segunda-feira, 30 de julho de 2012

DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA

TEMA:  PESSOA HUMANA


I. A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

Para a Igreja, ensinar e difundir a doutrina social pertence à sua missão evangelizadora e faz parte essencial da mensagem cristã, porque essa doutrina propõe as suas consequências directas na vida da sociedade e enquadra o trabalho diário e as lutas pela justiça no testemunho de Cristo Salvador. Ela constitui, além disso, uma fonte de unidade e de paz, em face aos conflitos que inevitavelmente se levantam no sector económico social. Torna-se possível desse modo viver as novas situações sem envilecer a dignidade transcendente da pessoa humana, nem em si próprio nem nos adversários, e encaminhá-las para uma recta solução. (Centesimus Annus, n. 5)

É por isso que a Igreja tem uma palavra a dizer, hoje como há vinte anos e também no futuro, a respeito da natureza, das condições, das exigências e das finalidades do desenvolvimento autêntico e, de igual modo, a respeito dos obstáculos que o entravam. Ao fazê-lo, a Igreja está a cumprir a missão de evangelizar, porque dá a sua primeira contribuição para a solução do urgente problema do desenvolvimento, quando proclama a verdade acerca de Cristo, de si mesma e do homem aplicando-a a uma situação concreta. Como instrumento para alcançar este objectivo, a Igreja utiliza a sua doutrina social. Na difícil conjuntura presente, tanto para favorecer a correcta formulação dos problemas que se apresentam, como para a sua melhor solução, poderá ser de grande ajuda um conhecimento mais exacto e uma difusão mais ampla do “conjunto dos princípios de reflexão, dos critérios de julgamento e das directrizes de acção propostos pelo seu ensinamento (Libertatis Conscientia, n. 72; Octogesima Adveniens, n. 4). Notar-se-á assim, imediatamente, que as questões que têm de ser enfrentadas são, antes de mais nada, morais (...). (Sollicitudo Rei Socialis, n. 41)

Na vida do homem, a imagem de Deus volta a resplandecer e manifesta-se em toda a sua plenitude com a vinda do Filho de Deus em carne humana: “Ele é a imagem do Deus invisível”(Cl 1, 15), “o resplendor da sua glória e a imagem da sua substância”(Hb 1, 3). Ele é a imagem perfeita do Pai. (Evangelium Vitae, n. 36)

A dignidade da pessoa aparece em todo o seu fulgor, quando se consideram a sua origem e o seu destino: criado por Deus à Sua imagem e semelhança e remido pelo sangue preciosíssimo de Cristo, o homem é chamado a tornar-se “filho no Filho” e templo vivo do Espírito, e tem por destino a vida eterna da comunhão beatífica com Deus. Por isso, toda a violação da dignidade pessoal do ser humano clama por vingança junto de Deus e torna-se ofensa ao Criador do homem. (Christifideles Laici, n. 37)

E se contemplarmos a dignidade da pessoa humana à luz das verdades reveladas, não poderemos deixar de tê-la em estima incomparavelmente maior. Trata-se, com efeito, de pessoas remidas no Sangue de Cristo, as quais com a graça se tornaram filhas e amigas de Deus, herdeiras da glória eterna. (Pacem in Terris, n. 10)

Apoiada nesta fé, a Igreja pode subtrair a dignidade da natureza humana a todas as mudanças de opiniões que, por exemplo, ou deprimem demasiadamente ou exaltam sem medidas o corpo humano. A dignidade pessoal e a liberdade do homem não podem ser adequadamente asseguradas por nenhuma lei humana, como são pelo Evangelho de Cristo confiado à Igreja. Com efeito, este Evangelho anuncia e proclama a liberdade dos filhos de Deus, rejeita toda servidão derivada em última análise do pecado, respeita escrúpulo somente a dignidade da consciência e a sua decisão livre, adverte sem cansar que todos os talentos humanos devem ser reduplicados para o serviço de Deus e o bem dos homens e, finalmente, recomenda todos à caridade de todos. Isto corresponde à lei fundamental da economia cristã. Ainda que o mesmo Deus Criador seja igualmente Senhor, tanto da história humana como também da história da salvação, contudo, esta própria ordem divina, longe de suprimir a autonomia justa da criatura e principalmente do homem, antes a restabelece e confirma na sua dignidade.

A Igreja, portanto, por força do Evangelho que lhe foi confiado, proclama os direitos dos homens e admite e aprecia muito o dinamismo do tempo de hoje, que promovestes direitos por toda parte. Mas este movimento deve ser animado pelo espírito do Evangelho e protegido contra todas aparências da falsa autonomia. Pois somos expostos à tentação de pensar que os nossos direitos pessoais só estão plenamente garantidos quando nos desligamos de todas as normas da Lei divina. Por este caminho porém, longe de ser salva, a dignidade da pessoa humana perece. (Gaudium et Spes, n. 41)

O que está em jogo é a dignidade da pessoa humana, cuja defesa e promoção nos foram confiadas pelo Criador, tarefa a que estão rigorosa e responsavelmente obrigados os homens e as mulheres em todas as conjunturas da história. (Sollicitudo Rei Socialis, n. 47)

A dignidade da pessoa humana é um valor transcendente, como tal sempre reconhecido por todos aqueles que se entregaram sinceramente à busca da verdade. Na realidade, toda a história da humanidade deve ser interpretada à luz desta certeza. Cada pessoa, criada à imagem e semelhança de Deus (cf. Gn 1, 26-28) e por conseguinte orientada radicalmente para o seu Criador, está em relação constante com quantos se encontram revestidos da mesma dignidade. Assim, a promoção do bem do indivíduo conjuga-se com o serviço ao bem comum, quando os direitos e os deveres se correspondem e reforçam mutuamente. (Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1999, n. 2)

“Onde está o espírito do Senhor, aí há liberdade”(2 Cor 3, 17). Esta revelação da liberdade e, por conseguinte, da verdadeira dignidade do homem, adquire uma particular eloquência para os cristãos e para a Igreja em situações de perseguição quer em tempos passados, quer actualmente: porque as testemunhas da Verdade divina, neste caso, tornam-se uma comprovação viva da acção do Espírito da verdade, presente no coração e na consciência dos fiéis; e, não poucas vezes, selam com o próprio martírio a suprema glorificação da dignidade humana. (Dominum et Vivificantem, n. 60)


II. LIBERDADE E VERDADE

A pergunta moral, à qual Cristo responde, não pode prescindir da questão da liberdade, pelo contrário, coloca-a no centro dela, porque não há moral sem liberdade: “Só na liberdade é que o homem se pode converter ao bem”(GS, n. 17). Mas qual liberdade? Perante os nossos contemporâneos que “apreciam grandemente” liberdade e que a “procuram com ardor”, mas que “muitas vezes a fomentam de um modo condenável, como se ela consistisse na licença de fazer seja o que for, mesmo o mal, contanto que agrade”, o Concílio apresenta a “verdadeira” liberdade: “A liberdade verdadeira é um sinal privilegiado da imagem divina no homem. Pois Deus quis deixar o homem entregue à sua própria decisão (cf. Sr 15, 14), para que busque por si mesmo o seu Criador e livremente chegue à perfeição total e beatífica, aderindo a Ele”(GS, n. 17). Se existe o direito de ser respeitado no próprio caminho em busca da verdade, há ainda antes a obrigação moral, grave para cada um, de procurar a verdade e de aderir a ela, uma vez conhecida (cf. Dignitatis Humanae, n. 2). (Veritatis Splendor, n. 34)

A liberdade, na sua essência, é algo intrínseco ao homem, conatural à pessoa humana, sinal distintivo da sua natureza. A liberdade da pessoa, de fato, tem o seu fundamento na sua dignidade transcendente: uma dignidade que lhe foi doada por Deus, seu Criador, e que a orienta para o mesmo Deus. O homem, porque foi criado à imagem de Deus (cf. Gn 1, 27), é inseparável da liberdade, daquela liberdade que nenhuma força ou constrangimento exterior jamais poderá tirar-lhe e que constitui seu direito fundamental, quer como indivíduo quer como membro da sociedade. O homem é livre porque possui a faculdade de se determinar em função da verdade e do bem. (Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1981, n. 5)

Jesus Cristo vai ao encontro do homem de todas as épocas, também do da nossa época, com as mesmas palavras que disse alguma vez: “Conhecereis a verdade, e a verdade tornar-vos-á livres”(Jo 8, 32). Estas palavras encerram em si uma exigência fundamental e, ao mesmo tempo, uma advertência: a exigência de uma relação honesta para com a verdade, como condição de uma autêntica liberdade; e a advertência, ademais, para que seja evitada qualquer verdade aparente, toda a liberdade superficial e unilateral, toda a liberdade que não compreenda cabalmente a verdade sobre o homem e sobre o mundo. (Redemptor Hominis, n. 12)

A liberdade, no entanto, não é somente um direito que se reclama para si próprio: ela é também um dever que se assume em relação aos outros. Para servir verdadeiramente a paz, a liberdade de cada um dos seres humanos e de cada uma das comunidades humanas, deve respeitar as liberdades e os direitos dos demais no plano individual e no plano colectivo. A liberdade encontra nesse respeito a sua limitação, mas simultaneamente também a sua lógica e a sua dignidade, porque o homem é por sua natureza social. (Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1981, n. 7)

O exercício da liberdade não implica o direito de dizer e fazer tudo. É falso pretender que “o homem sujeito da liberdade, baste a si mesmo, tendo por fim a satisfação do seu próprio interesse no gozo dos bens terrenos”(Libertatis Conscientia, n. 13). Por sua vez, as condições de ordem económica e social, política e cultural requeridas para um justo exercício da liberdade são muitas vezes desprezadas e violadas. Estas situações de cegueira e de injustiça agravam a vida moral e levam tanto aos fortes como os fracos à tentação de pecar contra a caridade. Fugindo da lei moral, o homem prejudica a sua própria liberdade, acorrenta-se a si mesmo, rompe a fraternidade com os semelhantes e se revela contra a verdade divina. (Catecismo da Igreja Católica, n. 1740)

Imprimiu o Criador do universo no íntimo do ser humano uma ordem, que a consciência deste manifesta e obriga peremptoriamente a observar: “mostram a obra da lei gravada nos seus corações, dando disto testemunho a sua consciência e os seus ensinamentos”(Rm 2, 15). E como poderia ser de outro modo? Pois toda a obra de Deus é um reflexo da sua infinita sabedoria, reflexo tanto mais luminoso, quanto mais esta obra participa da perfeição (cf. Sal 18, 8-11). (Pacem in Terris, n. 5)

Nos desígnios de Deus, cada homem é chamado a desenvolver-se, porque toda a vida é uma vocação. É dado a todos, em germe, desde o seu nascimento, um conjunto de aptidões e qualidades para as fazer render: desenvolvê-las será fruto da educação recebida do meio ambiente e do esforço pessoal, e permitirá a cada um orientar- se para o destino que lhe propõe o Criador. Dotado de inteligência e de liberdade, é cada um responsável tanto pelo seu crescimento como pela sua salvação. Ajudado, por vezes constrangido, por aqueles que o educam rodeiam, cada um, sejam quais forem as influências que sobre ele se exerçam, permanece o artífice principal do seu êxito ou do seu fracasso: apenas com esforço da inteligência e da vontade o homem, pode cada homem crescer em humanidade, valer mais, ser mais. (Populorum Progressio, n. 15)

