terça-feira, 3 de julho de 2012

BETÂNIA

Betânia: a casa da amizade


A casa de Marta

“Continuando o seu caminho, Jesus entrou numa aldeia. E uma mulher, de nome Marta, recebeu-O em sua casa”. (Lc 10,38-39) Marta é, provavelmente, a irmã mais velha: a casa é “sua” e Maria é introduzida como “sua” irmã.

Lucas diz-nos que é Marta, a dona da casa (é também o significado do nome Marta em aramaico), que acolhe Cristo. E que quer dar a Jesus um acolhimento como se deve. Ou seja: mobilização geral! Deseja fazer sentir a Jesus o seu amor através de coisas muito concretas, como a refeição, o alojamento…

Marta, Marta…uma só coisa é necessária!

É neste contexto que Lucas nos mostra como as duas irmãs se relacionam com Jesus de modo muito diferente. Marta quer dar a Jesus um bom acolhimento, prestando-lhe muitos serviços.

Maria, prefere estar aos pés do Mestre e escutá-lo. A determinado momento Marta dirige-se a Jesus perguntando-lhe por que não se preocupa que a sua irmã a deixe sozinha a preparar todas as coisas.

Jesus é incisivo na resposta: ”Marta, Marta, andas inquieta e perturbada com muitas coisas; mas uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte, que não será tirada.” (Lc 10.41-42)

Marta versus Maria?

Aparece uma clara contraposição das duas figuras. E na história da espiritualidade cristã, surgiu a pergunta: o que é mais importante no seio da comunidade cristã? O serviço (Marta) ou a escuta da Palavra de Jesus (Maria)?

Mas a questão é bem mais radical. Diz respeito ao como devemos acolher (a Palavra de) Jesus.

Betânia: ícone do acolhimento da palavra

Em Betânia houve o risco de acolhimento da Palavra não ser feito com a totalidade do coração. Em Marta, havia muitas preocupações que impediam uma adesão total. Jesus deixa entender que não se está a colocar em primeiro lugar à palavra mas outras coisas.

Reconhecemos a boa intenção de Marta ao solicitar a intervenção de Jesus para corrigir o comportamento (demasiado relaxado) de Maria. Mas é a agitação de Marta que Jesus critica. Nessa atitude, Marta não é capaz de escutar a Sua palavra nem de A colher. Ainda que esteja muito atarefada em servir Jesus, a Palavra de Deus feita carne. Esta agitação pode até esvaziar de sentido a hospitalidade prestada a Jesus. Jesus não quer ir a uma pensão, mas sim partilhar a companhia dos seus amigos.

Marta e maria: as duas faces da experiencia cristã.

Na experiência cristã não pode haver oposição entre o serviço (oferecer o pão) e a escuta da palavra, (a oração). Deve antes haver uma justa articulação entre as duas coisas. As palavras de Jesus demonstram que o primado corresponde à Palavra.

Uma vez assegurado o primado de Deus, todas as coisas entraram no seu lugar, sem antagonismos. A confirmá-lo basta ver que o episódio de Marta e Maria no Evangelho de Lucas, se encontra depois da narração do bom samaritano e imediatamente antes do ensinamento do Pai-nosso. Esta arrumação mostra que não há contraposição entre contemplações e acção, oração e serviço. O essencial é amar a Deus com todo o coração e ao próximo como a nós mesmos.

Teu irmão ressuscitará

Maria escolheu a melhor parte, mas isso ainda não a levou à perfeição do seguimento de Jesus. A plena experiencia de seguir Jesus só se dá quando Jesus vem a Betânia para ressuscitar Lázaro (Jo 11,1-44). Vemos Maria a chorar o irmão morto. Ainda tem de fazer caminho para chegar à plena verdade do Senhor.

É precisamente neste momento que vemos como a energia de Marta a leva a ir ter com Jesus, e depois de um diálogo intenso (bem ao estilo de Marta) fazer a sua profissão de fé: «Sim, ó Senhor; eu creio que Tu és o Cristo, o Filho de Deus que havia de vir ao mundo.» (Jo 11, 27).

Ela vai agora fazer de ponte entre Jesus e Maria: voltou a casa e foi chamar a sua irmã, Maria, dizendo-lhe em voz baixa: «Está cá o Mestre e chama por ti.» (Jo 11, 28).

De novo, todos juntos à mesa

João 12 descreve um extraordinário encontro de Jesus com os seus amigos num momento intenso que nos mostra o culminar do caminho de amizade destes três irmãos com Jesus.

As atitudes exteriores de Marta e Maria parecem ser as mesmas, mas agora sente-se que não há contraposições na sua experiência de fé: Jesus vai a Betânia, onde vivia Lázaro, que Ele tinha ressuscitado dos mortos. Ofereceram-lhe lá um jantar.

Marta servia Lázaro
era um dos que estavam com Ele à mesa.

Então, Maria ungiu os pés de Jesus com uma libra de perfume de nardo puro, de alto preço, e enxugou-lhos com os seus cabelos. A casa encheu-se com a fragância do perfume. (Jo 12, 1-3).

A mensagem de Betânia

Em Marta e Maria temos duas formas (complementares, não opostas) de acolher Jesus, que devem estar ambas presentes na nossa vida.

Por um lado há a urgência de preparar o necessário para o encontro com os nossos irmãos; mas também devemos ser capazes de cultivar o saber estar ao pé de Jesus. Aquilo que comunicamos deve ser experimentado primeiro na oração e na intimidade com o Senhor.

É esta síntese que nos leva a fazer a mesma experiência de Marta; depois de fazer a nossa profissão de fé, podemos dizer que Deus coloca-se no nosso caminho: «Está cá o Mestre e chama por ti».

HÉLDER GONÇALVES

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