Exprimir o mistério da fé
preocupa muitas gerações.
Foi uma longa história, às
vezes conflituosa, por vezes brutal.
Em jogo: ficar fiel à mensagem
da Escritura
II Século: A fé dos Apóstolos e
dos seus discípulos
Eles
foram «enviados» - é este o sentido do apostolo - para proclamar a Ressurreição. Estes dois
primeiros séculos são essenciais na vida da igreja para a formação da fé.
Que
palavras dar à experiencia vivida com Jesus? Mas também que palavras dar – já –
desmentir as falsas interpretações, as falsas ideias e outros falsos profetas?
Os
autores do Novo Testamento, em particular Paulo e João, elaboram uma primeira
teologia. Deus «fez-Se homem» através
da sua «Encarnação». Ele propõe a «saudação de todo homem dentro da morte e
ressurreição de Cristo». Esta «redenção», os apóstolos experimentaram-na
com Jesus que os chamou para O acompanhar.
Ano 30 em Jerusalém: Doze homens anunciam
publicamente e com força uma grande e boa noticia: «Jesus, enviado de Deus que foi crucificado como um desordeiro e depois
posto no túmulo, está vivo! Deus ressuscitou-O! Ele é o Messias!». Maria,
sua Mãe, está com eles.
É o
dia do Pentecostes, festa judia do dom das «Tábuas da Lei» a Moisés. Elas tornam-se
para os cristãos, aquelas do dom do espírito de Deus que faz proclamar a
mensagem (Kerigma) da Boa Nova.
Anos 140 a 170: Duas primeiras doutrinas divergem: as de
Marcion e a de Montan. Marcion, armador em Roma, sonha por uma igreja que não
disforma o Evangelho. Ele quer conservar o Evangelho puro. Teólogo, ele
distingue dois princípios em Deus: um, criador e incarnando a Lei; outro, amor
misericordioso em Cristo.
Ele selecciona na Escritura o que lhe convém. Assim, só aceito
o Evangelho de Lucas, purgado de citações da infância. À sua maneira, ele
propõe já uma elite pura. Montan, quanto a ele, pretende ser profeta e incarnar
o espírito Paráclito que fala João; ele deve anunciar o regresso iminente de
Cristo. Então, é inútil casar, e é preciso duplicar os jejuns. Montain exige uma
obediência cega.
III e IV Século: Deus Trindade
Com os
séculos, as questões evoluem mas é necessário ficar fiel ao Novo Testamento.
Face às antigas filosofias, às religiões tradicionais, ricas em conceitos e
vocabulários, como exprimir o conteúdo da fé? Como passar da recitação duma
experiencia às palavras que dão conta, diria que defendem, esta experiencia face
às tradições gregas e romanas…? Como igualmente, confirmar o Deus único se Ele
se revela Pai, Filho e espírito Santo? Como enfim, não diminuir do Verbo de
Deus, Filho Eterno, e receber um homem salvador na nossa carne?
«Se Deus se fez homem, é para
que o homem seja feito Deus»,
dirão os primeiros teólogos. Para isso, é preciso que Jesus Cristo seja homem e
Deus. É tudo o que está em causa nos primeiros Concílios que decorrem no
Oriente. Eles fixaram definitivamente a fé cristã.
Anos 220: Tertúlio
de Cartago (160-220), escrivão latino, reflectia sobre a presença dos cristãos
na sociedade, sobre a tradição e sobre o baptismo enquanto que Origine de
Alexandria (185-253), escrivão grego, propõe diferentes leituras (alegórica,
simbólica, etc..) da Escritura. Alguns, um chamado Sabellius (provavelmente
africano) na preocupação de preservar a unidade de Deus, afirmando que o único
e mesmo principio divino age sob os «modos» diferentes, por vezes como Pai, por
vezes como Filho. Chamam-lhes «modalistas». Mas, puxado ao extremo, uma tal
doutrina faria do Pai aquele que sofreu na cruz!
Ano 318: Ariús, padre heterodoxo de Alexandria, prega que o Filho não é eterno, igual ao Pai, mas a primeira e mais importante criaturas de Deus. Mexendo no Filho, ele ameaça assim a Trindade.
Ano 318: Ariús, padre heterodoxo de Alexandria, prega que o Filho não é eterno, igual ao Pai, mas a primeira e mais importante criaturas de Deus. Mexendo no Filho, ele ameaça assim a Trindade.
Anos 325 a 381: Para
rejeitar Ariús, os dois primeiros Concílios ecuménicos de Niceia e
Constantinopla elaborarão o símbolo do Credo, proclamado hoje em todas as
Eucaristias.
Os
católicos têm um Deus em três pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Eles
são iguais e unidos sem confusão.
V a VIII séculos: Os Concílios Cristológicos
Depois
de precisar a relação no seio da Trindade, os debates viram-se singularmente
sobre Jesus. É Ele somente Deus com uma aparência humana? Não é um homem, certo
favorecido por Deus, com ensinamento evidentemente extraordinário… mas somente
um homem? A Sua Mãe estava realmente virgem? Propõe ele uma simples sabedoria?
Uma gnose (ou conhecimento de mistérios espirituais escondidos)? A arte pode
ser representada? Em realidade, todas as questões contemporâneas sobre Jesus
encontram as suas raízes nas origens do cristianismo.
