Que mensagem nos transmite hoje esta página do Evangelho?
Antes de mais, que para Deus as bonitas palavras e as promessas contam
pouco se não forem seguidas de acções concretas. «De promessas e boas intenções
está o inferno cheio», costumamos dizer e é verdade! Por isso, esta parábola
não está longe da nossa vida quotidiana. O que Deus espera de nós não é muito
diferente do que nós esperamos uns dos outros: a coerência.
Para os baptizados, a incoerência torna-se muito depreciativa, quando
na Igreja professamos uma coisa e fora da Igreja, em casa ou no trabalho
fazemos outra. Seríamos como o irmão que diz sim na Igreja e não na vida. E
sabemos bem que o mundo nos julga mais pelo que fazemos do que pelo que
dizemos. Já dizia Santo Inácio de Antioquia: «É melhor ser cristão sem o dizer, do que dizê-lo sem o ser».
Contudo, as coisas não são assim tão lineares, pois existem pessoas
não-crentes ou não praticantes que estão sempre prontas a apontar o dedo aos
crentes, desculpando-se: «Aqueles que vão à Igreja são piores que os outros»,
pensando assim estarem justificados por não irem à Igreja ou não rezarem. Mas
só Deus pode julgar a consciência de cada um e se vamos à Igreja é precisamente
para sermos melhores, não para vangloriarmos do que quer que seja!
Para percebermos bem o conteúdo central desta parábola é preciso ler e
reler a estranha conclusão de Jesus: «Em
verdade Vos digo: Os publicanos e as mulheres de má vida irão diante de vós
para o Reino de Deus.»
Ao longo dos séculos, esta frase de Jesus foi muito manipulada, ora
para justificar a prostituição, ora para aliviar qualquer má consciência.
Na verdade, o que Jesus diz representa um exagero. Como se dissesse:
«Até as mulheres de má vida vos passarão à frente no acolhimento da novidade do
Reino de Deus.» Isto é, aqui a prostituição é vista como um pecado grave que
até nem foi impedimento para acolher a mensagem de Cristo. E se Jesus põe ao
mesmo nível as mulheres de má vida com os publicanos é porque ambos colocavam o
dinheiro acima de tudo o resto na vida.
Contudo, a verdadeira mensagem desta parábola reside na esperança de
quem se encontra na pior das situações. O Evangelho é sempre uma “boa notícia”,
uma palavra de esperança.
Não creio que muitas mulheres de má vida leiam o que escrevo, mas
também não posso deixar de o escrever: o bom pastor é aquele que deixando as 99
ovelhas, ai à procura daquela perdida. Esta é a esperança que Jesus suscita na
vida de todos nós. Por maior que seja o pecado, se o arrependimento for
verdadeiro, se a vontade de melhorar acontecer concretamente, então o perdão
nasce como a verdadeira força da nossa vida.
Com Jesus ninguém fica marcado negativamente, fatalmente, para toda a
vida. É possível mudar, é possível passar de grandes pecadores a grandes
santos. A história da Igreja está cheia destes testemunhos.
Façamos das palavras do Profeta Ezequiel um guia para a nossa
conversão: «Quando o pecador se afastar
do mal que tiver realizado, praticar o direito e a justiça, salvará a sua vida.
Se abrir os olhos e renunciar às faltas que tiver cometido, há-de viver.»
HÉLDER GONÇALVES
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