sábado, 8 de fevereiro de 2014

Vida Incoerente

Ao olhar para o comportamento da sociedade actual, lembro-me frequentemente da parábola que Jesus contou dos dois filhos a quem o Pai pede para irem trabalhar na vinha. Um responde que sim e o outro responde que não, mas afinal fizeram o contrário do que disseram.


Que mensagem nos transmite hoje esta página do Evangelho?

Antes de mais, que para Deus as bonitas palavras e as promessas contam pouco se não forem seguidas de acções concretas. «De promessas e boas intenções está o inferno cheio», costumamos dizer e é verdade! Por isso, esta parábola não está longe da nossa vida quotidiana. O que Deus espera de nós não é muito diferente do que nós esperamos uns dos outros: a coerência.

Para os baptizados, a incoerência torna-se muito depreciativa, quando na Igreja professamos uma coisa e fora da Igreja, em casa ou no trabalho fazemos outra. Seríamos como o irmão que diz sim na Igreja e não na vida. E sabemos bem que o mundo nos julga mais pelo que fazemos do que pelo que dizemos. Já dizia Santo Inácio de Antioquia: «É melhor ser cristão sem o dizer, do que dizê-lo sem o ser».

Contudo, as coisas não são assim tão lineares, pois existem pessoas não-crentes ou não praticantes que estão sempre prontas a apontar o dedo aos crentes, desculpando-se: «Aqueles que vão à Igreja são piores que os outros», pensando assim estarem justificados por não irem à Igreja ou não rezarem. Mas só Deus pode julgar a consciência de cada um e se vamos à Igreja é precisamente para sermos melhores, não para vangloriarmos do que quer que seja!

Para percebermos bem o conteúdo central desta parábola é preciso ler e reler a estranha conclusão de Jesus: «Em verdade Vos digo: Os publicanos e as mulheres de má vida irão diante de vós para o Reino de Deus.»

Ao longo dos séculos, esta frase de Jesus foi muito manipulada, ora para justificar a prostituição, ora para aliviar qualquer má consciência.

Na verdade, o que Jesus diz representa um exagero. Como se dissesse: «Até as mulheres de má vida vos passarão à frente no acolhimento da novidade do Reino de Deus.» Isto é, aqui a prostituição é vista como um pecado grave que até nem foi impedimento para acolher a mensagem de Cristo. E se Jesus põe ao mesmo nível as mulheres de má vida com os publicanos é porque ambos colocavam o dinheiro acima de tudo o resto na vida.

Contudo, a verdadeira mensagem desta parábola reside na esperança de quem se encontra na pior das situações. O Evangelho é sempre uma “boa notícia”, uma palavra de esperança.

Não creio que muitas mulheres de má vida leiam o que escrevo, mas também não posso deixar de o escrever: o bom pastor é aquele que deixando as 99 ovelhas, ai à procura daquela perdida. Esta é a esperança que Jesus suscita na vida de todos nós. Por maior que seja o pecado, se o arrependimento for verdadeiro, se a vontade de melhorar acontecer concretamente, então o perdão nasce como a verdadeira força da nossa vida.

Com Jesus ninguém fica marcado negativamente, fatalmente, para toda a vida. É possível mudar, é possível passar de grandes pecadores a grandes santos. A história da Igreja está cheia destes testemunhos.

Façamos das palavras do Profeta Ezequiel um guia para a nossa conversão: «Quando o pecador se afastar do mal que tiver realizado, praticar o direito e a justiça, salvará a sua vida. Se abrir os olhos e renunciar às faltas que tiver cometido, há-de viver.»

HÉLDER GONÇALVES 

Sem comentários:

Enviar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...