quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Feliz porque Acreditou

Feliz aquela que acreditou,
pois o que foi lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido”.
(Lc. 1, 45)

Quando a Fé se faz Promessa
No pensamento de Deus,
És Tu, Maria, o poema
Onde rimam “Terra e Céus”…
Muito antes de gerada,
Antes do mundo criado,
Já deus, em Ti, contemplava
A Mãe do Verbo Encarnado.

Quando a Fé se faz Herança,
Promessa de Salvação,
Num povo que vive á espera…
Tua vida de criança
É entregue sem reserva
- Virgem da Apresentação!...

Quando a Fé é Gabriel,
Que veste a terra de esperança,
És templo do Emanuel,
Arca da Nova aliança…
Avé, ó cheia de graça,
Contigo está o Senhor”!
Em cada dia que passa,
A “Graça” se faz maior!...

Quando a Fé é Isabel
- Virgem da Visitação –
Há sinais do Emanuel,
“Saltos” do primo João…
Cânticos de Amor e Graça,
Pela serra da Judeia:
Espírito Santo que lança
Sementes da Nova Era.

Quando a Fé se faz Natal
Numa gruta pobre e fria,
Há melodias no ar
- Universal sinfonia!
Chegaram pastores da serra,
Com cantares de alegria…
Profundo mistério encerra
O silêncio de Maria…

Quando a Fé se faz Paixão,
Num juízo de vingança,
Vens Tu, Mãe/Coração,
Semear a Esperança.
Junto à Cruz, firme, de pé,
Mãe da Dor – Compaixão…
Na raiz da tua Fé,
Há Luz de Ressurreição!...

Quando a Fé é Alegria,
Na Luz do Ressuscitado,
Lá estás, Santa Maria,
No Mundo Novo esperado.
Mulher de Fé, Virgem santa,
Mãe de Caná, vinho Novo…
Contigo a Igreja canta
- Mulher Nova, Mulher/Povo.

Quando a Fé é Pentecostes
- Vento forte e Labareda –
És Rainha dos Apóstolos,
Coração que ama e reza…
Sê também, neste Natal,
Estrela de Fé e Amor
Que guie, no caminhar,
Quantos buscam o Senhor!


Estrela deste Natal,

Virgem Santa de Belém:

Na descrença, sê Farol!

Na solidão, sê a Mãe!


                                         (Poema do Pe. Manuel Nóbrega, CM)


domingo, 21 de dezembro de 2014

Advento com Maria

Os pobres de Javé são aqueles filhos de Israel que, nos tempos da Antiga Aliança, acreditaram na promessa dum Salvador, suplicaram a Deus a vinda desse dia, e souberam esperar o Messias prometido. Maria ocupa, entre esses pobres, o primeiro lugar.

O Advento é, mais do que nenhum outro tempo litúrgico, o tempo dos novos pobres de Javé, pois é no Advento que a Igreja pede com maior insistência a vinda da salvação: Desça o orvalho do alto dos Céus e as nuvens chovam o Justo. Abra-se a terra e germine o Salvador (AE 4º. Dom. Adv); Aquele que há-de vir não tardará. Ele é o Salvador do mundo (AE 19/12); O Senhor virá com poder e majestade e iluminará os olhos dos seus fieis (AC 4ª f. 3ª. Sem); Virei sem demora, diz o Senhor, para dar a cada um a recompensa das suas obras (Sáb 2ª. Sem). Não admira, por isso, que Maria ai ocupe lugar de grande relevo (cf. Marialis Cultus, 3-4).

Deus iniciou pela Virgem Maria a obra da redenção humana, ao preservar de toda a mancha do pecado aquela que viria a ser a Mãe de Cristo (cf. Col. 8/12). É pois, com toda a naturalidade, que celebramos, nos primeiros dias do Advento, a solenidade da Imaculada, preparação radical da Virgem para a vinda do Salvador e feliz aurora da lgreja (cf. Marialis Cultus, 3).

