quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Deus Pai


Deus Pai

Quando dizemos «Pai», num contexto cristão, estamos a entrar dentro de um ‘espaço’ muito rico e profundo. Já desde as origens da revelação percebemos que Deus possui uma vontade de libertar o povo que escolheu e chamou à existência.

Deus é um amigo que estabelece com o povo um pacto de amizade, que o protege no caminho e que suscita uma resposta de confiança e cumprimento da Lei; é ainda um Deus que convoca o povo e o põe a peregrinar para o futuro, para a Promessa, para o reino da vida autêntica.


Antigo Testamento

No Antigo Testamento, Deus não é chamado e conhecido como «Pai». Mas é um Deus que cria, que liberta e oferece uma lei que dá a possibilidade a vida. As passagens veterotestamentárias que aludem a Deus com Pai são essencialmente as seguintes:
- em contexto profético, de eleição divina e de resposta humana, Jeremias fala dos filhos de Israel que se negaram a chamar Deus “seu Pai”, não quiseram obedecer à Sua vontade e perderam-se (Cf. Jr 3,19). Também o canto de Moisés interpretou a queda e os pecados de Israel como o abandonarem o Deus Pai (Cf. Dt 32,6)

- em contexto da piedade judaica, embora com influência já do mundo helénico, há já um grupo de textos que apresentam Deus como Pai dos crentes, considerado no sentido individual. No livro de Bem Sirá, Deus é invocado como “Senhor, Pai e soberano da minha Vida” (23,1.4) e em Sabedoria 14,3 alude-se à sabedoria de “Deus Pai”.

Deus não é Pai porque gera de forma física, mas porque chamou os filhos de Israel para serem um povo de homens livres. É Pai porque ama e porque escolhe um povo e o guia segundo o caminho da Lei, conduzindo-o a uma terra de liberdade. Desta forma, quase sem usar a palavra ‘pai’, os hebreus começaram a realizar a grande revolução religiosa do símbolo paterno.


Novo Testamento

No Novo Testamento, principalmente no Evangelhos, podemos descobrir os traços principais da paternidade de Deus, de um Deus que só se descobre à medida que se nasce de novo, acolhendo o Reino de Deus entre nós:

Deus é Pai, dá a vida numa atitude de graça. Por isso, a descoberta da paternidade divina só é possível de se descobrir à medida que se aceita nascer de novo, fazer a experiência de um novo nascimento, deixando-se amar por Deus em atitude de acolhimento gratuito. Por isso, Jesus definiu os crentes como ‘crianças’ (Cf Mc 9, 33-35).

- Deus é Pai, perdoa os homens. Porque Deus ama de modo gratuito, permite o renascimento daqueles que já estavam mortos no mundo e para os donos do mundo: coxos, aleijados, cegos, pecadores, prostitutas… agora todos, não apenas alguns, são herdeiros da herança divina: serem filhos de Deus. Quando o pai recebe o filho mais novo, oferece-lhe um novo nascimento, o filho mais velho percebe que tem de mudar de vida e percebe que a ‘paternidade’ não está no cumprimento cego da lei, mas sim no amar e deixar-se amar (Cf. Lc 15, 28-32).

- Deus é Pai, em diálogo constante com os homens. Deus está em profunda intimidade com os homens, numa intensa proximidade. Deus não está fora da humanidade, nem dentro dela, confundindo-se. Deus é companheiro de caminho que nos permite viver da vida divina, oferecendo-se em gestos de gratuidade e proximidade (Cf. Lc 24, 13-23). O Mistério de Cristo, a possibilidade de participar nesse Mistério, permite compreender que o Filho permite-nos conhecer e venerar o Pai.


A Páscoa

Aqui chegamos ao centro do Mistério cristão: a experiência pascal. Deus revela-se plenamente como Pai ao ressuscitar da morte o Filho Jesus Cristo. Só assim O conhecemos na Sua totalidade:

Deus é Pai como fundador e final, que ressuscitará a humanidade da morte, porque já ressuscitou o seu Filho Jesus, primogénito de toda a humanidade.
Deus revela-se como Pai ao expressar a profundidade da sua paternidade na nossa natureza humana, fazendo com que o seu Filho encarnasse – nascesse e morresse entre os homens -, para induzir todas as pessoas no Mistério da vida eterna: a comunhão de amor da Santíssima Trindade.

A este propósito diz o Catecismo da Igreja Católica: “Deus é o Pai todo-poderoso. A sua paternidade e o seu poder esclarecem-se mutuamente. Com efeito, Ele mostra a sua omnipotência paterna pelo modo como cuida das nossas necessidades; pela adopção filial que nos concede; (…) mostra o seu poder no mais alto grau, perdoando livremente os pecados” (CCE 270).

HÉLDER GONÇALVES

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