Inquietação. Palavra pouco mencionada
mas muito sentida. Sente-se sobretudo o seu efeito desgastante nas relações
familiares, profissionais e pessoais. É como um nervoso miudinho que não deixa
espaço para a reflexão, para o equilíbrio e a tranquilidade. É uma agitação
constante que dá conta de tudo excepto do que é fundamental. É uma asfixia do
outro quando não se sente bem consigo próprio.
O que poderá gerar a inquietação?
Provavelmente um mal-estar interior
fruto de um activismo exagerado. Ou o culminar de um conjunto de situações mal
resolvidas e calcadas no nosso inconsciente. As causas podem ser tantas quantas
as pessoas, mas os efeitos são sempre os mesmos: falta de serenidade, falta de
reflexão, falta de aceitação, falta de compreensão.
O mal não é recente. Já Jesus tinha
prevenido a irmã de Maria: «Marta, Marta, andas inquieta e perturbada com
muitas coisas; mas só uma é necessária.» (Lc 10,41) E é precisamente na dificuldade da escolha do
que é mais necessário que começa a inquietação.
Na nossa vida, cada vez mais complexa, vão
aparecendo cada vez mais coisas necessárias. Algumas inúteis, outras
desnecessárias, poucas fundamentais. A alegada falta de tempo está na base da
inquietação. Interessante será perceber se a inquietação aparece pela falta de
tempo ou se a falta de tempo é uma desculpa para esconder a inquietação.
Percebemos que alguém anda inquieto
quando as atitudes e reacções são desproporcionadas em relação ao estímulo
inicial. E não é difícil encontrar na vida quotidiana, nas diversas faixas
etárias e condições de vida, estas atitudes em discussões, troca de ameaças, intolerância,
actos de violência gratuita, falta de respeito.
Uma ajuda eficaz para vencer a
inquietação encontramo-la na oração, no encontro pessoal com Cristo. Este foi o
convite que Jesus faz a Marta. Primeiro ouvi-l’O, depois o resto. A oração deve
ser um momento quotidiano, não apenas esporádico ou quando nos encontramos
aflitos. Mas tal como se constrói uma relação com os outros, o mesmo é possível
com Deus a partir da oração.
O primeiro beneficio da oração reside precisamente
no encontro connosco próprios. Com os nossos problemas, as nossas ânsias e
contrariedades. Tomada consciência da situação, estaremos mais abertos para
perceber o caminho a percorrer e as escolhas a fazer. Porque, como diz São Paulo,
«tudo é bom mas nem tudo nos convém».
Então aproveite este momento. Faça uma
pausa, respire fundo, entre em sintonia com Deus, peça ajuda a Nossa Senhora e
sinta a inquietação desaparecer dando lugar à serenidade.
HÉLDER GONÇALVES
Sem comentários:
Enviar um comentário