sábado, 7 de abril de 2012

SÁBADO SANTO - Vigília Pascal

À espera da Ressurreição


«A minha força e o meu poder é o Senhor;
Ele foi a minha salvação»


1. O sábado santo é o dia mais indicado para contemplar o mistério pascal da paixão-morte-ressurreição do senhor para o qual converge e actua a história da salvação. É o convite da liturgia propondo uma seria de leituras bíblicas que incluem as etapas mais importantes deste história maravilhosa para, depois, incidirem no mistério de cristo. Antes de mais, aparece a obra da criação (1ª leitura) saída das mãos de Deus e contemplada por ele com agrado: «Deus viu tudo o que tinha feito; era tudo muito bom» (Gen 1, 31). De Deus, bondade infinita, só podem sair coisas boas e, se o pecado vem alterar bem depressa toda a criação, Deus, na sua bondade, projeta imediatamente a restauração que realizara por intermedio do seu filho. D´Este aparece, a seguir, uma figura profética, Isaac, que Abraão se dispõe a imolar par obedecer ao mandato divino (2ª leitura). Se Isaac foi libertado, Cristo, depois de ter sofrido a morte, ressuscitara glorioso.

Um outro acontecimento notável é a passagem milagrosa do Mar Vermelho (3ª leitura) feita, por intervenção de Deus, pelo povo de Israel, e que é símbolo do Batismo pelo qual, os que acreditam em Cristo «passam» da escravidão do pecado e da morte para a liberdade e para a vida de filhos de Deus. Seguem-se belíssimos textos proféticos acerca da misericórdia redentora do senhor que, apesar das contínuas infidelidades dos homens, não cessa de desejar a sua salvação. Depois de ter castigado as culpas do seu povo, deus chama-se a si como o carinho dum esposo fiel para com a esposa que o traiu: «por um breve momento, abandonei-te mas vou recolher-te com imensa misericórdia…; com amor eterno tenho compaixão de ti – diz o senhor, teu redentor» (Is 54, 7-8). Por isso o convite instante a não deixar passar em vão a hora da misericórdia: «buscai o senhor, enquanto se pode encontrar, invocai-o enquanto esta perto. Deixe o impio os seus caminhos e o pecador os seus projetos: volte-se para o senhor que terá piedade dele, para o nosso deus que é generoso em perdoar» (Is 55, 6-7). Se tudo isto foi verdade, em relação ao povo de Israel, com muito maior razão o é para o povo cristão, para quem a misericórdia de Deus alcançou o seu vértice no mistério pascal de cristo. E cristo, «nossa pascoa», cordeiro imolado de pela salvação do mundo, anima todos os homens a abandonarem o caminho do pecado e a regressarem à casa do pai, caminhando na «claridade do seu esplendor», na alegria de conhecer e fazer aquilo que agrada ao senhor» (Bar 4, 2.4).


2. A história da salvação culmina no mistério pascal de cristo, faz-se a história de cada homem pelo batismo que o enxerta neste mistério. De facto, por este sacramento, «sepultamo-nos com ele na morte, e assim como cristo ressuscitou dos mortos…, também nos caminharemos numa vida nova» (Rom 6, 4). Isto explica o porque do batismo ocupar um lugar tao sublime na liturgia da vigília pascal; nos textos bíblicos e nas orações, particularmente no ritual da bênção da água e na administração do sacramento aos neófitos e, por fim, na renovação das promessas do batismo. Celebrar a páscoa significa «passar» com cristo da morte para a vida, «passagem iniciada no batismo, mas que deve concretizar-se sempre mais plenamente durante a vida inteira do cristão. «Se nos tornamos um só com cristo por mote semelhante a sua – urge S. Paulo -, um só com ele ficaremos também por ressurreição semelhante à d´ele”.´

Não se trata de velas expressões, mas de realidades sublimes, de transformações radicais operadas pelo batismo e das quais tao facilmente, tao inconscientemente se esquecem os cristãos. Participar na morte de cristo quer dizer morrer com ele «para o pecado de uma vez para sempre» e por conseguinte, morrer a cada momento as mas inclinações, ao egoísmo, ao orgulho; quer dizer – em conformidade com as três renúncias das promessas batismais – renunciar cada vez mais conscientemente a satanás, as suas obras, as suas seduções. E, tudo isto, não apenas de palavra e só no tempo que dura a cerimonia litúrgica, mas durante toda a vida. «Considerai-vos mortos para o pecado – grita o apóstolo – e vivos para deus, em cristo jesus»

Pelo batismo, não só recebido mas vivido, o povo cristão apresenta-se como aquele povo preconizado pelo profeta Ezequiel (36, 25-26; 1ª leitura), limpo e purificado com «águas puras» que manam do lado trespassado de cristo, que recebe de deus «um coração renovado» e «um espirito novo», dons eminentemente pascais. Com estas disposições, cada um dos fiéis pode considerar-se preparado para cantar o aleluia, a associar-se à alegria da igreja perante o anúncio da ressurreição do senhor, considerando-se também ele, ressuscitado com cristo para glória de deus pai.

Ó pai omnipotente! tu és o deus eterno e incompreensível que, ao ver o género humano morto pela miséria da sua fragilidade, movido apenas pelo amor e piedade clementíssima, nos enviastes o verdadeiro Deus e Senhor nosso, Jesus Cristo, Teu filho, revestido dos andrajos da nossa carne mortal. E quisestes que viesse, não com as pompas deste mundo transitório, mas com a angústia, a pobreza e os tormentos, conhecendo e cumprindo a tua vontade em favor da nossa redenção…

E tu, cristo jesus, nosso redentor, sofreste no teu corpo o castigo das nossas iniquidades e da desobediência Adão, fazendo-te obediente ate ao opróbrio da morte de cruz. Na cruz jesus, amor dulcíssimo… satisfizeste por nos e, ao mesmo tempo, reparaste em ti mesmo as injurias feitas ao pai.

Peccavi, Domine, miserere mei. Para onde quer que eu me volte, encontro amor inefável; e não posso excursar-me de amar, já que só tu, deus e homem, és aquele que me amaste sem eu te ter amado; efetivamente eu não existia e tu criaste-me. Tudo o que quero amar, encontro-o em ti… se quiser amar a deus, encontro em tia a inefável divindade; se quiser amar o homem, tu és o homem…; se quiser amar o senhor, tu pagaste com o preço do teu sangue a minha libertação do pecado. Tu és senhor, pai e irmão nosso pela tua benignidade e excessiva caridade.

Ó Deus: pelo mistério pascal, com cristo fomos sepultados no batismo para vivermos com ele uma vida nova. Por isso, terminada a exercitação quaresmal, renovamos as promessas do santo batismo, pelas quais renunciamos outrora a satanás e as suas obras e prometemos servir a deus na santa igreja católica.

Deus todo-poderoso, pai de nosso senhor jesus cristo, que nos regenerou pela água e pelo espirito santo, e que nos perdoa todos os pecados, nos guarde com a sua graça em Jesus Cristo Nosso Senhor, para a vida eterna.

RICARDO IGREJA

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