A família possui a sua origem no amor criador de Deus. Ao criar o homem e a mulher, Deus consagrou o amor humano no qual o matrimónio e, por via de consequência a família, são os lugares por excelência de expressão. A revelação divina indica-nos assim o sentido e o alcance geral do matrimónio e da família segundo o desígnio de Deus sublinhando a ligação do homem e da mulher. Então este exclamou: “desta vez, é osso dos meus ossos e carne da minha carne! Esta será chamada mulher porque foi tirada do homem. Eis porque o homem deixa o seu pai e a sua mãe e se une à sua mulher e eles se tornam uma só carne” (Gen 2, 23-24).
Por esta palavra da escritura, a família manifesta-se como um duplo dom de Deus à humanidade: ela é ao mesmo tempo um Dom de amor e um Dom de vida. Trata-se exactamente de um duplo dom, e não de dois dons distintos, porque a vida que recebemos de Deus procede do Seu amor: Deus criou-nos porque nos ama.
A família é um dom de Deus à humanidade, pois foi por amor que nos criou e foi por amor que nos salvou pelo sangue do seu Filho único, Jesus Cristo, em quem todos os seres que crêem no amor criador do Pai se tornam uma mesma família. No coração do duplo mistério da Criação – Redenção há o mistério do amor do Pai para com o mundo concretizado pelo sacrifício do Filho: “Jesus, sabendo que a hora de passar deste mundo para o Pai havia chegado, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim”. (Jo 13,1)
Dom do amor de Deus à humanidade a família torna-se assim, pelo sacrifício de Cristo, o lugar do dom do amor mútuo, dom recíproco entre homem e a mulher, especialmente no casamento. Igualmente o sacrifício e a aliança de Cristo com a Igreja sempre serviram de símbolo e de modelo para a família cristã em continuidade com o apóstolo que conclama os esposos ao amor verdadeiro: “maridos, amai as vossas mulheres como Cristo amou a Igreja: Ele entregou-se por ela, a fim de purificá-la com o banho da água e santificá-la pela Palavra, para apresentar a si mesma a Igreja, gloriosa, sem manchas nem rugas, ou coisa semelhante, mas santa e irrepreensível. Assim também os maridos devem amar as suas próprias mulheres, como os seus próprios corpos. Quem ama a sua mulher ama-se a si mesmo, pois ninguém jamais quis mal á sua própria carne, antes alimenta-a e cuida dela, como também faz Cristo com a Igreja, porque somos membros do seu corpo. Por isso deixará o homem o seu pai e a sua mãe e se ligará á sua mulher, e serão ambos uma só carne. É grande este mistério: refiro-me à relação entre Cristo e a sua Igreja. Em resumo cada um de nós ame a sua mulher como a si mesmo e a mulher respeite o seu marido” (Ef 5, 25–33).
Mais adiante, o apóstolo associa os filhos a esta trama sem fim de tornar perfeito o amor e coerentes as relações na família: “Filhos, obedecei a vossos pais, no Senhor: isto é justo. Honra teu pai e tua mãe, tal é o primeiro mandamento ao qual se une uma promessa: para seres feliz e teres uma longa vida sobre a terra. E vós pais, não exaspereis os vossos filhos, mas usai, educando-os, das correcções e disciplinas que se inspiram do Senhor” (Ef 6, 1– 49).
Tal é o fundamento escriturístico da moral familiar que tem o amor como núcleo vital. O amor que preside a toda a relação entre esposo e esposa de sorte que não há mais senhor e escravo (Cf. Santo Ambrósio, Exameron, v,7,19.), superior e inferior, mas igualdade de direitos e de dignidade, no respeito às diferenças inerentes à natureza própria do homem e da mulher. O amor que regula as relações entre pais e filhos de tal modo que os primeiros encontrem o seu regozijo na presença dos seus filhos, e que estes cresçam na alegria graças à afeição e ao apoio dos seus pais.
