lc 10,41)  E é precisamente na dificuldade da escolha do que é mais necessário que começa a inquietação.

Na nossa vida, cada vez mais complexa, vão aparecendo cada vez mais coisas necessárias. Algumas inúteis, outras desnecessárias, poucas fundamentais. A alegada falta de tempo está na base da inquietação. Interessante será perceber se a inquietação aparece pela falta de tempo ou se a falta de tempo é uma desculpa para esconder a inquietação.

Percebemos que alguém anda inquieto quando as atitudes e reacções são desproporcionadas em relação ao estímulo inicial. E não é difícil encontrar na vida quotidiana, nas diversas faixas etárias e condições de vida, estas atitudes em discussões, troca de ameaças, intolerância, actos de violência gratuita, falta de respeito.

Uma ajuda eficaz para vencer a inquietação encontramo-la na oração, no encontro pessoal com Cristo. Este foi o convite que Jesus faz a Marta. Primeiro ouvi-l’O, depois o resto. A oração deve ser um momento quotidiano, não apenas esporádico ou quando nos encontramos aflitos. Mas tal como se constrói uma relação com os outros, o mesmo é possível com Deus a partir da oração.

O primeiro beneficio da oração reside precisamente no encontro connosco próprios. Com os nossos problemas, as nossas ânsias e contrariedades. Tomada consciência da situação, estaremos mais abertos para perceber o caminho a percorrer e as escolhas a fazer. Porque, como diz São Paulo, «tudo é bom mas nem tudo nos convém».

Então aproveite este momento. Faça uma pausa, respire fundo, entre em sintonia com Deus, peça ajuda a Nossa Senhora e sinta a inquietação desaparecer dando lugar à serenidade.

HÉLDER GONÇALVES

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Kailas - Tibete

Conhecido entre os Tibetanos como Gang Rinpoche, a preciosa jóia das neves, o monte Kailas, de 6716 metros, está separado dos grandes Himalaias pelos rios Tsangpo e Sutlej, que são alimentados pelos lagos mais elevados do planeta, acima dos 4500 metros de altitude.


Este cume ergue-se numa região desolada duma enorme extensão lunar atacada por ventos ferozes onde apenas alguns pastores nómadas conseguem sobreviver.

O primeiro ocidental a ver este indómito canto do Tibete foi o Jesuíta italiano Ippolito Desideri, que aqui chegou depois de grandes esforços em 1715.

O Monte Kailas é uma montanha do Tibete, considerada como um dos lugares mais sagrados para os hindus e budistas.

Situada na prefeitura de Ngari, junto aos lagos Manasarovar e do Rakshasta, é a nascente de quatro dos maiores rios da Ásia: o Ganges, o Bramaputra, o Indo e o Sutlej.

Para os hindus o cume do Kailas é considerado a residência de Shiva e de sua SháktiParvati — literalmente filha da montanha —, o que explica o seu carácter sagrado para os hindus, que vêm também a montanha como um lingan acompanhado da yoni simbolizada pelo Lago Manasarovar.

Os budistas consideram-na o centro do universo (cada budista aspira em dar-lhe a volta) e para os hindus é a morada de Xiva.

Os jainistas e bonpos (religião tradicional do Tibete anterior ao budismo) também consideram a montanha sagrada. As proximidades da montanha divina são lugares santos onde "as pedras rezam".

Segundo uma lenda, durante uma disputa com um monge bön, o mestre Milarepa, para mostrar a sua superioridade, ter-se-ia transportado para o cimo da serra sobre um raio de sol.

A lenda diz que o seu cume é o centro do universo, literalmente «o umbigo do mundo». Este foi um lugar importante durante mais de mil anos.

Os devotos devem rodear a monte, um circulo de 52 quilómetros, e depois mergulhar no gélido lago Manasarovar, um dos mais importantes parikramas que um budista ou um hinduísta pode realizar na vida.

Mais concretamente, a crença budista reside na ideia de que um peregrino pode alcançar o nirvana contornando o monte Kailas 108 vezes, 5615 Km ao todo, por isso alguns tibetanos são capazes de completar uma «órbita» por dia.

