Jesus é crucificado na
primavera do ano 30, perto dos muros de Jerusalém. Sobre a Cruz, uma placa:
«Jesus de Nazaré, Rei dos Judeus». Pilatos, autor da placa, saberá ele que Roma
ainda não acabou com este Galileu?
Jerusalém
é uma pequena vila com cinquenta mil almas, talvez. Nas grandes festas, ela
triplica a sua população. Mas Jerusalém não se mede só pela quantidade dos seus
habitantes. É a Cidade Santa, dominada pelo seu Templo que atrai os judeus do
mundo inteiro. Um belo edifício, parecido com uma montanha cheia de neve, por
causa dos seus mármores, mais brilhante que o sol por causa dos revestimentos
em ouro.
Jesus,
Ele, cresceu numa aldeia obscura da Galileia. Mas o seu suplício liga-O à
Cidade Santa. É aí que os seus discípulos anunciam a ressurreição. Pedro, João
e os outros Apóstolos formam em breve em Jerusalém um núcleo estável de judeus
adeptos de Jesus.
Eles
não vivem a sua fé em Cristo ressuscitado contra a religião, mas como a sua
fina flor. Eles continuam a ir ao Templo rezar mas não fazem ofertas de
sacrifícios. Eles lembram-se das palavras de Jesus, e vivem à luz dos seus
ensinamentos.
Jerusalém
é uma encruzilhada. Os judeus «helenistas» (que
falam Grego e não Aramaico como Pedro) também começam a acreditar em Jesus. Alguns até se
mostram mais provocadores que os Apóstolos. Um deles, Estêvão vira-se para o
Templo e diz: “Não façam da casa de meu
Pai uma caverna de ladrões”, disse Jesus.
“Deus não mora em casas construídas pelo homem”, proclama Estêvão. Ele
vira-se assim contra o Templo de Jerusalém argumento utilizado contra os
pagãos. Por causa destas palavras a sua coexistência com os judeus de Jerusalém
tornou-se mais difícil. Estêvão foi apedrejado. Uma nova perseguição
iniciou-se. Um mal que se torna num bem. A perseguição torna-se num teste. Os
discípulos, à excepção dos doze apóstolos, abandonam Jerusalém, e vão levar a
Boa Nova fora. As comunidades começam a nascer até Chipre e na Síria.
Antioquia, uma igreja cheia de
vitalidade –
Depois de Roma e Alexandria, Antioquia é a terceira cidade do Império, com mais
de quinhentos mil habitantes. Uma comunidade implanta-se antes do ano 40. ela é
composta por judeus e pessoas de outras nações chamadas de pagãos, Gregos ou
gentios. Os que acreditam em Jesus não são todos judeus e passam a chamar-se de
cristãos seja qual for a sua origem. A igreja de Antioquia não se parece com a
de Jerusalém que acolhe menos pagãos. Mas Jerusalém fica como a igreja mãe. Os
apóstolos enviam um delegado a Antioquia, chamado Barnabé, para observar o que
se passa. As crianças crescem e reclamam a sua parte de autonomia. A jovem
igreja de Antioquia quer mostrar-se reconhecida pela igreja mãe, mas não gosta
que lhe digam o que tem que fazer. Uma grande fome atinge a Judeia. A igreja de
Antioquia organiza uma colecta para ajudar os seus irmãos em Jerusalém. A colecta
que esta jovem igreja organiza mostra que é capaz de gerar vida e que se porta
bem. A relação entre as duas igrejas não é sentido único. A igreja de Antioquia
torna-se uma verdadeira parceira. Barnabé instala-se em Antioquia, depois parte
para Tarso à procura de Paulo. que acaba de converter-se. Com duas
personalidades desta envergadura, a igreja fortifica-se. Em breve, ela
ultrapassa em numero a de Jerusalém.
Como
organizam-se eles? Quem dirige? Em Jerusalém estão os apóstolos. Mas em
Antioquia quem está? Esta igreja está
largamente aberta às iniciativas do Espírito mas ela tira também da sua ligação
a Jerusalém as riquezas duma tradição.
