O povo de Deus, na Antiga Aliança,
constitui-se como povo de Deus precisamente no Sinai (Cf Ex.19). Foi aí que o
povo hebreu conheceu a sua verdadeira identidade: ser ‘de Deus’. Aliás a
Aliança firma-se neste pressuposto: “serei o vosso Deus, e vós sereis o Meu
povo” (Lv 26,12).
Desde então, é cada vez mais real o diálogo
entre Deus e os homens, através do povo eleito, constituído em sinal para todas
as nações. O homem percebe-se como «capaz de Deus», porque criado à Sua imagem
e semelhança, o que faz com que o desejo de Deus esteja inscrito no coração do
homem, e Deus não cessa de chamar a Si a humanidade, e somente em Deus se há-de
encontrar a verdade e a felicidade que é sempre desejada por cada pessoa.
O aspecto mais sublime da dignidade humana
está nesta vocação do homem à comunhão com Deus (Cf GS 19). Este convite que
Deus realiza para levar ao diálogo, á comunhão.
A sublimidade deste convite à comunhão com
Deus vê-se e compreende-se mais claramente quando a Revelação chegou ao seu ponto
culminar: a Encarnação do Verbo. Deus, não só cria o homem por amor, para o
salvar, como em Seu Filho Jesus Cristo dá a possibilidade de cada ser humano
«ser como Deus» (Gn 3,5), não pela desobediência adâmica, mas pela comunhão
amorosa e filial com Deus, Jesus Cristo.
Para que isto seja possível, e «em virtude
desta revelação, Deus invisível (cfr. Col. 1,15; 1 Tim. 1,17), na riqueza do
Seu amor fala aos homens como amigos (cfr. Bar. 3,38), para os convidar e
admitir à comunhão com Ele» (DV 2).
Ao Deus que Se revela, que entra em
diálogo, responde o ser humano pela «obediência da fé» (Rom. 16,26). Por esta,
a pessoa «entrega-se total e livremente a Deus oferecendo ‘ a Deus revelador obséquio
pleno da inteligência e da vontade’ e prestando voluntário assentimento à Sua
revelação. Para prestar esta adesão da fé, são necessários a prévia e
concomitante ajuda da graça divina e os interiores auxílios do Espírito Santo,
o qual move e converte a Deus o coração, abre os olhos do entendimento, e dá ‘a
todos a suavidade em aceitar e crer a verdade’. Para que a compreensão da
revelação seja sempre mais profunda, o mesmo Espírito Santo aperfeiçoa sem
cessar a fé mediante os seus dons» (DV 5).
Diálogo na transmissão da Fé
Ainda hoje, Deus vem ao encontro de cada
pessoa humana, para dialogar com ela e dar-Se a conhecer, de modo humano, ou
seja dando-Se a conhecer - revelando-Se – pelo que diz e pelo que faz.
Hoje, a Igreja transmite a Palavra de Deus,
contida na Revelação, e permite que cada pessoa se deixe tocar por Deus, experimentar
os seus gestos salvíficos, através da celebração dos Sacramentos e da liturgia.
É Deus que vem ao encontro, que se dá a
conhecer, tornando-se próximo de cada pessoa de boa vontade. Esta, com os
auxílios da graça divina, responde por uma vida em Cristo, vivendo de acordo
com aquele amor que descobre em Deus e numa relação viva e pessoal com Deus
vivo e verdadeiro. A isso chamamos oração.
Diálogo de amigos
À medida que o crente vai entrando neste
diálogo misterioso – porque Deus permite que se faça parte do Mistério divino –
percebe que quanto se ouve e se deixa tocar por Jesus Cristo e lhe responde
positivamente pela vida em Cristo e pela oração, tanto mais quer aprofundar
essa comunhão. Aí inicia um diálogo incessante com Deus, ouvindo a Sua Palavra
e celebrando as maravilhas de Deus, para se alimentar e instruir na comunhão
com esse mesmo Deus, e responder-Lhe de uma forma cada vez mais radical pela
comunhão fraterna e pela vida de oração.
Entra num diálogo elíptico e experimenta a
suave doçura de crer e acreditar em tudo o que Deus revelou. Este acreditar
compromete na acção e leva a descobrir na vida cristã mais um caminho para
descobrira presença de Deus: quando se investe numa vida de caridade, e se amam
os irmãos por amor de Deus, este torna mais vidente a Sua presença para todos
aqueles que O seguem.
A fé é, pois, um diálogo entre Deus e o
homem: do Deus que toma a iniciativa de vir ao encontro do homem e do homem que
Lhe responde, comprometendo-se numa vida de seguimento.
Cada pessoa pode dirigir-se a Deus,
tratando-O e percebendo-O como tu por excelência, porque n’Ele cada ‘eu’ é mais
‘eu’.
HÉLDER GONÇALVES
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