2.ª Carta: Como se adquire a Fé?
A Fé é um dom de Deus. Vamos examinar como este dom tão precioso chega
até nós.
Para começar, notemos que este dom, sendo sobrenatural, é sempre
inteiramente gratuito. Não podemos merecê-lo e nenhum homem pode merecê-lo por
nós. Se ele nos vem é unicamente pelos méritos de Nosso Senhor e por pura
misericórdia de Deus.
Mas como a Fé chega até nós?
Para nós, que fomos baptizados criancinhas,
o dom da Fé chega-nos no meio deste magnífico cortejo de graças que se chama Baptismo Neste momento Deus, adoptando-nos como filhos, derrama em nossa alma o
dom da Fé; quer dizer que Ele dispõe interiormente as potências da alma, a nossa
inteligência e nossa vontade do modo necessário para que esta alma produza
facilmente, alegremente o ato de Fé. E mais tarde, já dispondo do uso da razão,
o espírito da criança poderá receber a verdade revelada, dela alimentar-se e
corresponder, pelo acto de Fé: Creio em Deus Pai, etc.
Assim, a criança baptizada trás na sua alma o gosto pela verdade
revelada, a inclinação para esta verdade, a necessidade desta verdade.
Desta
disposição, deste hábito sobrenatural compara-se a disposição, à inclinação natural que tem a criança pelo peito
da sua mãe.
Ela precisa dele, ela o reclama: se o encontra, está bem, se lhe é
recusado será a sua morte.
Do mesmo modo a criança baptizada em virtude de seu baptismo tem fome e
sede do ensino cristão; ela quer o seu leite, aquele do qual fala o intróito
Quasimodo.
É aí que está a sua vida, pois o justo vive da fé, diz a Escritura.
Com instrução cristã, a criança baptizada está a praticar atos de fé, a fé que
recebeu no seu baptismo e que, pondo em prática, desenvolve; toma conhecimento
de Deus seu Pai, da Igreja sua Mãe, dos santos do Paraíso que são seus pais e
irmãos; exactamente como na ordem natural a criança que a mãe alimenta,
sorri primeiro para a sua mãe, depois para o seu pai, depois para os seus irmãos e
depois toma conhecimento do mundo exterior e torna-se homem.
Por um caminho
análogo, porém superior já que sobrenatural, a criança baptizada cresce como
filho de Deus e da sua Igreja, e torna-se um membro vivo de Jesus Cristo sobre
a terra, para ser mais tarde co-herdeiro de seus bens no Céu.
Assim, nós que fomos baptizados em criança, recebemos
primeiramente no Baptismo a disposição de crer; depois, quando já tínhamos algum
raciocínio deram-nos a conhecer as verdades da Fé e começamos a praticar o acto
de Fé.
Deste modo recebemos primeiramente a Fé habitual, em seguida a Fé actual
quer dizer, a Fé que é exercida.
Foi segundo esta economia divina que Deus nos deu a Fé. E a fim de que
possa perceber melhor a natureza deste dom, direi que chega por um caminho
diferente até aos adultos que receberam o baptismo depois de terem o uso da
razão. Preste atenção, porque assim receberá alguma luz sobre o dom da Fé.
Vejamos pois, a obra de um missionário entre os chineses ou os índios
da América.
Ele fala, não é ouvido.
Fala outra vez, não é ouvido.
Ah! aqueles que o escutam não são baptizados são surdos. O padre não diz, tocando-lhes as orelhas: Ephpheta!
Abri-vos! como ele disse no nosso Baptismo.
No entanto, o homem de Deus não
desanima; reza, pede a Deus a graça da Fé para os seus pobres infelizes, fala de
novo.
Duas ou três pobres almas parecem escutar com atenção; ele percebe, vai
até elas, elas vêem a ele. Deus deu-lhes um bom impulso para a Fé.
Ah! como é
precioso esse impulso; será a salvação dessas almas se forem fiéis; se porem
deixarem de lado esta graça, de cujo valor nem desconfiam, será a perdição
eterna.
Mas elas ouvem com uma atenção incomparável e vão gostando dos
ensinamentos que lhes são dados pouco a pouco. Se lhes fosse dada uma luz muito
grande, elas recuariam apavoradas; o padre mede os termos, proporciona a alimentação
à fraqueza do doente; reza e com a ajuda de Deus, o infiel recebe algumas
verdades da Fé; faz um acto de adesão a estas verdades que já conhece; e a
medida que faz estes actos cresce nele a disposição de crer.
Enfim o infiel está
pronto para receber toda a verdade, ele pede a Deus o dom da Fé. Chega o dia do baptismo e Deus dá-lhe a graça habitual da Fé pela qual já havia feito alguns
actos antes do baptismo.
Veja então, como custa ao dom da Fé entrar na alma de um adulto. Alem
das dificuldades criadas pelo pecado original, ainda as há resultantes dos
pecados pessoais, dos preconceitos da nação, da família, etc. etc.
Mas nenhuma
destas dificuldades existe com as criancinhas baptizadas.
A criança recebe a
graça do alto antes de ter tocado neste mundo daqui de baixo; e assim nunca
poderemos agradecer suficientemente a Deus a graça de termos sido baptizados ainda em criancinhas.
Fonte:
Padre Emmanuel André
Eu
creio!Apostolado Sociedade Católica
www.sociedadecatolica.com.br
HÉLDER GONÇALVES
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