As afirmações que melhor exprimem a fé da Igreja para com a Mãe de Deus encontram-se nos dias 17 a 24 de Dezembro: O Anjo do Senhor disse a Maria: Conceberás e darás à luz um Filho e o seu nome será Jesus (AC 20/12); Bendita sejais, ó Virgem Maria, porque em vós se há-de cumprir a palavra do Senhor (AC 21/12); Senhor, que no seio da bem-aventurada Virgem Maria quisestes realizar o grande mistério da Encarnação do Verbo (C 17/12); Deus eterno e omnipotente, ao aproximar-se o nascimento do vosso Filho, fazei-nos sentir a abundância da vossa misericórdia, que O fez encarnar no seio da Virgem Maria (C 23/12). A minha alma glorifica o Senhor, porque o Todo-Poderoso fez em mim maravilhas (AC 22/12).

Mas é sobretudo no 4º. Domingo do Advento que a presença da Virgem atinge a sua máxima expressão, nas leituras bíblicas, nas orações e na bela antífona da comunhão: Eis que uma Virgem conceberá e dará à luz um Filho chamado Emanuel (AC 4º. Dom. Adv).

A presença de Maria na liturgia do Advento tem um profundo sentido de exemplaridade. Assim como Deus pôs os olhos na humildade da sua serva, do mesmo modo os põe em cada crente que a imita. A exemplaridade de Maria há-de ser ponto de referência para a Igreja e para cada crente que, em continuidade com ela, têm a missão de preparar o mundo para a última vinda de Cristo Salvador.

Na aurora dos novos tempos, foi em Maria que a promessa feita por Deus aos patriarcas e aos profetas se transformou em Dom. Nos nossos, que são os últimos, há-de ser através de cada homem e de cada mulher que vivam à maneira de Maria, que Deus apressará a última vinda do seu Filho, e nos dará a graça de alcançarmos a herança do céu, onde, com a criação inteira, cantaremos eternamente a glória do Senhor.


sábado, 20 de dezembro de 2014

Oração do Advento


Senhor, meu Deus,
Teu Filho há-de vir nas próximas semanas!
Que meu coração seja como
terra boa para recebê-lo.
Que cada momento destes próximos dias
sirva para que eu possa reflectir
sobre a minha vida e o meu ser.
Onde tantos acham que precisam
só de coisas materiais
que eu possa levar o alimento espiritual.
Onde tantos procuram só o ter,
que eu possa mostrar o quanto vale o ser.
Mostrar que Natal não é simplesmente
o nascimento de Jesus,
mas a vinda do Salvador
acima do comércio desenfreado
que rodeia o mesmo.

Senhor, meu Deus,
agradeço por poder reviver
plenamente este evento todos os anos
e com ele sentir a Tua presença
cada vez mais perto de mim.
Peço à Virgem Maria,
Mãe tão agraciada nesta data,
que abençoe as pessoas mais desfavorecidas
e que elas consigam encontrar em Deus
forças para trilharem os seus caminhos.
Jesus, estamos Te aguardando,
procurando ser cada vez melhores,
cada vez mais humanos
e santos nos nossos dias.
A Tua chegada nos fortalecerá
e será para nós motivo de glória!
Que Deus nos abençoe
e nos acompanhe!

Amém!


sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Advento tempo de espera


O Advento coloca-nos algumas perguntas.

Esperamos o quê?
O Messias? Que Messias?
Para que homem?

Eis que Ele vem, os profetas O anunciaram, e no entanto os que esperavam por Ele não o acolheram. Ele está no meio dos seus e os seus não O reconhecem.

O messias que esperamos é muitas vezes bem diferente d’Aquele que vem!
O Messias que vem ultrapassa as nossas concepções humanas, está à espreita nas definições que Lhe damos.

Esperamos um messias de glória e de majestade…eis que Ele vem até nós como um Filho de homem.

Esperamos um messias bem visível aos olhos de todos…Ele vem até nós sem brilho.

Esperamos um messias revolucionário…eis que vem um Messias paciente, que não muda a história de um dia para outro.

Esperamos um messias de sacristia que se coloca ao serviço da religião…eis um Messias que irrita os fariseus e expulsa do Templo.

“És Aquele que há-de-vir?”, pergunta João Baptista.

Falta de fé da parte do profeta?
Ou uma maneira de dizer que o Messias o surpreende na acção, na sua maneira de exercer a missão.

João esperava talvez a vingança, a hora de Deus…algo de forte, capaz de calar os inimigos, de acabar com o pecado.

Jesus dá como resposta as curas e as libertações que Ele realiza.
Com isso, Ele afirma que Ele é bem o Messias esperado, porque a Boa Nova é anunciada aos pobres, porque os doentes são curados e os mortos ressuscitam.

