segunda-feira, 9 de julho de 2012

QUEM ERA JESUS

Sobre Jesus de Nazaré dispomos de mais e melhor informação do que da maioria dos personagens do seu tempo. Além das notícias sobre a sua existência e actividade, que conhecemos através de fontes históricas não cristãs, dispomos de tudo o que as testemunhas da sua vida e da sua morte nos comunicaram.

São tradições orais e escritas sobre a sua pessoa – entre as quais se destacam as contidas nos quatro Evangelhos -, que foram transmitidas na comunidade de fé viva que Ele estabeleceu e que ainda hoje permanece. Essa comunidade é a Igreja.

Os dados que se encontram nos Evangelhos apócrifos e outras referências extra-biblicas não acrescentam nada de substancial à informação que nos oferecem os Evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e Joao, antes a confirmam.

Até ao Iluminismo, crentes e não crentes estavam convencidos de que o que podíamos saber sobre Jesus estava contido nos quatro Evangelhos. No entanto, por serem relatos escritos a partir da fé, alguns historiadores do século XIX questionaram a objectividade das suas informações. Para estes estudiosos, os relatos evangélicos eram pouco credíveis porque não continham o que Jesus fez e disse, mas aquilo em que acreditavam os seus seguidores alguns anos depois da sua morte. Por conseguinte, nas décadas seguintes e até meados do século XX, foi posta em questão a veracidade dos Evangelhos, chegando mesmo a afirmar-se que, de Jesus, «não podemos saber quase nada» (R. Bultmann, Jesus, Deutsche Bibliotheh, Berlim, 1926, P. 12).

Hoje em dia, com o desenvolvimento da ciência histórica, os avanços arqueológicos e o nosso maior e melhor conhecimento das fontes antigas, é possível afirmar, utilizando as palavras de um conhecido especialista do mundo Judeu do 1º século d.C - a quem não se pode qualificar propriamente de conservador -, que, «se pode saber muito sobre Jesus» (E. P. Sanders, Jesus and Judaism (Jesus e Judaísmo), Fortress Press, London Philadelphia, 1985, p. 2). Este mesmo autor oferece uma lista de afirmações que estão fora de questão do ponto de vista histórico (embora ele precise que a listagem de tudo o que sabemos acerca de Jesus seria muito mais longa):

1 – Jesus nasceu por volta do ano 4 a.C, pouco antes da morte de Herodes, o Grande.

2 – Passou a sua infância e os primeiros anos da sua idade adulta em Nazaré, uma aldeia da Galileia.

3 – Foi baptizado por João Baptista.

4 – Chamou os que haviam de ser seus discípulos.

5 – Ensinou nos povoados, aldeias e campos da Galileia.

6 – Anunciou o «Reino de Deus».

7 – No ano 30, foi a Jerusalém pela festa da Páscoa.

8 – Provocou agitação no recinto do Templo.

9 – Celebrou a última refeição com os seus discípulos.

10 – Foi detido e interrogado pelas autoridades judaicas, mais concretamente pelo Sumo-sacerdote.

11 – Foi executado por ordem do governador romano, Pôncio Pilatos.


Sanders acrescenta uma breve lista de factos igualmente seguros sobre as consequências da vida de Jesus:

1 – Os seus discípulos começaram por fugir.

2 – Viram-no depois da sua morte (os historiadores interrogam-se sobre a forma como terá sido visto).

3 – Como consequência disso, acreditaram que Ele voltaria para instaurar o reino.

4 – Formaram uma comunidade, que esperava o regresso de Jesus, e tentaram fazer com que outros aderissem à fé nele como Messias de Deus (E. P. Sanders, La Figura Histórica de Jesús (A Figura Histórica de Jesús), Verbo Divino, Estella, 2000, pp. 27-28).


Deste modo, o desenvolvimento contemporâneo da investigação histórica permite estabelecer pelo menos estes factos como comprovados, o que não é pouco para um personagem de há vinte séculos. Não há evidências racionais que confirmem com maior certeza a existência de figuras como Sócrates e Péricles – para apenas citar alguns muito conhecidos -, como as provas que demonstram a existência de Jesus. E, inclusivamente, os dados objectivos criticamente comparáveis de que dispomos sobre estes personagens são, quase sempre, muito menos numerosos.

Sobre esta base mínima de acordo entre os historiadores, é possível determinar como historicamente fidedignos muitos outros dados contidos nos Evangelhos.

A aplicação dos critérios de historicidade sobre esses dados permite estabelecer o grau de coerência e probabilidade das afirmações evangélicas, e afirmar que o conteúdo desses relatos é substancialmente correcto.

Estes dados convidam-nos a pensar que Jesus era o Messias que havia de vir para conduzir o seu povo como um novo David e, mais ainda, que Jesus é o Filho de Deus feito homem. Para acolher verdadeiramente este convite é necessário contar com um auxílio divino, gratuito, que ilumine fortemente a inteligência e a realidade em que se vive. Contudo, essa iluminação não desfigura a realidade, apenas permite captá-la com todas as suas matizes reais, muitas das quais escapam a um simples olhar: é a luz da fé.

HÉLDER GONÇALVES

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