Afinal, ao levar a termo a obra da redenção na Cruz, pela qual iria conquistar a salvação e a verdadeira liberdade aos homens, consumou a Sua revelação. Pois deu testemunho à verdade, sem por isso querer impô-la pela força aos que a ela resistiam. Eu reino não se defende pelas armas, mas afirma-se pelo testemunho e pela audição da verdade, cresce pelo amor com que Cristo exaltado na cruz atrai a Si os homens (cf. Jo 12, 32). (Dignitatis Humanae, n. 11)

A verdadeira liberdade, enfim, não é promovida também na sociedade permissiva, que confunde a liberdade com a licenciosidade de fazer escolhas não importa de que espécie sejam, e que proclama em nome da liberdade uma forma de amoralismo geral. É ainda propor uma caricatura de liberdade a pretensão de que o homem é livre para organizar a própria vida sem referência alguma aos valores morais e que a sociedade não tem que estar a garantir a protecção e a promoção dos valores éticos. Uma semelhante atitude é destruidora da liberdade e da paz. (Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1981, n. 7)

A Igreja também não fecha os olhos diante do perigo do fanatismo, ou fundamentalismo, daqueles que, em nome de uma ideologia que se pretende científica ou religiosa, defendem poder impor aos outros homens a sua concepção da verdade e do bem. Não é deste tipo a verdade cristã. Não sendo ideológica, a fé cristã não presume encarcerar num esquema rígido a variável realidade sócio- política e reconhece que a vida do homem se realiza na história, em condições diversas e não perfeitas. A Igreja, portanto, reafirmando constantemente a dignidade transcendente da pessoa, tem, por método, o respeito da liberdade. (Centesimus Annus, n. 46)

A democracia não pode existir sem um partilhado empenho por certas verdades morais sobre a pessoa e a comunidade humana. A questão fundamental para uma sociedade democrática é: “Como deveríamos viver juntos?”. Ao procurar uma resposta para esta pergunta, a sociedade pode excluir a verdade e o raciocínio morais? Certamente é importante para ... as verdades morais que consentem a liberdade, sejam transmitidas a cada nova geração. E preciso que cada geração ... saiba que a liberdade não consiste em fazer o que apraz, mas em ter o direito de fazer o que se deve. Cristo pede-nos que guardemos a verdade porque, como nos prometeu: “conhecereis a verdade e a verdade libertar-vos-á”(Jo 8, 32). Devemos guardar a verdade, que é a condição para a liberdade autêntica, a verdade que consente à liberdade realizar- se na bondade. Devemos guardar o depósito da verdade divina que nos foi transmitido na Igreja, sobretudo à luz dos desafios apresentados por uma cultura materialista e por uma mentalidade permissiva, que reduz a liberdade à licenciosidade. (João Paulo II, Homilia em Baltimor, n. 7-8)

Não é lícito do ponto de vista ético nem praticável menosprezar a natureza do homem que é feito para a liberdade. Na sociedade onde a sua organização reduz arbitrariamente ou até suprime a esfera em que a liberdade legitimamente se exerce, o resultado é que a vida social progressivamente se desorganiza e defina. (Centesimus Annus, n. 25)


III. A NATUREZA SOCIAL DO HOMEM

Deus, que tem um cuidado paternal para com todos, quis que todos os homens formassem uma só família e se tratassem mutuamente com espírito fraterno. Todos, com efeito, criados à imagem de Deus, que de um fez que todo o género humano habitar sobre a face da terra (At 17, 26), são chamados a um único e mesmo fim, ou seja, que é o próprio Deus. Por isso, o amor de Deus e do próximo é o primeiro e o máximo mandamento. Mas a Sagrada Escritura nos ensina que o amor a Deus não se pode separar do amor do próximo: (...) se há algum outro mandamento, ele se resume nestas palavras: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo (...). A plenitude portanto da lei é o amor (Rm 13, 9-10; 1 Jo 4, 20). E isto se comprova ser de máxima importância para todos os homens que cada dia são mais dependentes uns dos outros e para o mundo que incessantemente se unifica mais. Mais ainda. Quando o Senhor Jesus reza ao Pai que “todos sejam um ... como nós somos um”(Jo 17, 21-22), abre perspectivas inacessíveis à razão humana, sugere alguma semelhança entre a união das pessoas divinas e a união dos filhos de Deus na verdade e na caridade. Esta semelhança manifesta que o homem, a única criatura na terra que Deus quis por si mesma, não pode se encontrar plena- mente se não por um dom sincero de si mesmo. A índole social do homem evidencia que o aperfeiçoamento da pessoa humana e o desenvolvimento da própria sociedade dependem um do outro. A pessoa humana é e deve ser o princípio, sujeito e fim de todas as instituições sociais, porque, por sua natureza, necessita absolutamente da vida social. A vida social não é portanto algo acrescentado ao homem: assim o homem desenvolve-se em todas as suas qualidades mediante a comunicação com os outros, pelas obrigações mútuas, pelo diálogo com os irmãos, e pode corresponder à sua vocação. (Gaudium et Spes, n. 24-25)

O princípio fundamental desta concepção básico consiste em, cada um dos seres humanos, ser e dever ser o fundamento, o fim e o sujeito de todas as instituições em que se expressa e realiza a vida social: cada um dos seres humanos considerado na realidade daquilo que é e que deve ser, segundo a natureza intrinsecamente social, e no plano divino da sua elevação à ordem sobrenatural. (Mater et Magistra, n. 218)

Certas sociedades, como a família e a cidade, correspondem mais imediatamente à natureza do homem. São-lhe necessárias. A fim de favorecer a participação do maior número na vida social, é preciso encorajar a criação de associações e instituições de livre escolha iniciativa “com fins económicos, culturais, sociais, desportivos, recreativos, profissionais, políticos, tanto no âmbito interno das comunidades políticas como no plano mundial”(MM, n. 60). Esta “socialização” exprime igualmente a tendência natural que impede os seres humanos a se associarem, para atingir objectivos que ultrapassam as capacidades individuais. Desenvolve as qualidades da pessoa, particularmente, o seu espírito de iniciativa e de responsabilidade. Ajuda a garantir os seus direitos (GS, n. 25; CA, n. 12). (Catecismo da Igreja Católica, n. 1882)

Mas cada homem é membro da sociedade: pertence à humanidade inteira. Não é apenas tal ou tal homem; são todos chamados a este pleno desenvolvimento. As civilizações nascem, crescem e morrem. Assim como as vagas na enchente da maré avançam sobre a praia, cada um pouco mais que a antecedente, assim a humanidade avança no caminho da história. Herdeiros das gerações passadas e beneficiários do trabalho dos nossos contemporâneos, temos obrigações para com todos, e não podemos desinteressar-nos dos que virão depois de nós aumentar mais o círculo da família humana. A solidariedade universal, é para nós não só um facto e um benefício, mas também um dever. (Populorum Progressio, n. 17)

Além da família, também outras sociedades intermédias desenvolvem funções primárias e constróem específicas redes de solidariedade. Estas, de fato, amadurecem como comunidades reais de pessoas e dinamizam o tecido social, impedindo-o de cair no anonimato e na massificação, infelizmente frequente na sociedade moderna. É na múltipla actuação de relações que vive a pessoa e cresce a “subjectividade” da sociedade. O indivíduo é hoje muitas vezes sufocado entre os dois pólos: o Estado e o mercado. Às vezes dá a impressão de que ele existe apenas como produtor e consumidor de mercadorias ou então como objecto da administração do Estado, esquecendo-se que a convivência entre os homens não se reduz ao mercado nem ao Estado, já que a pessoa possui em si mesma um valor singular, ao qual devem servir o Estado e o mercado. O homem é, acima de tudo, um ser que procura a verdade e se esforça por vivê-la e aprofundá-la num diálogo contínuo que envolve as gerações passadas e as futuras. (Centesimus Annus, n. 49)

Pelo contrário, da concepção cristã da pessoa segue-se necessariamente uma justa visão da sociedade. Segundo a Rerum Novarum e toda a doutrina social da Igreja, a sociabilidade do homem não se esgota no Estado, mas realiza-se em diversos aglomerados intermédios, desde a família até aos grupos económicos, sociais, políticos e culturais, os quais, provenientes da própria natureza humana, são dotados subordinando-se sempre ao bem comum da sua própria autonomia. (Centesimus Annus, n. 13)


IV. DIREITOS HUMANOS

Ao dispormo-nos a tratar dos direitos do homem, o ser humano tem direito à existência, à integridade física, aos recursos correspondentes a um digno padrão de vida: tais são especialmente o alimento, o vestuário, a moradia, o repouso, a assistência médica, os serviços sociais indispensáveis. Segue-se daí que a pessoa tem também o direito de ser amparada em caso de doença, de invalidez, de viuvez, de velhice, de desemprego forçado e em qualquer outro caso de privação dos meios de sustento por circunstâncias independentes da sua vontade. (Pacem in Terris, n. 11)

Após a queda do totalitarismo comunista e de muitos outros regimes totalitários e de “segurança nacional”, assistimos hoje à prevalência, não sem contrastes, do ideal democrático, em conjunto com uma viva atenção e preocupação pelos direitos humanos. Mas, exactamente por isso, é necessário que os povos, que estão a reformar os seus regimes, dêem à democracia um autêntico e sólido fundamento mediante o reconhecimento explícito dos referidos direitos (Redemptor Hominis, n. 17). (Centesimus Annus, n. 47)

Numa convivência humana bem constituída e eficiente, é fundamental o princípio de que cada ser humano é pessoa, isto é, natureza dotada de inteligência e de vontade livre. Por essa razão, possui em si mesmo direitos e deveres, que emanam directa e simultaneamente da sua própria natureza. Trata-se, por conseguinte, de direitos e deveres universais, invioláveis, inalienáveis. (Pacem in Terris, n. 9)

Se os direitos do homem são violados em tempo de paz, isso torna-se particularmente doloroso e, sob o ponto de vista do progresso, representa um incompreensível fenómeno de luta contra o homem, que não pode de maneira alguma pôr-se de acordo com qualquer programa que se autodefina “humanístico”. (Redemptor Hominis, n. 17)

Compete outros sim à pessoa humana a legítima tutela dos direitos: tutela eficaz, imparcial, dentro das normas objectivas da justiça. Assim Pio XII, nosso predecessor de feliz memória, adverte com estas palavras: “Da ordem jurídica intencionada por Deus emana o direito inalienável do homem à segurança jurídica e a uma esfera jurisdicional bem determinada, ao abrigo de toda e qualquer impugnação arbitrária”(cf. Pio XII, Mensagem radiofónica da vigília do Natal de 1942). (Pacem in Terris, n. 27)

O respeito pela pessoa humana implica que se respeitem os direitos que decorrem da sua dignidade de criatura. Estes direitos são anteriores à sociedade e se lhe impõem. São elas que fundam a legitimidade moral de toda autoridade; conculcando-os ou recusando- se a reconhecê-los na sua lei positiva, uma sociedade mina, a sua própria legitimidade moral (cf. PT, n. 65). Sem esse respeito, uma autoridade só pode apoiar-se na força ou na violência para obter a obediência de seus súditos. Cabe à Igreja lembrar esses direitos a memória dos homens de boa vontade e distingui-los das reivindicações abusivas ou falsas. (Catecismo da Igreja Católica, n. 1930)

E quando as relações de convivência se colocam em termos de direitos e de deveres, os homens abrem-se ao mundo dos valores culturais e espirituais, aos quais o da verdade, justiça, amor, liberdade; tornando-se cônscios de pertencerem àquele mundo. Ademais são levados por essa estrada a conhecer melhor o verdadeiro Deus transcendente e pessoal e a colocar então as relações entre eles e Deus como fundamento da sua vida: da vida que vivem no próprio íntimo e da vida em relação com os outros homens. (Pacem in Terris, n. 45)