Encontramos,
diz-nos Lucas, «os profetas e os homens de sabedoria». Os profetas desempenham
nos primeiros cristãos um papel importante. Quando a igreja reza, ela vive da
certeza que o Senhor ressuscitado está presente e espalha o seu Espírito, capaz
de renovar todas as coisas. Durante as rezas litúrgicas, um profeta pode
declarar: «Metam-me Barnabé e Paulo de lado para a obra que os destinei». E a
comunidade envia em missão dois dos seus melhores elementos. Foi assim que
Antioquia está na origem das viagens missionárias destes dois homens.
Mas
como evitar as falsas iniciativas reivindicadas em nome do Espírito?
Em
Jerusalém como em Antioquia, foi preciso aprender a fazer o discernimento. Os «homens encarregados de ensinar» têm
aqui uma grande influência. Á volta dos apóstolos lembram-se do Mestre.
Transmite-se os textos da última Ceia, da Paixão e da Ressurreição. Se algum
profeta disser alguma coisa em nome do Espírito, este não pode estar em
contradição com aquilo que Jesus fez e ensinou. Tradições formadas à volta dos
apóstolos e abertura às iniciativas do Espírito confortando-se por formar
igrejas vivas. A igreja de Jerusalém sente-se próxima dos judeus; a de
Antioquia tem o carisma de se abrir largamente aos pagãos.
·
«Não há judeu nem grego, nem escravo nem homem
livre»
Paulo e as suas igrejas – A igreja de Jerusalém e a
igreja de Antioquia têm os seus missionários que percorrem o Império. Há Paulo
o viajante infatigável, evangelizador das nações. Para ele, não é necessário
converter-se ao judaísmo para se ser cristão. Ele funda Filipo, Tessalónica,
Atenas (onde consegue pouco), Coríntio e várias igrejas na Galácia ou ainda em
Éfaso onde outros missionários já trabalharam. Quando a igreja está reforçada,
ele parte para outro local, deixando no local responsáveis, os mais antigos.
Ele conserva laços graças ao correio e aos seus colaboradores, Timóteo, Silvino
e Tito. Existe também Priscilia e Aquilas, um casal de judeus onde Prisca, a
mulher, tem um grande papel ao serviço do Evangelho.
A
sociedade do império romano está constituída por uma complexa teia de pessoas:
escravos ou homens livres, habitantes duma cidade, estrangeiros, libertados,
membros de confrarias, fraternidades religiosas à volta de um deus, duma deusa.
Os filósofos Estóicos lembram que um escravo e um cidadão são homens e irmãos
sobre o olhar da Providencia. Eles esforçam-se de tirar as consequências
morais. Mas nos acontecimentos, a sociedade fica desigual. Ela parece uma
pirâmide, no topo o imperador, os cidadãos, e depois as categorias mais baixas
– os libertados e os escravos.
Esta
organização social, a mensagem cristã transforma-os. Todas as diferenças
apagam-se em nome da fraternidade. Todo o homem é um irmão pelo qual Cristo deu
a Sua vida. Todos os homens são chamados pela fé a tornarem-se Filhos de Deus. «Não há mais, escreve Paulo, nem judeu nem
grego, nem escravo nem homem livre, nem homem e a mulher».
Propósito
de um sonhador? Propósito utópico de certeza. Mas a utopia começa a realizar-se
dentro da igreja. O cidadão convive com o escravo, o judeu vive ao lado do
grego. Os homens como as mulheres são acolhidos.
Todos
irmãos. O convívio é delicado. Depois de alguns anos de existência cristã em
Coríntio, o ideal está longe de ser atingido. Os cristãos reconstituíram grupos
no interior da igreja. Cada um reivindica uma grande personalidade: «Eu, pertenço a Paulo». «Eu, a Apolo», «Eu,
a Pedro». Paulo zanga-se: «Vocês não
pertencem a ninguém deste mundo, escreveu. Vocês pertencem a Cristo que
pertence a Deus». Tais propósitos contradizem a organização da própria
sociedade. Em breve os cristãos aparecem como os subversivos. Propósitos
maliciosos circulam a sujeito deles: estas pessoas que se dizem irmãos e irmãs
não querem eles arruinar a célula familiar e favorecer o incesto?
