quinta-feira, 16 de agosto de 2012

SAMARIA

Samaria

A Samaria era a região central da Palestina: uma região heterodoxa, habitada por uma raça de sangue misturado (de Judeus e pagãos) e de religião sincretista.

Na época do Novo Testamento, existia uma animosidade muito viva entre Samaritanos e Judeus. Hostilidade antiga alimentada por muitos preconceitos. Os Assírios, depois da conquista da Samaria (722 A.C.), tinham povoado a região com estrangeiros que “não prestavam culto ao Senhor” (2Reis 17, 24-25). Eles misturavam-se com os nativos e criaram um culto incompatível com a religião de Israel.

Como os Judeus, considerando-se os únicos fiéis à religião do Deus de Israel, impediram os Samaritanos de participar, no ano 520 a.C., na reconstrução do templo de Jerusalém (Esdras 4), estes, no IV século, decidiram construir um templo pro sobre o monte Garizim.

Os Samaritanos eram considerados pelos Judeus como cismáticos, hereges. Um Judeus praticante devia abster-se de todo o contacto com os samaritanos. Jesus, será apelidado pelos seus opositores de “samaritano”(Jo 8,48).


Pelos caminhos da Samaria

Conhecendo a hostilidade dos Samaritanos, os peregrinos da Galileia evitavam passar pela Samaria. Os Evangelhos Sinópticos reportam uma proibição de Jesus aos seus discípulos: “Não sigais pelo caminho dos gentios, nem entreis em cidade de samaritanos” (Mt 10,5).

Por sua vez, o Evangelho segundo São João, a certo passo, afirma que Jesus “devia passar pela Samaria” (Jo 4,4).

Para os Sinópticos Jesus evangeliza directamente apenas os judeus; será a Igreja que se ocupará dos pagãos depois do Pentecostes. João, tendo escrito mais tarde (entre os anos 90-100) une numa inica visão a vida de Jesus e a da Igreja. A passagem através da Samaria é, ao mesmo tempo, a primeira tentativa e o anúncio da missão junto dos não-Hebreus.


Sicar e o poço da Samaritana

Jesus regressava à Galileia. Perto do meio-dia, os seus discípulos vão comprar comida. Ele, cansado da viagem, senta-se ao lado do poço que a tradição atribuirá ao patriarca Jacob (Gen 33, 18-20). Chega então uma mulher samaritana para tirar água (ler Jo 4,1-42).

Sendo um dos lugares dos Evangelhos atestados seguramente, o poço de Jacob com os seus 32 metros de profundidade, único na região, foi sempre utilizado e venerado pelos cristãos.

O poço encontra-se hoje na cripta de uma igreja ortodoxa. A planta foi feita pelos Cruzados, e sucedeu a uma igreja do século IV. Sicar é a actual Askar, no sopé do monte Ebal, perto da antiga Siquém e da actual Nablus (Gen 33, 19; 48,22; Js 24,32).

Na Bíblia, os encontros entre um homem e uma mulher junto ao poço costumavam acabar num matrimónio (Gen 24,10-51; Gn 29,9-14; Es 2,15-22). São João relata-nos este encontro neste cenário para abordar o tema da revelação de Jesus à Samaritana e por meio desta ao seu povo, e a sua proclamação de Jesus como o Messias.


O verdadeiro mistério

A Samaritana maravilha-se que um Judeu lhe peça água. Mas a verdadeira maravilha- mostra Jesus-vai mais longe (Jo 4,10).

Está no facto- esta é a novidade absoluta- de ser Jesus a pedir água, quando deveria ser o contrário. É o mistério de um Deus que se faz homem-necessitado como os outros homens- para ter motivo de encontra-los e de dar-lhes a água que sacia. É a maravilha de um Deus que pede para dar.

A mulher não entende, e por isso Jesus explica (Jo 4,13-14). O simbolismo da água viva é cheio de significados. É a agua que da vida eterna, a salvação o Espirito Santo. A água viva de que fala Jesus é a progressiva revelação do seu próprio mistério.

A samaritana intuiu alguma coisa do dom que Cristo falou, mas interpreta-o na medida das suas necessidades (Jo 4,15).


Garizim, monte santo?

Mais adiante (Jo 4,19), ao ver que Jesus entra nos segredos da sua vida, a mulher samaritana reconhece que está diante de um profeta e comenta com Ele uma questão quente: o lugar do culto (Jo 4,20-21), que eles celebravam no monte Garizim, mesmo depois de destruído o seu templo por João Hircano.

Jesus aproveita esta pergunta para fazer uma revelação ainda mais importante. Ele superou a rivalidade entre os dois templos: “Deus é espirito; por isso, os que o adoram devem adorá-lo em espirito e verdade” (Jo 4,24).

A questão do lugar não tem já sentido. Não só porque Jesus afirma a universalidade, mas porque o culto assumiu uma realidade diferente. Agora Jesus é o nosso templo, que substitui o santuário do Monte Garizim e o de Jerusalém.

HÉLDER GONÇALVES

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