Dom do amor de Deus à humanidade, a família quer a si mesma como um dom da vida de Deus à eternidade. Foi porque Deus nos amou que nos criou; foi porque Deus nos amou que Ele nos deu a vida. Por isso criou o ser humano, homem e mulher para se amarem e fundarem uma família, a fim de promover a vida. Desde a sua origem, desde o seu começo, o homem vive pelo sopro de Deus, da vida de Deus. É nesta perspectiva que o Seu Filho escreveu toda a sua missão redentora: “Eu vim para que os homens tenham a vida e a tenham em abundância” (Jo 10, 10).
Dom da vida à humanidade, a família é chamada a se tornar assim o santuário da vida (João Paulo II , EV , no. 6.), o lugar, o lar da vida, o lugar onde a vida, toda a vida humana é acolhida, promovida, respeitada, protegida etc. (Id , no. 5 ). O direito mais fundamental do homem, diz o Papa João Paulo II, é o direito á vida. ( João Paulo Ii, “Entrez dans L’esperance”, Ed. Plon-Mane, Paris, 1994, p.297).
É á família que pertence em primeiro lugar o dever de salvaguardar este direito, particularmente para os seres frágeis, os seres humanos inocentes e sem defesa, aí compreendidos aqueles que acabam de ser concebidos, de nascer ou igualmente aqueles que estão avançados na idade e perderam toda a autonomia. A família deve permanecer o lugar da gratuidade, do acolhimento e do dom: onde todo o homem, qualquer que seja, tenha a chance de ser reconhecido, respeitado e honrado por ser uma pessoa. Ela é o primeiro lugar onde a vida, dom de Deus, deve ser convenientemente acolhida e protegida contra os numerosos ataques aos quais está exposta, o lugar onde ela deve se desenvolver consoante as exigências de um crescimento humano autêntico. A família é o lugar do anuncio, da celebração e do serviço à vida. (Id. ,EV, no. 92 e 94).
• Família, fonte de vida e dos valores da humanidade
Todo dom implica dever, e responsabilidade: “Vós recebestes gratuitamente, daí também gratuitamente” (Mt 10, 8.) Todo valor, toda a riqueza de um dom provém do facto que é dado. Um dom é cara justamente porque não tem preço, ele foi dado gratuitamente, graciosamente... É neste sentido que no mundo, vive-se a experiência da família como dom do amor e dom da vida de Deus à humanidade. Dons gratuitos que nos lembram os nossos deveres, as nossas responsabilidades face á vida, ao homem, à humanidade. A família permanece deste modo, a primeira fonte da vida e dos valores da humanidade, pois é na família que se recebe a vida e é ali que se adquire os primeiros reflexos da vida salutar com o outro (Cf. Paul Ricoeur, Soi-moi comme autre, Ed. Du Sevil, Paria, 1990, p. 202), na sociedade. É na família que se aprende o respeito á vida, o acolhimento ao outro e a aceitação mutua, o dialogo, a partilha, etc. antes de viver tudo isto com o mundo exterior. A criança que não viveu a boa experiência do calor familiar animada pelo amor dos pais, a vida salutar junto aos seus irmãos e irmãs terá dificuldade, de se estruturar na vida para levar uma coexistência pacifica com os outros.
Ainda hoje, quando a criança vem ao mundo, a comunidade dos adultos esforça-se em integrá-la na sociedade através de um certo número de ritos de passagem que iniciam à vida e aos valores nobres da humanidade: o respeito á vida, a toda a vida, mesmo àquela dos seres inferiores como os animais, as plantas, os pássaros que constituem o nosso meio ambiente vital, o respeito ao outro, mesmo aos mais fracos, como os deficientes, os doentes, os pobres, as pessoas idosas, o respeito para com o uso e costumes, como por exemplo as exigências concernentes ao regime matrimonial, à veneração aos defuntos, às exigências da paz e da convivência fraternal na comunidade etc. Todo o sistema de educação tem por finalidade ligar o homem ao homem pelas múltiplas relações de solidariedade em vista das exigências sociais vistas. Toda a atitude egocêntrica, todo o desejo de êxito pessoal é contado entre os pecados sociais mais graves.
