A preparação para o Natal, nascimento de Jesus Cristo,
Salvador e Redentor da humanidade, é uma oportunidade singular de nova e
adequada compreensão da vida. Não se pode vivê-la sem a luminosidade própria da
fé que alimenta a luz da inteligência, garantindo um caminho de horizontes
largos e belos. A Igreja Católica, sábia e pedagogicamente, convida todos a
viverem esse tempo do Advento. Nas quatro semanas que antecedem o Natal, a
Igreja cria oportunidades importantes para se cultivar, de maneira profunda, a
escuta da Palavra de Deus e, assim, fomentar e sustentar os laços de
fraternidade, capacitando cada um no exercício dos gestos de solidariedade. São
incontáveis as possibilidades, pelo percurso deste caminho do Advento,
preparatório para o Natal do Senhor.
Para cada peregrino, homens e mulheres de boa vontade,
desenham-se novos horizontes que qualificam a vida tão preciosa de cada um,
razão pela qual Ele, Cristo Salvador, encarnou-Se, igual a nós em tudo, excepto
no pecado, para nos resgatar da condição de escravos e reconquistar o sentido
mais autêntico da nossa liberdade. Trata-se, particularmente, de um caminho de
vivência espiritual. Não pode esgotar-se simplesmente no que chama a atenção, e
até alegra, pelos enfeites, luzes e cores, nem mesmo nas confraternizações. É
preciso aproveitar o momento para reflectir a própria interioridade, alargando
este alicerce que nos capacita para uma vida comprometida com a cidadania e com
a autêntica fé professada.
Pensando na verdadeira e real preparação para o Natal
do Senhor, é bom reflectir sobre o relevante sentido de pertencimento à
sociedade. Cada um olha a sua condição de cidadão, os seus direitos e deveres,
as suas lutas e conquistas, empenhos para garantia de liberdades e de
atendimento às necessidades fundamentais. Este olhar para si, analisando projectos pessoais e familiares, institucionais e outros, obriga-nos a ver,
sobretudo neste tempo, os mais pobres e sofredores, nos diversos cenários da
sociedade.
Um dever especial, sem esquecer nenhum dos que
reconhecidamente são sofredores e pobres, é lançar o olhar e unir o coração aos
que estão mais desconsiderados na sua dignidade. Refiro-me aos nossos irmãos e irmãs
que estão nas ruas das cidades. Uma situação que não pode ser apenas tratada
com Leis e prescrições. Indispensáveis são o sentimento e o princípio
humanístico da solidariedade, antídotos para acções abominavelmente
higienistas.
Retransmito um convite-intimação do Papa Francisco, na
sua recente Exortação Apostólica Alegria do Evangelho: tornar realidade em nós
e no nosso meio o Natal de Jesus Cristo para nos curar das indiferenças,
incompetências nas respostas e incapacidade para acções prioritárias,
destinadas aos mais pobres. Vamos cultivar "uma fraternidade mística e contemplativa
que sabe ver a grandeza sagrada do próximo, que sabe descobrir Deus em cada ser
humano, que sabe tolerar as moléstias da convivência agarrando-se ao amor de
Deus, que sabe abrir o coração ao amor divino para procurar a felicidade dos
outros como a procura o seu Pai bom”.
Vamos tratar diferente, comprometermos mais com os
mais pobres. Só assim será verdade o voto de “feliz Natal” que desejamos uns
aos outros.
Que o propósito deste Natal seja especialmente a qualificação de
todos na condição de integrantes da sociedade.
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