terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Tu meu Deus


O povo de Deus, na Antiga Aliança, constitui-se como povo de Deus precisamente no Sinai (Cf Ex.19). Foi aí que o povo hebreu conheceu a sua verdadeira identidade: ser ‘de Deus’. Aliás a Aliança firma-se neste pressuposto: “serei o vosso Deus, e vós sereis o Meu povo” (Lv 26,12).

Desde então, é cada vez mais real o diálogo entre Deus e os homens, através do povo eleito, constituído em sinal para todas as nações. O homem percebe-se como «capaz de Deus», porque criado à Sua imagem e semelhança, o que faz com que o desejo de Deus esteja inscrito no coração do homem, e Deus não cessa de chamar a Si a humanidade, e somente em Deus se há-de encontrar a verdade e a felicidade que é sempre desejada por cada pessoa.
O aspecto mais sublime da dignidade humana está nesta vocação do homem à comunhão com Deus (Cf GS 19). Este convite que Deus realiza para levar ao diálogo, á comunhão.

A sublimidade deste convite à comunhão com Deus vê-se e compreende-se mais claramente quando a Revelação chegou ao seu ponto culminar: a Encarnação do Verbo. Deus, não só cria o homem por amor, para o salvar, como em Seu Filho Jesus Cristo dá a possibilidade de cada ser humano «ser como Deus» (Gn 3,5), não pela desobediência adâmica, mas pela comunhão amorosa e filial com Deus, Jesus Cristo.

Para que isto seja possível, e «em virtude desta revelação, Deus invisível (cfr. Col. 1,15; 1 Tim. 1,17), na riqueza do Seu amor fala aos homens como amigos (cfr. Bar. 3,38), para os convidar e admitir à comunhão com Ele» (DV 2).
Ao Deus que Se revela, que entra em diálogo, responde o ser humano pela «obediência da fé» (Rom. 16,26). Por esta, a pessoa «entrega-se total e livremente a Deus oferecendo ‘ a Deus revelador obséquio pleno da inteligência e da vontade’ e prestando voluntário assentimento à Sua revelação. Para prestar esta adesão da fé, são necessários a prévia e concomitante ajuda da graça divina e os interiores auxílios do Espírito Santo, o qual move e converte a Deus o coração, abre os olhos do entendimento, e dá ‘a todos a suavidade em aceitar e crer a verdade’. Para que a compreensão da revelação seja sempre mais profunda, o mesmo Espírito Santo aperfeiçoa sem cessar a fé mediante os seus dons» (DV 5).


Diálogo na transmissão da Fé

Ainda hoje, Deus vem ao encontro de cada pessoa humana, para dialogar com ela e dar-Se a conhecer, de modo humano, ou seja dando-Se a conhecer - revelando-Se – pelo que diz e pelo que faz.

Hoje, a Igreja transmite a Palavra de Deus, contida na Revelação, e permite que cada pessoa se deixe tocar por Deus, experimentar os seus gestos salvíficos, através da celebração dos Sacramentos e da liturgia.

É Deus que vem ao encontro, que se dá a conhecer, tornando-se próximo de cada pessoa de boa vontade. Esta, com os auxílios da graça divina, responde por uma vida em Cristo, vivendo de acordo com aquele amor que descobre em Deus e numa relação viva e pessoal com Deus vivo e verdadeiro. A isso chamamos oração.


Diálogo de amigos

À medida que o crente vai entrando neste diálogo misterioso – porque Deus permite que se faça parte do Mistério divino – percebe que quanto se ouve e se deixa tocar por Jesus Cristo e lhe responde positivamente pela vida em Cristo e pela oração, tanto mais quer aprofundar essa comunhão. Aí inicia um diálogo incessante com Deus, ouvindo a Sua Palavra e celebrando as maravilhas de Deus, para se alimentar e instruir na comunhão com esse mesmo Deus, e responder-Lhe de uma forma cada vez mais radical pela comunhão fraterna e pela vida de oração.

Entra num diálogo elíptico e experimenta a suave doçura de crer e acreditar em tudo o que Deus revelou. Este acreditar compromete na acção e leva a descobrir na vida cristã mais um caminho para descobrira presença de Deus: quando se investe numa vida de caridade, e se amam os irmãos por amor de Deus, este torna mais vidente a Sua presença para todos aqueles que O seguem.

A fé é, pois, um diálogo entre Deus e o homem: do Deus que toma a iniciativa de vir ao encontro do homem e do homem que Lhe responde, comprometendo-se numa vida de seguimento.

Cada pessoa pode dirigir-se a Deus, tratando-O e percebendo-O como tu por excelência, porque n’Ele cada ‘eu’ é mais ‘eu’.

HÉLDER GONÇALVES

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