domingo, 8 de abril de 2012

CRISTO RESSUSCITOU

Domingo de Páscoa


 «Dai graças ao Senhor porque ele é bom!
Porque é eterna a sua misericórdia»


1. «Eis o dia que fez o Senhor; nele exultemos e nos alegremos» (Salmo responsorial). É o dia mais alegre do ano, porque «o príncipe da vida reina vivo apos a morte» (sequencia). Se Jesus não tivesse ressuscitado, teria sido em vão a sua encarnação e a sua morte não teria sido princípio de vida para os homens. «Se cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé» (I Cor 15, 17), exclama S. Paulo. Porque quem poderá acreditar e ter esperança num morto? Mas cristo não é um morto, esta vivo. «Procurais jesus de nazaré, o crucificado? – perguntou o anjo às mulheres – ressuscitou, não esta aqui» (Mc 16, 6).

A boa nova da ressurreição provocou, num primeiro momento, um temor e espanto tais, que as mulheres saíram e fugiram do túmulo … e não disseram nada a ninguém porque tinham medo» Entre elas porem, encontrava-se Maria Madalena que «viu a pedra retirada do túmulo» e correu a dar a notícia a pedro e João: «tiraram do túmulo do senhor e não sabemos onde o puseram» (Jo 20, 12). O dois saem correndo para o sepulcro e, entrando no túmulo «observaram as ligaduras, que estavam no chão e o lençol. Enrolado para outro sítio» veem e acreditam. É o primeiro ato de fé da igreja nascente em cristo ressuscitado, originado pela solicitude de uma mulher e pelos sinais das ligaduras encontradas no sepulcro vazio. Se tratasse dum roubo, quem se teria preocupado em despir o cadáver e colocar o lençol com tanto cuidado? Deus serve-se de coisas bem simples para iluminar os discípulos que «ainda não tinham entendido a escritura, segundo a qual jesus devia ressuscitar dos mortos» (Ibid. 9), nem compreendiam ainda o que o próprio Jesus tinha predito acerca da sua ressurreição. Pedro, cabeça visível da igreja, e João «e outro discípulo que jesus amava» tiveram a honra de recolher os sinais de jesus ressuscitado: a notícia levada por uma mulher, o sepulcro vazio, o lenço nele depositado.

Ainda que sob outro aspecto, os sinais da ressurreição veem-se ainda presentes no mundo: a fé heroica, a vida evangélica de tanta gente humilde e escondida; a vitalidade da igreja que as perseguições externas e as lutas internas não chegam a enfraquecer; a eucaristia, presença viva de jesus ressuscitado que continua a atrair a si todos os homens. Pertence a cada um dos homens vislumbrar e aceitar estes sinais, acreditar como acreditaram os apóstolos e tornar cada vez mais firme a sua fé.


2. A liturgia pascal lembra, na primeira leitura, um dos mais comoventes discursos de pedro sobre a ressurreição de jesus: «Deus ressuscitou-o ao terceiro dia e concedeu-lhe que se tornasse visível… às testemunhas de antemão designadas por deus, a nos que comemos e bebemos com ele, depois de ter ressuscitado dos mortos» (Act 10, 40-41). Surge nestas palavras a vibrante emoção do chefe dos apóstolos pelos grandes acontecimentos de que foi testemunha, pela intimidade com cristo ressuscitado, sentando-se a mesma mesa e comendo com Ele.