Do mesmo modo, além da morte que é golpe objectivo de direito á vida, considera-se como faltas morais: a falha no acolhimento, a incitação á discórdia, a inveja, a mentira, o roubo, o rancor, a cólera, a injuria, o mau uso dos bens da natureza, em resumo, tudo o que prejudica a vida, isto é, à pessoa e aos bens, aos meios vitais dos homens tomados individualmente e colectivamente. Todo o mundo é chamado a agir em favor da felicidade, da vida e da sobrevivência de todos.
Devemos tudo isso à nossa concepção unitária da vida. Com efeito, entre os valores nobres da humanidade há esta consideração da união vital ou da unidade de vida existente entre os seres de uma mesma família e para além das famílias, daqueles de um mesmo clã, de uma mesma sociedade. Trata-se do principio da união vital e da participação que se quer “uma relação de ser e de vida de cada um com os seus descendentes, a sua família, os seus irmãos e irmãs do clã, seu ascendente e com Deus, fonte ultima de toda a vida... , uma relação análoga de cada um com o seu património, a sua terra, com tudo o que ela contem e produz, com tudo o que nela cresce e vive” (Cf. Paul Ricoeur, Soi-moi comme autre, Ed. Du Sevil, Paria, 1990, p. 202).
O principio da união vital e da participação supõe a comunhão entre todos os seres, ao centro dos quais está o homem. Donde o sentido mesmo da vida humana que é preciso captar no seu sentido pleno enquanto “vida integral”, “vida totalmente humana” na sua dupla dimensão individual e comunitária, espiritual e física. Uma vida integral, individual e física enquanto recebida em cada existente, e comunitária e espiritual enquanto participada de uma mesma e única fonte, Deus. Isto é uma vida participada, o que significa dizer que o indivíduo não vive a sua própria vida, mas a da família, da comunidade, o ser humano é essencialmente membro e não “porção”. Ele é certamente um ser autónomo, mas sempre um ser como outrem.
É nesse “antropocentrismo comunitário” que convém também compreender a noção de pessoa humana que não está confinada naquela da “liberdade pessoal”, não que esta ultima seja inexistente ou desconhecida, mas aqui a liberdade pessoal não é senão uma realidade numa vasta rede de relações familiares nas quais o indivíduo não cessa de levar uma existência independente e autónoma. Portanto, é numa perspectiva personalista que se compreende a nossa concepção do homem.
Deduz-se desta reflexão que a moral é essencialmente antropocêntrica e vital: isto significa que o homem e a vida humana são o critério de todo o julgamento moral sendo bom o que contribui para a vida, para a sua promoção, a sua conservação ou protecção; aquilo que faz desabrochar ou aumentar o potencial vital do indivíduo ou da comunidade. Em compensação todo o acto presumido prejudicial à vida dos indivíduos ou da comunidade passa por mau. A moral, como religião coloca o homem no centro de tudo. O respeito à vida é por consequente a primeira norma que orienta os actos humanos. A vida humana deve ser protegida desde que venha a dar “sinal de vida”. Mesmo nos casos de concepção extra- matrimonial, o recurso ao aborto é proibido. E quando esta vida vem ao mundo, o primeiro dever é de promovê-la. O cuidado em proteger a vida, isto é, a luta contra o mau habitat, as doenças, a ignorância e a irresponsabilidade é, uma existência do direito natural.
Antropocêntrica e vital, ter-se-á observado, a nossa concepção não malogra em um horizontalismo estreito, trata-se de uma concepção inteiramente religiosa cujo centro é o homem, mas sempre em referencia ao Criados e aos ancestrais. Esta é uma concepção concreta, vivida, uma moral religiosa na qual Deus se revela como soberano bem para o qual é preciso elevar-se, realizando o que é bom, elevar-se para Deus, para o bem, é combater tudo o que tende a rebaixar e a desonrar o homem, é lutar contra o mal que atenta á vida, ao homem. Assim todo atentado à vida como ao homem é uma desonra à própria fonte da vida que é Deus, e aos ancestrais por quem nós recebemos este dom.
