domingo, 10 de junho de 2012

SERÁ QUE JESUS TEVE IRMÃOS?

A Virgem Maria concebeu Jesus sem a colaboração de um homem (Mt 1,25) e não teve mais filhos, como também o sugere o facto de Jesus, na cruz, ter confiado sua Mãe a João (Jo 19,27). Isto nos transmitiu a tradição da Igreja, que declarou Maria como a aeiparthenos, a «sempre virgem».

Trata-se de uma verdade de fé conforme aos textos evangélicos. As expressões contidas nestes relatos que parecem contradizê-la devem ser correctamente entendidas:

a) Diz o Evangelho que Jesus é o primogénito de Maria (Lc 2,7), o que implicaria ser o mais velho de vários irmãos. No entanto, o termo «primogénito» é a forma legal de tratar o primeiro filho e não implica que tenha havido outros irmãos depois dele, como se evidencia através do testemunho de uma conhecida inscrição judaica encontrada no Egipto, na qual se faz referência a uma mãe que morreu ao dar à luz o seu «filho primogénito».

b) As palavras de Mateus 1,25 «e, sem que a tivesse conhecido, ela deu à luz um filho», poderiam traduzir-se literalmente «e não a conheceu até que deu à luz». A conjugação grega heos, «até que», implicaria que logo depois tivesse havido coabitação. No entanto, esta conjunção indica apenas o que ocorreu até ao momento, neste caso a concepção virginal de Jesus, omitindo a situação posterior.

Encontramos a mesma conjunção em Jo 9,18, onde se diz que os fariseus não creram no milagre da cura do cego de nascença «até que» chamaram os pais deste. Contudo, é-nos dito em seguida que esses fariseus tampouco creram depois disso.

c) Nos textos evangélicos há referências explícitas a uns «irmãos e irmãs» de Jesus (Mc 3,32; 6,3), indicando-se inclusivamente, o nome de quatro deles: «Tiago, José, Simão e Judas» (Mc 6,3). Destes quatro, Tiago desempenhará um importante papel na Igreja primitiva, como cabeça da Igreja em Jerusalém, sendo conhecido como «Tiago, o irmão do Senhor» (Gl 1,19; 1 Cor 15,7).

Face a isto, há que saber que em hebreu e aramaico não existe um termo específico para indicar o grau de parentesco, pelo que todos os parentes são «irmãos». A palavra grega adelfós («irmão») que aparece nos Evangelhos (textos que reflectem um mundo semita e não grego) tem um significado muito amplo, que vai desde irmão de sangue até meio-irmão, cunhado, primo, tio, vizinho, discípulo, etc. no Gen 13,8 diz-se que Abraão e Lot eram irmãos, quando, na realidade, através de outros dados sabemos que eram tio e sobrinho. Em Mc 6,17 diz-se que Herodíades se casara com Herodes, «irmão de Filipe», quando na realidade eles eram meios-irmãos, pois a sua mãe não era a mesma. Em Jo 19,25 indica-se que estavam junto à cruz de Jesus «sua mãe e a irmã de sua mãe, Maria de Cleofás», quer dizer, duas Marias, que deviam ser parentes e não irmãs, já que tinham o mesmo nome.

É verdade que existe em grego a palavra anepsios para «primo», mas só aparece uma vez no Novo Testamento (Cl 4,10). Afirma que, se eles fossem primos e não verdadeiros irmãos, os evangelistas teriam utilizado este termo ou teriam deixado algum outro indício constituí uma suposição a priori. O testemunho de Hegisipo, recolhido por Eusébio, que fala de «Tiago, irmão do Senhor» (História Eclesiástica, 2,23) e «Simão, primo do Senhor» (História Eclesiástica, 4,22) não é concludente. O primeiro pode entender-se como título pelo qual era conhecido Tiago, sem se pretender precisar o grau de parentesco.

A não ser que o contexto o precise, é impossível saber o significado exacto da palavra «irmão» e o respectivo grau de parentesco ou relação. Jesus é conhecido como o «filho de Maria» (Mc 6,3), enquanto os «irmãos e irmãs» de Jesus nunca são assim chamados, nem sequer quando se menciona Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos de Jesus» (Act 1,14). Jesus é o filho único. A tradição da Igreja (e não as análises filológicas aparentemente prováveis nem os testemunhos isolados, por muito antigos que estes sejam), segundo a interpretação mais de acordo com os textos evangélicos, é a verdadeira intérprete destes textos. Esta mesma tradição explicou que nas passagens do Novo Testamento a expressão «irmãos, irmãs» de Jesus deve entender-se como «parentes», segundo o significado da palavra grega. Qualquer outra interpretação é possível, mas arbitrária.

HÉLDER GONÇALVES

3 comentários:

  1. Com fé em Deus vencemos tudo nessa vida. Que Deus abençoe todos nós.

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  2. Amados,texto muito bem escrito,e esclarecedor,gostei muito.beijo e fique com Deus.

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  3. E há que observar que a tradução João Ferreira de almeida em Cl 4,10 traduz "sobrinho" e não primo; como as demais. Creio que sobrinho em grego seja diferente de anepsios. Por esta, já se ver que não se sabe ao certo o grau de parentesco entre Marcos e Barnabé.

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