«Ó Senhor, sede para mim um abrigo seguro
e fortaleza da minha salvação»
1. Após um confortável descanso em Betânia, Jesus regressa a Jerusalém onde enfrenta os últimos embates com os fariseus e continua a instruir o povo. «Fez da minha boca uma espada afiada… Tornou-me semelhante a uma seta aguda»; a apresentação que o Servo de Javé faz de si mesmo servindo-se das palavras de Isaías (Is 49, 1-6) pode aplicar-se a Cristo discutindo com os seus inimigos, não porque seja espada ou seta para os destruir, Ele que viera salvar e não condenar (JO 3, 17) mas porque, com liberdade divina, denuncia os seus erros e evidencia a sua maldade. No entanto, haverá sempre criaturas que, como os fariseus, rejeitam a mensagem e o amor de Cristo. É esta a causa das mais terríveis e amargas angústias da Sua Paixão e, nas palavras do profeta, pode vislumbrar-se uma alusão às mesmas: «cansei-me inutilmente, em vão e por nada esgotei as minhas forças» (Is 49, 4). Mas a angústia de Cristo vai ser sempre acompanhada da confiança no Pai que o escondeu à sombra da Sua mão e n´Ele manifestará a Sua glória (ibid 2-3), compensação infinita para todas as rejeições dos homens. Efetivamente, deus jamais abandonara as humilhações ou à morte, o seu amado filho, mas libertá-lo-á com a ressurreição, manifestando, deste modo, ao mundo a sua glória e a do seu cristo.
O próprio Jesus manifestará, na noite da última ceia, logo depois de ter declarado que estava na iminência de ser atraiçoado: «agora foi glorificado o filho do homem e Deus foi glorificado n´Ele» (Jo 13, 31). Agora porque a traição lança Cristo para a Paixão e esta lava-O para a glória que o pai lhe preparou e que se transformara em glorificação do próprio pai e salvação dos homens. A Paixão apresenta-se sempre como caminho para a exaltação de Cristo e para a salvação do mundo. Também o Profeta a tinha vislumbrado sob esta luz quando concluía as alusões aos sofrimentos do servo de Javé com esta estupenda declaração: «não basta que sejas meu servo, para restaurares as tribos de Jacob e trazeres os sobreviventes de Israel: vou fazer de ti a luz das nações, para que a Minha salvação chegue aos confins da terra» (Is 49,6).
2. No trecho do Evangelho de S. João que a liturgia propõe hoje a consideração dos fiéis, surgem as mais tristes declarações que jesus jamais fizera aos seus: «em verdade vos digo: um de vós há-de entregar-me…não cantará o galo sem me haveres negador três vezes» (Jo 13, 21.38). Jesus sabe que a espera a traição, mas a sua presença não o torna insensível; ao aproximar-se a hora, João testemunha que jesus sentia o espirito perturbado». É o estremecimento da humanidade do redentor que, embora sendo Deus, ama e sofre com coração de homem. Aquela perturbação do espirito provoca um eco especial em Pedro, o apóstolo ardente e impetuoso, que quer saber imediatamente quem será o traidor, e talvez para reprovar e impedir o seu plano infame. E não supõe, nem sequer remotamente que também ele pode ficar preso no laço da tentação. O seu amor ao mestre é grande e sincero, mas cheio de presunção, excessivamente seguro de sim mesmo: Pedro precisa de aprender que ninguém se pode considerar melhor do que os outros, nem sequer melhor do que os traidores. E eis que, nessa mesma noite, poucas horas depois de ter declarado solenemente ao senhor «eu darei a vida por ti», experimenta amargamente a sua fraqueza, primeiro no Getsámani, onde, tal como os outros, se deixa vencer pelo sono enquanto Jesus agoniza; depois quando Jesus é feito prisioneiro e ele foge com medo atroz; finalmente, muito mais doloramento, no pátio, do palácio de Caifás. Uma criada reconhece-o como discípulo no Nazareno e Pedo, vencido pelo pânico, nega: «não sei nem entendo o que queres dizer» (Mc 14, 68); e isto, por três vezes; mais ainda; na última, com maior enfase, pois Marcos refere que “começou então a dizer imprecações e a jurar: não conheço o homem que dizeis»
Marcos é o evangelista que descreve mais pormenorizadamente a negação de Pedro: é a humilde confissão da própria deslealdade que o Chefe dos Apóstolos faz pela palavra do seu discípulo para que sirva de advertência a todos os crentes. Ninguém pode considerar-se seguro de não cair. Talvez, ao cantar do galo e, principalmente, ao enfrentar o olhar de Jesus que Se voltou para Pedo (Lc 22,61), Pedro recapacitou e, juntamente com a pregação do mestre, acudiram à sua mente as palavras pronunciadas naquela mesma noite: «sem mim nada podeis fazer» (Jo 15,5). Por isso Pedro já não precisa que o mestre insista; compreendeu perfeitamente e, «vindo para fora, chorou amargamente» (Lc 22,62). Abençoadas lagrimas que purificam e transformam a presunção em humildade!