Eis a vingança e a hora de Deus, que não são feitas num Deus que arrasa e triunfa, mas no anúncio aos pequeninos, aos últimos e marginalizados deste mundo.

A vingança e a hora de Deus não estão na morte dos inimigos, mas na vida dada aos que precisam.

É este o Messias que esperas?


quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Advento é tempo

Advento, tempo de espera. Não apenas de um dia, mas daquilo que os dias, todos os dias, de forma silenciosa, transportam: a Vida, o mistério apaixonante da Vida que em Jesus de Nazareth principiou.

Advento, tempo de redescobrir a novidade escondida em palavras tão frágeis como "nascimento", "criança", "rebento".

Advento, tempo de escutar a esperança dos profetas de todos os tempos. Isaías e Bento XVI. Miqueias e Teresa de Calcutá.

Advento, tempo de preparar, mais do que consumir. Tempo de repartir a vida, mais do que distribuir embrulhos.

Advento, tempo de procura, de inconformismo, até de imaginação para que o amor, o bem, a beleza possam ser realidades e não apenas desejos para escrever num cartão.

Advento, tempo de dar tempo a coisas, talvez, esquecidas: acender uma vela; sorrir a um anjo; dizer o quanto precisamos dos outros, sem vergonha de parecermos piegas.

Advento, tempo de se perguntar: "há quantos anos, há quantos longos meses desisti de renascer?"

Advento, tempo de rezarmos à maneira de um regato que, em vez de correr, escorre limpidamente.

Advento, tempo de abrir janelas na noite do sofrimento, da solidão, das dificuldades e sentir-se prometido às estrelas, não ao escuro.

Advento, tempo para contemplar o infinito na história, o inesperado no rotineiro, o divino no humano, porque o rosto de um Homem nos devolveu o rosto de Deus.

Pe. José Tolentino Mendonça


quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Advento e Solidariedade

A preparação para o Natal, nascimento de Jesus Cristo, Salvador e Redentor da humanidade, é uma oportunidade singular de nova e adequada compreensão da vida. Não se pode vivê-la sem a luminosidade própria da fé que alimenta a luz da inteligência, garantindo um caminho de horizontes largos e belos. A Igreja Católica, sábia e pedagogicamente, convida todos a viverem esse tempo do Advento.  Nas quatro semanas que antecedem o Natal, a Igreja cria oportunidades importantes para se cultivar, de maneira profunda, a escuta da Palavra de Deus e, assim, fomentar e sustentar os laços de fraternidade, capacitando cada um no exercício dos gestos de solidariedade. São incontáveis as possibilidades, pelo percurso deste caminho do Advento, preparatório para o Natal do Senhor.

Para cada peregrino, homens e mulheres de boa vontade, desenham-se novos horizontes que qualificam a vida tão preciosa de cada um, razão pela qual Ele, Cristo Salvador, encarnou-Se, igual a nós em tudo, excepto no pecado, para nos resgatar da condição de escravos e reconquistar o sentido mais autêntico da nossa liberdade. Trata-se, particularmente, de um caminho de vivência espiritual. Não pode esgotar-se simplesmente no que chama a atenção, e até alegra, pelos enfeites, luzes e cores, nem mesmo nas confraternizações. É preciso aproveitar o momento para reflectir a própria interioridade, alargando este alicerce que nos capacita para uma vida comprometida com a cidadania e com a autêntica fé professada.

Pensando na verdadeira e real preparação para o Natal do Senhor, é bom reflectir sobre o relevante sentido de pertencimento à sociedade. Cada um olha a sua condição de cidadão, os seus direitos e deveres, as suas lutas e conquistas, empenhos para garantia de liberdades e de atendimento às necessidades fundamentais. Este olhar para si, analisando projectos pessoais e familiares, institucionais e outros, obriga-nos a ver, sobretudo neste tempo, os mais pobres e sofredores, nos diversos cenários da sociedade.

Um dever especial, sem esquecer nenhum dos que reconhecidamente são sofredores e pobres, é lançar o olhar e unir o coração aos que estão mais desconsiderados na sua dignidade. Refiro-me aos nossos irmãos e irmãs que estão nas ruas das cidades. Uma situação que não pode ser apenas tratada com Leis e prescrições. Indispensáveis são o sentimento e o princípio humanístico da solidariedade, antídotos para acções abominavelmente higienistas.

