quinta-feira, 15 de março de 2012

PÔNCIO PILATOS

QUEM ERA PÔNCIO PILATOS?


Pôncio Pilatos desempenhou o cargo de prefeito da província romana da Judeia desde o ano 26 d.C. até ao ano 36 ou início do ano 37 d.C. A sua jurisdição estendia-se também à Samaria e Idumeia. Não sabemos nada de certo sobre a sua vida antes dessas datas. O título do cargo que desempenhou foi o de praefectus, como era chamado até ao imperador Cláudio e como o confirma uma inscrição descoberta em Cesareia. O título de procurator, utilizado por alguns autores antigos referindo-se ao seu cargo, é um anacronismo. Os Evangelhos referem-se a ele pelo título genérico de «governador». Como prefeito competia-lhe manter a ordem na província e administrá-la, tanto do ponto de vista judicial como financeiro. Portanto, devia estar à frente do sistema judicial (como consta que aconteceu aquando do julgamento de Jesus) e recolher tributos e impostos para prover às necessidades da província e de Roma. Desta última actividade não há provas directas, ainda que o incidente do aqueduto narrado por Flávio Josefo (ver mais abaixo) seja certamente uma sua consequência. Alem disso, foram encontradas moedas cunhadas em Jerusalém nos anos 29, 30 e 31, sem dúvida por ordem de Pilatos.

Acima de tudo, porém, o prefeito romano passou à história por ter ordenado a execução de Jesus de Nazaré; ironicamente, o seu nome entrou, por essa mesma razão, no símbolo da fé cristã: «Padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado…».

Segundo Filón e Flávio Josefo, as suas relações com os Judeus não foram nada boas (a informação sobre Pilatos aparece em Filón, ‘Embaixada a Gayo’, 299-306 e Flávio Josefo, ‘Antiguidades Judaicas’, 18,55-62; ´A Guerra dos Judeus´, 2,169-177). Na opinião de Josefo, os anos que Pilatos passou na Palestina foram muito agitados, e Filón afirma que o governador se caracterizava pela «sua venalidade, violência, roubos, assaltos, conduta abusiva, frequentes execuções de prisioneiros sem julgamento prévio e pela sua ferocidade sem limites» (Embaixada a Gayo, 302).

Embora estas apreciações sejam certamente influenciadas pela intencionalidade e compreensão próprias destes dois actores, a crueldade de Pilatos é manifesta, como sugere Lc 13,1, onde se menciona o incidente dos galileus cujo sangue o governador misturou com o dos seus sacrifícios.

Josefo e Filón narram ainda que Pilatos introduziu em Jerusalém umas insígnias em honra de Tibério, que originaram uma grande revolta, forçando-o por fim a levá-las para Cesareia. Josefo relata, noutra passagem, que Pilatos utilizou fundos sagrados para construir um aqueduto. A decisão originou uma revolta, que foi suprimida de forma sangrenta. Um último episódio relatado por Josefo é o da violenta repressão de samaritanos no monte Garizim, no ano 35. Os samaritanos enviaram então uma delegação ao governador da Síria, Lúcio Vitélio, que suspendeu Pilatos do seu cargo. Este foi chamado a Roma, para apresentar explicações, mas só lá chegou depois da morte de Tibério (Antiguidades Judaicas, 18,85-89). Segundo uma tradição recolhida por Eusébio, caiu em desgraça sob o império de Calígula, acabando por se suicidar.

Nos seculos seguintes, surgiram todo o tipo de lendas sobre a sua pessoa. Umas atribuíram-lhe um fim assustador, no Tibre ou em Vienne (França), enquanto outras (sobretudo as Actas de Pilatos, que na Idade Média faziam parte do Evangelho de Nicodemos) apresentam-no como convertido ao cristianismo juntamente com sua mulher, Prócula, venerada como santa pela Igreja Ortodoxa, devido ao facto de ter defendido Jesus (Mt 27,19). O próprio Pilatos é contado entre os santos da Igreja etíope e copta. Mas, acima destas tradições, que na sua origem reflectem uma intenção de mitigar a culpa do governador numa época em que a difusão do cristianismo encontrava dificuldades no Imperio, a figura de Pilatos que conhecemos dos Evangelhos corresponde à de um personagem indolente, que não quer confrontar-se com a verdade, preferindo agradar à turba.

A sua presença no Credo, não obstante, é de grande importância, porque nos recorda que a fé cristã é uma religião histórica e não um programa ético ou uma filosofia. A Redenção realizou-se num lugar concreto do mundo, na Palestina, e num período concreto da história, isto é, quando Pilatos era governador da Judeia.


HÉLDER GONÇALVES

1 comentário:

  1. Olá irmão, Paz e Bem!
    Muito obrigada pela visita e seu comentário.
    Gostei muito de conhecer seu blog e com alegria já estou seguindo, também colocarei na minha lista de blogs.
    A paz de Jesus e o amor de Maria em vossos corações.
    Adriana.

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