Os
cristãos não têm, durante os três primeiros séculos, imóveis públicos. Eles
reúnem-se habitualmente nas suas casas, por vezes nos jardins ou nos cemitérios
para honrar os seus mortos. Priscilia e Aquiles recebem a igreja em sua casa,
em Roma. É preciso muitas qualidades para preencher este rol de acolhimento. E
este casal não lhe falta. Não é a mesma coisa em Coríntio. As pessoas
que recebem a igreja reconduzem com hábitos pagãos. Numa vila normal, uma dezena
de pessoas podem ser recebidas numa sala de jantar; os outros contentam-se no
átrio. A tentação é então grande de receber as pessoas honradas com o mestre na
sala de jantar, e os escravos ou as outras pessoas no exterior. A ceia do
Senhor, sinal de unidade, torna-se sinal de divisão. Paulo tem de por as coisas
no sítio.
Roma, no
coração do império
Viajamos
muito na antiguidade. Por barco (é
necessário 10 dias para ir de Roma a Alexandria). De carroça, sobre as
estradas que o imperador Augusto melhorou. Para evitar aventuras dos albergues,
bilhetes de recomendações permitem aos parentes ou amigos, espalhados pelo
império, de acolher os viajantes.
Paulo
recomenda aos seus colaboradores ou aos irmãos da igreja de Roma, Phoébé, uma
diaconisa, a caminho da capital. Tais atenções desenvolvem amor fraternal de
onde Paulo fala tão bem nas suas cartas.
Para
os viajantes, a fé cristã chega muito cedo a Roma. Desde o ano 49, ela causa a
expulsão, pelo imperador, dos judeus que disputam entre pertencerem ou serem
adversários da nova fé. Os cristãos implantam-se solidamente em Roma mas vão em
breve integrarem-se na igreja mãe de Jerusalém.
No ano
de 66, a
guerra dos judeus contra os Romanos começa. As legiões esmagam os
revolucionários judeus, tomam Jerusalém e destroem o Templo. Que aconteceu aos
cristãos?
Eles
abandonaram a vila antes da guerra e foram estabelecerem-se em Pella, não muito
longe da Galileia. Depois da guerra, uma igreja cristã reconstituiu-se em Jerusalém. Mas
agora não tem o mesmo prestígio. As igrejas bem implantadas como Èfaso,
Antioquia, Roma, tomaram a continuidade. E para muitos cristãos, a verdadeira
Jerusalém encontra-se no Céu.
É
nesta época que desaparecem os apóstolos. Só João, que a tradição liga-o à
igreja de Èfaso, vive até muito velho. Pedro e Paulo são martirizados por Nero,
metendo assim a igreja de Roma sobre o patronado de duas figuras prodigiosas. O
tempo das origens, já muito longe. Mas os cristãos não entram na história sem
fontes de origem. As cartas de Paulo circulam. As tradições formadas à volta
dos apóstolos conduzem à redacção dos Evangelhos. Pode-se assim enfrentar o
futuro, com livros que conservam a memória.
As
igrejas desenvolvem-se. Lyon em Gaule, Cartago em África são evangelizadas. Os
problemas não faltam. Como, por exemplo, acolher as pessoas de passagem? Mesmo
com as cartas de recomendações, eles podem esconder-se dos abusadores e dos
ladrões. Também dos que semeiam a discórdia. A Escritura, sem dúvida escrita em
Antioquia, fornecesse regras bem precisas:
«Se aquele que vem a vossa casa está só de passagem, ajudai-o do vosso melhor.
Mas que ele só fique em vossa casa dois ou três dias. Se ele quer instalar-se
em vossa casa mas que ele seja artesão, então que ele trabalhe e se alimente.