A páscoa convida todos os fieis a uma mesa comum com cristo ressuscitado e na qual Ele próprio é comida e bebida: «cristo, nossa páscoa, foi imolado; celebremos a mesa do senhor (vers. Do aleluia). Este versículo esta tomado da primeira carta aos coríntios em que s. Paulo, referindo-se ao ritual que ordenava comer o cordeiro pascal com pão ázimo – sem fermento – exorta os cristãos a prescindir do «fermento velho… da malicia e perversidade», a fim de celebrar a pascoa «com pães ázimos da pureza e da verdade» (I Cor 5, 7-8). Temos que aproximar-nos da mesa de cristo, o verdadeiro cordeiro imolado pela salvação dos homens, com pureza de coração e em verdade; por outras palavras, com coração próprio de ressuscitados. A ressurreição do senhor, a sua «passagem» da morte para a vida, deve refletir-se na ressurreição dos crentes, atualizada com uma «passagem» cada vez mais radical das fraquezas do homem velho para vida nova em cristo. Esta ressurreição é evidente no desejo sincero pelas coisas do céu. «Uma vez que ressuscitastes com cristo, diz o apóstolo, aspirai as coisas do alto, onde cristo se encontra sentado a direita de Deus»; afeiçoai-vos as coisas do alto e não as coisas da terra» (Cor 3, 1-2). A necessidade de se preocupar com as coisas terrenas não deve impedir aos «ressuscitados com cristo» que tenham o coração orientado para as realidade eternas, as únicas que são definitivas. Espreita-nos sempre a tentaçao de nos instalarmos neste mundo como se fosse a nossa pátria definitiva.

A ressurreição do senhor é um apelo muito forte: lembra-nos sempre que vivemos neste mundo em acomodação provisoria e que estamos em viagem para a verdadeira pátria, a eterna. Cristo ressuscitou para levar consigo os homens, na sua ressurreição, para onde ele vive eternamente fazendo-os participantes da sua glória.

Esta é a pascoa, a páscoa do senhor… é a páscoa, não figurada, mas real; não é já a sombra, mas a páscoa do Senhor em toda a sua verdade.

Na verdade, jesus, tu nos defendeste de um desastre sem nome, estendeste os teus braços paternais, abrigaste-nos sob as tuas asas, derramaste o sangue de um deus sobre a terra para selar a sangrenta aliança em favor dos homens que amas. Afastaste as ameaças da cólera e devolveste-nos a reconciliação de deus… Ó tu, único entre os únicos, tudo em todos que os céus possuam o teu espirito e a tua alma, mas que o Teu Sangue continue a pertencer à terra!

Ó páscoa de Deus que desce à terra e volta a subir ao céu! O alegria universal, honra, festim, delicias, trevas da morte dissipadas; restitui a vida a todos e abram-se as portas do céu! Deus fez-se homem e o homem fez-se deus…

Ó páscoa de Deus! O Deus do céu! Na sua liberdade, uniu-se a nos no espirito, e imensa sala das bodas encheu-se de convidados; todos tem a veste nupcial e nenhum é deitado fora por não ter a veste… as lâmpadas das virgens não voltarão a apagar-se. Em todos arde o fogo da graça de maneira divina, no corpo e no espirito, pois oque as faz arder é o azeite de cristo…

Pedimos-te, deus soberano, Cristo, rei no espirito e na eternidade que estendas as tuas mãos sobre a igreja santa e sobre o teu povo santo que continua a ser teu; defende-o, guarda-o, conserva-o, luta por ele, submete todos os inimigos ao teu poder… concede-nos poder cantar com Moisés o cântico triunfal. Pois tua é a glória e o poder dos seculos pelos seculos dos seculos.

Ó Cristo ressuscitado! Também nos temos que ressuscitar contigo; Tu escondeste-te à vista dos homens e nos temos que seguir-te; regressaste para o pai e temos que procurar que a nossa vida «esteja escondida contigo em Deus» … é obrigação e privilégio de todos os discípulos, senhor, ser elevados e transfigurados contigo; é privilégio nosso viver no céu com os nossos pensamentos, aspirações, desejos e afetos, ainda que permanecendo na carne… ensina-nos a «aspirar às coisas do alto» (Col 3,1), demonstrando assim que te pertencemos, que o nosso coração ressuscitou contigo e em ti esta escondida a nossa vida.

RICARDO IGREJA

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