Desde 1982, o governo chinês restringiu a visita aos lugares sagrados do cume e dos lagos próximos.

HÉLDER GONÇALVES

sábado, 9 de novembro de 2013

Anseio por Deus

Santo é todo aquele que anseia por Deus, responde ao Seu chamamento e entusiasma os seus irmãos a seguirem o mesmo caminho de santidade.

A santidade cristã é um dom de Deus à Sua Igreja e consiste na união com Cristo, Verbo encarnado e nosso redentor, único mediador entre Deus e os homens e fonte de graça e santificação.

A Igreja é santa porque Cristo nos amou como Sua esposa e deu a vida por ela, para que ela se santificasse. Por isso, a santidade da Igreja deriva da santidade e do amor de Cristo.

Todos na Igreja são chamados á santidade, como diz o Apóstolo Paulo: «A vontade de Deus é que vos santifiqueis» (1Ts 4,3).

Mas se todos somos chamados á santidade, nem todos são chamados à mesma intensidade e profundidade de união com Cristo, pois a resposta ao amor de Deus deve ser dada segundo as capacidades e possibilidades de cada um. Por esse motivo temos santos mártires, pastores e doutores da Igreja, virgens, educadores, etc…

Assim sendo, santo é todo aquele que no âmbito das suas limitadas mas irrepetíveis características, qualidades e circunstâncias pessoais, vocação e graça dada por Deus, «segundo a medida da doação de Cristo» (Ef 4,7), se abre e corresponde à graça recebida e, conformando-se a Cristo, vive em plenitude o dom da vida que lhe foi dado, permitindo que Cristo viva em si mesmo. Quem vive esta santidade participa e partilha a vida e o amor de Cristo e a Sua bondade, em situações concretas e no ambiente em que vive.

O Papa João Paulo II, disse um dia: «Nós que temos a graça de acreditar em Cristo, revelador do Pai e salvador do mundo, temos o dever de mostrar a profundidade a que pode levar a relação com Ele. A grande tradição mística da Igreja, tanto no Oriente como no Ocidente, pode dizer muito a esse propósito.

Ela mostra como a oração pode progredir, como verdadeiro diálogo de amor, até tornar a pessoa humana totalmente possuída pelo amor divino, vibrando com o sopro do Espírito, filialmente abandonado ao coração do Pai. (…) Trata-se de um caminho inteiramente sustentado pela graça, que pede um forte empenho espiritual e chega a conhecer dolorosas purificações (“a noite escura”) mas aproxima-se, através de diversas formas possíveis, à imensa alegria vivida pelos místicos como união matrimonial.» (NMI, n35).

HELDER GONÇALVES

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Caminho Françês de Santiago

Este é o resultado da minha queda no caminho francês. 

Já lá vão 2 meses e a recuperação ainda está longe do fim.

Mesmo assim, encontro-me ansioso de regressar ao caminho.

Não vai ser isto que me vai fazer desanimar nem impedir de regressar um dia, que espero seja em breve.

HÉLDER GONÇALVES


quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Experiência de Deus

A nossa experiência de Deus é dupla:

a) Presença transcendente e imanente de Deus Criador.

b) Presença misericordiosa, cujo amor total nos estabelece num pé de igualdade com Deus: “Já não vos chamo servos, mas amigos” (Jo 15,15), pois o amor cria igualdade: e o amor de Deus, sem limites, foi para isso até à morte e à Eucaristia.

Esta experiência de Deus é mais discreta que a experiência de Deus Criador, pois o amor de Deus esconde-se durante a peregrinação de fé em que Ele nos acompanha.

Ele está junto de nós como uma fonte escondida.
Se Ele se revelasse nós já não seríamos desta terra: “ninguém pode ver a Deus sem morrer”, diz a Bíblia.

A experiência de Deus Criador, podemos de alguma maneira aceder a ela, através dos nossos recursos humanos, olhando para as coisas criadas; mas o Amor Salvador é o fruto de um dom gratuito.

Nós temos de realizar em nós a verdade do Amor Salvador.

- Isto supõe a ordem da nossa vida, a sua rectidão, pois os nossos pecados, obscurecem a experiência do Amor misericordioso que nos salva, donde a insistência de Cristo sobre a importância de realizar os seus mandamentos.