Ora pelo fato de as sociedades particulares não terem existência senão no seio da sociedade civil, da qual são como outras tantas partes, não se segue, falando em geral e considerando apenas a sua natureza, que o Estado possa negar-lhe a existência. O direito de existência foi-lhes outorgado pela própria natureza; e a sociedade civil foi instituída para proteger o direito natural, não para o aniquilar. Por esta razão, uma sociedade civil que proibisse as sociedades públicas e particulares, atacar-se-ia a si mesma, pois todas as sociedades públicas e particulares tiram a sua origem de um mesmo princípio: a natural sociabilidade do homem. (Rerum Novarum, n. 32)

Deve-se concluir que, no relacionamento humano, a determinado direito natural de uma pessoa corresponde o dever de reconhecimento e respeito desse direito por todos os demais. É que todo direito fundamental do homem encontra a sua força e autoridade na lei natural, a qual, ao mesmo tempo que o confere, impõe também algum dever correspondente. Por conseguinte, o é que reinvidincam os próprios direitos, mas se esquecem por exemplo dos seus deveres ou lhes dão menor atenção, assemelham-se a quem constrói um edifício com uma das mãos e, com a outra, o destrói. (Pacem in Terris, n. 30)

Ao contrário, universalmente prevalece hoje a opinião de que todos os seres humanos são iguais entre si por dignidade de natureza. As discriminações raciais não encontram nenhuma justificação, pelo menos no plano doutrinal. É isto de um alcance e importância imensa para a estruturação do convívio humano segundo os princípios que acima recordamos. Pois, quando numa pessoa surge a consciência dos próprios direitos, nela nascerá forçosamente a consciência do dever: no titular de direitos, o dever de reclamar esses direitos, como expressão da sua dignidade, nos demais, o dever de reconhecer e respeitar tais direitos. (Pacem in Terris, n. 44)

Dotados de alma racional e criados à imagem de Deus, todos os homens têm a mesma natureza e a mesma origem; redimidos por Cristo, todos gozam da mesma vocação e destino divino: deve-se portanto reconhecer cada vez mais a igualdade fundamental entre todos os homens. Na verdade nem todos os homens se equiparam na capacidade física, que é variada, e nas forças intelectuais ou morais, que são diversas. Contudo qualquer forma de discriminação nos direitos fundamentais da pessoa, seja ela social ou cultural, ou funde-se no sexo, raça, cor, condição social, língua ou religião, deve ser superada e eliminada, porque é contrária ao plano de Deus. É de lamentar realmente que aqueles direitos fundamentais da pessoa não sejam garantidos por toda a parte: É caso quando se nega à mulher a faculdade de escolher livremente o seu esposo, de abraçar, o seu estado de vida ou o acesso a uma cultura e educação que se admitem para o homem. Além disso, ainda que haja entre os homens justas diferenças, a igual dignidade das pessoas postula que se chegue a uma condição de vida mais humana e mais justa. Pois as excessivas desigualdades económicas e sociais entre os membros e povos da única família humana provocam escândalo e são contrárias à justiça social, à equidade, à dignidade da pessoa humana e à paz social e internacional. As instituições humanas, particulares ou públicas, se esforcem por servir à dignidade e ao fim do homem. Ao mesmo tempo lutem denodadamente contra qualquer espécie de servidão tanto social quanto política e respeitem os direitos fundamentais do homem sob qualquer regime político. Além disso; é necessário que estas instituições pouco a pouco se adaptem às exigências espirituais, superiores a tudo, ainda que às vezes seja necessário um tempo bastante longo para chegarem ao fim desejado. (Gaudium et Spes, n. 29)

Desta justa libertação, ligada à evangelização e que visa alcançar o estabelecimento de estruturas que salvaguardem as liberdades humanas, não pode ser separada a necessidade de garantir todos os direitos fundamentais do homem, entre os quais a liberdade religiosa ocupa um lugar de primária importância. (Evangelii Nuntiandi, n. 39)


V. LIBERDADE RELIGIOSA

O Sínodo Vaticano declara que a pessoa humana tem direito à liberdade religiosa. Consiste tal liberdade no seguinte: os homens todos devem ser imunes da coacção, tanto por parte de pessoas particulares quanto de grupos sociais e de qualquer poder humano, de tal sorte que em assuntos religiosos ninguém seja obrigado a agir contra a própria consciência, nem se impeça de agir de acordo com ela, em particular e em público, só ou associado a outrem, dentro dos devidos limites. (Dignitatis Humanae, n. 2)

Certamente, a limitação da liberdade religiosa das pessoas e das comunidades não é apenas uma sua dolorosa experiência, mas atinge antes de mais nada a própria dignidade do homem, independentemente da religião professada ou da concepção que elas tenham do mundo. A limitação da liberdade religiosa e a sua violação estão em contraste com a dignidade do homem e com os seus direitos objectivos. (Redemptor Hominis, n. 17)

Nenhuma autoridade humana tem o direito de intervir na consciência de nenhum homem. Esta é também testemunha da transcendência da pessoa frente à sociedade, e, como tal, é inviolável. Contudo, não é algo absoluto, situado por cima da verdade e do erro; aliás, a sua natureza íntima implica uma relação com a verdade objectiva, universal e igual para todos, à qual todos podem e devem buscar. Nesta relação com a verdade objectiva a liberdade de consciência encontra a sua justificação, como condição necessária para a busca da verdade digna do homem e para a adesão à mesma, quando foi adequadamente conhecida. (Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1991, n. 1)

Assim também a nossa missão, ainda que seja anúncio de verdade indiscutível e de salvação necessária, não se apresentará armada de coerção externa, mas oferecerá o seu dom salvífico só pelas vias legítimas da educação humana, da persuasão interior e do trato ordinário, respeitando sempre a liberdade pessoal e civil [do indivíduo]. (Ecclesiam Suam, n. 43)

Primeiro que tudo a liberdade religiosa, exigência insuprível da dignidade de todos e de cada um dos homens, constitui uma pedra angular do edifício dos direitos humanos; e portanto, é um factor insubstituível do bem das pessoas e de toda a sociedade, assim como da realização pessoal de cada um. Disto resulta, consequentemente, que a liberdade das pessoas consideradas individual- mente e das comunidades professarem e praticarem a própria religião é um elemento essencial da convivência pacífica dos homens. A paz, que se constrói e se consolida em todos os níveis da convivência humana, lança as próprias raízes na liberdade e na abertura das consciências para a verdade. (Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1988, Introdução)

Os problemas humanos mais debatidos e diversamente resolvidos na reflexão moral contemporânea, estão ligados, ainda que de várias maneiras, a um problema crucial: o da liberdade do homem. Não há dúvida que a nossa época adquiriu uma percepção particularmente viva da liberdade. “Os homens de hoje tornam-se cada vez mais conscientes da dignidade da pessoa humana”, como já constatava a Declaração conciliar Dignitatis Humanae sobre a liberdade religiosa (n. 1). Daí a observação de que os homens possam “agir segundo a própria convicção e com liberdade responsável, não forçados por coacção, mas levados pela consciência do dever”(n. 1). Em particular, o direito à liberdade religiosa e ao respeito da consciência no seu caminho para a verdade é sentido cada vez mais como fundamento dos direitos da pessoa, considerados no seu conjunto (cf. Redemptor Hominis, n. 17; Libertatis Conscientia, n. 19). (Veritatis Splendor, n. 31)

Exame de "Doutrina Social da Igreja (Pessoa Humana)"
de Hélder Gonçalves a 18.06.2005
Escola Superior de Teologia e Ciências Humanas de Viana do Castelo
Professor: Padre José Maria da Costa Reis Ribeiro
Avaliação Final: 16 Valores

HÉLDER GONÇALVES

domingo, 29 de julho de 2012

CRUZ DE BORGONHA

A instituição da Cruz de Borgonha deve-se a Filipe I, o Belo (Bruges, 1478-Burgos, 1506), soberano dos Países Baixos entre 1482 até ao fim da sua vida e rei de Castela durante os dois anos que antecederam a sua morte.

Era filho de Maximiliano da Áustria e de Maria de Borgonha, desposou Joana, a Louca, filha dos Reis Católicos, de quem teve como filhos Carlos V e Fernando I.

Foi durante o seu efémero matrimónio com a Rainha Joana, que Filipe I introduziu o símbolo distintivo da Casa da sua mãe no escudo da Coroa espanhola.

Trata-se de uma cruz em forma de X, formada por dois troncos de árvores desprovidos de folhas.

Utilizada desde o início do século XVI até praticamente o ano de 1931, a partir de 1971 passou a estar representada no estandarte do príncipe das Astúrias e desde 1975 no do rei Juan Carlos.

É, contudo, importante, a relação que o nosso país teve com a Casa de Borgonha.

A esta linhagem pertencia o conde D. Henrique, pai de D. Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal.

Na Borgonha ficava o Mosteiro de Cluny, que no século XI se tornou um foco irradiante de renovação cristã, de que também beneficiou a nação portuguesa.

A Cruz de Borgonha é muito semelhante á Cruz de Santo André, um dos apóstolos de Cristo que foi crucificado numa cruz em forma de X.

Para lembrar o sofrimento deste santo, a Cruz de Borgonha geralmente é representada pelas cores vermelha ou carmesim.

HÉLDER GONÇALVES

sábado, 28 de julho de 2012

Catedral de Chartres - Chartres - França


A colina de Chartres foi sempre um local de culto ao longo dos séculos.

Na pré-história, as populações enterraram ali um dólmen e, nos tempos dos Celtas existia uma gruta que albergava a efígie de uma mulher com uma criança e que também foi venerada pelos cristãos medievais.

Existiu neste local um templo galo-romano e mais tarde a primeira igreja cristã.

A Catedral de Chartres foi construída entre 1205 e 1260 seguindo os traços das anteriores ali existentes. Muitos templos pagãos foram substituídos por templos cristãos em vários países na Idade Média.

A Catedral de Chartres distingue-se das restantes igrejas do seu tempo por conservar, ainda nos nossos dias, na sua maioria, os seus magníficos vitrais originais.

As suas torres são muito imponentes e deixam qualquer visitante deslumbrado.

Quando a pessoa entra na igreja, e é envolvida pela penumbra, imediatamente levanta os olhos em direcção à luz. Gesto simbólico do homem à procura de Deus.

Também algo de muito importante é o seu labirinto. Ele ocupa toda a largura da nave central e desenha um caminho de 261 metros, o qual é um símbolo de um acesso até Deus. Ou seja, o peregrino percorre o labirinto rezando e não importa a distância e os desvios, ele chegará inevitavelmente ao centro.

Debaixo da Catedral encontra-se uma encruzilhada de linhas de energia, ao qual se descobriu passagens, falhas e correntes de águas subterrâneas que, todas juntas assemelham-se a um campo magnético.

Todo peregrino que se desloque à Catedral de Chartres sente-se atraído para o alto.

A Catedral de Chartres, é também o inicio do caminho francês para os peregrinos que vão a pé até Santiago de Compostela.

HÉLDER GONÇALVES

sexta-feira, 27 de julho de 2012

JERICÓ

Jericó. Encontros (de Deus) na cidade

Jericó é, talvez, a mais antiga cidade do mundo. Situada na margem oeste do rio Jordão, a antiga cidade bíblica está a 2Km da actual Jericó. Do seu antigo esplendor, conserva a grandiosidade do oásis que ainda hoje sobrevive. Naquele tempo a cidade estendia-se por 300m de cumprimento e 160m de largura e era rodeada por uma dupla muralha.