Retransmito um convite-intimação do Papa Francisco, na sua recente Exortação Apostólica Alegria do Evangelho: tornar realidade em nós e no nosso meio o Natal de Jesus Cristo para nos curar das indiferenças, incompetências nas respostas e incapacidade para acções prioritárias, destinadas aos mais pobres. Vamos cultivar "uma fraternidade mística e contemplativa que sabe ver a grandeza sagrada do próximo, que sabe descobrir Deus em cada ser humano, que sabe tolerar as moléstias da convivência agarrando-se ao amor de Deus, que sabe abrir o coração ao amor divino para procurar a felicidade dos outros como a procura o seu Pai bom”.

Vamos tratar diferente, comprometermos mais com os mais pobres. Só assim será verdade o voto de “feliz Natal” que desejamos uns aos outros. 

Que o propósito deste Natal seja especialmente a qualificação de todos na condição de integrantes da sociedade.


terça-feira, 16 de dezembro de 2014

O Advento nas Igrejas do Oriente e Latina

Igrejas do Oriente

Nos diversos ritos orientais, o ciclo de preparação para o grande dia do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo formou-se com uma característica acentuadamente ascética, sem abranger toda a amplitude de espera messiânica que caracteriza o Advento na liturgia romana.

Na liturgia bizantina destaca-se, no domingo anterior ao Natal, a comemoração de todos os patriarcas, desde Adão até José, esposo da Santíssima Virgem Maria. No rito siríaco, as semanas que precedem o Natal chamam-se "semanas das anunciações". Elas evocam o anúncio feito a Zacarias, a Anunciação do Anjo a Maria, seguida da Visitação, o nascimento de João Baptista e o anúncio a José.


Igreja Latina

É na liturgia romana que o Advento toma o seu sentido mais amplo. Muito diferente do menino pobre e indefeso da gruta de Belém,nos aparece Cristo, no primeiro domingo, cheio de glória e esplendor, poder e majestade, rodeado de seus Anjos, para julgar os vivos e os mortos e proclamar o seu Reino eterno, após os acontecimentos que antecederão esse triunfo: "Haverá sinais no Sol, na Lua e nas estrelas; e, na Terra, angústia entre as nações aterradas com o bramido e a agitação do mar" (Lc 21, 25). "Vigiai, pois, em todo o tempo e orai, a fim de que vos torneis dignos de escapar a todos estes males que hão de acontecer, e de vos apresentar de pé diante do Filho do Homem" (Lc 21, 36). É a recomendação do Salvador.

Como ficar de pé diante do Filho do Homem? A nós cabe corar de vergonha, como diz a Escritura. A Igreja assim nos convida à penitência e à conversão e nos coloca, no segundo domingo, diante da grandiosa figura de São João Baptista, cuja mensagem ajuda a ressaltar o carácter penitencial do Advento.

Com a alegria de quem se sente perdoado, o terceiro domingo se inicia com a seguinte proclamação: "Alegrai-vos sempre no Senhor. De novo eu vos digo: alegrai-vos! O Senhor está perto". É o domingo Gaudete. Estando já próxima a chegada do Homem- Deus, a Igreja pede que "a bondade do Senhor seja conhecida de todos os homens". Os paramentos são cor-de-rosa.

No quarto domingo, Maria, a estrela da manhã, anuncia a chegada do verdadeiro Sol de Justiça, para iluminar todos os homens. Quem, melhor do que Ela, para nos conduzir a Jesus? A Santíssima Virgem, nossa doce advogada, reconcilia os pecadores com Deus, ameniza nossas dores e santifica nossas alegrias. É Maria a mais sublime preparação para o Natal.

Com esse tempo de preparação, quer a Igreja ensinar-nos que a vida neste vale de lágrimas é um imenso advento e, se vivermos bem, isto é, de acordo com a Lei de Deus, Jesus Cristo será nossa recompensa e nos reservará no Céu um belo lugar, como está escrito: "Coisas que os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou, tais são os bens que Deus tem preparado para aqueles que O amam" (1Cor 2, 9). 


segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Figuras do Advento

Isaías

É o profeta que, durante os tempos difíceis do exílio do povo eleito, levava a consolação e a esperança. Ele anuncia a libertação, fala de um novo e glorioso êxodo e da criação de uma nova Jerusalém, reanimando assim, os exilados.

