Certa ocasião, perguntei a um jovem, no
fim de um dia muito preenchido de actividades, qual tinha sido o momento mais
importante dele. Passeámos por tantos locais belíssimos, partilhámos em grupo
tantos sorrisos e ele respondeu: «aquela visita fugaz ao Santíssimo Sacramento,
logo de manhã, a caminho do Encontro».
Não estivemos lá mais do que 2 minutos.
Foi o tempo de entrar na Capela da Adoração, ajoelhar, fazer sinal da Cruz,
rezar um «Pai-nosso» e um «Obrigado por este dia, aceita-o, guarda-nos» e sair.
Mas, para ele, foi o ponto alto da jornada. Para mim, como para ele no futuro,
essa profundidade vivida em cada momento de oração, foi um sinal claríssimo do
chamamento de Deus. E senti-me envergonhado porque esse não fora para mim, até
aquela conversa, o momento mais importante…
Assim, podemos considerar como sendo o
4º sinal vocacional um gosto particular
e uma necessidade de cultivar a vida espiritual, de ter momentos e espaços de
oração. Gosto em especial não apenas por aquilo que é religioso mas
particularmente por aquilo que “mexe com a alma”…; isto é, o encontro com Deus.
Sentir-se muito bem na oração
pessoal.
Convém fazer aqui três observações: a
primeira é que não se trata (apenas) de sentimentos, emoção ou «calores» na
alma.
Dizia Santa Teresa que «esses calores
dá-os Deus nosso Senhor quando quer mas não fazem falta nenhuma!» Ou seja,
emocionar-se até chorar com um cântico numa capela a meia-luz não significa que
se trata de um chamamento de Deus. Até pode ser. Mas isso não basta.
E, então, como discernir?
Pela perseverança. Se é apenas uma emoção
passageira, esta pessoa não voltará a rezar no dia seguinte e no outro e no
outro, se não lhe vieram as lágrimas aos olhos. Se, pelo contrário, a oração
passa a ter um lugar diário na vida (que não consiste apenas em fazer o sinal
da cruz ao sair da porta…) e cada vez é mais central, pode tratar-se de uma
vocação nascente.
A segunda observação resulta da
constatação de que a oração é uma necessidade e um imperativo para cada
cristão. Sim, é verdade. Mas nem para todo o cristão, os princípios da vida na
oração pessoal são tão espontâneos e profundos como na água que desce o rio.
Ora Deus provoca este diálogo com fluência para ajudar uma pessoa a
aproximar-se d’Ele. Como quando procuramos coisas em comum com uma pessoa para
meter conversa.
Também Deus procura pôr coisas em comum
com aquele/a que escolhe e fá-lo através da oração. Para esta pessoa, entrar em
clima de oração é «tão natural como a sua sede».
A terceira e última observação tem a ver
com a ordem em que estou a expor os sinais vocacionais que não é, de maneira
nenhuma, obrigatória. Deus não obedece a esquemas e para cada pessoa Ele tem um
plano de namoro e sedução muito peculiar.
Mas estas são algumas constantes que se
têm manifestado naqueles que um dia descobriram o chamamento de Deus para uma
vida de especial consagração.
HÉLDER GONÇALVES
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