A conquista de Jericó

No Antigo Testamento Jericó era a “porta” de entrada na Palestina. É por isso que o livro de Josué narra a conquista desta cidade. Mas a conquista de Jericó não é apresentada como uma batalha; é antes uma procissão com a arca da Aliança acompanhada do som das trombetas (Js 6,1-2). A arca continha as tábuas da Lei dadas por Deus a Moisés. A cidade não foi conquistada pela força dos exércitos de Israel, mas com a força de Deus.

Depois de sete dias de cerco, “mal o povo escutou o som das trombetas, fez ouvir um grande clamor e as muralhas da cidade desabaram; os filhos de Israel subiram à cidade, cada um pela brecha que tinha na sua frente, e tomaram a cidade” (Jos 6,20).


Ultima etapa para Jerusalém

No Novo Testamento Lucas descreve dois encontros em Jerico: a cura do cego de nascença (Lc 18,35) e o encontro de Jesus com Zaqueu, o publicano (Lc 19,1-10).


À entrada da cidade

Jesus ia para Jerico, quando “um cego que estava sentado a pedir esmola à beira do caminho, ouvindo a multidão que passava, perguntou o que era aquilo. Disseram-lhe que era Jesus de Nazaré que ia passar. Então, bradou: ‘Jesus, Filho de David, tem misericórdia de mim!’ Os que iam à frente repreendiam-no, para que se calasse”.

Mas ele não se intimidou e gritava cada vez mais: «Filho de David tem misericórdia de mim!».


A missão de Jesus

Desde o início, a missão de Jesus é trazer a boa noticia aos pobres, a libertação aos prisioneiros e “aos cegos, a recuperação da vista” (Lc 4,18). O cego, chega à fé em Jesus salvador, partindo da sua situação concreta: da cegueira que o excluiu da vida social. Jesus, por seu lado, encontra-o nesta estrada da necessidade elementar de ver e de comunicar, e diz-lhe: “A tua fé te salvou” (Lc 18,42).

Diante de um pobre que é excluído da sociedade, Jesus não fica indiferente: “Jesus parou e mandou que lho trouxessem” (Lc 18,40). A cura traz a dupla resposta: do cego, que dá gloria a Deus e se poe a seguir Jesus; e da gente, que louca o Senhor pelo milagre que testemunharam.


Atravessando a cidade

Se Josué assistiu ao cair das muralhas da cidade de Jericó, Jesus conseguiu a entrada no Reino de Deus de um rico: “Sim, é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus!” (Lc 18,25). Atravessando a cidade Jesus encontrou-se com Zaqueu. É o chefe dos cobradores de impostos. Rico. Com dinheiro tirado ao povo por conta dos odiados romanos. Baixo. Mas muito determinado em ver Jesus.

Lucas não nos diz porque deseja ver Jesus. Simples curiosidade? É normal. Mas isto talvez não baste para explicar o comportamento de Zaqueu: “Procurava ver Jesus e não podia, por causa da multidão, pois era de pequena estatura. Correndo à frente, subiu a um sicómoro para o ver, porque Ele devia passar por ali” (Lc 19,3-4).


Jesus chama pelo nome

Há algo que o move, algo que nem sequer ele sabe como definir. E Zaqueu que queria ver, acaba por ser visto: “quando chegou aquele local, Jesus levantou os olhos e disse-lhe: ‘Zaqueu, desce depressa, pois hoje tenho de ficar em tua casa’” (Lc 19,5).

A iniciativa passa a ser de Jesus. Jesus chama-o pelo nome e diz-lhe que hoje deve ficar na sua casa.

No fundo, Zaqueu era uma pessoa profundamente isolada, desprezado pelos seus vizinhos e sem se poder abeirar de Deus, devido à sua vida de roubo.


Acolher Jesus na alegria

Existe em Zaqueu um vazio, que ele tentou preencher com o sucesso e a riqueza. Um vazio que permaneceu…vazio! E que o levou a subir àquele sicómoro, dando um “pontapé” a tudo aquilo que até então tinha sido o importante para ele. Só Jesus podia preencher o vazio. E tudo começou porque Jesus levantou os olhos…

Jesus caminha pela cidade, e não se distrai com coisas supérfluas ou com as multidões entusiastas. Mas sabe captar o essencial: a sede da vida nova que Zaqueu começa a sentir.

Sabemos o resto da história (cfr. Lc 19,7-10). Zaqueu, sentindo-se acolhido no coração de Jesus que o ama, é capaz de entrar numa nova relação com os outros.


Deus na nossa cidade?

Porque não? A tua terra não é pior que Jericó. Também nela alguém de coração vazio se pode encontrar com Jesus. Tu, catequista, és o homem, a mulher que hoje esta capaz de fazer os mesmos gestos de Jesus. Experimenta levantar os olhos e olhar para as árvores. Procura com atenção de coração vazio. Vai ter com ele. Fala. Vai à sua casa. Mostra-lhe que amas esse coração vazio. Acompanha-o no caminho para uma vida nova.

HÉLDER GONÇALVES

quarta-feira, 25 de julho de 2012

SANTIAGO DE COMPOSTELA

Hoje dia 25 de Julho, a igreja católica celebra o dia de Santiago de Compostela.

Santiago de Compostela é, juntamente com Jerusalém e Roma, um dos lugares de peregrinação mais importantes do mundo. A maioria dos peregrinos utiliza o Caminho Francês, que começa em Roncesvalles ou em Saint Jean Pied de Port, passando através de Espanha, em direcção a Santiago de Compostela. Existem vários caminhos de Santiago e entre eles o caminho Português que é neste momento o segundo caminho mais percorrido de Santiago.

Muitos Peregrinos começam a peregrinação nas suas terras natais, inclusivamente na Alemanha e na Áustria, de forma que podem assim chegar a fazer mais de 1000 Km de itinerário, a pé, de bicicleta ou a cavalo.

A catedral de Santiago de Compostela é um dos mais importantes pilares do cristianismo.

A cidade de Santiago de Compostela alberga 46 igrejas, 114 campanários, 288 altares e 36 congregações.

A história de Santiago de Compostela relata-nos uma arquitectura religiosa e muito antiga. Podem ser admirados exemplares excepcionais, como, por exemplo, dois anjos do século XIV com óculos, integrados num alto-relevo, ou uma Virgem Maria grávida, na entrada de uma igreja.


A origem de Santiago de Compostela

O nome de Santiago de Compostela compõe-se de duas partes, São Tiago - o apóstolo, e Compostela - Campus stellae, cuja tradução quer dizer "Campo de estrelas".

Este Campo de estrelas refere-se à lenda da origem desta cidade.

Reza a referida lenda que, no ano 813, um habitante, de nome Pelayo, estando no local em que hoje se encontra a cidade, viu luzes e sinais no céu.

Seguiu as pistas sugeridas pelos sinais e encontrou o túmulo e os restos mortais de São Tiago e dos seus discípulos.

Relatou o sucedido ao Bispo Teodomiro de Iria Flávia, localidade situada a 20 Km de Santiago de Compostela.

O bispo mudou a sede do bispado para Compostela e informou o Rei Afonso II daquilo que tinha sucedido.

O Rei chegou ao lugar e ordenou a construção da primeira capela de Santiago de Compostela, para protecção do apóstolo e para que o recordassem.

Assim foi sendo edificada, passo a passo, a cidade actual, que ainda encerra um centro muito antigo.


Grupo íntimo de Jesus

Jesus teve uma relação muito especial com Pedro, Tiago e João.

Era o Seu grupo de confiança.

Frequentemente Jesus toma este grupo e leva-os à parte em momentos chave, em que eles seriam testemunhas excepcionais e exclusivas tais como:

- A ressurreição da filha de Jairo

- A transfiguração de Jesus no Monte Tabor

- A Agonia no horto de Getsémani


Em outras ocasiões, a este trio de confiança juntava-se André (irmão de Pedro).

Encontramos estes dois pares de irmãos em vários episódios:

- São os primeiros a serem chamados

- Acompanham Jesus na jornada a Cafarnaum, a casa de Pedro.

- Interessam-se especialmente pelos projectos de Jesus, e, em concreto, pela ruína de Jerusalém (Mc 13,3-4)


Carácter de Santiago

O papel destacado de Santiago deve-se, sem duvida, ao facto de pertencer ao grupo mais antigo dos que seguiam Jesus. Mas seguramente, têm também muito a ver com o carácter e as atitudes de Santiago.

Nos textos do Novo Testamento encontramos dados suficientes que mostram uma personalidade apaixonada, arriscada, ambiciosa e decidida.

Tiago aparece como uma pessoa que é capaz de arrastar os demais e que não para para medir consequências.

Santiago morre decapitado com uma espada por ordem de Herodes Agripa no ano 44.

Foi o primeiro Apóstolo Mártir a verter o seu sangue por Jesus.

Santiago de Compostela, rogai por nós.

HÉLDER GONÇALVES

segunda-feira, 23 de julho de 2012

FESTAS SENHORA AGONIA 2012

Aproximam-se as Festas em honra de Nossa Senhora D'Agonia.

Viana do Castelo está a engalanar-se para as festevidades e prepara-se para receber cerca de um milhão de forasteiros que aqui se deslocam todos os anos durante estes dias.

As Festas em honrra da Senhora D'Agonia, são as maiores festas de Portugal inteiro e até mesmo da vizinha Galiza (Espanha).

Centenas de excurções de toda a Europa são esparadas e o povo vianense bem sabe acolher, esta povoação de apenas vinte cinco mil habitantes que se multiplica por 40.

Se tiver a oportunidade de vir a Viana do Castelo, venha que não se vai arrepender.
Aqui deixo o programa.


PROGRAMA:

11 Agosto - Sábado

16h00 Abertura da XI “Exposição/Feira de Artesanato da Romaria d’Agonia”
Decorrerá, como habitualmente, no corredor central do Jardim Público Marginal, com cerca de 70 artesãos da nossa região a trabalhar ao vivo. Esta Exposição/Feira estará aberta até às 24h00 do dia 20 de Agosto. (ver programa específico)


17 Agosto - Sexta-feira

08h30 Alvorada
Já se ouvem os sons dos Zés Pereiras, das Bandas de Música, Gigantones e Cabeçudos, na nossa velhinha sala de visitas - Campo do Forno, Praça da Rainha, Praça da República.

09h00 Grande Feira
Toda a festa no Alto Minho, tem um poucochinho de feira. Tradicionalmente ligadas às grandes Solenidades Religiosa – Natal, Páscoa, Corpo de Deus, S. João, S. Miguel, Todos os Santos e porque “vacava o povo das obras servis” assim lhe advirá o nome de féria ou feirão.

09h30 Concerto Musical
No coreto da Praça da República pela Banda de Música da Casa do Povo de Moreira do Lima

10h00 Desfile da Mordomia
As Mordomas são as “Rainhas” das Festas e Romarias do Alto Minho. Raparigas solteiras sem “Fama”, compete-lhes todos os pormenores da organização da Festa, desde o receber das Filarmónicas até ao desfilar nos cortejos com os tradicionais tabuleiros e, mesmo, a responsabilidade dos bazares para a recolha de fundos. Com as Juntas de Freguesia do Concelho e Comissão de Festas apresentam cumprimentos ao Presidente da Câmara Municipal e Bispo da Diocese.

10h30 Abertura do “Circuito do Feirão”
Em vários locais da cidade.

