Redenção e salvação
relacionam-se intimamente, a tal ponto que o uso linguístico as identifica com
frequência como uma e a mesma coisa. Metodologicamente, porém, convém
estabelecermos, a este propósito, algumas distinções.
Em primeiro lugar, o
termo salvação pode ser entendido quer em sentido activo quer em sentido
passivo, ou seja, quer para designar a acção salvífica de Deus – que se faz
através da história humana e que tem a sua expressão decisiva em Jesus Cristo
Salvador – quer para designar o estado ou a situação daí resultantes para a
humanidade, e que com propriedade chamamos situação de salvação, contrapondo-a
à anterior situação de perdição. No primeiro sentido, activo, salvação
identifica-se com redenção, o que nos permite falar indiferentemente de Cristo
Salvador ou de Cristo Redentor.
Se porém nos fixarmos
no sentido estático ou passivo da palavra salvação, já não parece
linguísticamente adequado identifica-la com redenção, já que este segundo termo
é normalmente usado com sentido activo. Diremos então que a redenção é o meio
para a salvação, que é o fim a alcançar pela mediação daquela. A redenção
aparece aqui como a acção que faz passar o homem da situação de perdição para a
situação de salvação. Em referência à imagem profética do êxodo israelita,
diríamos que a redenção é o próprio êxodo ou saída ou libertação da escravidão
no Egipto, enquanto que a salvação é a posse da terra prometida.
A redenção incide
directamente sobre o pecado do homem e da humanidade, já que é ele que os
coloca e mantém fechados à salvação e, como tais, escravos da perdição. Para os
abrir à salvação é necessária a redenção, isto é, o “resgate” ou a “libertação”
do homem e da humanidade dessa dependência ou dessa escravidão. (Gal 3,13;
4,5). Por vezes, redenção também é sinónimo de “compra” ou de “aquisição” (1
Cor 6,13; 7,23), na medida em que ela implica como que o pagamento de um preço
– o preço do Sangue de Cristo – ao demónio que mantinha o homem sob o seu
domínio.
Entretanto, na medida
em que, resgatando o homem do pecado, Cristo o resgata também de toda a
situação englobante de perdição – isto é, o pecado, o sofrimento e a morte –
indirectamente a redenção atinge também essas componentes da perdição humana.
Assim podemos dizer que Cristo redimiu o homem da sua escravização ao domínio
do mal ou ao “mistério da iniquidade” (2Tes 2,7), entendidos estes assim, de
forma englobante.
HÉLDER GONÇALVES
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