É Deus da minha alma! Que pressa nos damos em ofender-vos e como vós vo-la dais maior em perdoar-nos. Que motivo há, senhor, para tao desatinado atrevimento? Será o termos já entendido a Vossa grande misericórdia e olvidarmos que é justa a vossa justiça? «Cercaram-me as dores da morte». Óh! Oh! Oh! Que grave coisa é o pecado, pois bastou para matar a deus com tantas dores! E que cercado estais delas, meu deus! Aonde podereis ir que não vos atormentem? De todas as partes cobrem de feridas os mortais.
É grande cegueira, Deus meu! Que grande ingratidão, Rei meu” Oh que incurável loucura, que sirvamos ao demónio com o que vós nos dais, meu deus! Que paguemos o grande amor que nos tendes, com amar a quem assim vos aborrece e há-de aborrecer para sempre! Pelo sangue que derramastes por nos, os açoites e as grandes dores que sofrestes, e os grande tormentos que passastes, nos, em lugar de vingar o vosso pai eterno… tomamos por companheiros e por amigos aos que assim O trataram!
Ó mortais!... É porque vedes a esta majestade atada e ligada com o amor que nos tem? Que mais faziam os que lhe deram a morte senão, depois de atado, dar golpes e feri-lo.
Ó meu deus! Como padeceis por quem tao pouco se dói de vossas penas!
Lembra-te, meu jesus, quanto te custou pagar por mim! Lembra-te, deus piedoso, que por mim, pecadora, pagaste no madeiro da Cruz tao amarga! Lembra-te, meu redentor benigno, do que desejei fazer e não do que não fiz!...
Ó doce Senhor Jesus Cristo: quantas vezes te dei o fel amargo em troca do mel que tu me deste. Quantos pecados contra tantas graças! Quantos males contra tantos bens! Oh, quantas vezes enquanto gozei das tuas coisas… te ofendi servindo-me dessas mesmas coisas tuas.
Oh, quantas vezes, recebendo a tua paga, militei sob o estandarte do demónio e do mundo! Concede-me, já agora, a graça de restituir-te… bem por bem e não mal por bem, gratidão e não ingratidão e que sinta sempre amargura sempre que faça ou pense qualquer coisa que seja contra a tua majestade e que, de hoje para o futuro te devolva amor por amor, sangue por sangue, vida por vida.
RICARDO IGREJA
Caríssimos. Brilhante o texto e oportuno para a Semana Santa. Nosso agregador é enriquecido com conteúdos assim e queremos continuar contando com suas presenças. Entretanto, venho por meio deste comentário, já que vi como contatá-los de outro modo, pedir que no próximo post enviem uma imagem ilustrativa no formato de 200 x 200, que é o novo padrão do LinkEsfera.
ResponderEliminarPeço que leiam textos como estes, para mais informações e dicas:
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Att.: Tarcicio Andrade