- Esta verdade realiza-se pela caridade, pelo serviço dos outros.

- Realiza-se nos actos de culto, onde Cristo constrói e alimenta o Seu Corpo que é a Igreja e o faz frutificar.

- Esta experiência de Deus realiza-se na experiência da fé e quem faz essa experiência aproxima-se da luz.

Deus é tudo.
Ele é suficiente e o único necessário.
Mas Ele criou-nos homens e toma-nos a sério… até à loucura.

O nascimento humano e a morte do Filho de Deus são a prova disso. Para o Homem, a resposta adequada às questões essenciais é Deus, mas, depois disso, é o Homem. Com efeito, nós somos apenas Homens.
É como Homem no belo quadro da natureza humana que Deus nos convida gratuitamente a sermos seus comensais.

O humanismo perdeu Deus e perdeu-se a si próprio pelo pecado.
É reencontrando Deus que o Homem se reencontrará, pois a sua identidade brota do próprio Deus, como Criador e como Salvador.
Ela brota do Amor Criador.

O Homem que nós somos apenas atinge Deus humanamente, nessa humanidade que é o nosso lugar, a nossa vida, a nossa medida.
Temos, portanto, de entrar em contacto com Deus como Homens, lenta e progressivamente e à medida de Deus, pois Deus diviniza-nos.
Diviniza-nos, mas segundo a nossa natureza humana.

Nós não somos chamados a ser um Super-Homem: um homem inchado, enfunado, com voltagem reforçada.

Somos divinizados na nossa pequenez e na nossa própria humildade, de acordo com a capacidade de amor que o Criador colocou em nós.

Nós somos divinizáveis, porque criados à imagem de Deus.
As nossas capacidades de conhecimento, de liberdade, a de amor, tornam-se capazes de aceder à imagem e semelhança de Deus pela graça divina.

HÉLDER GONÇALVES

sábado, 2 de novembro de 2013

Sofrimento com Esperança

Falar do sofrimento humano é falar da história humana. Um mistério que a todos toca independentemente da idade, sexo ou cor. 

É mais um mistério para viver do que um problema para resolver. E mais cedo ou mais tarde cada um de nós encontrar-se-á com o sofrimento nas suas múltiplas formas e manifestações: mortes imprevistas, injustiças, doenças ou rejeições, incompreensões e desgostos.

Todos os dias, o sofrimento bate á porta de milhares de pessoas. Todos os dias se procuram soluções ou analgésicos para atenuar a dor. Todos os dias, certamente, nos questionamos sobre o sentido do sofrimento.

João Paulo II, na Carta Apostólica Salvifici doloris, diz que: «O sofrimento desperta compaixão e também respeito e, a seu modo, intimida. De facto, nele está contida a grandeza de um mistério específico. À volta do tema do sofrimento há dois motivos que se parecem aproximar particularmente e unir: a necessidade de coração ordena-nos que vençamos o temor e o imperativo da fé fornece o conteúdo, em cujo nome e em cuja força ousamos tocar o que parece tão intangível em todos os homens; é que o Homem, no seu sofrimento, continua a ser um mistério intangível». (Nº 4)

A verdade é que o sofrimento, seja físico, psíquico ou espiritual, é um companheiro de viagem para toda a vida, quer queiramos, quer não. Mas em caso de dúvida o melhor é prevenirmo-nos, consciencializando-nos de que faz parte da nossa natureza humana.

Sabemos que Deus não quer o sofrimento para os Seus filhões. Mas, por vezes, permite a dor para que, através da sua pedagogia divina, tenhamos consciência da nossa condição frágil. Experimentamos recordar: não será nos momentos de maior sofrimento que recorremos mais rapidamente a Ele e colocamos nas Suas mãos o nosso agir?
Não será nesses momentos que nos aproximamos d’Ele e Lhe perguntamos o que quer que façamos?

Deus quer a nossa felicidade. E a nossa felicidade é fazer a vontade de Deus. O problema é que por vezes teimamos em sermos senhores da nossa vida, colocando-nos no lugar de Deus. Perante o sofrimento é preciso agir.