12h30 Revista de Gigantones e Cabeçudos
Só a partir de 1893 é que Zabumbas e Zés Pereiras, assim como os Gigantones e Cabeçudos, entram na Romaria. Figuras descomunais e grotescas, os Gigantones trazem a sua origem remota e popular. Ligados à Procissão do Corpo de Deus, os Gigantes têm uma velha tradição na Europa. Reis da Festa animam as consagradas revistas da Romaria que se realizam todos os anos, no cenário da Praça da República ao som de uma centena de Bombos que de matreca em riste – bumba que bumba e zabumba – constituem o Cortejo mais gárrulo quão espaventoso do imaginário do Alto Minho.

14h30 Concertos Musicais
Nos coretos da Praça da República pela Banda de Música Pardilhoense e no Jardim D. Fernando pela Banda de Música da Casa do Povo Moreira do Lima.

16h00 Oração de Vésperas
No Santuário de Nossa Senhora d’Agonia

16h30 Procissão Solene da Sra. D’ Agonia
Sai da Igreja de S. Domingos e do Santuário. Com o andor da Senhora d’Agonia tomam parte os andores das Senhoras dos Mares, Assunção, Monserrate e, ainda, o Senhor dos Aflitos. É o figurado um dos elementos mais reclamados da Procissão Maior e a sua dramatização um dos valores mais simbólicos a ter em conta na Romaria. São os homens do mar quem pega aos andores com as suas camisas aos cadros, de cachemira. A organização da procissão solene, presidida por Sua Excelência Reverendíssima D. Anacleto Cordeiro Gonçalves de Oliveira, Bispo da Diocese, pertence à Real Irmandade da Senhora d’Agonia, declarando- se Suas Majestades El-Rei e Rainha D. Amélia juízes perpétuos da mesma (1890).

21h00 Desfile “Vamos para o Festival”
Zés P’reiras, Bandas de Música e Grupos Folclóricos, em sintonia com o muito povo que se incorpora voluntariamente, fazem a Festa, descendo a Avenida dos Combatentes da Grande Guerra em direcção ao Jardim Marginal.

22h00 Festival no Jardim
Nos palcos do Anfiteatro do Jardim da Marina e da Praça da Liberdade, o encanto e beleza dos trajes, das danças e dos cantares de Grupos Folclóricos, exclusivamente, do nosso Concelho. Também poderemos deliciar-nos com a Banda de Música da Casa do Povo de Moreira do Lima, no coreto da Praça da República e, da Banda de Música Pardilhoense, no coreto do Jardim Marginal, enquanto aguardamos (24h), pela espectacular sessão de fogo-de-artifício, nesta noite, o afamado “FOGO DA FESTA”.

Nota: após o “Fogo da Festa” dar-se-á início ao Arraial Super-Bock no Jardim da Marina


18 Agosto - Sábado

08h30 Alvorada
Repete-se, como em todos os dias, na Praça da República, nos moldes habituais.

Grande Feira - Terá lugar nos mesmos locais. A dar uma nota de mercado e de troca e onde o típico e o artesanal, de mãos juntas, se cruzam para relembrar a riqueza da Romaria.

10h00 Concerto Musical
No coreto da Praça da República pela Banda de Música dos Bombeiros Voluntários de Arrifana.

12h00 Revista de Gigantones e Cabeçudos
De novo, na Praça da República com toda a riqueza dos seus movimentos e de esfusiante alegria.

14h30 Concerto Musical
No coreto da Praça da República pela Banda de Música dos Bombeiros Voluntários de Arrifana.

16h00 Cortejo Histórico – Etnográfico
O naipe doceiro das gulodices Vianenses – Doçaria Conventual, Tradicional, das Romarias – A Arte da Canelografia. Da Bíblia (Antigo Testamento), o Êxodo rumo à Terra Prometida; da Grécia Antiga ao Banquete Romano de Trimalquião (Petróneo), Apicíus - Cozinheiro Romano e o Livro De Re Coquinare; a saga dos Descobrimentos.
- O Infante D. Henrique manda plantar na Madeira a Cana do Açúcar vinda da Sicília e faz o povoamento com gente de Viana; Garcia de Horta e Luís de Camões (1563), acompanham na Carreira das Índias a epopeia da canela vinda de Ceilão cinnamomum verum (canela verdadeira); o livro de cozinha (séc. XVI) da Infanta Dª. Maria de Portugal, filha de D. Duarte, Duque de Guimarães e neta de D. Manuel I faz parte do bragal no casamento com o Duque de Parma, Embaixador dos Países Baixos; a Doçaria Conventual (Convento de Santana e do Recolhimento de Santiago); a Brasileira (1902); as Pastelarias de Viana; Doçaria Tradicional, típica do Natal e da Páscoa; o Pão-de-Ló de Mestre Natário no Palácio de Alvorada - Brasil, Homenagem a Jorge Amado; Doces de Romaria: roscas e grades, tabuleiros de segredos, o Andor do Bolo; as Mordomarias, os Romeirinhos; as Noivas de Viana.

21h30 Concertos Musicais
Nos coretos da Praça da República pela Banda de Música dos Bombeiros Voluntários de Arrifana e no Jardim D. Fernando pela Banda de Música de Vila Nova de Anha.

22h00 Festa do Traje
A Glorificação do Traje à Vianesa e não à Minhota numa apoteose à “Mulher de Viana” à sua arte, ao seu engenho, à sua chieira, à sua força de matriarca; O pormenor da filigrana, das joias tradicionais, também memórias de fidalguia como se de um ex-voto à Terra-Nai se tratasse. A Praça da Liberdade será mais uma vez o palco da Festa do Traje que no ano transacto foi tão aplaudida.

24h00 Fogo-de-artifício designado o Fogo do Meio ou da Santa

Nota: após o “Fogo do Meio ou da Santa” dar-se-á início a mais uma sessão do Arraial Super-Bock no Jardim da Marina.


19 de Agosto - Domingo

08h30 Alvorada
Os tradicionais foguetes da alvorada seguida da Feira que ocorrerá no mesmo recinto das anteriores.

10h00 Concertos Musicais
Nos coretos da Praça da República pela Banda de Música de Pocariça e no Jardim D. Fernando pela Banda Bingre Canelense.

12h00 Revista de Gigantones e Cabeçudos
Que receberão homenagem dos seus “Vassalos”, os diversos grupos de Zabumbas e que terá lugar na Praça da República.

13h20 Volta a Portugal em Bicicleta
Partida para a 4ª etapa Viana do Castelo a Mondim de Basto (Sr.ª da Graça) da Alameda 5 de Outubro.

14h30 Concertos Musicais
Nos coretos da Praça da República pela Banda de Música de Pocariça e no Jardim D. Fernando pela Banda de Música Bingre Canelense.

16h00 Festival de concertinas e cantares ao desafio
Dezenas de tocadores de concertina e muitos cantadores e cantadeiras, oferecem este genuíno e castiço espectáculo onde proporcionarão aos milhares de espectadores habitualmente presentes e amantes deste popular “desafio cantado” que terá lugar na Praça da Liberdade.

21h00 Desfile “Vamos para a Serenata”
Gaiteiros, Zés Pereiras e Bombos, Bandas de Música e os Grupos Folclóricos com o sempre entusiástico acompanhamento dos “Romeiros” da Festa. Terá inicio como sempre no Largo da Estação dos Caminhos de Ferro.

21h30 Concertos Musicais
Nos coretos da Praça da República pela Banda Bingre Canelense e no Jardim Marginal pela Banda de Música de Pocariça.

00h00 Serenata
Com três cenários distintos: Rio Lima (Fogo Aquático), margem esquerda (Fogo do Ar), Ponte Eiffel 1878 (Cachoeira do Rio Lethes) Viana é Amor. Bouquets Monumentais, as Girândolas que iluminam o esplendor do céu, a apoteose do Belo, o Sonho da duplamente centenária Romaria da Sra. D’ Agonia.

Fica-nos a SAUDADE…

Nota: após a “Serenata” dar-se-á início à confecção dos tapetes floridos nas ruas da Ribeira e ao Arraial Super-Bock no Jardim da Marina.


20 de Agosto - Segunda-Feira

08h30 Alvorada
Queimam-se os últimos morteiros das Alvoradas Festivas.

09h30 Visita às ruas da Ribeira
Pode-se admirar os tapetes floridos assim como nas varandas e janelas, as colchas, redes e artífices do mar.
Nas ruas por onde irá passar a Sra. D’ Agonia depois da sua ida ao mar. Vale a pena ver e admirar os maravilhosos tapetes apresentados pelas gentes da nossa Ribeira fruto da devoção à Sra. D’ Agonia e numa manifestação do seu bairrismo à Santa Padroeira.

10h00 Concerto Musical
No coreto da Praça da República pela Banda de Música de Vila Nova de Anha.

12h00 Revista de Gigantones e Cabeçudos
Será a última revista do ano em que os Gigantones e Cabeçudos recebem um abraço dos Zabumbas e Zés Pereiras. Quatro dias, quatro revistas com quatro voltas entre o chafariz e o Caramuru e no final uma exibição a solo por cada grupo em frente à Domus Municipalis.

Também, para afugentar as trovoadas! - -

Onde vais Bárbara?
- Vou acalmar as trovoadas que no céu andam armadas!
- Vai Bárbara, vai! Leva-as para o monte maninho onde não haja pão nem vinho nem mulher de parto nem bafo de menino!

14h00 Concerto Musical
No coreto do Jardim D. Fernando pela Banda de Música de Vila Nova de Anha.

14h30 Solene Celebração Eucarística
No adro da Sra. D’ Agonia, presidida por sua Exma. Reverendíssima D. Anacleto Cordeiro Gonçalves de Oliveira, Bispo da Diocese. Finda a Santa Missa, sairá do Santuário a tradicional Procissão dos Homens do Mar com os andores de Nossa Sra. D´Agonia, Nossa Sra. Dos Mares e S. Pedro a caminho do Cais dos Pilotos onde, depois da alocução será dada a bênção ao mar e aos barcos seguindo-se a Procissão ao Mar e ao Rio. São inúmeras as embarcações de pesca e desportivas que acompanham a Sra. D’ Agonia numa manifestação de fé. O regresso ao Santuário será feito pelas ruas da Nossa Ribeira belamente atapetadas e decoradas com motivos piscatórios.

21h30 Concerto Musical
No coreto da Praça da República pela Banda de Música de Vila Nova de Anha.

22h00 Espectáculo Musical
Com o consagrado artista e nosso conterrâneo “Augusto Canário” e Amigos

No Campo D’Agonia

00h00 Fogo de Artificio – Fim de Festa

Nota: após o “Fogo da Festa” dar-se-á início ao último Arraial Super-Bock no Jardim da Marina.


HÉLDER GONÇALVES

domingo, 22 de julho de 2012

CRUZ DAS ASTÚRIAS

A Cruz das Astúrias, é representada com uma decoração impressionante de pedras preciosas que desde a cruz real foi revestida dessa maneira, ouro e pedras preciosas por Afonso III, o Grande, em Gauzón Castelo.

A cruz foi mais tarde transferida para o santuário da Basílica Catedral de Santo, que actualmente a protege.

Nos braços da Cruz das Astúrias estão penduradas as letras A (alfa) e O (Omega), que são a primeira e a última letra do alfabeto grego, que quer dizer principio e fim.

As letras simbolizam Cristo, pois é o início e o fim de toda a criação.

Nas laterais do escudo estão inscritas as palavras: "Hoc teutur sinal Pio" à esquerda e "sinal vicitur inimicus Hoc" à direita. Cujo significado em latim é no primeiro caso "Com este sinal defende a piedosa", e no segundo caso "Este emblema é devido ao inimigo."

