Em corinto nasceu a primeira grande comunidade cristã num contexto social greco-romano.
É fácil imaginar quantas dificuldades encontrou a fé cristã para se inserir numa cultura totalmente diferente daquela onde tinha nascido.
Uma cidade rica e corrupta
A cidade era próspera e poderosa. Os seus dois portos (um no mar Egeu e outro no Adriático) asseguravam boas comunicações e muito comercio. Reconstruída por Júlio César em 44 a.C., Corinto era a capital da Acaia. Era um centro cultural importante pelas suas escolhas e pelos seus filósofos e literatos e pelos jogos ístmicos que ali se realizavam na Primavera, de dois em dois anos. Do ponto de vista religioso, o culto de Afrodite trouxe-lhe má reputação. A cidade tinha meio milhão de habitantes, dois terços dos quais seriam escravos.
“O que venerais sem conhecer é que eu vos anuncio”
Paulo chegou a Corinto no fim da segunda viagem missionaria (Act 18,1-17).
Depois de ter evangelizado a Macedónia (Filipos, Tessalónica, Bereia), o Apostolo passou por Atenas, onde fez um dos primeiros anúncios da fé cristã na Europa: “no meio do Areópago, Paulo disse: Atenienses, vejo que sois, em tudo, os mais religiosos dos homens. Percorrendo a vossa cidade e examinando os vossos monumentos sagrados, até encontrei um altar com esta inscrição: ‘Ao Deus desconhecido.’ Pois bem! Aquele que venerais sem o conhecer é esse que eu vos anuncio” (Act 17, 22-31).
Paulo anunciava a Boa-Nova de Jesus e a ressurreição.
“Ao ouvirem falar da ressurreição dos mortos, uns começaram a troçar, enquanto outros disseram: ‘Ouvir-te-emos falar sobre isso ainda outra vez’ (…) alguns dos homens no entanto, concordaram com ele e abraçaram a fé” (Act 17, 32-34).
Depois do “insucesso” de Atenas, Paulo começou a anunciar o Evangelho na sinagoga de Corinto.
O nascimento de uma nova comunidade cristã
Em Corinto, Paulo encontrou trabalho junto do casal Áquila e Priscila, que eram, como ele, fabricantes de tendas (Sct 18,2ss) e que se tornarão seus grandes colaboradores. Permaneceu na cidade desde o Outono do ano 50 até à Primavera de 52.
O ambiente religioso, cultural e moral era adverso; mas Paulo fundou uma grande comunidade pujante de vida cristã, sobretudo com elementos vindos do paganismo, na sua maioria das classes mais humildes, embora também houvesse judeo-cristãos.
Act 18 mostra-nos o perfil da comunidade, e há preciosas anotações psicológicas na primeira Carta aos Tessalonicenses e na carta aos Romanos, escritas em Corinto (1Tes 3,6ss; Rom 16, 1.21-22).
Uma vez mais Paulo encontra a resistência dos Judeus, que o levarão ao tribunal de Galião (Act 18,12-17). Depois de se te demorado ainda algum tempo em Corinto, Paulo despediu-se dos irmãos e embarcou para Síria, com Priscila e Áquila.
A animação da comunidade
Ao sair de Corinto, o Apostolo deixava uma comunidade florescente e numerosa. Mas depressa apareceram tensões entre os cristãos: entre os de origem grega e os de origem judaica (1Cor 1,12-13), entre escravos e livres (1Cor 7,21-23), e entre homens e mulheres (1Cor 11,3-5), e entre ricos e pobres (1Car 11,22).
Informado de tais situações, Paulo escreveu-lhes cartas para ajudar a resolver as dificuldades. Paulo toca muitos temas e aqui só podemos abordar alguns.
Um dos temas é a Eucaristia. Para remediar os abusos, o Apostolo recorda a “tradição” da Ceia do Senhor, e comenta-a em termos de fé e de exigências morais (1Cor 11,17-34). Paulo oferece-nos o mais antigo relato de instituição da Eucaristia (1Cor 11,23-25).
Para animar a comunidade a viver em espirito de amor, São Paulo escreveu o “hino da caridade” que é talvez a mais bela página do Apostolo (1Cor 13,1-13). Quando se trata de ideais e de dons, nada é maior e mais desejável que a caridade (ágape): essa é a marca distintiva e estável da vida cristã e o seu critério fundamental.
As confissões de Paulo nos capítulos 11-12 (em 2Cor), pela sua sinceridade e pela sua capacidade de comover, permitem-nos entrar no “coração” apaixonado de Paulo e participar da sua “paixão por Deus e pelos homens”.
“Correi para conseguir o prémio”
Em Corinto havia um estádio grande em que se disputavam os “jogos ístmicos”. Para estimular os cristãos daquela cidade e comprometerem-se de maneira profunda na “corrida” da vida, o Apostolo faz referência às competições atléticas. Nas corridas no estádio, diz ele, todos correm, embora um só seja o vencedor: portanto, correi também vós (1Cor 9,24-25).
Através da metáfora de sadia competição desportiva, ele põe em evidência o valor da vida, comparando-a a uma corrida rumo a uma meta não só terrestre e passageira, mas eterna. Uma corrida em que não só um, mas todos podem ser vencedores.
Renovar o anúncio da fé cristã na Europa
Recordar a acção de Paulo em Corinto, é ser convidado a anunciar o Evangelho, propondo aos nossos contemporâneos (crianças, jovens e adultos) a salvação dada por Cristo e mostrando-lhes os caminhos de santidade e a orientação moral recta que constituem as respostas à chamada do Senhor.
O evangelho é uma Boa Nova, que todos os homens podem compreender, ou melhor, que todos podem viver!
HÉLDER GONÇALVES
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