terça-feira, 11 de junho de 2013

Pedagogia da Fé - Evangelização Missão da Igreja

Que  sentido  tem  um  “projecto  de  evangelização”  na  Igreja ?
           
Por  um  lado,  falar  em  ‘projecto’,  poderia  parecer  restritivo,  pois  a  Igreja  deve  colocar  em  prática  a  proposta  do  Evangelho  de  Jesus  no  seu  todo:  poderia  parecer  que  a  Igreja  não  tem  já  um  ‘projecto’  de  acção…   De  facto,  não  é  isso:  um  projecto  de  evangelização,  sem  deixar  de  atender  à  globalidade  da  missão,  ajuda  a  concentrar  os  esforços  para  responder  melhor  às  necessidades  e  urgências  do  momento.  A  nível  mundial,  temos  várias  situações  que  desafiam  a  missão  evangelizadora  da  Igreja;  a  experiência  da  fé  e  da  vida  eclesial  pouco  profunda  deixa  os baptizados  com  uma  identidade  cristã  e  católica  muito  fraca  e  com  um  escasso  sentido  de  pertença  à  Igreja;  e  disso  decorre,  entre  outras  coisas,  o  escasso  impulso  missionário  e  o  empenho  cristão  na  transformação  da  sociedade  não  suficientemente  assumido;  decorre  também  o  fácil  abandono  da  fé  ou  a  busca,  noutras  partes  de  respostas  às  profundas  interrogações  existenciais  e  religiosas,  desconhecendo  e  deixando  de  procurá-las  na  própria  comunidade  católica.  É  necessária  uma  acção  missionaria  mais  incisiva,  organizada  e  constante;  e  um  projecto  de  evangelização  pode  contribuir  para  alcançar  isso.


Em  que  consiste  um  ‘projecto’

Um  projecto  procurará  traduzir  na  prática  os  conceitos  ‘evangelizar’  e  ‘proclamar  a  Boa  Nova  de  Jesus  Cristo’.  A  fé  e  a  atitude  cristã  nascem  do  encontro  vital  com  a  pessoa  de  Jesus  Cristo,  caminho,  verdade  e  vida:  ele  é  a   ‘boa  noticia’  de  Deus  para  a  pessoa,  a  comunidade  e  para  a  sociedade;  n’Ele  vemos  espelhado  o  rosto  de  Deus  e  Ele  nos  revela  o  coração  do  Pai;  por  Ele  recebemos  o  Espírito  de  Deus,  que  nos  torna  capazes  de  traduzir  em  ‘vida  nova’  nossa  fé,  já  neste  mundo.  A  evangelização,  antes  de  propor  uma   ‘doutrina’,  precisa  de  ajudar  as  pessoas  a  terem  este  encontro  pessoal   com  Cristo,  mediante  o  anuncio  do  Evangelho;  a  doutrina,  a  proposta  moral  e  a  orientação  da  vida  inteira  ‘no  caminho’  de  Jesus  decorrem  desse  encontro  e  da  aceitação  da  pessoa  de  Jesus,  como  o  ‘Enviado  de  Deus,  cheio  do  Espírito  Santo’,  para  a  vida  do  mundo.


Quer  dizer  que  um  projecto  estará  voltado  para  os  que  já  são  cristãos  e  participam  na  vida  da  Igreja ?

Será,  uma  proposta  missionária,  voltada  para  atingir  os  que  não  participam  da  vida  eclesial.  Não  podemos  ficar  indiferentes  diante  dos  muitos  cristãos  baptizados,  que  nunca  foram  ‘incluídos’  devidamente  na  vida  cristã  e  eclesial.  Mas  quem  deverá  fazer  isto?  Certamente  isto  é  esperado   por  aqueles  que  participam  nas  nossas  comunidades.  A  eles,  em  primeiro  lugar,  devia  ser  proposto  um  novo  e  aprofundado  encontro  com  Jesus  Cristo,  para  descobrirem  a  alegria  de  crer  e  de  pertencer  à  Igreja,  e  para  sentirem  o  desejo  de  contagiar  outros  com  a  própria  fé.


Como  fazer  com  que  cada  católico  se  sinta  um  missionário ?

‘Ninguém  dá  o  que  não  tem’…  Para  se  ter  o missionário  e  o  apostolo,  é       preciso  formar  antes  o  cristão  e  o  discípulo.  Se  pretendermos  que  todos  os  baptizados  sejam  apóstolos  e  abracem  a  proposta  do  Evangelho  na vida  pessoal  e  a  tornem  mais  presente  e  operante  nas  estruturas  da  vida  social,  precisamos  de  ajudar  os  cristãos  a  terem  uma  experiência  profunda,  alegre  e  convicta  de  Deus,  através  de  Jesus  Cristo,  e  também  da  vida  eclesial;  se  queremos  os  frutos  da  fé,  precisamos  de  alimentar  a  vida  cristã.  E  isto  faz  parte  de  um  projecto  de  evangelização.