Durante o reinado de Fernando VII, no século XIX, foi configurado para usar como emblema oficial do Conselho do Principado.

Ao longo das monarquias ou repúblicas seguiu o respeito, a menos que a modificação que foi feita da sua coroa em 1873 e 1931 com as Repúblicas que mudaram a coroa real pela coroa mural françesa.

HÉLDER GONÇALVES

sábado, 21 de julho de 2012

ANGKOR WAT - Camboja

- A cidade dos deuses khmers

- Neste lugar de perfeita geometria, visível do espaço pelas suas imensas dimensões e habitado por numerosas e fascinantes divindades petrificadas, situou a cosmogonia hindu o centro do mundo.

- Património da Humanidade desde 14.12.1992.


O complexo de templos de Angkor, no Camboja, é um dos monumentos mais extensos e assustadores do mundo. Esta enorme obra arqueológica encontra-se localizada naquela que foi a capital do reino khmer nos séculos IX a XV.

É também o único que restou com importante significado religioso - inicialmente hindu, e depois como centro de peregrinações Budista - desde a sua fundação. É considerado como a maior estrutura religiosa alguma vez construída, e um dos tesouros arqueológicos mais importantes do mundo.

Em 1586, António da Madalena, um frade Capuchinho português foi um dos primeiros visitantes ocidentais a chegar a Angkor.

Em 1860, o naturalista françês Henri Mahout descobriu a cidade, que se encontrava oculta numa pura aventura que fazia.

Angkor abrange uma extensão em torno dos 200 km², embora em 2007, uma equipa imternacional de pesquisadores recorrendo a imagens de satélite e outras técnicas modernas concluiu que Angkor foi a maior cidade pré-industrial do mundo, com um elaborado sistema de infra-estrutura estimado a uma área urbana de pelo menos 3 000 km².

Para construir este enorme complexo, calcula-se que foi necessário um imenso esforço humano para erigir esta cidade santa - terão sido necessários cerca de 25.000 mil homens durante 37 anos - o que contribuiu para a queda da dinastia khmer.

O templo consta de três recintos retangulares concêntricos de altura crescente, rodeados por um lago perimetral de 3,6 km de comprimento e de uma largura de 200 m. No recinto interior erguem-se cinco torres em forma de loto, atingindo a torre central uma altura de 42 m sobre o santuário, e 67 m sobre o nível do solo.

Efígies gigantescas estão orientadas para os quatro pontos cardeais, representando Buda omnipresente e o rei khmer.

O clima húmido e a terra fértil conbinaram-se com os anos de abandono, a partir do século XV, pena é que hoje a cidade tenha desaparecido sob o verde manto da selva, para permitir que grandes árvores próprias dos trópicos crescessem sobre as ruínas, como se pode ver na imagem.

Angkor, dormiu durante quatro séculos debaixo de uma vasta vegetação e a sua restauração definitiva só se iniciou em 1987.

HÉLDER GONÇALVES

sexta-feira, 20 de julho de 2012

CRISTOLOGIA

HISTÓRIA E DESTINO DE JESUS CRISTO


- O Jesus Histórico


INTRODUÇÃO:

Neste trabalho será abordada de forma sucinta o tema da História e Destino de Jesus Cristo – O Jesus Histórico. Não se pode dissociar o chamado Cristo da Fé do Jesus histórico, pois caso contrário, Jesus não passaria de um mito,«Não se pode (…) falar de um “Jesus da história” que seria diferente do «Cristo da Fé», (João Paulo II, Missão de Cristo Redentor, Carta Encíclica Redemptoris Missio, Editorial A. O, Braga, 1991» devendo ser visto à luz do Mistério Pascal: Paixão, Morte e Ressurreição. Estas duas realidades devem estar unidas na sua designação completa: JESUS CRISTO. Contudo, não nos debruçaremos sobre o tema da Ressurreição, que é da “área” do Cristo da Fé. Esta é a perspectiva encetada neste trabalho.

O tema de pregação de Jesus foi o Reino de Deus (Capítulo Um, A Mensagem de Jesus), reino de Paz e de Justiça; mas, para que as pessoas acreditassem no que dizia, deu a conhecer a sua condição de Filho de Deus, através de milagres, que eram sinais reveladores da presença de Deus (Capítulo Dois, Os Milagres de Jesus); através de diversos indícios, podemos chegar à conclusão que Jesus era o Filho de Deus, quer através da Cristologia Implícita, quer através da Cristologia Explícita (Capítulo Três, A Pretensão de Jesus); Jesus sabia que era o Messias e que tinha uma Missão a cumprir; para isso, foi necessário que sofresse e desse a Sua vida na Cruz: o Messias, tão esperado, acaba por morrer de uma morte infame (Capítulo Quarto, A Morte de Jesus – O Messias Crucificado).

No entanto, esta Morte não significou o fim, mas sim um passo no Mistério Pascal: «Jesus foi crucificado e morreu como um fracasso por motivos que não podemos reconstruir. Depois, sim que soubermos como nasceu a fé na ressurreição, direi, se creio que vivia(…) RATZINGER, introdução ao cristianismo 1979», à luz da Ressurreição, o Jesus histórico passa a Cristo da Fé, pois tudo o que tinha pregado torna-se agora compreensível.


1. A MENSAGEM DE JESUS

Qual foi o teor da mensagem de Jesus?

A Sua mensagem centra-se no Reino de Deus, que Ele vem anunciar.

Este anúncio do Reino era dito de uma forma estratégica, pois Jesus Cristo usou da pedagogia, visto que o Povo vivia na expectativa Messiânica.

Em nenhum momento Jesus falou de Si, pois não ouviram nenhuma definição de Sua identidade por Si próprio; ao invés, Ele procura saber o que as multidões dizem acerca de Si.

Ele próprio é o Reino de Deus, assim como a Sua Mensagem.

Em Jesus Cristo, Deus tem uma Palavra salvífica, envolvendo todo aquele que O escuta, ficando a pessoa “obrigada” a tomar uma decisão.


Quais as características da Sua Palavra?

a) A Palavra de Jesus Cristo é incisiva, cortante, pois tem Palavras de Vida Eterna, sendo a Palavra de Jesus comparável a um instrumento cirúrgico; é uma palavra que agita e desinstala, que leva o homem a ter de tomar uma opção fundamental , pois Jesus constantemente apelava à conversão: «Completou-se o tempo e o reino de Deus está perto: Arrependei-vos, e acreditai na Boa Nova» (Mc 1,15);

b) A Sua Palavra é questionadora, pois fala através de parábolas e recorre também muitas vezes a perguntas como resposta a outra pergunta comprometedora . Por que é que Ele fala assim? Para provocar uma resposta que exige um retorno imediato, utilizando a pedagogia do Antigo Testamento. Ele faz a palavra “nascer”;

c) A Sua Palavra é libertadora, pois liberta do Pecado; por exemplo, quando cura o coxo, este passa a poder andar fisicamente, mas também tem um significado teológico: o de poder começar uma caminhada na Fé, livre de amarras, ou seja dos seus pecados, que lhe foram perdoados;


Em concreto, a sua mensagem é a de que está próximo o Reino do Céu, ou Reino de Deus . Este era a tónica da Sua pregação, especialmente na Sua primeira pregação.


Mas, o que é o Reino de Deus?

a) O Reino não é um território: os Judeus aperceberam-se disto e não gostaram. Na Sua Transfiguração do Monte Tabor, Jesus Cristo disse aos discípulos: não digais nada a ninguém. Isto para não criar falsas expectativas em volta de Sua Pessoa (para não pensarem que Ele era Rei na acepção comum da palavra) e para não levar a consequências irreparáveis: não podia encurtar o processo e ser condenado mais cedo do que o tempo previsto ;

b) O Reino não é uma imposição, é uma proposta, pois exige participação e aceitação, através do acolhimento aos pecadores e atenção aos pobres e marginalizados;

c) O Reino excede o histórico: é o Já (está entre nós) e o ainda não (mas não definitivamente realizado, pois falta alguma coisa) . Não é uma realidade histórica no sentido do termo, nem tampouco uma realidade extra-histórica, pois começa já aqui, mas o seu final e plenitude se verificam ao longo da história. A existência histórica prepara a chegada do Reino: é o Advento. Segundo Jesus, «O reino de Deus não vem de maneira ostensiva. Ninguém poderá afirmar: Ei-lo aqui ou ali, pois o reino de Deus está dentro de vós» (Lc 17, 20-21). A própria vida de Jesus é um já, mas ainda não, pois com a Ressurreição dá-se a Revelação definitiva do Reino de Deus, mas a Igreja é um instrumento ao serviço do Reino (não é o Reino de Deus em si);

Jesus, sendo o Filho de Deus feito homem, é mensageiro (anunciador, pregador...) da vinda de Deus à história, como acolhimento incondicional do homem. Jesus é Aquele que se anunciou Deus-connosco e foi Deus connosco (que curou, deu a Graça...). Jesus questiona os Seus discípulos: «Quem dizem as multidões que Eu sou? (...) Pedro tomou a palavra e respondeu: O Messias de Deus» (Lc 9, 20). Este Mistério do Messias só se pode fazer à luz do Mistério Pascal.

O Reino é uma metáfora, pois não é materializável, nem se define como os reinos humanos; aponta para algo que transcende, que se concretiza aqui e agora; expressa Deus activo, em acção, que age na história e dá a vida pela história, concretizado na figura de Jesus Cristo, Seu Filho. Jesus situa a Mensagem na linha das promessas do Antigo Testamento que se concretiza na Sua vida, pois a Sua pessoa é o Reino de Deus.


2. OS MILAGRES DE JESUS

Antes de mais, coloca-se a questão: o que é um milagre?

É nossa noção comum que um milagre é algo que não tem explicação natural, que vai contra as leis da natureza, sendo cientificamente inexplicável. Não é propriamente essa a noção de milagre. «A palavra milagre provém de ”miraculum”, isto é, algo de admirável (...). Milagre é aquele facto, acontecimento ou realidade, admiráveis, em que o homem percebe a presença de Deus que aí se revela», (MESTERS, Carlos, Curso Bíblico, Edições Paulistas, Sacavém, 1982).

Na Bíblia, um milagre pode ser a coisa mais natural ou ao invés uma coisa extraordinária. Simplesmente, um milagre é um sinal da presença de Deus na vida. Um milagre nada diz a quem não tem fé, pois não encontra a presença actuante de Deus. «É difícil fazer um juízo sobre os milagres, que hoje acontecem em toda a parte». Cfr. MESTERS, Ibidem, nota anterior.

Milagre é algo que não obedece ao Princípio do Determinismo, isto é, as mesmas causas, em circunstâncias semelhantes, podem não produzir os mesmos efeitos. Contudo, isto sem violentar as Leis da Natureza, mas podendo sair das mesmas, constatando que realmente Deus está, servindo-se da Natureza, para dizer “Eu Sou, Eu Estou”. Assim, um milagre é algo em que Deus, através do natural pode manifestar o sobrenatural.

Pela leitura dos Evangelhos, pode dividir-se a actividade de Jesus em duas vertentes: o fazer (ou seja, os Milagres) e o ensinar (dizer); os milagres são a confirmação ou o atestar das Suas palavras, ou seja, há um anúncio do Reino e concretização do Reino através dos milagres. Por exemplo, a expressão «Em verdade, em verdade vos digo», credibiliza as acções de Jesus. Os milagres são os Sinais de que João nos fala, sendo algo que remete sempre para aquilo que Jesus diz.


