Era uma vez um homem triste. Parecia-lhe que a sua vida não valia nada. Era casado e tinha filhos. Trabalhava para manter a família, mas tudo o que ganhava era quase insuficiente. Os filhos cresciam, ele fartava-se de trabalhar e sentia-se a envelhecer. Não havia remédio, para a sua vida, pensava: depois de uma preocupação vinha outra, cansava-se para nada, tudo decorria como sempre. Bem procurava animar-se com o dia-a-dia da vida familiar e profissional mas o cansaço levava-o a refugiar-se cada vez mais em si e acabava sempre imerso nos pensamentos sem esperança e preocupações estéreis.
Ao observar os pescadores no mar, pensou que a sua vida lhe parecia como uma rede lançada ao mar que quando era recolhida vinha sempre vazia.
Certa noite não conseguia dormir. O desânimo era grande e a angústia de uma vida sem sentido começou a tomar conta do seu pensamento. Olhou à sua volta e quase desesperado pegou no Evangelho, que há muito tempo já não lia, que a esposa tinha na mesinha de cabeceira e abriu-o ao calhas. Os seus olhos começaram a ler: «Mestre, trabalhámos durante toda a noite e nada apanhámos; mas, porque Tu o dizes, lançarei as redes». Assim fizeram e apanharam uma grande quantidade de peixes» (Lc 5,5)
Pareceu-lhe compreender a sua vida. As redes estão vazias ou cheias dependendo se as lançamos em nome de Deus ou não. E pela primeira vez já não sabia há quantos anos sentiu uma grande felicidade. Quanto mais à frente depois leu «Não temais!», a sua felicidade transformou-se em pranto de felicidade. Tinha compreendido que cada Homem é chamado a reconhecer na sua própria condição a vontade de Deus e que a vida só tem valor se for vivida na confiança em Deus.
A partir daquele dia não saía de casa sem dizer a si mesmo: «Quem tem um "porquê" na vida, consegue sempre superar as próprias incertezas»...
Em certos momentos da vida, a fé devolve-nos a razão do nosso viver. Apercebemo-nos de que o nosso quotidiano necessita de oração e reflexão para fazer sentido. Descobrimos que nos momentos tristes, assim como nos dias felizes, Deus é sempre a nossa bússola.
Se somos os débeis que Deus fortalece, os inquietos que Deus aclama, os avarentos que Deus liberta dos bens, os vingativos a quem Deus ensina o perdão... então temos e vivemos uma mensagem credível e uma salvação que é possível comunicar e testemunhar aos outros.
Toda a vida é uma vocação e cada vocação está ligada a uma missão. Deus sempre chamou e continua a chamar colaboradores para a historia da salvação.
HÉLDER GONÇALVES
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