• A responsabilidade dos pais e da sociedade
Compreende-se desde logo a responsabilidade dos pais e da comunidade no trabalho de humanização da família humana. As nossas famílias só poderão ser santuários de vida, lugar da prática do amor, da caridade, lugar d educação para a vida salutar com o outro na sociedade se os pais assumirem de coração o seu papel de primeiros educadores. É todo o trabalho da moralização, de evangelização da vida da família que somos chamados a realizar para sempre a entrada no terceiro milénio.
A primeira tarefa nesta moralização, nesta evangelização compete aos pais. Para educar os seus filhos para o amor, para a vida, para a prática da caridade e outras virtudes nobres da humanidade, à busca da paz, eles próprios devem começar a amar-se verdadeiramente, a respeitar a vida, a praticar a caridade, a procurar a paz. Não se educa melhor que dando bons exemplos. O amor, os pais querem-se bem, inspira às crianças o sentimento de serenidade, assegura-os sobre o caminho da vida e dispõe-nos, mais tarde a viver e a trabalhar pacificamente com os outros. Ao contrário, as crianças que crescem em tensão familiar, levam consigo ressentimentos e frustrações que não os dispõe à coexistência pacifica com os outros no futuro.
A moralização, a evangelização da família passa portanto pela revalorização da família do qual o amor, a unidade e a indissolubilidade do casamento são a garantia de estabilidade. Muitas crianças no mundo são infelizes por causa da separação dos pais, outras vivem em famílias incompletas, como o afecto da mãe sem a autoridade do pai ou vice-versa, outras ainda vivem simplesmente na rua, porque não possuem uma família ou por terem sido rejeitadas, abandonadas pelos pais.
Hoje na maior parte das grandes cidades proliferam vocábulos para qualificar esta última categoria de crianças. Chamam-se pedintes, mendigos, meninos de rua, vadios, etc. mas que se fez a estas crianças para merecerem tal sorte?
A maneira como a sociedade trata as suas crianças não demonstra somente que esta é capaz de ter compaixão e protecção humanitária, mas igualmente que ela tem um senso de justiça, que está engajada rumo ao futuro e deseja melhorar a condição humana para as gerações vindouras.
Vê-se que a tarefa ultrapassa um tanto o nível somente dos pais. È a toda a comunidade que cabe velar pela moralização e evangelização da vida familiar. Da estabilidade das nossas famílias, faz-se necessário repetir, depende o futuro da sociedade, a estabilidade da comunidade. Pertence á comunidade o dever de se moralizar para exigir da autoridade pública e do poder decisório, medidas adequadas para proteger a família contra os males que ocorrem hoje; as imagens imorais e violentas da televisão, o tráfico da drogas e outros estupefacientes junto aos jovens, a brutalidade de certos pais, a falta de estabilidade das famílias devido ao divorcio, à poligamia sob as suas diversas formas disfarçadas, à proliferação das uniões ditas livres, etc, etc, etc...
Em matéria de educação das crianças e dos jovens, o papel atribuído á comunidade cresce cada vez mais. Pois nenhum pai pode pretender decidir por meio só do seu ideal sem contar com a acção conjugada dos outros membros da comunidade ou das associações de bairro. Hoje as nossas crianças movem-se num vasto campo de relações. O seu futuro depende certamente da educação recebida na família, mas também daquela oferecida na Igreja ou na escola, das influencias dos outros com quem se encontram na rua, no bairro, no local de férias, etc.
Torna-se particularmente exigente para os pais preservar as suas crianças de atitudes imorais e assegurar que a sua educação em matéria de relações humanas e a sua percepção do mundo, se faça de maneira apropriada, de acordo com a sua idade ou sensibilidade e consoante a noção que adquiriram do bem e do mal. (João Paulo II, Message pour la XXX, Loc. Cit, p. 7.) Compete portanto à comunidade, a todas estas pequenas comunidades de escopo humano, como aquelas que chamamos entre nós Comunidade Eclesial, fazer um projecto educativo comum susceptível de preparar um futuro melhor para as nossas crianças e jovens.