Mas, existiram realmente os milagres de Jesus?

Nem todos os milagres do Evangelho foram históricos, pois são narrações posteriores da Igreja primitiva, com a pedagogia de despertar a Fé e provocar o seguimento; talvez Jesus não tivesse feito mais do que dois ou três milagres (não se sabe ao certo); de facto, nem todos os milagres são narrados por todos os evangelistas, nem são narrados de forma semelhante, havendo divergências, o que levará a pensar que nem todos existiram. Houve milagres, mas não é fácil identificar quais foram. Cada evangelista põe uma tónica diferente nos milagres: Sobre a diversidade desta tónica : «Todos tinham um fim comum, despertar a fé em Cristo como Filho de Deus enviado a nós, e dar a conhecer a sua mensagem. Isto faz com que suprimam muitos factos que julgam não ter importância para o fim que pretendem. Mas, ainda dentro deste fim geral, cada um deles quis fazer ressaltar uma ou várias facetas especiais da sua pessoa e da sua mensagem, escolheu uma ordem e um método diferente para o fazer», (PEDRAZ, J. Lopez, O Cristianismo não convence? Livraria Apostolado da Imprensa, Porto, 1973). para Marcos será o de mostrar o poder que O acredita como Filho de Deus; para Mateus será acentuar o poder Magistral dos milagres; para Lucas, salientar a ternura e a compaixão de Jesus (através das curas); e João põe a tónica na revelação da Glória de Jesus, com os seus Sinais. Assim, os relatos dos milagres não são Actas notariais, mas sim sumários relatados pela Igreja, que faziam memória de Jesus Cristo.

Jesus não faz milagres só para os fazer, pois caso assim fosse, teria feito milagres quando Herodes o pediu (Lc. 23, 8), quando o demónio O tentou no deserto (Lc 4,3-12), quando pedem que desça da Cruz e Se salve a Si próprio (Mt, 27,42). Jesus não é um curandeiro, que faz coisas surpreendentes, mas a finalidade é a de proclamar que onde Deus está, o homem salva-se: Deus está aí e para salvar. Os milagres de Jesus Cristo não são um fim, mas sim um meio de revelar a mensagem do Pai, por meio do Seu Filho. De facto, a razão de ser do milagre é suscitar a Fé naquele que contempla o mesmo, de uma forma pedagógica e catequética, «Podemos dizer que ele é um sinal “complexo”, polivalente, para suscitar, confirmar e fortalecer a fé», (PINTO, António Vaz, S.I., Revelação e Fé, Editorial A.O., Vol. I, Braga, 1989). pois esses milagres são sinais reveladores da Identidade de Jesus. A finalidade dos milagres é, então, a conversão e a mudança em vista da instauração do Reino de Deus na vida dos indivíduos e da sociedade. Jesus curou até leprosos, considerados amaldiçoados por Deus, em virtude do seu pecado, para dizer que eles também eram parte da sociedade, eram parte do Povo de Deus. Por exemplo, com o milagre do coxo, não só o pôs a andar, mas também pretendeu dizer que agora já O podia seguir, tendo assim o milagre uma função catequética.

Todos os milagres são apenas antecipação do grande e definitivo milagre da Ressurreição, em que ficou manifesto quem era Jesus e qual o futuro que Ele quer realizar, sendo Ele próprio o Milagre.

Há diversos tipos de milagres, segundo o sujeito que os realiza:

a) Milagres que Deus faz directamente em Jesus: são a concepção virginal, a transfiguração e a Ressurreição;

b) Milagres que Deus faz através de Jesus: as curas, exorcismos, ressurreições de mortos e de superação dos elementos (ou seja, milagres da natureza); «Podemos considerar que se encontram nesta alínea: a transformação da água em vinho, a multiplicação dos pães e dos peixes, a pesca milagrosa, Jesus a caminhar sobre as águas, a tempestade acalmada, a maldição da figueira e talvez algum outro episódio», (CALVO, A.; RUIZ, A. – Para conhecer a Cristologia, Editorial Perpétuo Socorro, 1992).

c) Milagres que fazem os apóstolos e a Igreja (por exemplo, a Eucaristia).

Há nestes tipos de milagres uma progressão, em que Deus age directamente na história, em que Deus opera milagres em Jesus Cristo e em que a Igreja também faz milagres.


3. A PRETENÇÃO DE JESUS

Será que Jesus tinha a clara consciência de quem era, isto é, de ser o Filho de Deus? A resposta a esta pergunta sobre a Sua Identidade é essencial para elaborar a Cristologia. Há duas hipóteses:

I) Cristologia implícita, a Igreja tinha consciência de quem era Jesus;

II) Cristologia explícita: Jesus sabia quem era.


I) CRISTOLOGIA IMPLÍCITA

Existir para qualquer ser humano implica pensar, uma certa auto-compreensão, pois sem esta não é possível uma vida humana plena. A consciência de Jesus de ser quem é obedece aos critérios do desenvolvimento do ser humano. É lógico que a Sua natureza divina existia desde o início, embora a consciência da mesma pudesse não existir.

Jesus nunca afirmou nada sobre Sua Pessoa, pois nunca disse: Eu Sou o Cristo, apesar de que antes de O ser já O era, pois o Verbo de Deus já era antes de ser carne. A afirmação de «Quem me vê, vê o Pai» e outras similares são expressões da Igreja primitiva, que teve a noção, desde o início da sua existência, que Jesus era o Filho de Deus. De notar que antes do Mistério Pascal não existia a Igreja. Até na Transfiguração disse: «Não digais nada a ninguém» (Mt 17, 1-9); assim, não revela quase nada sobre a Sua Pessoa.

No entanto, dá-nos alguns indícios da Sua natureza:

a) O maior indício é dado pela Sua autoridade. «El carácter transcendente de la mesianidade de Jesús se descubre también en su manera de enseñar. Así como los profetas enseñaban siempre em nombre de Yahveh, Jesús afirma simplesmente: «Yo os digo». (...) Lo mismo puede decirse de la soberana autoridad con que Jesús se declara señor del sábado, obra milagros, perdona los pecados y transmite a sus apóstoles el poder de perdonarlos», (CHOPIN, C., El verbo encarnado y redentor, Editorial Herder, Barcelona, 1974). É um elemento importante, pois ela não advém do Livro, nem de nada que lhe é exterior. Por isso, as gentes se interrogavam sobre Jesus: «De onde lhe vem tamanha autoridade?». A Sua própria Pessoa é autoridade, pois Ele é, não sendo atribuída por ninguém. «Em verdade, Em verdade vos digo», expressão frequente de Jesus Cristo, sublinha a Sua autoridade que não lhe vem de fora. «Eu Sou a Luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas» (Jo 8,12) já é uma afirmação da Igreja primitiva;

b) A Sua relação com as instituições sagradas do Seu tempo: não afirma explicitamente que é superior à Lei, mas implicitamente é superior ao culto, ao Templo, às personalidades, ao Sábado, embora não o diga claramente; Jesus é Senhor do Sábado, como Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir;

c) Em relação aos grupos humanos do Seu tempo. As relações de Jesus implicam uma nova consciência, pois relaciona-se com os marginalizados, com os doentes, com os que não são tidos em conta na Sociedade, com publicanos, prostitutas, pecadores, pois são essas pessoas que melhor entendem e acolhem a Sua mensagem do Reino. Isto é uma forma de manifestar a Sua autoridade, pois ao comer com essas pessoas, Jesus provoca as autoridades do Seu tempo, não com pretensão de se sobrepor a ninguém: de facto se quisesse sobrepor aos outros não seguiria o caminho da Cruz, mas o da Glória, o que é contraditório. Deus ama os Seus filhos mais desprotegidos, tendo Jesus disso plena consciência;

d) A Sua relação com Deus também evidencia a Sua autoridade: Ele trata Deus por ‘Abba (Pai). Tratar Deus como Pai e comer com os pecadores levam-no à condenação. A sua oração é tão reveladora que os discípulos pedem a Jesus para lhes ensinar a orar, pois a Sua autoridade fascina-os; tratar Deus por Pai, Paizinho, traduz confiança que quebra as barreiras, se as houver: isto concerteza não foi invenção da Igreja primitiva. Jesus somou obediência e liberdade mediante o Pai. Jesus sem o dizer claramente e sem a pretensão de nada, tinha a consciência de ser o Filho de Deus, mas só o manifestou melhor a alguns. Por exemplo a Tiago, João e Pedro, na Transfiguração, embora ressalvando o facto de lhes dizer que não contassem a ninguém, pois não era chegado o tempo. Jesus tinha a consciência de ser quem era, ou seja tinha a auto-consciência, mas não tinha a preocupação de o dizer claramente.


II) CRISTOLOGIA EXPLÍCITA

Ao longo do Seu Ministério vai revelando progressivamente quem é, o que é comparável à revelação progressiva de Deus na história, obedecendo a esse plano revelador de Deus, com base em alguns factores:

a) Através da sua relação com os Apóstolos. Ele tinha a consciência da Sua autoridade, do carácter explícito da Sua Mensagem, «Jesus possuía evidentemente a consciência da própria messianidade, (Mar., 14, 61 e segs.), que, porém, era muito diferente daquela que os seus contemporâneos argumentavam pela sua descendência dadídica.», (LAPPLE, Alfred, Mensagem Bíblica para o nosso tempo, Edições Paulistas, 1968. pois partilha da Sua autoridade e delega-a aos Apóstolos que considerava amigos e não alunos ouvintes: a ele revelava-lhes tudo, através de Suas parábolas, nas quais se subentendia que hoje seria Jesus e amanhã seriam eles; é uma revelação de abertura, que não esconde nada, revelando a Sua verdadeira essência na Transfiguração; o destino e missão da Sua Pessoa consiste na verdadeira amizade. Com o Seu Ser e fazer é revelador de Seu Pai: «Quem Me vê, vê o Pai», (Jo 14,9). Além disso, sente-se que Jesus fala e actua no lugar de Deus. E esta indiscutível pretensão coloca-O acima de todos os profetas do Antigo Testamento.

b) Através de Títulos Cristológicos: nas Sagradas Escrituras há diversos títulos que se referem a Jesus, tais como: o Cristo, o Filho de Deus, o Filho do Homem, o Servo de Javé. «Jesus defendeu a afirmação de ser o Filho de Deus com os milagres e, sobretudo, com o poder de perdoar pecados.», (LAPPLE, Ibidem nota anterior). Tais expressões podem levar à conclusão que Jesus se declarava como Filho de Deus e Senhor. No entanto, um estudo mais aprofundado revela que tais títulos messiânicos e divinos são confissões de fé da Comunidade cristã primitiva, feita a partir da luz que lhes vinha da sua fé no Cristo ressuscitado. Apenas parece haver probabilidades de que os títulos de Filho do Homem e Servidor de Deus (Servo de Javé) tenham sido realmente apropriados a si mesmo pelo Jesus histórico.

Podia-se aplicar directamente esses títulos a Si próprio (dizendo «Eu Sou o Messias», mas não o fez); podiam ser atribuídos por outrem («Tu És o Messias»); ou então, ao dizer, Messias, Filho do Homem, Servo de Javé, não falava, mas deixava transparecer o Seu Ser. Jesus não usou os títulos de Majestade como os demais, mas tampouco o rejeitou explicitamente; Pilatos ao perguntar se ele era rei, Jesus transfere para Pilatos a responsabilidade, pois diz «Tu o dizes», não o afirmando explicitamente; compreende-Se a Si próprio numa linha de cumprimento das antigas profecias do Antigo Testamento: ao dizer «Filho do Homem» revela a Deus, sem esconder a Sua humanidade, pois Ele era a plenitude da revelação de Deus, ou então para dar cumprimento à profecia de Daniel.