Se ele não quiser agir assim, é um traficante de Cristo; guardai-vos das
pessoas deste género».
É
preciso precisar as condições para entrar na igreja. Existe profissões
incompatíveis com a fé? Hipólito de Roma recomenda um inquérito antes de dar o
baptismo, depois de três anos de aprendizagem. Ele dá a lista das actividades
interditas: «Dormir dentro do circo,
gladiadores, padre de ídolos, encantadores, astrólogos, intérprete de sonhos… O
escultor está convidado a não esculpir ídolos, homem que tivesse uma amante e
que parou».
Baptismo
e Eucaristia constituem um tempo forte das comunidades. Os textos garantem o
bom desenvolvimento. É preciso explicar o que se passa para evitar fábulas.
Diz-se que os cristãos são uma seita secreta e que para entrar, é preciso
espetar uma faca cheia de farinha nas costas de uma criança. Os cristãos são
perseguidos e aniquilados. Os mais entendidos escrevem então cartas ao
imperador. Firmemente, Justino, filosofo convertido, explica-se: «O dia em que chamarem ao dia, sol, todos
devem reunirem-se num único e mesmo local. Lê-se as memórias dos apóstolos e os
escritos dos profetas… a leitura acabada, o presidente toma a palavra para
exortar a imitar estes bons ensinamentos».
Vem depois
em seguida a oração em alta voz, e aquele que preside faz subir as orações
quando se traz o pão e o vinho. Reparte-se os alimentos consagrados e envia-se
os diáconos levar o pão aos ausentes. Leva-se os bens para entreajuda: «Aqueles que estão com abundância e que
querem dar, dão livremente. O que é recolhido é metido nas mãos do presidente,
e ele assiste aos órfãos, às viúvas, aos doentes, aos indigentes, aos presos,
aos estrangeiros». Tertúlio testemunha das mesmas práticas na igreja em
África: caixas comuns servem para socorrer os que precisam.
A sedução
cristã
A
igreja seduz quando ela oferece uma maneira de viver em fraternidade num mundo
duro e cruel. Uma prática corrente é abandonar as crianças nas escadas dos
Templos. Pessoas sem escrúpulos recolhem-nos então para os levar para a
prostituição ou para os ateliers de escravos. «Nós não expomos as nossas crianças» afirma com honra Tertúlio.
Virá
um dia onde os cristãos serão numerosos para atirar sobre si a atenção dos
pensadores pagãos. Ano 180, o filósofo Celso escreve um livro contra eles. Ele
acusa-os de recrutar nas baixas camadas da sociedade e de enviarem bom
faladores a meterem-se com as mulheres atrás dos maridos, de presentear uma
religião de fracos por pessoas crédulas.
Realmente,
desde o nascimento, o cristianismo recruta em todas as camadas sociais. Lídia,
que Paulo encontrou em Filipos, é uma mulher empresária. Eraste, da igreja de
Coríntio, é tesoureiro da sua vila.
O
sucesso do cristianismo provém desta capacidade tranquila a propor um estilo de
vida diferente, a recusar o compromisso com um mundo julgado idolatra e duro, a
socorrer os deixados por conta, a resolver os problemas da vida quotidiana.
Em
Lyon, França, personalidades como Alexandre, um médico, e Atalle um notável,
fazem parte da igreja. Para eles a evangelização progride junto daqueles que
encontram.
No
IIIº século, os cristãos estão presentes em todos os sectores da sociedade:
ateliers, lojas, tropa. Mas as suas vidas tornam-se delicadas numa sociedade
marcada pelo seu carácter religioso, com cerimónias aos deuses que eles já não
honram.
Que se
os persiga ou que se os deixe em paz, pergunta-se quem eles são
verdadeiramente. A religião dos judeus é reconhecida pelo império. Os cristãos,
não têm nenhum estatuto legal. Quem são eles? Nem judeus nem pagãos, dizem
eles, nós inventamos uma outra maneira de viver. Nós praticamos o amor ao irmão
em nome de Jesus. Todo homem pela fé é chamado a ser um filho amado de Deus.