• A Igreja como mãe e educadora, guia e pioneira
Neste esforço de humanização da nossa sociedade pela evangelização da vida familiar, a tarefa da Igreja é sobremodo grande enquanto mãe e educadora, guia e pioneira. Com efeito, como dizia Santo Agostinho na sua época; “Não terá Deus como Pai, quem recusa ter a Igreja como Mãe” (Santo Agostinho, De symbolo ad Catech. XIII ). Desde as suas origens a Igreja foi querida pelo seu fundador como mãe e educadora; “a seus filhos, ela considera como mãe, deve assegurar educação que inspiração da sua vida do espírito de Cristo; ao mesmo tempo ela oferece-se para trabalhar com os homens para promover a pessoa humana na sua perfeição, como também para assegurar o bem da sociedade terrestre e a construção de um mundo cada vez mais humano” (Vaticano II, G:E:M., nº 3). Dever-se-á considerar o exercício do seu direito não como uma ingerência ilegítima, mas como colaboração preciosa da sua solicitude maternal, que coloca os seus filhos ao abrigo dos perigos graves de um envenenamento doutrinal e moral. (Pio XI, Encíclica sobre a educação da juventude, 1929, Ed. Bonne Presse, Paris, 1930, p. 1)
Nesta perspectiva, a missão evangelizadora sobre a ideia da força da Igreja Família. Esta expressão, tão rica de sentido recorda a natureza da Igreja como lugar de perdão e de festa, isto é, lugar de atenção ao outro, de acolhimento, do dialogo, de confiança mutua.
Devemos, entretanto, reconhecer que temos ainda muito a fazer no âmbito da pastoral familiar, e matrimonial. Mais que um simples trabalho de moralização, é toda uma evangelização das nossas famílias à qual queremos nos associar até ao terceiro milénio, pois existem ainda muitos elementos sobre os quais merecem ser clarificados à luz do evangelho.
Este é o caso por exemplo do dote, este presente simbólico entre duas famílias, que na sua situação sócio - económica difícil que atravessa uma grande parte das famílias cristãs, tende a se tornar verdadeiramente moeda de troca indo de encontro assim, à dignidade da mulher e anuviando o carácter gratuito do amor entre o homem e a mulher. Há outro sim urgência em salvaguardar a unidade e a indissolubilidade do matrimónio nos diversos continentes, lutando contra a poligamia sob todas as suas formas declaradas ou disfarçadas e o divorcio, estes dois flagelos que destróem a família e o matrimónio.
Além destes problemas que engajam a nossa Igreja em todo um trabalho de evangelização e de actualização da catequese sobre o matrimonio, sublinha-se outros males que inquietam as famílias a nível mundial, notadamente o drama da sida. Com efeito, como atestam as estatísticas, todos os continentes estão atingidos pela pandemia da sida, cuja primeira vitima é evidentemente a família. Quando uma parte do casal é atingida pela doença, é todo um drama, pois a outra é frequentemente também infectada e toda a família fica ameaçada. Hoje o mundo conta com muitas crianças órfãs por causa da sida. A Igreja, segundo a sua realidade e possibilidade, tem que lutar contra este flagelo, mas o caminho é longo, dada a complexidade do fenómeno. O trabalho tanto se faz por meios médicos, como a nível de informação e sensibilização através dos diversos serviços pastorais que as paróquias têm.
Ao lado da sida, temos o escândalo das diversas guerras, que por mais justas que pareçam ser, são injustas, nada se justifica uma guerra, mas traz consequências de milhares de pessoas deslocadas do seu próprio meio.
Mas quem são estas pessoas senão famílias divididas, os casais desunidos, as crianças separadas dos pais e as famílias que vagueiam pelas florestas sem rumo, etc...