Há uma incarnação do Divino e uma divinização do humano: é a união hipostática, ou seja a união de duas naturezas: a humana e a divina.

Jesus sabia quem era, «O seu agir e o seu pregar constituem o início de uma nova tradição. Jesus tem a consciência precisa de ser o portador definitivo da Revelação e da salvação, e como tal fala e age», ( MANNUCCI, Bíblia Palavra de Deus, Edições Paulinas, 1986). mas não o diz claramente, porque contrariaria a revelação progressiva, lenta de Deus e não rompe com esse esquema, de forma a não dizer que Eu Sou, mas que os outros digam que Ele é. Há um chamado Segredo Messiânico, pois Jesus alerta os discípulos que «não o digais a ninguém», por exemplo na Transfiguração do Tabor, pois o tempo deve cumprir-se, e não pode ser antecipado; nem os acontecimentos podem-se precipitar, criando falsas expectativas sobre Si próprio. De facto, esperava-se um Messias político e não dessa forma. Ele queria ser conhecido, mas queria que fossem os outros a conhecê-lo e não Ele próprio a revelar-se. Ele, ao provocar a autoridade implicitamente, constrói a Sua própria morte. A Sua pedagogia era preparar o Povo para a Sua Messianidade, fazendo com que respondessem à sua pergunta: «E vós quem dizeis que Eu Sou?».


4. A MORTE DE JESUS - O MESSIAS CRUCIFICADO

O projecto de Jesus era fazer a vontade do Pai e tinha a consciência da Sua morte na Cruz; Ele era o Servo de Javé, sofredor de que fala o Evangelho. As Suas atitudes, palavras, constroem a Sua própria morte, pois Ele próprio vai talhando a Sua Cruz; a Sua preferência pelos desprotegidos, pecadores, dita-lhe a própria morte; o anúncio do Reino, De facto, o reino de Deus e o Messias não era esperados por todos da mesma forma. «Os zelotes davam-lhe um sentido nacionalista; para outros tinha um significado apocalíptico com maior conteúdo espiritual e os fariseus faziam-no consistir numa religião de obras, reduzindo-a ao povo de Israel», (MARTÍN, DARÍO GUTIERREZ, O lado Humano de Jesus de Nazaré, Edições São Paulo, 1997). a Sua pregação, a expulsão dos vendilhões do Templo, o tratar-se por Filho de Deus (era considerado uma blasfémia), o comer com publicanos e pecadores, as Suas acções taumatúrgicas, os Sinais do Reino, levam a que Jesus fosse considerado uma ameaça muito grave para os detentores do poder político e até do religioso. Ele era o Messias e reindivicava para Si esses Títulos Messiânicos. Ver ponto anterior deste trabalho.

A Crucifixão Curiosamente, a Crucifixão de Jesus é uma «prova» da existência de Jesus, pois «se, portanto, os primitivos cristãos levam séculos a aceitar a ideia de que o seu Deus tenha morrido sobre uma cruz, como pensar que este modo de morrer seja inventado, no mito, pelos próprios cristãos?», (MESSORI, Vitorio, Hipóteses sobre Jesus, Edições Salesianas, Porto, 1976. era para os agitadores da ordem pública, para os pecadores; No livro “Jesus no Seu Tempo” das Selecções do Readers’s Digest, diz-se: «A crucifixão, descrita pelo orador romano Cícero como a “mais cruel e repugnante das penas”, era reservada, na Palestina, aos criminosos sem cidadania romana, usualmente apenas aos rebeldes contra o Estado, aos escravos delinquentes e aos mais bárbaros criminosos». a Sua entrada em Jerusalém era profética, aqui é vista de diferentes formas pelo Povo: para uns é como um revolucionário; para outros é um facto escatológica, que aponta para outra realidade que nos ultrapassa. mas há contradição, pois quando tudo adivinhava sucesso, acontece a Sua Morte; Mas «O grito de Jesus na cruz, amados irmãos e irmãs, não traduz a angústia dum desesperado, mas a oração do Filho que, por amor, oferece a sua vida ao Pai pela salvação de todos», (JOÃO PAULO II, À Entrada do Novo Milénio, Editorial A.O., Braga, 2001). Jesus perante a morte está sereno, pois sabe que é mais um Profeta a abater, deixando transparecer isso na Sua Parábola dos Vinhateiros; Ele sabia-o, mas não fugiria, pois a Sua vontade era fazer a vontade do Pai e dar cumprimento às Escrituras. Ele tem consciência da Sua própria morte; os discípulos tentam dissuadi-lo desse projecto, mas não o conseguem, pois eles não entendiam; só à luz da Ressurreição é que vão entender. A Morte em si é uma vergonha: «Escândalo da cruz (...). Os próprios discípulos não estavam dispostos a aceitar aquele caminho «absurdo» e desconcertante», tal foi visto esse facto na época», (BERNARDO, Ibidem, nota 3). é a vergonha da Sexta-Feira Santa: tudo está verdadeiramente consumado, estando a redenção de Cristo completa, com a obediência de Jesus a Deus elevada ao máximo.

Jesus Cristo encetou o caminho da Paixão, Morte e Ressurreição. Na Sua Paixão os grandes momentos teológicos foram a agonia, os julgamentos e ultrajes e a execução.

A Crucifixão envolvia um procedimento brutal: primeiro era chicoteado. Depois, escarneciam dele, colocando-lhe uma túnica escarlate em volta dos Seus ombros e na cabeça uma coroa de espinhos para troçarem da Sua afirmação de ser rei. Seguidamente Jesus foi obrigado a carregar a pesada travessa da Cruz «que poderia pesar uns 60 Kg», (Depois de Jesus, O Triunfo do Cristianismo, das Selecções do Reader’s Digest) em direcção ao Gólgota, colina do exterior de Jerusalém onde seria executado. Quando Jesus se mostrou demasiado fraco para levar a Cruz durante todo o caminho, os soldados obrigaram um provinciano que passara ali, a carregá-la por Ele. No Gólgota, pregaram-Lhe as mãos e os pés, tendo depois os soldados fixado um dístico em que se lia: «Jesus Nazareno, Rei dos Judeus». Jesus sofreu na Cruz cerca de seis horas, enquanto os passantes observavam o espectáculo, insultando-O alguns deles. E alguns ironizaram com Ele: «Salvou os outros... e não pode salvar-Se a Si mesmo! O Messias... o rei de Israel!... Desça agora da cruz, para que vejamos e acreditemos» (Mc 15, 31-32). Quando exalou o último suspiro, por volta das três horas da tarde, o centurião romano no Gólgota exclamou: «Este era verdadeiramente o Filho de Deus».

«O seguimento de Jesus exige a cruz antes do prémio». COMISSÃO TEOLÓGICO-HISTÓRICA DO GRANDE JUBILEU DO ANO 2000, Jesus Cristo Salvador do Mundo, Edições Paulinas, 1996 De facto, «Se alguém quer seguir-Me, renuncie a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e siga-Me. Pois, quem quiser salvar a vida, vai perdê-la; mas quem perder a vida por minha causa, salvá-la-á» (Lc 9, 23-24).

Jesus Cristo, ofereceu-se em sacrifício pela humanidade, como Vítima de expiação, redimiu--a, resgatou-a, libertou-a, pagando com a Sua Vida a Deus a “dívida” da ofensa contraída pelo pecado do Mundo. Jesus é o Messias, segundo fora anunciado no canto do Servo de Javé (Is 42, 1-4). «Ele não veio para ser servido, mas para servir e dar a Sua vida pelo resgate de muitos» (Mt 21, 28).

O acontecimento da ressurreição é que dará a verdadeira compreensão sobre Jesus e restitui aos seus discípulos o entusiasmo perdido após a Sua Morte. «A Ressurreição faz parte do «mistério pascal», acontecimento salvífico riquíssimo...», (Ibidem, nota anterior) Não acreditar na ressurreição de Jesus é o mesmo que ter uma fé morta, pois «Se Cristo não ressuscitou é vã a nossa fé» (I Co 15, 14). Mas isto já é tema para outro posterior trabalho.


CONCLUSÃO:

«Quem dizem os homens que é o Filho do Homem? Responderam: Uns, que é João Baptista; outros, que é Elias; e outros, que é Jeremias ou algum dos profetas. E vós, quem dizeis que Eu sou? Tomando a palavra, Simão Pedro respondeu: Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo» (Mt. 16, 13-17). Jesus é Alguém que é anunciado como Messias e Salvador, muitos séculos antes de ter nascido. “Cristo” significa, o Esperado, o Prometido, o Messias. O Seu nascimento, a Sua presença e mensagem não deixam ninguém indiferentes: a Sua Palavra suscita a mudança para quem O ouve; a maneira como ama os outros, como perdoa os pecados, cura as doenças, ressuscita os mortos, revela-O como verdadeiro homem, mas também como verdadeiro Deus.

«De tal maneira Deus amou o mundo, que lhe deu o Seu Filho único, para que todo aquele que n’Ele crer não pereça, mas tenha a vida eterna» (Jo. 3, 16). Jesus assume plenamente a condição humana, oprimida pelo pecado, mas desejosa de libertação: Ele vai salvar a humanidade em Si próprio. Pela Sua pregação da mensagem salvadora diz-nos que o homem só tem possibilidades de salvação na medida que aderir ao Reino de Deus. Este Reino de Deus consiste na introdução deste mundo na ordem de Deus, através do desaparecimento do pecado e da superação dos inimigos do homem e que exige a conversão das pessoas, através da ruptura com o mundo velho à margem de Deus e da adesão à realidade nova de Jesus Cristo. No entanto, não é só a Sua palavra que liberta, mas também os milagres que Ele faz, que libertam o homem das amarras do pecado, para que possam, com Ele, empreender a caminhada.

Jesus sabia Quem era e qual a Sua missão, pois a Sua autoridade que advém de Si próprio e não de algo exterior, a maneira como Se relaciona com os Seus discípulos, o seu interesse pelos mais desfavorecidos (é uma forma de manifestar a Sua autoridade), a Sua relação com Deus que trata de Pai, entre outros indícios, levam à afirmação de que Ele é o Filho de Deus, o Messias.

A morte de Cristo não foi uma catástrofe repentina e desligada do resto da Sua vida; a Sua Incarnação, vida, mensagem e morte formam um todo profundo. A morte estava implicada nas exigências da Sua Incarnação num mundo de pecado e no estilo da Sua vida e pregação. A morte de Cristo é simultaneamente o fim do pecado e da morte e quem nele crer viverá eternamente; mas para isso, é necessário segui-lo e imitar a Sua vida, pois «Se alguém quer vir após Mim, negue-se a Si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me». A morte de Cristo é iluminada pela Ressurreição: esta significa a plena introdução no homem do Reino de Deus. Com a Ressurreição a morte é vencida e todo aquele que aderir a Cristo participará do Seu Mistério, pois segundo nos diz Jesus Cristo «Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a Minha palavra e acredita n’Aquele que Me enviou, tem a vida eterna e não incorre em condenação, mas passou da morte para a vida!» (Jo. 5, 24).

Exame de "Cristologia (Jesus Cristo - Filho de Deus)"
de Hélder Gonçalves a 12.02.2007
Escola Superior de Teologia e Ciências Humanas de Viana do Castelo
Professor: Padre Alfredo Domingues de Sousa
Avaliação Final: 18 Valores

HÉLDER GONÇALVES


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