Ser cristão no quotidiano - A sociedade romana está marcada pelo seu
carácter religioso. No tempo da república, contava-se 180 dias de descanso.
Depois do imperador Calígula, a Saturnália dura sete dias: um dia para os
deuses, seis dias para as extravagâncias (mascaradas,
orgias, circo, etc…). a vida quotidiana é muito delicada para um cristão. O
nascimento de uma criança, um casamento não acontece sem gestos culturais para
os deuses. Ausentes das festas que acabam com orgias, jogos de circo e
cerimonias nos templos mas também ausentes do teatro onde são representadas
cenas imorais da mitologia, eles são rapidamente acusados de deslealdade
cívica. Considerados como pessoas secretas, desconfia-se de práticas ocultas…
uma das causas de perseguições. Os judeus, fiéis a uma religião secular,
beneficiam, pensam eles, dum estatuto oficial que lhes permite de viver segundo
os seus rituais.
Uma religião
particular
«Deve ser um pregador de
divindades estrangeiras» Foi
assim que Paulo se viu entender qualificado pelos filósofos de Atenas a quem
ele anunciou Jesus e a Ressurreição. Os seus auditores acreditaram sem dúvida a
um novo casal de divindades estrangeiras vindos do Oriente – Cybele e Adónis,
Isís e Osíris – muito na moda naquela época.
Ao
lado dos deuses da cidade como Júpiter, Vénus, Minerve, prosperam os cultos
estrangeiros, sírios, egípcios, ou até mesmo os vindos do Irão, como
Mithra.
Estes
deuses parecem-se mais próximos e mais eficazes na conduta do destino de cada
um.
É
certo que o cristianismo foi recebido por pessoas cultas como uma das religiões
estrangeiras. Justino, filósofo convertido, defende a originalidade do
cristianismo. Ele acusa os seguidores de Mithra de copiarem os cristãos ao
fazerem nascer o seu deus numa gruta e comendo pão e vinho nas suas refeições
na confraria. De facto, o cristianismo é uma religião muito particular que
rejeita a existência de outros deuses, daí a acusação do ateísmo, e afirma a
sua originalidade pela fé na ressurreição da carne e na vinda de Cristo no fim
dos tempos. A igreja de Corinto, é o tesouro da sua vila.
O sucesso do
cristianismo provém desta capacidade tranquila de propor um novo estilo de vida
diferente, a recusar o compromisso com um mundo julgado idolatra e duro, a
socorrer os abandonados, a resolver os problemas da vida no quotidiano. Em
Lyon, as personalidades como Alexandre, um médico, e Atalle um notável, fazem
parte da igreja. para eles, a evangelização progride junto de todos com quem se
encontram. No IIIº século, os cristãos estão presentes em todos os sectores da
sociedade; ateliers, lojas, exército, etc… mas as suas vidas são delicadas numa
sociedade marcada pelo seu carácter religioso, com as suas cerimónias aos
deuses que eles já não honram. Que os persigam ou que os deixem em paz,
pergunta-se quem são eles verdadeiramente. A religião dos judeus é reconhecida
pelo império. Os cristãos não têm nenhum estatuto legal. Quem são eles?
Nem
judeus nem pagãos, dizem eles, nós inventamos uma outra maneira de viver.
Nós
praticamos o amor ao próximo, em nome de Jesus. Todo homem pela sua fé é
chamado a ser um filho amado de Deus.
Alexandria, a
capital intelectual
Alexandria
é a segunda maior cidade do império romano. Alexandria brilha pelos seus
pensadores, pelos seus filósofos e pela sua cultura. Uma comunidade judaica
muito próspera instala-se desde a origem. É através dela que chega a fé cristã.
Apollo, que evangeliza na região de Èfaso e Corinto, é um judeu convertido em
Alexandria.