As principais passagens deste livro são proclamadas durante o tempo do Advento num anúncio perene de esperança para os homens de todos os tempos.


João Baptista

João Baptista é o homem do viver austero e da palavra cortante. Desaparece diante de Cristo. Ao ver Jesus Cristo presente. É o último dos profetas e segundo o próprio Jesus, "mais que um profeta", o mensageiro que veio diante d'Ele a fim de lhe preparar o caminho, anunciando a sua vinda (Lc 7, 26 - 28), pregando aos povos a conversão, pelo conhecimento da salvação e perdão dos pecados (Lc 1, 76s).

A figura de João Baptista ao ser o precursor do Senhor e aponta como presença já estabelecida no meio do povo, encarna todo o espírito do Advento.

João Baptista é o modelo dos que são consagrados a Deus e que, no mundo de hoje, são chamados a também serem profetas do Reino, permitindo, na própria vida, o crescimento de Jesus e a diminuição de si mesmo, levando, por sua vez os homens a despertar do pecado.


Maria

Não há melhor maneira de se viver o Advento que unindo-se a Maria como mãe, grávida de Jesus, esperando o seu nascimento.

Assim como Deus precisou do sim de Maria, hoje, Ele também precisa do nosso sim para poder nascer e se manifestar no mundo.

Assim como Maria se "preparou" para o nascimento de Jesus, a começar pela renúncia e mudança de seus planos pessoais para sua vida inteira, nós precisamos de nos preparar para vivenciar o Seu nascimento em nós mesmos e no mundo, também numa disposição de "Faça-se em mim segundo a Sua Palavra" (Lc 1, 38), permitindo uma conversão do nosso modo de pensar, da nossa mentalidade, do nosso modo de viver, agir etc.


José

Nos textos bíblicos do Advento, destaca-se José, esposo de Maria, o homem justo e humilde que aceita a missão de ser o pai adoptivo de Jesus.

Ao ser da descendência de David e pai legal de Jesus, José tem um lugar especial na encarnação, permitindo que se cumpra em Jesus o título messiânico de "Filho de David".

José é justo por causa de sua Fé, modelo de fé dos que querem entrar em diálogo e comunhão com Deus.


domingo, 14 de dezembro de 2014

Advento Cristão

O Tempo do Advento começa nos últimos dias de Novembro ou nos primeiros dias de Dezembro. Porque antecede o Natal e o fim do ano civil, é um período muito importante para a manifestação dos mais nobres sentimentos da pessoa humana. Que o digam as inumeráveis festas de carácter social que nele acontecem, conhecidas pelo nome de "natais": natal dos hospitais, natal da TV, natal dos trabalhadores da empresa X.

Mas a visão cristã do Advento vai mais longe. Ela parte da actividade profética, nomeadamente por parte de João Baptista, e dela deduz que o Advento tem, como finalidade, preparar as comunidades para uma celebração cristã do Natal e lembrar também que a última vinda do Senhor está agora mais próxima do que no momento em que abraçámos a fé. A visão cristã do Advento faz de Deus e não do homem a medida de todas as coisas. 

Trata-se duma maneira de olhar as coisas e o mundo que contrasta com a visão que a cultura, a política e o social têm dessas mesmas realidades, e que é incómoda. Por isso, a liturgia do Advento deveria interpelar fortemente os que a frequentam, apontando-lhes como objectivo final a última vinda de Cristo, e como metas intermédias as celebrações do Natal e as manifestações de solidariedade humana, a viver em jubilosa esperança.

Deveria também, nomeadamente nas celebrações do sacramento da Penitência, fazer ressaltar, através da atitude humanamente acolhedora e fraterna dos ministros, a inigualável humanidade de Deus que se compadece de todas as fraquezas dos homens, e cujo perdão é imensamente maior do que os pecados de todos os homens de todos os tempos.

Os cristãos, por seu lado, na sua vida quotidiana, deveriam estar atentos às tentativas do poder económico que pretende transformar o Advento num período de louco consumismo, verdadeiro atentado à dignidade de todos os homens que Cristo veio salvar, e à igualdade e fraternidade que o Natal proclama. O comportamento de cada cristão deveria estar de acordo, não com os modelos culturais que os meios de comunicação criam e impõem, mas com as lições que se aprendem ao ler as páginas do Evangelho que narram o nascimento de Cristo, ou ao contemplar a simplicidade e pobreza do primeiro presépio: uma gruta, uma manjedoira, um Menino, que sendo rico Se fez pobre para ensinar aos homens a mais bela das lições: Felizes os que têm um coração de pobre, porque deles é o reino dos céus.

