Todos recordamos de forma especial alguns lugares… da nossa infância, da nossa juventude; lugares que nos proporcionaram momentos felizes e encontros significativos, que nos abriram novos horizontes.
O mesmo acontece na Bíblia. O “contacto” com os lugares bíblicos ajuda a ver detalhes e valores da Bíblia, que ficariam na sombra numa leitura que não considere o contexto onde ela se formou.
Foi em lugares concretos que, nos milénios que precederam a Encarnação, Deus veio procurar um povo entre os países do Médio Oriente, dos quais Israel faz parte, para que se tornasse testemunha da sua revelação e do seu Amor.
“Galileia dos gentios”… para Deus os primeiros!
A Galileia é a região mais ao Norte da Palestina. Na sua parte montanhosa estão as povoações de Naim, Nazaré e Canã. A parte mais plana, à volta do lago de Tiberíades, era abundante em cereais, fruta, oliveiras e vinhas, bem como em pesca e derivados. Aí estavam as cidades da Cafarnaúm, Corozaim e Betsaida. O ambiente era muito agrícola e piscatório, facto que influenciará a linguagem de Jesus.
Por a população se ter misturado com os estrangeiros, não-judeus de religião, os galileus não eram bem vistos pelos judeus fervorosos, que chamavam à região “Galileia dos gentios”, qualquer coisa como “distrito dos ateus”.
Início do ministério público de Jesus
Depois das tentações no deserto e da prisão de João Baptista, o Evangelho de Mateus refere que Jesus “abandonando Nazaré, foi habitar em Cafarnaúm, cidade situada à beira-mar” (Mt 4,13)
Nos Evangelhos sinópticos, Cafarnaúm é o centro da actividade de Jesus na Galileia.
A partir desse momento Jesus iniciou o seu ministério público, tendo começado a pregar dizendo: “Convertei-vos, porque está próximo o Reino dos Céus” (Mt 4,17).
Chamamento dos primeiros discípulos
É significativo que, no início do seu ministério, a primeira pregação do Reino seja seguida da vocação dos primeiros discípulos; “passando ao longo do mar da Galileia, viu Simão e André, seu irmão, que lançavam as redes ao mar, pois eram pescadores. E disse-lhes Jesus: “Vinde comigo e farei de vós pescados de homens” Deixando logo as redes, seguiram-no” (Mc 1,16-18).
O mesmo sucedeu com Tiago e João (cf. Mc 1,19-20).
O seguimento de Jesus é o primeiro sinal da chegada do Reino.
O próprio Jesus é a boa nova do reino; na sua pessoa, na sua mensagem e na sua obra está presente a salvação que o Reino de Deus traz ao homem.
Uma jornada intensa
O evangelista Marcos (Mc 1,21-39) descreve-nos a intensa actividade que Jesus desenvolveu em Cafarnaúm no espaço de dois dias. O evangelista refere: 1º, Cura da sogra de Pedro. 2º, Cura de uma multidão de doentes e de endemonhiados. 3º Oração e actividade missionária itinerante de Jesus. É a chamada “Jornada de Cafarnaúm”, considerada como o dia-tipo na vida pública de Jesus.
Entre tantos outros acontecimentos, é também em Cafarnaúm que Jesus apresenta a grande promessa da Eucaristia (cf, Jo 3,22-7). Fala da fé, anúncia que Ele é o verdadeiro pão que dá vida.
Cafarnaúm, aqui e agora
Segundo o exemplo de Jesus, “as alegrias e esperanças, as tristezas e angústias dos homens do nosso tempo, sobretudo dos pobres e de quantos sofrem, são por sua vez alegrias e esperanças, tristezas e angústias dos discípulos de Cristo. Nada há verdadeiramente humano que não encontre eco no seu coração” (GS 1)
Colocar-se no aqui e agora, como fez Jesus, é a coerência que os que querem ser seus discípulos devem ter.
HÉLDER GONÇALVES
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