Face a este drama, diante do qual nos achamos muitas vezes impotentes, as nossas acções consistem em invocar a assistência Divina, apelando a sociedade à solidariedade, à responsabilidade dos nossos dirigentes políticos e por vezes à ajuda internacional.
Enfim, hoje em dia em 2005 ainda há miséria e pobreza de todas as formas. Muitos pais não dispõem de meios para assumir a educação dos seus filhos. Assim ficamos convencidos que problemas como delinquência juvenil, abortos clandestinos entre as jovens, o planeamento familiar nas famílias numerosas, etc... estão relacionados com questões sociais de salário, alfabetização, casa, segurança social, emprego etc... por isso, a questão da promoção humana tem de ser uma das maiores preocupações da Igreja, onde como mãe e educadora dá o melhor de si para tratar os doentes, instruir os homens e mulheres, reeducar os jovens desfavorecidos, acompanhar as pessoas idosas...
A sociedade, em qualquer parte do mundo, sem sequer ter consciência disto, espera muito da Igreja, esta mãe cuja vocação é de “alimentar e cercar de cuidados os seus filhos” ( Ef 5, 29 ). ( Vat. II , LG ). Deste modo a Igreja é chamada a reflectir sobre a missão da Igreja no mundo de amanhã. Mas amanhã, com o ritmo para onde vai a mudança das mentalidades ela exigirá ainda muito mais. Para muitos era bom que ela mudasse como e com o mundo. Para muitos era bom que a Igreja fosse “democrática”, o que significa consultar o povo de Deus nos mais diversos temas, não somente às questões disciplinares, como o celibato dos sacerdotes, ao acesso das mulheres ao sacerdócio, mas também e sobretudo quanto ás questões morais como as referentes à procriação, ao aborto, à contracepção, ao divorcio, à eutanásia, à pena de morte... muitos concordarão com a Igreja quando anunciar o amor, mas são poucos numerosos os que aceitarão o conteúdo que dará a esta palavra, e menos numerosos ainda aqueles que escutarão quando vier a denunciar o pecado.
Face a estas situações, a Igreja de amanhã é chamada a responder aos apelos dos homens e das mulheres do nosso tempo evitando de sucumbir a uma dupla tentação: a de uma abertura ao mundo que afiançasse, em ultima análise, um liberalismo ou um indiferentismo e a de um enrijecimento do seu ensinamento que a rompesse das realidades do mundo. A melhor solução, consiste em uma busca acompanhadora que saiba unir rigor e indulgência para permanecer fiel à as vocação de mãe e educadora e realizar o duplo elemento essencial da sua missão que é a glória de Deus e a salvação dos homens. Trata-se antes de tudo de um acompanhamento espiritual, evangélico e pastoral que se quer paciente, escuta e amplo dialogo, exortação e testemunho, presença discreta, mas efectiva e afectiva junto dos homens e mulheres da nossa sociedade, para aconselhar, ajudar, esclarecer, para encorajar os fieis, apoiar os fracos, recuperar os pecadores...
Assim a Igreja de amanhã é chamada a considerar a sua missão como a do servo sofredor do qual fala a Sagrada Escritura;
“Eis meu ser a quem apoio,
meu eleito, ao qual quero bem!
Pus nele meu espirito;
Ele levará o direito aos povos.
Não gritará, não levantará a voz
e não fará ouvir sua voz pelas ruas.
Não quebrará a cana já rachada
nem apagará a mecha que está morrendo;
com fidelidade levará o direito.
Ele não esmorecerá nem se deixará abater,
até estabelecer na terra o direito;
e as ilhas aguardam a sua doutrina.”
(Is 42, 1 – 4)
Exame de "Doutrina Social e Familiar (A Familia lugar de Humanização)"
de Hélder Gonçalves a 13.03.2005
Escola Superior de Teologia e Ciências Humanas de Viana do Castelo
Professor: Padre Alfredo Domingues de Sousa
Avaliação Final: 18 Valores
HÉLDER GONÇALVES
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