A
igreja de Alexandria desenvolve desde muito cedo o diálogo com os filósofos
pagãos. Panténe funda uma escola de catequese. Pagãos cultos apressam-se às
aulas, sobretudo às de Origine, um dos maiores pensadores cristãos. Foi Pantène
que escreveu a maravilhosa epístola a Diognete? Talvez. O que a alma é ao
corpo, os cristãos o são para o mundo. Eles vivem no meio das cidades, eles
respeitam as leis, mas a verdadeira cidade é o Céu: «Toda a terra estrangeira é-lhes uma pátria e toda a pátria é-lhes
estrangeira. Eles casam-se como todas as pessoas, eles têm filhos, mas eles não
abandonam os recém-nascidos. Eles partilham todos a mesma mesa, mas não a mesma
cama. Eles passam a vida sobre a terra, mas são cidadãos do Céu. Eles obedecem
às leis estabelecidas e a sua maneira de viver enquadra-se perfeitamente nas
leis».
Com
fortes caracteres como Clemente, Origine e, no IVº século, Cyrille, Alexandria
encontra-se em breve em rivalidade com Antioquia nos debates teológicos que não
faltam dentro das igrejas. Rivalidades e rupturas. Já o Novo Testamento chamava
a atenção dos falsos doutores. As igrejas são jovens e as crenças borbulham.
Cristo
é igual ao Pai? É um verdadeiro homem ou simplesmente uma aparência? Um Deus
pode morrer numa cruz? Os debates são numerosos e os participantes apaixonados.
Os responsáveis das igrejas, teólogos e pastores, desenvolvem um grande papel
na solução dos problemas. Uma nova organização de hierarquia desenha-se. Vê-se
emergir à cabeça da igreja um único responsável – um bispo – rodeado dos seus
padres e dos seus diáconos. Esta igreja de Antioquia fornece o primeiro
testemunho desta organização hierárquica. O bispo Inácio não dá a ninguém a
suas responsabilidades. Só quando na viagem que o conduz a Roma onde ele deve
ser lançado aos leões, ele escreve às igrejas, ele encoraja, ensina, avisa-os.
Ele chama a atenção a aqueles que querem retornar aos rituais dos judeus ou
ainda àqueles a quem recusam que «a
eucaristia é a carne do nosso salvador Jesus Cristo, carne que sofreu pelos
nossos pecados e que na sua bondade o Pai ressuscitou-O».
Eis
uma grande questão dos crentes: o Filho de Deus pode tornar-se carne? O corpo,
o mundo material merece de ser tido em consideração pelo Filho de Deus? Não,
respondem os cristãos gnósticos. Os doutores Basilde ou Valentim, atribuem a
criação a um deus inferior. A salvação não está na redenção do mundo e da
carne, mas consiste em subir até Deus pelo conhecimento interior, para
encontrar uma unidade perdida. O Egipto e Alexandria são uma terra favorável
aos gnósticos. Mas também África, a Síria e Roma. Irineu, bispo de Lyon,
encontra-os na sua região. Ele combate-os com força, desenvolvendo a fidelidade
à tradição dos apóstolos.
Quando
termina o tempo dos primeiros cristãos, no IVº século, as igrejas estão
espalhadas por todo o império. Com a conversão do imperador Constantino, elas
já não receiam as perseguições. Elas são a prova duma grande vitalidade e ricas
de mártires. A comunhão estabelece-se entre as igrejas, mas os motivos de
divisão e de querelas não faltam. È a razão pela qual os bispos decidiram
tornar-se um hábito reunir-se em concílios para resolver os problemas que vão
aparecendo.
As
grandes heresias propagam-se no arianismo que tomará uma volta politica e
dividirá o império durante alguns séculos.
De
facto, um novo desafio anuncia-se às igrejas no império que se tornou cristão.
No tempo das perseguições, Roma era vista como uma prostituta, uma besta
insaciável do sangue dos mártires.
Com
Constantino, e depois com Teodoro metem fim aos cultos pagãos, e o cristianismo
foi infelizmente embora ligados ao poder político. As igrejas saberão elas
agora conservar o ideal de fraternidade, em nome de Jesus, o Messias morto e
ressuscitado?
HÉLDER GONÇALVES
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