HÉLDER GONÇALVES 

Epiclese

Na teologia cristã Epiclese (do grego antigo: ἐπίκλησις - epíklesis, fusão das palavras pí e kaleô: "chamar sobre") é a oração de invocação que pede a descida do Espírito Santo nos sacramentos .

Na Oração Eucarística da Missa há duas epicleses (cf. IGMR 79c):

a) a que o sacerdote pronuncia sobre os dons do pão e do vinho, com as mãos estendidas sobre eles, dizendo, por exemplo: «Santificai estes dons, derramando sobre eles o Vosso Espírito, de modo que se convertam, para nós, no Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo» (Oração II) – é a epiclese «consacratória»; outras Orações Eucarísticas pedem que o Espírito «torne», «abençoe», «santifique», «transforme» o pão e o vinho;

b) a que o sacerdote diz na mesma Oração Eucarística, depois do memorial e da oferenda, pedindo a Deus que de novo envie o seu Espírito, desta vez sobre a comunidade que vai participar da Eucaristia, para que também ela se transforme, ou se vá construindo na unidade: «humildemente Vos suplicamos que, participando do Corpo e Sangue de Cristo, sejamos pelo Espírito Santo congregados na unidade» (Oração II) – é a epiclese «de comunhão», que, noutras Orações Eucarísticas, pede que «sejamos em Cristo um só corpo e um só espírito»; «Derramai sobre nós o Espírito… fortalecei o vosso povo com o Corpo e o Sangue do vosso Filho e renovai-nos a todos à sua imagem»…

O Catecismo da Igreja Católica possuí vários cânones e instruções sobre a necessidade e o meio de aplicar a epiclese.

Existem diferentes interpretações sobre o significado da epiclese entre católicos e ortodoxos, enquanto os ortodoxos professam ser essencial na Liturgia Eucarística a epiclese antes das palavras da consagração; os católicos crêem que a consagração do pão e do vinho se faz pela repetição das palavras de Cristo: "Isto é o meu corpo... Isto é o meu sangue...", de facto, a epiclese não constava originalmente no Cânon Romano (Oração Eucarística nº 1), embora as Orações Eucarísticas compostas após o Concílio Vaticano II (1962-65) incluam a invocação, não para corrigir uma suposta falha anterior, mas apenas como fidelidade a uma antiga tradição.

Existem dois tipos de epiclese, a "epiclese sacramentária", que é a epiclese propriamente dita, em que se invoca o Espírito Santo sobre os sacramentos, e a "epiclese em sentido lato", que consta nas orações litúrgicas, por exemplo, nas conclusões de orações: "em unidade do Espírito Santo".

A epiclese não faz só parte da Eucaristia. A oração consacratória central de todos os sacramentos, depois da anamnese ou memória de louvor a Deus, contém sempre a oração de epiclese:

- pede-se-lhe que santifique a água do Baptismo: «Receba esta água, pelo Espírito Santo, a graça de vosso Filho Unigénito, para que o homem, criado à vossa imagem, no sacramento do Baptismo seja purificado das velhas impurezas e ressuscite homem novo pela água e pelo Espírito Santo»;

-  na Missa Crismal invoca-se o Espírito sobre os óleos para os sacramentos e, a seguir, na Confirmação, pede-se a Deus que envie o seu Espírito sobre os confirmandos para que os encha de seus dons;
- no sacramento da Reconciliação também se nomeia o Espírito: «enviou o Espírito Santo para remissão dos pecados»;

- na Unção dos Doentes o sacerdote ora pelo doente na fé da Igreja: «é a epiclese própria deste sacramento» (CIC 1519);

- no sacramento da ordem é onde, talvez, com maior expressividade o bispo, impondo as mãos sobre a cabeça dos ordenandos e pronunciando a seguir a invocação do Espírito, põe em relevo a força da epiclese;

- e, finalmente, no Matrimónio: «Na epiclese deste sacramento, os esposos recebem o Espírito Santo como comunhão do amor de Cristo e da Igreja» (CIC 1624).

Invocando a força do Espírito nos nossos sacramentos, estamos a reconhecer que é Deus quem salva e que o protagonismo é da acção do seu Espírito santificador. 

HÉLDER GONÇALVES

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