quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Tempo para Deus


Certa ocasião, perguntei a um jovem, no fim de um dia muito preenchido de actividades, qual tinha sido o momento mais importante dele. Passeámos por tantos locais belíssimos, partilhámos em grupo tantos sorrisos e ele respondeu: «aquela visita fugaz ao Santíssimo Sacramento, logo de manhã, a caminho do Encontro».

Não estivemos lá mais do que 2 minutos. Foi o tempo de entrar na Capela da Adoração, ajoelhar, fazer sinal da Cruz, rezar um «Pai-nosso» e um «Obrigado por este dia, aceita-o, guarda-nos» e sair. Mas, para ele, foi o ponto alto da jornada. Para mim, como para ele no futuro, essa profundidade vivida em cada momento de oração, foi um sinal claríssimo do chamamento de Deus. E senti-me envergonhado porque esse não fora para mim, até aquela conversa, o momento mais importante…

Assim, podemos considerar como sendo o 4º sinal vocacional um gosto particular e uma necessidade de cultivar a vida espiritual, de ter momentos e espaços de oração. Gosto em especial não apenas por aquilo que é religioso mas particularmente por aquilo que “mexe com a alma”…; isto é, o encontro com Deus. Sentir-se muito bem na oração pessoal.
Convém fazer aqui três observações: a primeira é que não se trata (apenas) de sentimentos, emoção ou «calores» na alma.

Dizia Santa Teresa que «esses calores dá-os Deus nosso Senhor quando quer mas não fazem falta nenhuma!» Ou seja, emocionar-se até chorar com um cântico numa capela a meia-luz não significa que se trata de um chamamento de Deus. Até pode ser. Mas isso não basta.

E, então, como discernir? 
Pela perseverança. Se é apenas uma emoção passageira, esta pessoa não voltará a rezar no dia seguinte e no outro e no outro, se não lhe vieram as lágrimas aos olhos. Se, pelo contrário, a oração passa a ter um lugar diário na vida (que não consiste apenas em fazer o sinal da cruz ao sair da porta…) e cada vez é mais central, pode tratar-se de uma vocação nascente.

A segunda observação resulta da constatação de que a oração é uma necessidade e um imperativo para cada cristão. Sim, é verdade. Mas nem para todo o cristão, os princípios da vida na oração pessoal são tão espontâneos e profundos como na água que desce o rio. Ora Deus provoca este diálogo com fluência para ajudar uma pessoa a aproximar-se d’Ele. Como quando procuramos coisas em comum com uma pessoa para meter conversa.
Também Deus procura pôr coisas em comum com aquele/a que escolhe e fá-lo através da oração. Para esta pessoa, entrar em clima de oração é «tão natural como a sua sede».

A terceira e última observação tem a ver com a ordem em que estou a expor os sinais vocacionais que não é, de maneira nenhuma, obrigatória. Deus não obedece a esquemas e para cada pessoa Ele tem um plano de namoro e sedução muito peculiar.
Mas estas são algumas constantes que se têm manifestado naqueles que um dia descobriram o chamamento de Deus para uma vida de especial consagração.

HÉLDER GONÇALVES

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