Onde estão os mestres que queiram dizer isto com palavras e com a vida? Os discípulos não tardariam em ser multidão.

É que o Advento nasceu para introduzir os fiéis no mistério da Encarnação, mistério que faz nascer Deus para o homem e conduz o homem para Deus.


sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Eucaristias durante o Advento

As celebrações litúrgicas têm em conta duas características: preparação do Natal e da última vinda de Cristo.

No que se refere à Missa, a melhor síntese dessa dupla perspectiva é aquela que apresentam os dois Prefácios do Tempo do Advento. O Prefácio I, que se diz desde o primeiro domingo do Advento até ao dia 16 de Dezembro, declara que Cristo "veio a primeira vez, na humildade da natureza humana (...), e de novo há-de vir, no esplendor da sua glória". O prefácio II, que se diz desde o dia 17 até ao dia 24 de Dezembro, recorda-nos que é Cristo "que nos dá a graça de nos prepararmos com alegria para o mistério do seu nascimento".


a) As leituras

As Leituras das Missas ilustram os diversos aspectos do mistério do Advento.

Os textos do Antigo Testamento nos quatro domingos recordam doze profecias messiânicas, abrangendo um período de mais de quinhentos anos, desde a de Natã, no tempo de David, até às dos profetas da época pós-exílica. As mais importantes são as do 4º. Domingo, todas relacionadas com a maternidade de Maria: "O Senhor anuncia que te vai fazer uma casa. O teu trono será consolidado para sempre" (Ano B); "De ti, Belém-Efrata, a mais modesta entre as famílias de Judá, de ti é que há-de nascer Aquele que reinará sobre Israel" (Ano C); "Eis que uma Virgem conceberá e dará à luz um filho chamado Emanuel" (Ano A).

Os Evangelhos dominicais insistem na necessidade de vigiar, pois ninguém sabe quando o Senhor chegará no fim dos tempos (1º. Domingo); falam do ministério de João Baptista (2º. e 3º. Domingos); descrevem a Anunciação do Anjo a Maria e o mistério da Encarnação do Verbo de Deus (4º. Domingo).


b) As orações

As Orações das duas primeiras semanas evocam principalmente a última vinda de Cristo no fim dos tempos: Senhor, fazei-nos esperar ansiosamente a vinda do vosso Filho, para que Ele nos encontre vigilantes na oração e alegres no seu louvor (2ªf. da 1ª. S.); Preparai, Senhor, os nossos corações para que, no dia da vinda do vosso Filho, mereçamos entrar no banquete da vida eterna (4ªf. da 1ª. S.); Deus misericordioso, que os cuidados deste mundo não sejam obstáculo para caminharmos generosamente ao encontro de Cristo (2º. Dom.)

Mas a partir do dia 17 de Dezembro privilegiam a preparação da solenidade do Natal: Deus omnipotente, preparai-nos para acolher com alegria a glória do Salvador no seu nascimento (3ªf. da 2ª. S.); Deus de infinita bondade, fazei-nos chegar às solenidades da nossa salvação e celebrá-las com renovada alegria (3º. Dom.); Deus omnipotente, que o esperado nascimento do vosso Filho Unigénito nos liberte da antiga escravidão do pecado (18/12); Ao aproximar-se o nascimento do vosso Filho em nossa carne mortal, fazei-nos sentir, Senhor, a abundância da vossa misericórdia (23/12).

Trata-se de duas perspectivas complementares. O Advento recor­da e faz participar no mistério do nascimento do Filho de Deus que já veio na humildade da natureza humana e na pobreza de Belém, e que há-­de voltar no esplendor da sua glória para julgar os vivos e os mortos.


quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Os dois Adventos de Cristo

A palavra advento significa vinda ou chegada. Escrevendo a Tito, Paulo refere-se, nestes termos, aos dois adventos ou vindas de Cristo: Manifestou-se a graça de Deus, fonte de salvação para todos os homens, ensinando-nos a renunciar à impiedade e aos desejos mundanos, e a viver no mundo presente com toda a sobriedade, justiça e piedade (1ª. vinda), aguardando a bem-aventurada esperança e a manifestação gloriosa do nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo (2ª. vinda).

