sábado, 2 de novembro de 2013

Epiclese

Na teologia cristã Epiclese (do grego antigo: ἐπίκλησις - epíklesis, fusão das palavras pí e kaleô: "chamar sobre") é a oração de invocação que pede a descida do Espírito Santo nos sacramentos .

Na Oração Eucarística da Missa há duas epicleses (cf. IGMR 79c):

a) a que o sacerdote pronuncia sobre os dons do pão e do vinho, com as mãos estendidas sobre eles, dizendo, por exemplo: «Santificai estes dons, derramando sobre eles o Vosso Espírito, de modo que se convertam, para nós, no Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo» (Oração II) – é a epiclese «consacratória»; outras Orações Eucarísticas pedem que o Espírito «torne», «abençoe», «santifique», «transforme» o pão e o vinho;

b) a que o sacerdote diz na mesma Oração Eucarística, depois do memorial e da oferenda, pedindo a Deus que de novo envie o seu Espírito, desta vez sobre a comunidade que vai participar da Eucaristia, para que também ela se transforme, ou se vá construindo na unidade: «humildemente Vos suplicamos que, participando do Corpo e Sangue de Cristo, sejamos pelo Espírito Santo congregados na unidade» (Oração II) – é a epiclese «de comunhão», que, noutras Orações Eucarísticas, pede que «sejamos em Cristo um só corpo e um só espírito»; «Derramai sobre nós o Espírito… fortalecei o vosso povo com o Corpo e o Sangue do vosso Filho e renovai-nos a todos à sua imagem»…

O Catecismo da Igreja Católica possuí vários cânones e instruções sobre a necessidade e o meio de aplicar a epiclese.

Existem diferentes interpretações sobre o significado da epiclese entre católicos e ortodoxos, enquanto os ortodoxos professam ser essencial na Liturgia Eucarística a epiclese antes das palavras da consagração; os católicos crêem que a consagração do pão e do vinho se faz pela repetição das palavras de Cristo: "Isto é o meu corpo... Isto é o meu sangue...", de facto, a epiclese não constava originalmente no Cânon Romano (Oração Eucarística nº 1), embora as Orações Eucarísticas compostas após o Concílio Vaticano II (1962-65) incluam a invocação, não para corrigir uma suposta falha anterior, mas apenas como fidelidade a uma antiga tradição.

Existem dois tipos de epiclese, a "epiclese sacramentária", que é a epiclese propriamente dita, em que se invoca o Espírito Santo sobre os sacramentos, e a "epiclese em sentido lato", que consta nas orações litúrgicas, por exemplo, nas conclusões de orações: "em unidade do Espírito Santo".

A epiclese não faz só parte da Eucaristia. A oração consacratória central de todos os sacramentos, depois da anamnese ou memória de louvor a Deus, contém sempre a oração de epiclese:

- pede-se-lhe que santifique a água do Baptismo: «Receba esta água, pelo Espírito Santo, a graça de vosso Filho Unigénito, para que o homem, criado à vossa imagem, no sacramento do Baptismo seja purificado das velhas impurezas e ressuscite homem novo pela água e pelo Espírito Santo»;

-  na Missa Crismal invoca-se o Espírito sobre os óleos para os sacramentos e, a seguir, na Confirmação, pede-se a Deus que envie o seu Espírito sobre os confirmandos para que os encha de seus dons;
- no sacramento da Reconciliação também se nomeia o Espírito: «enviou o Espírito Santo para remissão dos pecados»;

- na Unção dos Doentes o sacerdote ora pelo doente na fé da Igreja: «é a epiclese própria deste sacramento» (CIC 1519);

- no sacramento da ordem é onde, talvez, com maior expressividade o bispo, impondo as mãos sobre a cabeça dos ordenandos e pronunciando a seguir a invocação do Espírito, põe em relevo a força da epiclese;

- e, finalmente, no Matrimónio: «Na epiclese deste sacramento, os esposos recebem o Espírito Santo como comunhão do amor de Cristo e da Igreja» (CIC 1624).

Invocando a força do Espírito nos nossos sacramentos, estamos a reconhecer que é Deus quem salva e que o protagonismo é da acção do seu Espírito santificador. 

HÉLDER GONÇALVES

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