Um  projecto  tem  que  falar  nas  suas  directrizes,  daquilo  que  é  permanente  na  vida  eclesial:  o  anuncio  da  Palavra,  a  liturgia  (sacramentos,  especialmente  a  Eucaristia)  e  a  caridade:  de  que  maneira  isto  entra  num  projecto ?

Um  projecto  de  evangelização  não  pretende,  nem  pode  parar  a  vida  eclesial;  aquilo  que  é  permanente,  continua;  mas  também  aí  pode  ser  colocado  um  novo  ‘acento’  e  um  novo  enfoque,  de  maneira  que  o  ‘ordinário’  da  vida  cristã  e  eclesial,  experimentado  em  profundidade  e  de  maneira  renovada,  manifeste  a  profundidade  e  a  alegria  serena  e  contagiante  da  fé,  levando  ao  impulso  missionário.  O  quotidiano  da  vida  eclesial  atinge,  normalmente,  os  baptizados  que  frequentam  as  comunidades  e  se  destina  a  alimentar  neles  a  fé  e  a  esperança,  e  a  animá-los  na  caridade.  É  necessário  que  o  encontro  com   a  Palavra  de  Deus,  a  celebração  dos  mistérios   da  fé  nos  sacramentos  e  a  prática  da  caridade  sejam  vitais  e  tragam  uma  forte  motivação  para  os  que  crêem,  para  continuarem  a  crer,  e  para  aprofundarem  a  comunhão  com  Deus  e  com  os  irmãos.  Mas  não  nos  podemos  contentar  com  os  que  já  frequentam  as  nossas  comunidades;  se  perdermos  a  dimensão  missionária  concreta   e  efectiva,  a  Igreja  vai  empobrecendo-se  e  perdendo  vitalidade.


Um  projecto  deixará  de  lado  a  preocupação  social,  tão  característica  da  Igreja,  para  concentrar-se  somente  sobre  na  sua  vida  interna ?

Não,  certamente.  A  presença  da  Igreja  nas  muitas  realidades  do  mundo  e  da  vida  social  faz  parte  e  é  essencial  na  sua  missão;  os  discípulos  de  Cristo  são  enviados  para  serem  ‘fermento,  sal  e  luz’  do  Evangelho  no  mundo;  da  mesma  forma,  a  actuação  da  Igreja  em  favor  da  pessoa,  de  maneira  muito  especial  em  relação  aos  pobres  e  necessitados  de  todos  os  tipos,  é  parte  da  missão  da  Igreja,  à  imitação  daquilo  que  fazia  Jesus  Cristo.  De  facto,  era  desejável  que  a  presença  da  Igreja  no  mundo  pudesse  aprofundar-se  e  ampliar-se  ainda  mais,  segundo  as  orientações  da  doutrina  social  do  Magistério;  por  isso  era  necessário  propor,  de  maneira  renovada,  os  fundamentos  e  os  motivos  evangélicos  desta  actuação  cristã  na  sociedade,  para  que  nela  apareçam  sempre  mais  os  sinais  do  reino  de  Deus,  que  é  a  vida  plena  para  todas  as  pessoas.


Quais  são  os  eixos   centrais  dum  projecto ?

Ao  longo  dos  anos,  um  projecto  deverá  prever  a  promoção  da  verdadeira  identidade  e  dignidade  da  pessoa  humana,  a  renovação  da  comunidade  nos  níveis  mais  básicos  da  convivência  humana  e  a  construção  da  sociedade  solidária:  isso  tudo  mediante  o  encontro  com  Jesus  Cristo  e  a  sua  Palavra.  Para  cada  ano  haveria  uma  frase  do  Evangelho,  como  lema;  ao  mesmo  tempo,  haveria  a  indicação  de  acções  e  programas.


De  que  maneira  um  projecto  poderia  alcançar  os  seus  objectivos ?

O  êxito  de  um  projecto  dependerá  de  uma  motivação  a  ser  despertada  nos  católicos;  por  isso  é  possível  esperar  que  se  possa  colocar  em  pratica  aquilo  que  o  Papa  pediu  na  Carta  Apostólica  “Novo  Millennio  Ineunte”:  que  cada  católico  se  sinta  missionário;  que  cada  comunidade  da  Igreja  seja  orientada   para  uma  nova  missionariedade. 



‘Para  Evangelizar  o  Mundo,  necessita-se  de  apóstolos  “peritos”  na  celebração,  adoração  e  contemplação  da  Eucaristia’  
(João  Paulo II)

‘O  encontro  com  Cristo  continuamente  aprofundado  na  intimidade  eucarística,  suscita  na  Igreja  e  em  cada  cristão  a  urgência  de  testemunhar  e  evangelizar’
(João  Paulo II)


Exame de "Pedagogia da Fé (Evangelização, Missão da Igreja)" 
de Hélder Gonçalves a 15.02.2006
Escola Superior de Teologia e Ciências Humanas de Viana do Castelo
Professor: Padre Alfredo Domingues de Sousa
Avaliação Final: 17 Valores

HÉLDER GONÇALVES

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