Na sequência da doutrina da revelação ensinada por Jesus e lembrada pelo Apóstolo, S. Cirilo de Jerusalém explicava, no século IV, aos seus neófitos: "Anunciamos o advento de Cristo. Não, porém, um só, mas também o segundo, muito mais glorioso que o primeiro. Aquele revestiu um aspecto de sofrimento; este trará consigo o diadema do reino divino. No seu primeiro advento, Cristo foi envolvido em faixas e deitado num presépio; no segundo, será revestido com um manto de luz. No primeiro suportou a Cruz, sem recusar a ignomínia; no segundo, aparecerá glorioso, escoltado pela multidão dos Anjos. Por esse motivo, afirmamos na nossa profissão de fé, tal como a recebemos por tradição, que acreditamos naquele que subiu aos Céus e está sentado à direita do Pai e que há-de vir em sua glória para julgar os vivos e os mortos, e o seu reino não terá fim"(LH, vol. I, p. 135-136).

É precisamente dessas duas vindas de Cristo e da preparação para elas pela catequese e pela penitência que falam as orações e leituras do Tempo do Advento, o que dá a este período litúrgico características algo semelhantes às da Quaresma.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Formação do Tempo do Advento

O Tempo do Advento só se encontra nos livros litúrgicos ocidentais. Nenhuma família litúrgica oriental o possui. Porém, na liturgia romana, é por ele que começa o Missal, o Leccionário e a Liturgia das Horas.

As suas origens encontram-se na Gália e na Espanha, e remontam ao século IV. Mas ainda se lhe não chamava então Advento.

Na Gália, por volta do de 360, Santo Hilário, Bispo de Poitiers, referia-se a um período de preparação de três semanas para a Epifania, com início no dia 17 de Dezembro e termo no dia 6 de Janeiro.

Em Espanha, no ano 380, o Concilio de Saragoça determinava: "ninguém deve faltar à igreja nas três semanas que precedem a Epifania".

Por que razão falam esses dois testemunhos de Epifania e não de Natal? Porque ainda não se celebrava o Natal, festa que viria a nascer em Roma só por volta do ano 375, e demorou alguns anos a ser acolhida por todas as Igrejas do Ocidente.

Como instituição litúrgica, o Tempo do Advento só se formou nos finais do século VI. Consistia então em seis semanas de preparação para o Natal. Foi São Gregório Magno (590-604) que o reduziu a quatro semanas, duração que ainda mantém.

Hoje, quando o Advento começa, sente-se que estão próximas as festas com que os cristãos celebram, todos os anos, o nascimento de Jesus.


domingo, 7 de dezembro de 2014

Imaculada Conceição no Advento

“O encontro entre o mensageiro divino e a Virgem Imaculada passa completamente despercebido: ninguém sabe, ninguém fala sobre isso. É um evento que, se acontecesse hoje, não deixaria traços nos jornais nem nas revistas, é um mistério que se realiza em silêncio.

O que é realmente grande passa muitas vezes despercebido e o silêncio revela-se mais fecundo que a frenética agitação das nossas cidades, mas que – com as devidas proporções – se vivia também nas cidades importantes como a de Jerusalém daquela época”.

Nesse sentido o Papa Emérito Bento XVI disse que muitas vezes “a vida frenética torna-nos incapazes de parar e ouvir o silêncio em que o Senhor faz ouvir a Sua voz discreta.

Maria, no dia em que recebeu o anúncio do Anjo, estava aberta para a escuta de Deus.

Nela não há obstáculo, não existe nada que a separe de Deus.

Este é o significado do seu ser sem pecado original: do seu relacionamento com Deus é livre de falha, não há separação, não há sombra de egoísmo, mas uma perfeita harmonia: o seu pequeno coração humano está perfeitamente centralizado no coração de Deus”.

“A voz de Deus não se reconhece no barulho e na agitação”, e  “a salvação do mundo não é obra do ser humano, da ciência, da técnica, da ideologia, mas vem da Graça, que significa Amor na sua pureza e beleza, é Deus como é revelado na história da salvação narrada na Bíblia e realizada em Jesus Cristo”.

