quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Árvore de Natal

Desde o século XVI que se tornou costume, na Alemanha, decorar, pelo Natal, os pinheiros. Ao conservar, em pleno Inverno, a sua folhagem verde, o pinheiro é um símbolo muito antigo do poder divino da vida que até mesmo o frio invernal não consegue vencer. A Árvore de Natal tem pois a sua origem numa antiga tradição germânica que consistia em pendurar nas casas, durante as “noites selvagens”, alguns ramos de verdura que afastavam os maus espíritos. Estes eram assim conjurados de duas formas: a árvore, sempre verde, transmitia a sua vitalidade aos homens e aos animais, e a sua luz, iluminando as trevas da noite universal, expulsava os demónios. Na tradição cristã, esta árvore sempre verdejante e, ainda por cima, iluminada, convida a que Cristo entre nas casas e delas elimine todos os espíritos do medo, da hostilidade e da inveja. Em pleno coração do Inverno escuro e frio, a árvore traz luz e calor ao nosso mundo.

Os cristãos viram no pinheiro de Natal a árvore do paraíso na qual se podem colher os “frutos da vida”. Estes são representados pelas maçãs e pelas nozes que, desde sempre, se penduraram nos ramos da árvore, ou então por bolas de vidro, imagens do paraíso na sua totalidade intacta. De acordo com uma lenda antiga, Adão, doente e moribundo, terá mandado ao paraíso o seu filho Seth para que lhe trouxesse um pouco da seiva da Árvore da Vida, com o fim de diminuir os seus sofrimentos. O Arcanjo Miguel teria então dito a Adão que, somente 5.500 anos depois é que o Filho de Deus viria à terra, para o levar até à Árvore da Vida, Árvore da Clemência e da Graça. No entanto, Miguel teria dado a Seth, no seguimento desta promessa solene, um rebento da árvore que deveria ser plantada na terra. É por isso que a Árvore de Natal é um rebento da Árvore da Graça até à qual Deus nos conduz pelo nascimento do seu Filho, para que a sua seiva apazigue os nossos sofrimentos.

A árvore é, para todos os povos, fonte de vida e símbolo importante de fertilidade. Na Antiguidade, cada árvore era atributo de um deus: o carvalho, o de Júpiter, o loureiro, o de Apolo, a murta, o de Vénus. O Antigo Testamento fala das Árvores do Jardim do Éden: a “Árvore da Vida”, e a “Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal”. O cristianismo pressentiu na Cruz a actualização da Árvore da Vida: a cruz é a árvore que traz até nós a verdadeira vida, a árvore que nunca seca, já que nela o próprio Cristo foi imolado. A árvore estabelece assim uma ligação entre a terra e o céu. Enraíza-se nas profundezas da Terra-Mãe, da qual tira a sua força; e, ao mesmo tempo, dirige-se para o céu e nele expande a sua copa. A árvore é pois a imagem do homem tal como este deveria ser: enraizado no solo e, no entanto, de pé, como um rei ostentando a coroa. E porque nos dá a sua sombra, a árvore é também um símbolo maternal. Pelo contrário, o seu tronco é visto muitas vezes como um símbolo fálico. É deste modo que o vegetal reúne os traços de virilidade e da feminilidade; não une apenas o céu à terra, mas ainda o homem à mulher.

A árvore de Natal acentua pois alguns dos aspectos relativos ao simbolismo geral da árvore. Em primeiro lugar, há a ligação entre o céu e a terra: no Natal, Deus faz desaparecer a fronteira entre os dois; é a partir da terra que podemos aceder ao céu. Em seguida, a imagem da Árvore de Natal foi certamente influenciada pela imagem da árvore que se abate mas que nasce de novo. Daí a promessa de Isaías relativa ao Advento: “Sairá um rebento da árvore de Jessé, um rebento surgirá das suas raízes” (Isaías, 11,1). É precisamente no momento em que falhamos, no momento em que somos amputados: quando o caminho nos conduz a um beco sem saída que, através do nascimento de Cristo, desponta em nós a certeza de uma vida nova, mais autêntica e bela do que a que conhecemos até então. A árvore de Natal é assim imagem de uma vida que, graças ao nascimento de Jesus, em nós desponta triunfante, vida essa que nenhum frio pode destruir; é também um sinal de que a guerra dos sexos está ultrapassada. Quando Deus vem ao mundo, deixa de fazer sentido a oposição entre o homem e a mulher, tornam-se os dois (todos nos tornamos) um com a sua natureza divina.

Eis pois a promessa que nos chega com a árvore de Natal, árvore continuamente verdejante, decorada com bolas, com velas e fitas cintilantes. Os ramos do pinheiro exalam um perfume único. Sempre que o respiro, sinto reviver em mim os sentimentos que eram os meus na infância. Tenho então a sensação de que a nossa casa, o meu quarto, foram transformados graças ao nascimento de Cristo, sinto que Deus se aproximou de mim e veio habitar o meu quarto, a minha casa, e que a Sua presença tão próxima difunde como que um perfume de ternura, de amor, ao mesmo tempo que uma sensação de segurança, idêntica à que sentimos quando estamos em casa. O que emana deste perfume de Natal não é a nostalgia mas antes a intuição de que o mistério, de que o próprio Deus, se encontra entre nós.

E é porque o mistério está entre nós que nos podemos sentir em casa, na nossa própria casa. Em casa, com o pinheiro, entra também a realidade da floresta, a própria realidade da natureza e de toda a criação; é então que desaparece a ruptura entre a natureza e a civilização, é então que temos a sensação de que, até mesmo no interior das nossas casas, partilhamos a força que emana da Terra Mãe. Ao tornar-se homem, Deus santificou toda a criação, e é enquanto seres humanos que nós participamos nessa criação santificada.

Que efeito produz, em ti que me lês, este perfume do pinheiro de Natal? Em tua casa, contempla a árvore de Natal e vê que imagens despertam em ti. A árvore decorada traduz um aspecto importante da Encarnação de Deus em Cristo. É toda a natureza que se transforma quando o próprio Deus desce sobre ela. O que se transforma não é apenas a tua vida passada, liberta dos seus males, nem a vitalidade da tua natureza animal; é também toda a tua componente vegetativa. Cristo quer penetrar no interior do teu corpo, penetrar no teu sistema nervoso vegetativo, para tudo poder transformar, para tudo curar. E quer encher-te com o perfume da divindade, para que possas, literalmente, sentir-te tu mesmo e para que te sintas bem na tua pele.

Autor: Anselm Grün

HÉLDER GONÇALVES

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