O mistério da
Encarnação orienta-se para o mistério da Redenção. “É para a realização deste
mistério que toda a existência mortal de Jesus converge. No momento de entrar
no mundo, Cristo aplica a Si as palavras do Salmo 39: “Não quiseste sacrifício
nem oblação, mas preparaste-Me um corpo: Eis que venho, ó Deus, fazer a Tua
vontade” (Heb 10,5 ss). Obedecendo à vontade do Pai é a fundamental atitude de
espírito de Jesus, não fora sua missão reparar a desobediência original de
nossos primeiros pais, que a todos escravizou ao pecado, e reconduzir a
humanidade, liberta das vãs miragens e reais prisões, Àquele que é toda a sua
razão de ser e a fonte única da sua felicidade” (CEP, Instrução Pastoral sobre o Domingo e a sua celebração, 16).
Ao oferecer, em
sacrifício de expiação, esse “corpo de pecado” (1Jo 2,2; 1 Ped 2,24; Col 1,22),
que era o corpo da humanidade por Ele assumido, Jesus satisfez plenamente a
justiça de Deus ofendida pelo pecado do homem desde Adão, recuperando, por um
acto de justiça perfeita, o que a humanidade perdera com a desobediência dos
primeiros pais, confirmada e renovada pelos seus descendentes, e transformando
esse “corpo do pecado” num “corpo de justiça”, o seu Corpo Místico, de novo irrigado
pela graça e capacitado para ser com Ele glorificado junto de Deus.
Foi o pecado que
fechou ao homem o acesso a Deus e à graça da salvação, e esse fechamento
manteve-se enquanto que o homem não foi redimido ou resgatado do seu pecado. O
acto redentor de Jesus visou pois directamente essa sujeição ao pecado e
consequente fechamento à graça. Ele abriu de novo ao homem as portas da
salvação, isto é, as portas do Céu. Por ele, Jesus “fez-nos dignos de tomar
parte na herança dos santos, na luz divina. Ele nos libertou do poder das
trevas e nos transferiu para o Reino de seu Filho muito amado” (col 1,12-13).
Ao homem, criado desde o principio para fruir da plenitude beatificante de Deus
– mas que, pelo seu pecado, tinha fechado essa abertura sobrenatural para Deus,
tornando-se antes “estranho e inimigo” em relação a Ele (Col 1,21) – Cristo
restituiu a possibilidade de se realizar plenamente em Deus, sua plenitude,
“perdoando todos os seus pecados e anulando a acta escrita contra ele” (Col
2,13-14). Isto é, restituiu ao homem a possibilidade da salvação.
Aproximando um pouco
esta ideia da nossa própria experiência pessoal, podemos dizer que o que se
passa em relação a cada pessoa individual, sempre que ela é baptizada ou sempre
que recebe, no sacramento da Penitência, o perdão dos seus pecados mortais,
passa-se com o sacrifício redentor da Cruz em relação à humanidade inteira,
como fundamento de toda a redenção individual. (R.H. 8-10 e G.S 22).
HÉLDER GONÇALVES
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