Maria Imaculada fala-nos da verdadeira alegria que se difunde no coração liberto do pecado. “O pecado traz consigo uma tristeza negativa, que induz a fechar-se em si mesmo.

A Graça traz a verdadeira alegria que não depende da posse de coisas, mas está enraizada no íntimo da pessoa”.

“Neste tempo de Advento, Maria Imaculada ensina-nos a ouvir a voz de Deus que fala no silêncio, a acolher a sua Graça que nos liberta do pecado e do egoísmo, para saborear a verdadeira alegria”.


quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Conversão

A  vida dum cristão é um contínuo caminho de conversão!

Esta frase, tantas vezes ouvida e pregada, ficou-me a murmurar ao ouvido depois de um não crente me ter dito que para ele a conversão era uma espécie de auto-justificação e consolação para os cristãos que não conseguem mudar e se desculpam com este conceito.

Antes de mais, tornamo-nos cristãos pela certeza interior que o Espírito nos faz reconhecer a voz d’Aquele que nos chama à vida. Somos cristãos sempre que ouvimos e nos deixamos conduzir pelas palavras de Cristo e actualizamos os Seus gestos e ensinamentos na nossa vida. Vivemos como cristãos quando, reconhecendo o nosso pecado, acolhemos a graça do perdão e nos esforçamos para melhorar.

Também é verdade que não é fácil convencer todos os cristãos de que a conversão conduz à alegria. Contudo, Jesus, mostrou que a Boa Nova leva à conversão.

A conversão de que falo é um encontro e não apenas um exame de consciência, é uma festa e não uma tristeza, é um abraço e não uma sentença. Em vez de entrarmos em nós próprios e fazermos apenas um inventário das nossas culpas, deveríamos sair de nós próprios e dirigirmo-nos a Deus, para descobrirmos até que ponto ignoramos o Seu amor, a Sua alegria e o Seu perdão. A Boa Nova que nos é anunciada é que «os pecados são perdoados». São feitas as pazes imediatamente; depois da culpa já não há castigo, nem depois da ofensa existe lugar para a vingança, mas a graça de Deus antecipa-se e repara o pecado.

A nossa sociedade está construída sobre a justiça, os tribunais, as multas e punições, as prisões. Ainda estamos muito ligados ao conceito pagão e oriental segundo o qual o pecado deve ser ‘expiado’ para ser perdoado. Mas Jesus revela que o pecado deve ser perdoado para poder ser reparado! Somos salvos logo que nos apercebemos de que somos amados. Não precisamos de crescer, para reconhecer que merecemos ser amados!

A humanidade e as sociedades acabam por se assemelharem ao deus que adoram; se a nossa sociedade é repressiva, se existem tantos juízes, tantos julgamentos, tantos tribunais, que ainda por cima funcionam lentamente, tantos presos é porque nos tornamos semelhantes ao deus que «julga os vivos e os mortos». Sacralizámos o juiz e a sentença, em vez de divinizar a misericórdia e o perdão.

O nosso tribunal da penitência torna-se testemunho de Deus quando demonstramos que a verdade e o perdão são mais saudáveis que o castigo, que é preciso sair do círculo vicioso da vingança, da lógica do mal pelo mal. Esta atitude foi constante na vida de Jesus: fazer do injusto um justo, do pecador um santo, do endemoninhado um homem livre, do cobrador de impostos um discípulo, da prostituta uma nova mulher.

Jesus  libertou Zaqueu da sua avidez, Maria Madalena dos seus amantes, Mateus do seu odiado emprego; o Seu amor gratuito e maravilhoso fez renascer em cada um aquilo que as injustiças deste mundo teriam sufocado para sempre.

Por aqui passa a conversão de cada um de nós: um encontro quotidiano com Aquele que ama perdoando e perdoa amando.

Que saibamos rezar como Santo Anselmo: «Ensina-me a procurar-te e mostra-te a quem Te busca; porque não Te posso procurar, se não me ensinares, nem encontrar-Te senão Te mostrares. Que eu Te procure desejando, que Te deseje procurando, Te encontre amando, que Te ame voltando a encontrar-Te…De facto, não peço que entenda para que possa crer, mas creia para que possa entender. Pois também isso não entenderei, se não tiver crido.»  E compreender que o caminho da conversão é estreito, mas leva à salvação.


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