segunda-feira, 13 de maio de 2013

Redenção e Salvação


Redenção e salvação relacionam-se intimamente, a tal ponto que o uso linguístico as identifica com frequência como uma e a mesma coisa. Metodologicamente, porém, convém estabelecermos, a este propósito, algumas distinções.

Em primeiro lugar, o termo salvação pode ser entendido quer em sentido activo quer em sentido passivo, ou seja, quer para designar a acção salvífica de Deus – que se faz através da história humana e que tem a sua expressão decisiva em Jesus Cristo Salvador – quer para designar o estado ou a situação daí resultantes para a humanidade, e que com propriedade chamamos situação de salvação, contrapondo-a à anterior situação de perdição. No primeiro sentido, activo, salvação identifica-se com redenção, o que nos permite falar indiferentemente de Cristo Salvador ou de Cristo Redentor.

Se porém nos fixarmos no sentido estático ou passivo da palavra salvação, já não parece linguísticamente adequado identifica-la com redenção, já que este segundo termo é normalmente usado com sentido activo. Diremos então que a redenção é o meio para a salvação, que é o fim a alcançar pela mediação daquela. A redenção aparece aqui como a acção que faz passar o homem da situação de perdição para a situação de salvação. Em referência à imagem profética do êxodo israelita, diríamos que a redenção é o próprio êxodo ou saída ou libertação da escravidão no Egipto, enquanto que a salvação é a posse da terra prometida.

A redenção incide directamente sobre o pecado do homem e da humanidade, já que é ele que os coloca e mantém fechados à salvação e, como tais, escravos da perdição. Para os abrir à salvação é necessária a redenção, isto é, o “resgate” ou a “libertação” do homem e da humanidade dessa dependência ou dessa escravidão. (Gal 3,13; 4,5). Por vezes, redenção também é sinónimo de “compra” ou de “aquisição” (1 Cor 6,13; 7,23), na medida em que ela implica como que o pagamento de um preço – o preço do Sangue de Cristo – ao demónio que mantinha o homem sob o seu domínio.

Entretanto, na medida em que, resgatando o homem do pecado, Cristo o resgata também de toda a situação englobante de perdição – isto é, o pecado, o sofrimento e a morte – indirectamente a redenção atinge também essas componentes da perdição humana. Assim podemos dizer que Cristo redimiu o homem da sua escravização ao domínio do mal ou ao “mistério da iniquidade” (2Tes 2,7), entendidos estes assim, de forma englobante.

HÉLDER GONÇALVES

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