A nossa experiência de Deus é dupla:
a) Presença transcendente e imanente de
Deus Criador.
b) Presença misericordiosa, cujo amor
total nos estabelece num pé de igualdade com Deus: “Já não vos chamo servos,
mas amigos” (Jo 15,15), pois o amor cria igualdade: e o amor de Deus, sem
limites, foi para isso até à morte e à Eucaristia.
Esta experiência de Deus é mais discreta
que a experiência de Deus Criador, pois o amor de Deus esconde-se durante a
peregrinação de fé em que Ele nos acompanha.
Ele está junto de nós como uma fonte
escondida.
Se Ele se revelasse nós já não seríamos
desta terra: “ninguém pode ver a Deus sem morrer”, diz a Bíblia.
A experiência de Deus Criador, podemos de
alguma maneira aceder a ela, através dos nossos recursos humanos, olhando para
as coisas criadas; mas o Amor Salvador é o fruto de um dom gratuito.
Nós temos de realizar em nós a verdade do
Amor Salvador.
- Isto supõe a ordem da nossa vida, a sua
rectidão, pois os nossos pecados, obscurecem a experiência do Amor
misericordioso que nos salva, donde a insistência de Cristo sobre a importância
de realizar os seus mandamentos.
- Esta verdade realiza-se pela caridade,
pelo serviço dos outros.
- Realiza-se nos actos de culto, onde
Cristo constrói e alimenta o Seu Corpo que é a Igreja e o faz frutificar.
- Esta experiência de Deus realiza-se na
experiência da fé e quem faz essa experiência aproxima-se da luz.
Deus é tudo.
Ele é suficiente e o único necessário.
Mas Ele criou-nos homens e toma-nos a
sério… até à loucura.
O nascimento humano e a morte do Filho de
Deus são a prova disso. Para o Homem, a resposta adequada às questões essenciais
é Deus, mas, depois disso, é o Homem. Com efeito, nós somos apenas Homens.
É como Homem no belo quadro da natureza
humana que Deus nos convida gratuitamente a sermos seus comensais.
O humanismo perdeu Deus e perdeu-se a si próprio pelo pecado.
É reencontrando Deus que o Homem se
reencontrará, pois a sua identidade brota do próprio Deus, como Criador e como
Salvador.
Ela brota do Amor Criador.
O Homem que nós somos apenas atinge Deus humanamente, nessa humanidade que é o
nosso lugar, a nossa vida, a nossa medida.
Temos, portanto, de entrar em contacto
com Deus como Homens, lenta e progressivamente e à medida de Deus, pois Deus
diviniza-nos.
Diviniza-nos, mas segundo a nossa
natureza humana.
Nós não somos chamados a ser um
Super-Homem: um homem inchado, enfunado, com voltagem reforçada.
Somos divinizados na nossa pequenez e na
nossa própria humildade, de acordo com a capacidade de amor que o Criador
colocou em nós.
Nós somos divinizáveis, porque criados à
imagem de Deus.
As nossas capacidades de conhecimento, de
liberdade, a de amor, tornam-se capazes de aceder à imagem e semelhança de Deus
pela graça divina.
HÉLDER GONÇALVES
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