PÁGINAS

sábado, 14 de abril de 2012

DIVINA MISERICÓRDIA

II Domingo de Páscoa

«Ó Senhor! Que eu não seja incrédulo mas crente» (Jo, 20, 27)»


1. No evangelho de S. João (20, 19-29), o relato da aparição de Jesus aos apóstolos reunidos no cenáculo aprenta-se enriquecida com pormenores de grande interesse. Na tarde da Ressureição, depois de ter confiado aos seus a missão recebida do Pai - «assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós» - comunicou-lhes o Espirito Santo. «Soprou sobre eles e disse-lhes: recebei o Espirito Santo; os pecados ficarão perdoados àqueles a quem os perdoardes; e ficarão retidos àqueles que os retiverdes». Não se trata do dom do Espirito Santo em forma visível e pública, como acontecera no dia de Pentecostes; no entanto, é muito significativo que, no próprio dia da Ressureição, Jesus tenha derramado sobre os apóstolos o Seu Espirito. Desta maneira, o Espirito Santo aparece como o primeiro dom de Cristo ressuscitado à sua igreja no momento em que esta é por Ele instituída e enviada a perpetuar a sua missão no mundo. E com a efusão do Espirito Santo, a instituição da penitência que, juntamente com o Baptismo e a Eucaristia, é um sacramento eminentemente pascal, sinal eficaz da remissão dos pecados e da reconciliação dos homens com Deus realizadas pelo sacrifício de Cristo.

Mas, naquela tarde, Tomé estava ausente, quando regressa não quer acreditar que Jesus tenha ressuscitado: «senão lhe vir nas mãos a marca dos cravos, se não meter o dedo no sítio dos cravos e a mão no Seu lado, não acreditarei». Não se contenta com ver, mas tem que meter a mão nas profundidades das chagas. Jesus toma-lhe a palavra. «oito dias depois» volta e diz-lhe: «chega aqui o teu dedo e vê as minhas mãos, aproxima a tua mão e mete-a no Meu lado: e não sejas incrédulo, mas crente». O Senhor tem compaixão da teimosa incredulidade do apóstolo e, com infinita bondade, oferece-lhe as provas exigidas por ele com tão grande arrogância. Tomé dá-se por vencido e a sua incredulidade desaparece num grande acto de fé: «meu Senhor e meu Deus!» este precioso ensinamento é uma admoestação para todos os crentes para que não desanimem nas suas dúvidas e dificuldades que possam ter para acreditar. Antes, é necessário sentir compaixão pelos que vacilam e não acreditam e ajudá-los com a oração, lembrando que «o amor de Cristo incita-nos a agir com amor, prudência e paciência para com os homens que se encontram no erro ou na ignorância relativamente a fé»


2. «Porque me viste, acreditaste, felizes os que acreditam sem ter visto» (Jo 20,29). Deste modo, Jesus louva a fé de todos que haveriam de acreditar n´Ele sem o apoio de experiências sensíveis. O elogio de Jesus ecoa na voz de Pedro, comovido pela fé viva dos primeiros cristãos que acreditavam em Jesus como se O tivessem conhecido pessoalmente: «vós amais Jesus Cristo sem o terdes conhecido. Ele, como n´Ele acreditais sem o verdes ainda estais cheios de alegria indiscritível e gloriosa» (I Ped 1,8). Eis aqui a bem-aventurança dos crentes de todos os tempos. Diante das dificuldades e da fadiga para crer é preciso recordar as palavras de Jesus para encontrar nelas o amparo de uma fé despojada e nua, mas com a garantia de estar fundamentada na Palavra de Deus.

A fé em Cristo era a força que congregava os primitivos cristãos numa coesão perfeita de sentimentos e de via: «a multidão dos que abraçavam a fé tinha um só coração e uma só alma» (Act 4,32). Era esta a característica fundamental da primeira comunidade cristã nascida do «poder» com que «os apóstolos davam testemunho da Ressureição do Senhor», e do correspondente poder da fé de cada um dos crentes: a fé tao arreigada que os levava a renunciarem, voluntariamente, aos próprios bens para os colocar à disposição dos mais necessitados, considerados verdadeiramente irmãos em Cristo, não era uma fé de teorias, ideologias, mas sim tão concreta e operante, que causava uma admiração completamente nova na vida dos crentes , não apenas no âmbito das relações para com Deus e da oração, mas também no das relações para com o próximo e até no âmbito dos interesses materiais em que o homem é extremamente zeloso. É esta a fé que, hoje, tanto escasseia: para muitos que dizem ser crentes, a fé não exerce influência alguma nos seus costumes nem na sua vida. Um cristianismo assim não convence, nem converte o mundo. É preciso voltar a acomodar a própria fé profunda, pois que no poder da fé, esta a certeza da vitória dos cristãos. «é esta a vitoria que vence o mundo: a nossa fé! Quem é que vence o mundo senão aquele que crê que Jesus é Filho de Deus!» (I Jo, 5, 4-5)


Meu Deus, adoro-te como o apóstolo Tomé. Se pequei por incredulidade como ele, adoro-te agora mais profundamente «meu Senhor e meu Deus», meu Deus e meu tudo. A Ti e só a Ti devo desejar!

Tomé aproximou-se para tocar nas tuas Santíssimas Chagas. Chegara o dia em que eu possa, de modo real e visível, inclinar-me para as beijar? Que diz feliz será esse em que, completamente livre de qualquer rasto de impureza e de pecado, possa aproximar-me do Deus feito homem no Seu trono de glória! Que maravilhoso amanhecer aquele em que, expiadas as minhas culpas, poderei ver, pela primeira vez, com estes meus olhos, o Teu rosto Divino, fixá-los no Teu olhar e aproximar-me, sem temor para beijar, cheio de alegria, os Teus pés e ser recebido nos teus braços. Ó único e verdadeiro amigo da minha alma, quero, desde já, amar-Te para poder amar-Te nesse dia!

Será um dia eterno, sem fim e tão diferente dos dias desta vida. Agora sinto sobre mim o peso «corpo mortal»; mil pensamentos me assaltam e me distraem e cada um deles seria suficiente para me afastar do Céu. Mas, naquele dia, já não haverá possibilidade alguma do pecado… prefeito e agradável aos teus olhos, poderei mantes a tua presença sem temor e, rodeado dos anjos e arcanjos, já não terei vergonha de ver que me observam.

Embora não esteja ainda preparado para Te ver e tocar, ó meu Deus, quero aproximar-me de Ti e alcançar, com o desejo, aquilo que, por agora, não posso conseguir.

Ó Senhor Jesus Cristo! Não te contemplamos na carne com os olhos do corpo e no entanto sabemos, acreditamos e professamos que Tu és Deus verdadeiro. Ó Senhor! Que esta nossa profissão de fé nos leve para a glória, que esta fé nos salve na segunda morte, que esta esperança nos conforte quando chorarmos no meio de tantas tribulações e nos conduza às alegrias eternas. E, após a provação desta vida, quando chegarmos à meta da vocação celeste e contemplando o Teu Corpo glorificado em Deus… também os nossos corpos hão-de participar da Tua glória, ó Cristo, nossa cabeça.

RICARDO IGREJA

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