Eis-me aqui
Na
vocação de Samuel, são centrais as palavras “Eis-me aqui”: “Eli, chamou-o e
disse: «Samuel, meu filho!» perguntou-lhe Eli: «Que te disse o Senhor? Não me
ocultes nada. O Senhor te castigue severamente, se me encobrires alguma coisa
de quando Ele te disse.» então Samuel contou-lhe tudo sem nada ocultar. Eli
exclamou: «O Senhor fará o que bem lhe parecer.» Samuel ia crescendo, o Senhor
estava com ele e cumpra à letra todas as suas predições.
Todo
Israel, desde Dan até Bercheba, reconheceu que Samuel era um profeta do Senhor.
O Senhor continuou a manifestar-se em Silo. Era ali que o Senhor aparecia a
Samuel, revelando-lhe a sua palavra” (ISm 3, 16-ss).
Samuel
entra, numa dinâmica de permanente conversão ao Senhor, procurando conhecê-LO,
segui-LO e cumprir a Sua vontade. O seguimento de Deus é expressão da vontade
de realizar a conversão permanente.
Eis-me aqui, para Te seguir
Optar
por seguir ou não o Senhor é uma opção que estrutura radicalmente a vida de
cada pessoa e das comunidades, e que é posta à prova diariamente, nomeadamente
quando há mudanças importantes na vida.
O
seguimento de Deus tem o seu expoente máximo em Jesus Cristo – verdadeiro Deus
e verdadeiro Homem-, o único que cumpriu a vontade do Pai na totalidade. É
Jesus Cristo – ontem, hoje e sempre – que intervém nas comunidades reunidas em
Seu nome, nos crentes que se decidem a seguir o projecto de Deus. Ele mostra
que essa acção é resposta à fidelidade de Deus e convite para prosseguir em
comunhão de fé e de amor a vida inspirada pelo Espírito Santo e actualizada na
Igreja, de geração em geração. Esta dinâmica histórica postula que cada cristão
‘viva’ a história de Deus e reconstrua na sua vida a vida divina, procurando
discernir os melhores caminhos para O seguir, num esforço permanente de superar
arbitrariedades e reduções.
A
resposta a Deus não só gera um estilo de vida, como ela mesma já é um estilo de
vida fiel a Deus, diariamente assumida e discernida em comunhão com a
comunidade dos crentes, espírito de missão, em abertura ao futuro e comunhão
com o Eterno.
Eis-me aqui, para ser Igreja
Para
seguir Deus e o Seu projecto é indispensável viver em comunhão e sintonia com a
Igreja. A inspiração que leva a uma tomada de posição, a orientar-se para Deus,
a discernir no que se comprometer na construção do Reino, é uma inspiração que
vai amadurecendo mediante um diálogo longo e profundo na fé, na escuta humilde
e atenta da Palavra de Deus, celebrada na liturgia. Mas é também uma inspiração
interpretada no discernimento arriscado do dia-a-dia, numa leitura dos sinais
dos tempos, que leva ao compromisso solidário com os homens e comunidades de
boa vontade.
Ser
Igreja, seguir Jesus Cristo, responder ao apelo de Deus, dizendo “Eis-me aqui”
é, sobretudo, optar pela vida, pelo amor, crescer na fidelidade e
comprometer-se no serviço ao Reino de Deus, solidarizando-se na justiça e na
amizade. Ora, esta acção nunca está acabada e o modo de seguir Deus nunca está
totalmente perfeito. Exige um esforço contínuo de discernir e aperfeiçoar o que
é ser discípulo de Cristo.
Eis-me aqui, para ser
com Cristo
Ao
optar por ser discípulo de Cristo, mostrando a disponibilidade de O seguir
verifica-se que nesta aventura não há lugar para o anonimato e para a rotina.
Deus chama cada pessoa pelo seu nome, e imprime-lhe uma dinâmica de vida que
não se compadece com rotinas.
O
seu discípulo de Cristo coloca cada crente sob lei de Cristo, isto é, sobre a
lei da cruz, que é a lei do amor. Por esta dinâmica interna do amor, Jesus
Cristo faz de cada discípulo uma pessoa de comunhão. E é esta comunhão com a
Trindade que revela a cada pessoa aquilo que ela é e o que pode ser, mostra-lhe
as suas limitações e as suas potencialidades. Unido a Cristo, o crente explode
em possibilidades de ser como Cristo, Aquele que foi totalmente fiel ao Pai.
Chega-se
ao umbral do inefável, onde a experiência de relação e comunhão com Deus cresce
à medida que esta entrega se intensifica em obras, em mística e em relação
filial com Deus, por Jesus Cristo.
Aí
a meta será dizer como São Paulo: “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que
vive em mim. E a vida que agora tenho na carne, vive-a na fé do filho de Deus
que me amou e a si mesmo se entregou por mim” (GI 2, 20).
HÉLDER GONÇALVES
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