Depois de 418: Nestorius, patriarca de
Constantinopla, recusa de chamar à Virgem Maria, Mãe de Deus. Portanto,
numerosos crentes e teólogos fazem-no à muito tempo. A questão levantada de novo
é sobre Cristo, Deus faz-Se homem, Verbo faz-Se carne. Quem nasceu de Maria? Um
Deus, um homem ou ainda um Deus-homem?
Anos 431 a 451: Os concílios
ecuménicos Èfaso e de Calcedónia traçam a doutrina da igreja. Em Èfaso Maria é
proclamada Theotokos (Mãe de Deus).
Ela não é, bem entendido, Mãe da divindade do Cristo mas ela é sem duvida «Mãe
de Deus segundo a humanidade». Confessar que o Verbo de Deus assumiu a
humanidade, é reconhecer que Ele não é uma pessoa humana distinta da pessoa
divina. O Verbo é homem Jesus Cristo e vice-versa. Numa só pessoa conjuga-se a
personalidade humana e a divina. Muito depressa, um novo desafio aparece: uma
pessoa, seja. Mas como se “organiza” então a humanidade e a divindade? È uma
mistura dos dois? Em Calcedónia, precisa-se como o Cristo è uma pessoa e duas
naturezas: o Cristo è um, Ele è
verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem; «engendrado do Pai antes dos séculos quanto à sua divindade, mas nos
últimos dias, para nós e para nossa saudação, de Maria, a Virgem, a Mãe de
Deus, quanto à sua humanidade, um único e mesmo Cristo, Filho, Senhor, único
engendrado que nós reconhecemos haver as duas naturezas, sem confusão nem
mudança, sem divisão nem separação…». Os debates foram por vezes muito
rudes, mesmo brutais! O patriarca de Alexandria, Cyrile, combateu violentamente
Nestorius em Èfaso. Em Calcedónia, o papa Leão o Grande joga um papel essencial
como arbitro. As igrejas nestorianas (em Mesopotâmia essencialmente) rejeitam
Èfaso. As igrejas monofisitas (em Egipto, em Etiópia…) ignoram Calcedónia.
Desde 1970, grandes avanços ecuménicos aproximaram essas igrejas da «grande
Igreja».
V século: A igreja latina muda a
formulação trinitária do Credo que tinha sido concretizado pelos concílios de
Niceia e Constantinopla: ela substitui a expressão «procede do Pai» pela
«procede do Pai e do Filho». Isto provoca um descontentamento de muitos crentes
gregos do Oriente e será uma das causas, em 1504, da ruptura entre Oriente
ortodoxo e Ocidente católico.
Anos 640 a 681: Héraclius, imperador de Constantinopla e
Sergius, seu patriarca, afirmam: «não há uma só única vontade» (Divina) em
Cristo e «uma só energia». È o «monoteísmo» e o «monoenergismo». O papa João IV
condena o monotelismo, Martin 1º, seu sucessor, afirma a existência de «duas
vontades e duas operações, divinas e humanas» em Jesus Cristo : ele
quer e age como homem e como Deus. Maxime, chamou «confessor» da verdadeira fé,
morremos mártires. Em 681, o terceiro concilio de Constantinopla dá-lhe razão:
verdadeiro Deus, verdadeiro homem, Jesus quis essa vontade como Deus e como
homem.
Ano 787: O
concilio de Niceia II é o ultimo concilio bem recebido pelos latinos ocidentais
e pelos gregos orientais. Ele é o último literalmente ecuménico. Niceia II
responde à questão de saber se è possível fazer das imagens de Cristo, dos
santos, e de os venerar sem idolatria. «Não!», afirmarão vários imperadores de
Constantinopla que partem as imagens e lançam uma perseguição desconhecida
desde as ultimas grandes perseguições idólatras. O oriente crente está a fogo e
sangue mas em nome da fé a Cristo. Santo João de Damas combate a teologia
destes que querem quebrar as imagens. Porque o Cristo, fez-se homem, e a arte
pode expandir a beleza de Deus. È legítimos de venerar ícones, janelas abertas
sobre o mistério divino onde elas são imagens. Niceia II traçará este
sentido.
XVI Século: Vias católica e protestante
Luther
(1483-1546), em nome da Escritura, mete em causa a teologia e a tradição
medievais da igreja que ele quer reformar. No seu seguimento, Zwingli, Calvin e
outros deram nascimento a outras novas igrejas e a novas teologias,
qualificadas de protestantes. A salvação è puro dom de Deus: ele não è merecido
pelas boas acções do homem; nenhuma acção humana o podem comprar, somente conta
a fé em Cristo.
Anos 1545 a 1563: A graça de Cristo está ela presente nos sete
sacramentos? Sim, respondem os padres do concilio de Trento, afinando a
teologia católica dos sacramentos e ao qual eles confirmam o numero. Os
protestantes só retêm dois: o Baptismo e a Eucaristia. Para os católicos, os
sacramentos dão a graça por eles mesmos, eles são «eficazes» para quem os
celebra com fé e sinceridade. Para os protestantes, os sacramentos confirmam
simplesmente a fé do crente.
HÉLDER GONÇALVES
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